Desde os trabalhos de Freud, Psicanálise e Cultura estão intimamente vinculadas. A Psicanálise é, portanto, uma forma de ver a mente humana, uma forma de reformular a prática clínica e uma forma de interpretar a cultura, a sociedade, a moral.
As três descobertas científicas que mudaram o mundo
Segundo Mezan (2007) três descobertas científicas modificaram a forma de se enxergar o mundo e o próprio homem. Trata-se das descobertas de Copérnico, Darwin e Freud.
A primeira descoberta é de Nicolau Copérnico (1473-1543). Ao desenvolver a Teoria Heliocêntrica, coloca o Sol no centro do sistema e a Terra na periferia. Assim, supera o geocentrismo e uma pretensa centralidade humana. Foi tão importante que é considerada como “revolução copernicana”.
Na sua principal obra “Das Revolução dos Corpos Celestes”, Copérnico argumenta com acerto que a Terra não está fixa no centro do universo. Ela gira em uma órbita circular ao redor do Sol, assim como os demais planetas do Sistema.
Errou sobre a circularidade da órbita, que é na verdade elíptica. Porém, acertou quando ordenou os planetas por suas distâncias em relação ao Sol e concluiu que quanto menor a órbita, maior a velocidade.
O Naturalista e a Teoria da Evolução das Espécies
A segunda descoberta foi de Charles Darwin (1809-1882). Ao realizar estudos com diversas espécies animais e vegetais, chegou a uma Teoria da Evolução das Espécies. Seu intenso trabalho realizado em viagens pelos continentes fundamentaram a obra “A Origem das Espécies” de 1859. A introdução do autor é esclarecedora.
Proponho-me noticiar a largos traços o progresso da opinião relativamente à origem das espécies. Até há bem pouco tempo, a maior parte dos naturalistas supunha que as espécies eram produções imutáveis criadas separadamente.
Numerosos sábios defenderam habilmente esta hipótese. Outros, pelo contrário, admitiam que as espécies provinham de formas preexistentes por intermédio de geração regular.
Confrontando o Criacionismo
Em “A Origem das espécies”, Darwin defende duas teses fundamentais, a saber:
- evolução biológica
- seleção natural
A invenção darwiniana mostrou que o homem tem elementos em comum com outros seres. Além disso, golpeou nosso senso de “soberania”, nossa especificidade absoluta e o criacionismo.
Psicanálise e Cultura através de Freud
Por último, cujo o mérito deve-se a Sigmund Freud (1856-1939), a descoberta da Psicanálise. Ele demonstrou com seus estudos que o ser humano não age com base em uma racionalidade pura. Mas, suas ações são fortemente dominadas por elementos que não são acessíveis à memória presente, pois são inconscientes. A partir desta ideia, podemos estabelecer uma ligação entre Psicanálise e cultura.
Ao começar seu relato sobre as afecções mais frequentes no hospital sob o comando de Charcot, Freud apresenta a histeria. Ela está presente tanto em mulheres quanto em homens. Na oportunidade, Freud faz uma consistente crítica ao entendimento estabelecido pela Religião e pela sociedade desde o período medieval. Isto é, mudando na modernidade apenas o enfoque de não mais considerar as mulheres histéricas como bruxas.
Freud lembra de registar a não menos importante frequência da histeria masculina, quase sempre desconsiderada por muitos. Os estudos de Charcot, reafirma Freud, retiram a histeria do caos das neuroses. Assim, lhe é atribuída uma sintomatologia própria, mesmo que ainda muito multiforme.
A Hipnose, segundo Freud
No mesmo texto Freud levanta a questão da hipnose. Ele informa que aproveitou a oportunidade da Bolsa conquistada para obter os primeiros conhecimentos técnicos sobre o método e a técnica hipnótica. A hipnose deixou Freud bastante impressionado.
Então, vale a citação:
“Com surpresa, verifiquei que nessa área determinadas coisas aconteciam abertamente diante dos nossos olhos e que era quase impossível duvidar delas; assim mesmo, eram tão estranhas que não se podia acreditar nelas, a menos que delas se tivesse uma experiência pessoal. Contudo, não vi nenhum sinal de que Charcot mostrasse qualquer preferência especial por material raro e estranho, ou de que tentasse explorá-lo para fins místicos. Pelo contrário, considerava o hipnotismo uma área de fenômenos que ele submetia à descrição científica, tal como fizera, muitos anos antes, com a esclerose múltipla ou com a atrofia muscular progressiva. Não me parecia em absoluto que ele fosse um desses homens que se mostram mais encantados com aquilo que é raro do que com aquilo que é comum; e a tendência geral de sua mente leva-me a supor que ele não consegue descansar enquanto não descreve e classifica corretamente algum fenômeno que o interessa, mas dorme tranquilamente sem ter chegado à explicação fisiológica do fenômeno em questão.”
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Uma breve descrição da Psicanálise
Segundo Freud, em 1892, nos “Esboços para a “Comunicação Preliminar” de 1893, na Carta a Josef Breuer, há um problema de como fazer a apresentação de “um quadro bidimensional de algo tão sólido como a nossa, de Freud e de Brauer, teoria da histeria”.
Fica evidente, então, a noção de parceria e de reconhecimento com o médico Josef Breuer.
Freud salienta na Secção B intitulada III que as recordações ligadas às manifestações da histeria não se apresentam acessível à memória. Ou seja, da memória presente da pessoa afetada. Certamente, reside neste ponto o começo da elaboração teórica do inconsciente.
Para completar a abordagem sobre os inícios da descoberta da psicanálise, basta observar o texto freudiano intitulado “Uma breve descrição da Psicanálise”. Ele está inserido no volume XIX das Obras Completas. Naquela breve e esclarecedora comunicação, Freud considera que a Psicanálise nasceu com o século XX, dado que “A Interpretação de Sonhos” é do anos de 1900. Contudo, sua ciência parte de supostos e técnicas anteriores.
Utilizando a Hipnose e estabelecendo uma ligação vigente entre Psicanálise e Cultura
Inicialmente, a psicanálise buscava unicamente compreender certas doenças nervosas, principalmente a histeria e a subversão humana. O arsenal médico era impotente e a medicina negava-se, terminantemente, a aperfeiçoar conhecimentos sobre as estruturas psíquicas.
Elas eram deixadas para o uso inadequado de outros, incluindo os abusos espetacularizados de variados charlatões.
Assim, a descrição que Freud faz dos tratamentos daquelas patologias é interessante no entendimento da evolução dos conhecimentos sobre o psiquismo humano e seus “desvios”. Os tratamentos iam desde a tentativa de tornar o paciente mais forte frente ao mal, até o uso da corrente elétrica passando por ameaças, zombarias e exortações.
Então, o uso criterioso da hipnose inicia a melhor abordagem pré-psicanalítica que evidencia a junção de Psicanálise e Cultura da época. Como explica o próprio Freud:
“Em primeiro lugar, recebia-se prova convincente de que notáveis mudanças somáticas, afinal de contas, podiam ser ocasionadas unicamente por influências mentais, as quais, nesse caso, nós próprios tínhamos colocado em movimento. Em segundo, recebia-se a impressão mais clara – especialmente do comportamento dos indivíduos após a hipnose – da existência de processos mentais que só se poderia descrever como ‘inconscientes’. O ‘inconsciente’, é verdade, há muito tempo estivera sob discussão entre os filósofos como conceito teórico, mas agora, pela primeira vez, nos fenômenos do hipnotismo ele se tornava algo concreto, tangível e sujeito a experimentação. Independentemente de tudo isso, os fenômenos hipnóticos mostravam uma semelhança inequívoca com as manifestações de algumas neuroses. ”
Uma técnica de Interpretação da Alma
Freud, em 1924, apresenta a esperança de que a psicanálise possa desempenhar um papel importante, não apenas na cura de doenças, mas também, em outros campos da vida. Foi uma proposta ou proposição que se tornou real.
A psicanálise é um conhecimento teórico, um método e uma técnica que pode ser usado na interpretação da “alma” humana. lém disso, se caracteriza por evidenciar culturas produzida pela humanidade em determinada época.
Conclusão
Parece justo apresentar as três “Revoluções Científicas” registradas pela história das ciências e destacar a relação de Psicanálise e cultura. O esforço não tem o objetivo de ressaltar a “Revolução freudiana” como sendo fundamental. Trata-se apenas da valorização de um conhecimento que tem ajudado o homem individualmente e a humanidade a se entender melhor.
Autor: Glaudionor Gomes, exclusivo para o blog do Curso de Formação em Psicanálise.