Um dos maiores nomes da psicanálise, que surgiram após a época Freudiana, sem dúvida nenhuma, foi Melanie Klein. Ela foi pioneira e original em suas idéias, concepções e teorias, que vão desde a prática clínica com crianças e bebês à posição esquizoparanoide.
Klein foi responsável por postular a existência de um ego rudimentar presente em recém-nascidos e desenvolver técnicas psicanalíticas próprias para o manejo com crianças. Além disso, introduziu o conceito simbólico nos brinquedos e jogos.
Outros conceitos e as posições esquizoparanoides e depressiva
Muitos outros conceitos são ainda atribuídos a Melanie Klein, como o fato de que a pulsão de morte, assim com a pulsão de vida, seria inata e acompanharia o indivíduo desde o nascimento. Ela acreditava que essas pulsões marcavam a sua existência pelo constante conflito entre elas.
Ou ainda, segundo Zimerman, 1999, ela define (…) a mente como um universo de objetos internos que estão relacionados entre si através das fantasias inconscientes, constituindo a realidade psíquica.
Porém, uma das maiores contribuições de Melanie Klein foi a conceituação do desenvolvimento psíquico diferente de Freud. Ela sugeriu a noção de posição, dando a elas o nome de “posição esquizoparanóide” e “posição depressiva”, que revolucionaram as teorias psicanalíticas.
Esses conceitos de posições não têm um lugar tão destacado na apostila do módulo 1 do presente curso. No entanto, é justamente sobre isso que será o tema dessa redação, devido à importância do assunto.
A Posição Esquizoparanoide e a Posição Depressiva
De uma forma geral, pode-se dizer que essas posições são períodos normais do desenvolvimento da vida de todas as crianças, tais como as fases do desenvolvimento psicossexual criadas por Freud (1905-1969).
Contudo, são mais maleáveis do que estas fases. Isso devido ao fato de se instalarem por necessidade e não por maturação biológica – muito embora a autora não deixe de considerar as fases da teoria freudiana a respeito do desenvolvimento infanto-juvenil.
As características da Posição Esquizoparanoide
Segundo Klein, o bebê nasce imerso na posição esquizoparanóide, cujas principais características são: a fragmentação do ego e a divisão do objeto externo (a mãe) ou, mais particularmente, de seu seio, já que este é o primeiro órgão com o qual a criança estabelece contato.
Desta forma, tem-se o seio bom e o seio mau. O primeiro é aquele que a gratifica infinitamente. Enquanto isso, o segundo somente lhe provoca frustração, despertando a agressividade e a realização de ataques sádicos dirigidos à figura materna (Simon, 1986).
A partir da elaboração e superação desses sentimentos, tem início a posição depressiva. Ela tem como principais atributos a integração do ego e do objeto externo (mãe/seio), sentimentos afetivos e defesas relativas à possível perda do objeto em decorrência dos ataques realizados na posição anterior.
Estas posições continuam presentes pelo resto da vida. Porém, elas se alteram em função do contexto, embora a posição depressiva predomine em um desenvolvimento saudável (Simon, 1986).
A imaturidade do ego do bebê
A posição esquizoparanoide ocorre do nascimento até os seis meses, mais ou menos. Desde o nascimento, o ego imaturo do bebê é exposto à ansiedade provocada pela polaridade inata dos instintos de vida e de morte. Além disso, também provoca ansiedade a sua exposição ao impacto da realidade externa.
É na posição esquizoparanoide que ocorre a primeira relação do bebê com o seio materno, que é “mau” e “odiado”. Veremos, então, como funciona a formação do seio mau.
Sob o impacto do instinto de integração é afastada e ocorre uma desintegração defensiva. Quando o ego é confrontado com a ansiedade produzida pelo instinto de morte, ele se divide. Com isso, acaba projetando a parte que contém o instinto de morte para o objeto externo original, que é o seio. Importante ressaltar que só reconhece um outro ego, o ego já formado.
Sendo assim, o bebê, com o seu ego imaturo dotado apenas de fantasias primitivas e instintivas, não vê a pessoa da mãe ou do pai. Para esse bebê, tudo se resume ao seio, pois é com o seio sua primeira relação.
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O “seio mau”
Na fantasia da criança, o ódio e a destrutividade direcionados ao seio mau vão se voltar contra ela em busca de vingança. Este medo da vingança é denominado ansiedade persecutória.
O conjunto da ansiedade persecutória com as suas respectivas defesas é denominado de posição esquizoparanoide. Nesta posição, o desenvolvimento do eu é definido pelos processos de introdução e de projeção.
Diante da violência da angústia persecutória, a meta da criança nesta fase é de possuir o objeto bom, introjetando-o. Além disso, ele quer projetar o objeto mau para fora, a fim de evitar assim os impulsos destrutivos.
O início da posição depressiva
A posição depressiva é posterior à posição esquizoparanóide. Ela ocorre por volta dos quatro meses e é progressivamente superada durante o primeiro ano de vida. No entanto, ainda pode ser encontrada durante a infância e reativada no adulto, particularmente nas situações de luto e estados depressivos.
Com o desenvolvimento do ego do bebê, ele vai progressivamente percebendo que o mesmo objeto que odeia o “seio mau” é o mesmo objeto que ama o “seio bom”. Seu ego já tem maturidade suficiente para perceber que ambos os registros fazem parte de uma mesma pessoa.
Dessa forma, a clivagem “ou cisão” do objeto vai sendo abrandada, pois agora há a percepção de que as pulsões libidinais e hostis estão sendo direcionadas ao objeto em sua totalidade. Portanto, isso desencadeia um outro processo.
A angústia da separação no bebê
Com essa percepção, a angústia recai de forma diferente, pois o bebê percebe como perigo iminente a perda da mãe, em consequência o sadismo experimentado por ele nesta fase. O bebê teme perder o seio bom, pois fantasia que seus ataques de ódio e voracidade o possam ferir ou aniquilar.
Esse medo da perda do objeto bom do objeto bom é chamado de ansiedade depressiva. Essa angústia é combatida pela utilização de mecanismos de reparação. Como exemplo, citamos o que ocorre quando o objeto amado é introjetado de forma estável e tranquilizante.
É na posição depressiva que o bebê adquire a capacidade de amar e respeitar os objetos como distintos e separados dele. Melanie Klein diz que o psiquismo possui um funcionamento dinâmico entre as posições esquizoparanoide e depressiva. Elas têm início no nascimento e terminam com a morte.
As neuroses, esquizofrenias e depressão são afastadas a partir dessas duas posições. Dessa forma, na análise Kleiniana, não adianta trabalhar o sintoma se não trabalhar os processos que levaram ao seu surgimento. Esse processo envolve as ansiedades do tipo persecutória e depressiva.
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Este artigo sobre a posição esquizoparanoide foi desenvolvido pela aluna do curso de Psicanálise Clínica Ingrede Castro Lopes, especialmente para o nosso Blog.
2 thoughts on “Posição esquizoparanoide e depressiva segundo Melanie Klein”
Conteúdo excelente, gostei muito…
Uma excelente abordagem psicanalítica!