Psicologia das Massas

Psicologia das Massas segundo Freud

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Em 1921, Sigmund Freud publicou a obra “Psicologia das Massas e Análise do Eu”, um marco na compreensão do comportamento social. Escrito no contexto das Guerras Mundiais, o livro analisa como os indivíduos se comportam quando agrupados em massas, revelando os mecanismos psicológicos que os tornam mais suscetíveis à influência e à manipulação.

Contudo, mais de um século após sua publicação, os conceitos explorados por Freud em “Psicologia das Massas” permanecem assustadoramente atuais.

Basta observarmos o fenômeno das “fake news”, a proliferação de discursos de ódio nas redes sociais e a ascensão de líderes autoritários em diversas partes do mundo para percebermos como as massas continuam sendo manipuladas por aqueles que detêm o poder.

No trabalho Psicologia das massas, Freud faz avaliações a respeito da composição psicológica das massas. Embora tenha sido construído no período das guerras, é possível notar que ele também reflete o tempo em que vivemos.

Portanto, vamos compreender um pouco mais da mensagem transmitida nessa análise grupal.

Sobre a constituição grupal da sociedade

Em a Psicologia das massas fica evidente que Freud tinha uma crítica bastante saliente sobre o modo de pensar coletivo. De acordo com ele, somos criaturas altamente reativas a julgamentos generalizados sobre determinadas situações. Ainda que tenhamos a nossa individualidade, isso não significa pluralidade em imagens.

Como resultado, apresentamos a patente de seres sem vontade definida de forma independente. Estamos interligados à outra pessoa ou pessoas para que possamos construir um juízo a respeito de algo. Consequentemente, isso leva a situações degradantes e impensadas que prejudicam a maior parte desse povo.

De certo modo, é possível apontar uma certa hipocrisia advinda das massas. Isso porque, ao mesmo tempo em que repudia a força, bondade como fraqueza e violência, recorre a elas para se justificar. A inovação costuma ser inimiga, de modo que se apegue bastante à tradição e ao conservadorismo.

Freud argumenta que, em uma massa, os indivíduos renunciam à sua individualidade e passam a se comportar de maneira impulsiva e irracional. Isso ocorre porque, na massa, o ego do indivíduo se submete ao “eu ideal” do líder, que representa a força e a coesão do grupo.

Diversos mecanismos psicológicos facilitam essa perda de individualidade, incluindo a “ilusão de unanimidade”, que faz com que os indivíduos acreditem que todos na massa compartilham das mesmas ideias e sentimentos, e o “contágio emocional”, que rapidamente propaga emoções como entusiasmo, medo ou raiva.

Um exemplo clássico da perda de individualidade nas massas é o comportamento dos torcedores em um estádio de futebol. Quando o time está jogando, os torcedores se unem em um só grito, independentemente de suas diferenças individuais.

Eles se sentem parte de algo maior do que si mesmos e se deixam levar pelas emoções do grupo.

“O rei mandou dizer…”

Psicologia das massas aborda um enlaçamento sobre a identificação de um grupo em relação a uma única pessoa. De acordo com as resoluções da obra, as massas necessitam de um líder autoritário para conduzi-las. Através do líder, regras são estabelecidas e, caso não sejam cumpridas, geram retaliações aos infratores.

Por exemplo, podemos nos ater ao movimento nazista que resultou na morte de milhões de pessoas. Os nazistas veneravam a ideologia supremacista de Hitler em relação ao judeus ou quem não se encaixasse na “pureza” étnica. Aos que não se encaixavam aqui ou eram alvos, a morte era a punição por serem o que simplesmente eram.

Note que autoridade tem um sentido completamente corrompido, se tornando autoritarismo. Enquanto na primeira temos alguém que te ajuda a alcançar o seu melhor, a segunda indica alguém no controle de suas ações.

O líder da massa é uma figura carismática e autoritária que exerce um grande poder de influência sobre seus seguidores. Ele é visto como a personificação do ideal do grupo e, portanto, sua palavra é lei.

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    Líderes autoritários frequentemente utilizam técnicas de manipulação psicológica para controlar as massas, como a propaganda, a demonização do inimigo e a apelação às emoções.

    Adolf Hitler foi um exemplo clássico de líder autoritário. Ele utilizou a propaganda para disseminar sua ideologia de supremacia racial e demonizou os judeus como inimigos do povo alemão. Com isso, conseguiu mobilizar as massas alemãs para a Segunda Guerra Mundial.

    Fake News

    As “fake news” são notícias falsas ou distorcidas que são disseminadas com o objetivo de manipular a opinião pública. Elas se proliferam rapidamente nas redes sociais, onde as pessoas tendem a acreditar em informações que confirmam seus próprios preconceitos.

    As “fake news” podem ter um impacto significativo no comportamento social, pois podem levar as pessoas a tomarem decisões baseadas em informações incorretas.

    Nas eleições presidenciais de 2022 no Brasil, as “fake news” amplamente utilizaram-se para manipular a opinião pública. Pessoas disseminaram notícias falsas sobre os candidatos nas redes sociais com o objetivo de prejudicar suas imagens e favorecer seus adversários.

    No trabalho em Psicologia das massas é possível avaliar o efeito das Fake News no mundo moderno. A figura das massas elaboram imagens de modo muito simples sem ao menos colher informações coesas. Com isso, aos interessados, as Fake News se tornam um recurso para controlar a vontade das massas e obter poder.

    Retomando à obra, as massas são descritas como aglomerados sem muita vontade e vulneráveis a um poder maior. No mundo político, os políticos disseminam livremente argumentos falaciosos para obterem vantagens ou mesmo um ganho específico. Isso é possível porque as histórias implantadas acabam ensandecendo as pessoas.

    Características

    O trabalho construído em Psicologia das massas revela pontos indiscutíveis a respeito da postura humana. De modo geral é como se as novas gerações acabassem mescladas às antigas, perpetuando características inevitáveis da sociedade. Isso pode ser visto na:

    Intolerância

    A violência sempre se mostrou como resposta imediata ao que era contrário da maioria. Por exemplo, pense nos ataques sofridos aos grupos da Umbanda e do Candomblé por extremistas cristãos. Já que os primeiros não obedeciam ao grupo maior, foram e continuam sendo agredidos das mas variadas formas.

    Extremismo

    É difícil alcançar a ideia de meio termo quando se tem um grupo muito exaltado comportamentalmente. Os sentimentos dessas massas são simples, lineares, mas também manipuláveis. Dependendo do meio em que vivem, isso resulta em um tipo de sofrimento específico, gerado particularmente por tais oposições.

    O exagero é funcional

    Para um líder ser visto e obedecido no grupo, não precisa construir logicamente seus argumentos. Na maioria das vezes, a criação de imagens fortes e chocantes é suficiente para tal. A repetição das falas, bem como o exagero bem empregado, costumam convencer e converter milhões de pessoas.

    A singularidade vinda de modelos

    Ao longo da leitura de Psicologia das massas fica evidente que todos nós somos frutos de uma criação. O ser humano não se desenvolve como uma página em branco sem qualquer rascunho. Ele é moldado, de maneira que outros elementos já existentes impactaram em sua construção de vida.

    Somos criaturas singulares, sim, mas essa particularidade foi feita através de outros seres sociais. Nossos pais, amigos, escolas, igreja, empresas e até endereço contribuem para a formação de quem somos e viremos a nos tornar. Por meio de tudo isso, o ser humano formulou a sua perspectiva em relação a si mesmo em sociedade.

    Com isso, nós acabamos tendo uma repetição de um padrão dominante captado de uma força externa. Veja um exemplo: crianças que convivem mais com os avós tendem a puxar mais aspectos destes do que os próprios pais.

    O famoso “criado pela vó” reflete em suas ações a vida de uma pessoa que cresceu em lar de brandura, algo pertencente à figura dos idosos.

    Ser individual X ser social

    Outro aspecto amplamente abordado em Psicologia das massas é a divisão insistente entre indivíduo e o grupo. Freud apontava que nós deveríamos ser vistos de modo menos linear e mais aberto. Não apenas sendo parte de nós mesmos sozinhos, mas também sendo vistos dentro de um grupo.

    Nisso, a Psicologia individual e a Psicologia social não faziam sentido se entendidas separadamente. Ao mesmo tempo em que reconhecemos nossas particularidades, é crucial nos enxergarmos como criaturas integrantes de um grupo.

    Consequências da influência sobre as massas

    O aparato trabalhado em Psicologia das massas explora um aspecto bastante reativo dos grupos no que tange à influência. Retomando Le Bon em suas introduções, fica claro que essa influência é um objeto bastante negativo aos grupos. Haveria regressão social humana, dando luz à:

    Estupidez

    O raciocínio se torna um item difícil de alcançar, principalmente em situações mais delicadas. Por causa disso, se cria uma aura em que, aparentemente, as pessoas parecem não pensar de forma suficiente. Em parte, isso explica porque descrevemos ações tão chocantes de outras pessoas como burrice inadmissível.

    Impulsos irracionais

    O homem regride a um ponto em que se entrega quase que completamente aos seus impulsos. Então, nesse caminho, se torna mais agressivo, impulsivo e irracionalmente violento com tudo o que o contraria.

    Anulação do Ego

    A pessoa vai perder a sua própria vontade e se deixar levar pela influência dos outros. Neste processo, é como se ela mesma perdesse o centro de sua própria identidade. Pense, por exemplo, na torcidas organizadas que agridem os semelhantes nas ruas e que não conseguem de uma resposta racional sobre suas ações.

    Considerações finais sobre Psicologia das Massas

    Enfim, Psicologia das massas foi um estudo necessário e importante para entender o movimento dos grupos em torno de um padrão. Graças a ele, conseguimos entender melhor o que conduz coletivamente os padrões sociais humanos.

    Contudo, cabe deixar claro que, em suas citações, Freud traz à luz a negatividade do indivíduo nas massas. Isso porque os círculos o ajudam a regredir ao estado primitivo de seus relacionamentos pessoais.

    Ao todo, a obra demonstra uma avaliação profunda sobre como nos comportamos quando estamos sozinhos e como somos manipulados por um poder maior.

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    3 thoughts on “Psicologia das Massas segundo Freud

    1. E isso deverá dar fim à humanidade a médio prazo… estou supondo…

    2. José Roberto Rosa disse:

      Excelente reflexão sobre Psicologia das Massas e atualizada em nossa sociedade. Parabéns.

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