Psicofarmacologia

Psicofarmacologia na redução do sofrimento psíquico

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Transtorno de ansiedade, crise de pânico, depressão, essas são umas das formas como o sofrimento psíquico pode ser traduzido na vida do sujeito pelo linguajar do senso comum. O sofrimento que irrompe sem ao menos pedir licença. Mas você sabe o que é Psicofarmacologia?

Sujeitos com descrições sintomáticas muito semelhantes, na busca de uma pílula que irá acabar com todo o sofrimento, como se isso fosse possível. E nesse cenário, psicofarmacologia se mostra como uma possível solução para esse sofrimento.

Entendendo a Psicofarmacologia

O sofrimento psíquico pode se originar de diversas fontes, como Freud, o criador da Psicanálise, indicou em seu texto de 1930 “O mal-estar na cultura”, sendo elas: o próprio corpo (exemplo as doenças), a relação com outros sujeitos, e os fenômenos da natureza (a pandemia do Covid-19 nos serve como um bom exemplo). Ou seja, enquanto estivermos neste mundo, estaremos suscetíveis ao sofrimento.

Diferente do que é vendido na cultura atualmente, não existe uma vida de felicidade plena, enquanto estivermos na cultura, vivendo em sociedade, o mal-estar estará presente na vida do sujeito. Mas é preciso pontuar que, cada sujeito irá ser afetado de uma forma peculiar diante as vicissitudes da vida.

Cada sujeito irá passar pelas situações que a vida impõe de uma forma particular, própria, e de forma inconscientemente, isso poderá ser traduzido como algo traumático ou não. E a pandemia do Covid-19 é um exemplo atual, um vírus que atingiu o mundo todo, algo desconhecido, mas que cada pessoa está vivenciando esse momento de uma forma exclusiva.

A Subjetividade na cultura atual e a Psicofarmacologia

Quando falamos de sujeito, estamos falando de um ser único que é constituído através das suas experiências com os outros. Se colocarmos dois sujeitos, A e B, nas mesmas condições ambientais de temperatura e pressão, eles não irão responder da mesma forma psiquicamente. Cada sujeito é único.

No entanto, na cultura atual, a subjetividade está fadada a responder a um movimento político/econômico, que normatiza o sofrimento e a forma de viver. Ou seja, as formas de sofrimento são agrupadas e catalogadas e com soluções prontas para serem consumidas.

A sociedade capitalista precisa da mão de obra produzindo, não há tempo para o luto, para sofrer, para as questões que a vida apresenta. O sujeito precisa estar pronto para digerir todas as mudanças, sem respeitar o tempo de cada um lidar com essas vicissitudes.

Psicofarmacologia: cura da essência da condição humana

E neste contexto a psicofarmacologia se apresenta, trazendo ao sujeito uma nova forma de alienação ao pretender curá-lo da própria essência da condição humana.

Calar os sentimentos “Receitados tanto por clínicos gerais quanto pelos especialistas em psicopatologia, os psicotrópicos têm o efeito de normalizar comportamentos e eliminar os sintomas mais dolorosos do sofrimento psíquico, sem lhes buscar a significação.” (Roudinesco, Elisabeth, 1944, p 21).

Não ignorando a ajuda que esses medicamentos podem ter nas terapias, o que está sendo posto em discursão é como eles são consumidos na sociedade atual. Cada vez mais há uma biologização dos sintomas, que através da medicamentalização é possível se corrigir algo que não está bem.

O processo de luto

O processo de luto, por exemplo, está sendo medido entre o que é normal e o que é patológico pelo tempo de sofrimento do sujeito.

A pessoa enlutada não tem o próprio tempo para ressignificar a perda, pois ela precisa voltar a produzir, a consumir e fazer a roda do capitalismo girar, no tempo que foi determinado como suficiente para sofrer.

E o medicamento é uma resposta rápida, e podemos dizer, barata para a demanda do sujeito. Ignorando o processo de ressignificação desses sentimentos, que irão “se calar” momentaneamente com os medicamentos, mas que de uma forma ou outra se farão ouvir através dos sintomas.

Psicanálise e Psicofármacos

“Portanto, se hoje a psicanálise é posta em concorrência com a psicofarmacologia, é também porque os próprios pacientes, submetidos à barbárie da biopolítica, passaram a exigir que seus sintomas psíquicos tenham uma causalidade orgânica.

Muitas vezes, aliás, sentem- se inferiorizados quando o médico tenta apontar-lhes uma outra via de abordagem.” (Roudinesco, Elisabeth, 1944, p 29). É necessário deixar em evidência que a medicação em si não é o problema, se administrada em complementaridade com a Psicanálise, o que é criticado é essa mesma medicamentalização ser utilizada como uma substitua.

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    Pois com isso, o que está em jogo não é a amenização do sofrimento do sujeito, mas a resposta desse sujeito à sociedade, ao sistema político/econômico.

    Psicofarmacologia e Psicanálise

    Quando tenta-se calar os sintomas através do uso de medicamentos, coloca-se a poeira para debaixo do tapete. E assim como um vulcão, em algum momento irá explodir. E a devastação que os sintomas podem causar na vida do sujeito, são inimagináveis. O paciente diz: “Estava tudo bem, do nada comecei a ter sintomas x, y e z”.

    Não, não estava tudo bem, o sofrimento estava sendo calado, até o momento que aquele excesso transbordou para o corpo. Aquilo que estava no campo do indizível, tenta se inscrever de alguma forma. É necessário evidenciar que o medicamento não é um substituto da Psicanálise, pois estão em esferas completamente diferentes. E o que está no cerne da Psicanálise é o sofrimento do sujeito.

    E a Psicanálise objetiva levar o sujeito ao apaziguamento do sofrimento, através do diálogo com os seus desejos e com o que está no campo do traumático para ele. Um outro lado do uso dos psicofármacos é, até que ponto as pessoas estão dispostas a enfrentar aquilo que causa esse sofrimento? A estar de frente com “seus monstros” e lutar contra eles?

    Conclusão

    Nessa perspectiva o medicamento entra como um aliado, levando um alívio momentâneo ao sofrimento do sujeito que não deseja (re) conhecer o cerne do seu sofrimento.

    E a Psicanálise objetiva levar o sujeito a reviver esse acontecimento que pode ter sido a origem do sofrimento, mas de um outro lugar, na busca de ressignificar esses afetos que o levam ao sofrimento, e dar uma nova narrativa ao acontecimento.

    Referências bibliográficas

    Roudinesco, Elisabeth, 1944 – Por que a Psicanálise? / Elisabeth Roudinesco, tradução, Vera Ribeiro. – Rio de Janeiro: Zahar, 2000

    O presente artigo foi escrito pela autora Monique Vianna, Psicanalista em Formação e Comunicóloga Pós-graduanda em Psicanálise e Saúde Mental Contato: [email protected]

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