relacionamentos e evolução psicossexual

Relacionamentos e evolução psicossexual dos parceiros

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Veja hoje sobre os relacionamentos e evolução psicossexual. Um casal pode estabelecer diversos tipos de relacionamento, conforme a fase do desenvolvimento psicossexual em que esteja cada parceiro. Essas fases foram definidas por Freud como: fase oral, fase anal, fase fálica e fase genital. A essas pode ser acrescentada a fase escópica, também chamada ocular, que Freud citou, mas sobre a qual não falou muito.

Entendendo sobre os relacionamentos e evolução psicossexual

A fase escópica ou ocular se daria logo ao nascimento. A fase oral está ligada à amamentação, nos primeiros meses de vida. A fase anal se estabelece um pouco mais tarde, com o controle dos esfíncteres uretral e anal. A fase fálica advém aos primeiros contatos com os órgãos genitais. Em cada uma dessas fases pode acontecer uma fixação em seus objetos de prazer e suas zonas erógenas: são os objetos parciais.

Por volta dos quatro anos, ocorre o Complexo de Édipo, que é o início da fase genital, quando a criança percebe seu desejo pelo genitor de sexo oposto justamente quando tal desejo é interditado. A fase genital ressurge na puberdade após um período de latência. Se o Complexo de Édipo foi bem resolvido, o indivíduo encontra outro com quem se relacionar, e é nesse momento que se completa o desenvolvimento psicossexual. Se o indivíduo ficou preso ao relacionamento com um dos pais, há uma fixação na fase genital.

Assim, a relação que a criança estabelece com o “outro” no decorrer dessas fases, fixando-se em algum tipo de comportamento ou modo de pensar, será na vida adulta reencenada com um parceiro sexual. Aqui identificamos nove tipos de relacionamento, nomeados segundo o elemento que se destaca em cada um. Geralmente, cada casal se fixa em um deles, mas nada impede que evoluam ou involuam de um tipo a outro. Nada impede também que haja outros tipos, aqui não identificados.

Os relacionamentos de acordo com a evolução psicossexual dos parceiros

1. IMAGEM – Fase escópica ou ocular. Imago. Espelho. Pré-linguagem. Período intrauterino e nascimento.

O bebê percebe a si mesmo, a mãe e o universo todo como contidos no mesmo corpo. Sem a linguagem, não há diferença entre o eu e o outro, e, sim, total identificação. O relacionamento, nesse nível, se baseia em fantasias, onde habitam os fantasmas, ou seja, lembranças remotas na forma de imagem. Há uma imagem ideal, que vem do espelho, uma imagem que reflete o eu ideal, calcada na forma com que se foi recebido neste mundo. Se houve uma aceitação, essa imagem é forte. Senão, ela vacila, como um reflexo na água. Essa imagem, esse olhar, é que sustenta a noção de valor de cada um.

O olhar do outro faz reproduzir essa imagem. O outro é visto como alguém que pode nos olhar de uma maneira favorável e refazer essa imagem. A sensação de ser aceito e desejado traz euforia. A fantasia, baseada nos sentimentos oceânicos que se experimentou no útero, torna a fusão com o outro uma meta atingível.

Algumas vezes, quando o ideal de um dos parceiros é muito compatível com o do outro, o relacionamento consegue se estabelecer, entre parceiros que se consideram “almas gêmeas” e “feitos um para o outro”. O relacionamento fica no âmbito das identificações, que são consideradas um atestado de seu encaixe perfeito. Porém, se a imagem acaba não correspondendo à realidade, ela trinca, como o espelho, e não “cola” mais, não funciona mais como sustentáculo do eu no mundo. Isso pode levar ao outro lado da euforia, que é a melancolia.

Os relacionamentos e evolução psicossexual e o amor platônico

Assim, esse tipo de relacionamento em geral costuma se deter no estágio que se chama “amor platônico”, não chegando à realização sexual. Uma imagem do ser amado na lembrança satisfaz aquele que ama.

Ou então ver a pessoa amada, idealizar um encontro, escrever mensagens nunca enviadas. A desculpa é a “timidez”. Mas a verdade é que um encontro real desfaria a imagem idealizada, por mostrar outro ser humano real, de carne e osso, com qualidades e defeitos, direitos e deveres.

No tempo dos cavaleiros medievais, esse tipo de relacionamento já foi uma instituição, tendo cada cavaleiro sua dama inatingível, a quem podia amar e honrar… de longe. Atualmente, é comum na adolescência e fácil de se obter na internet.

2. INTENSIDADE – Fases ocular, oral e fálica

Este é um relacionamento que, por ter um forte componente sexual, cresce em intensidade em relação ao anterior, ainda que se busque uma aceitação incondicional por parte do outro. Os parceiros têm uma tendência bipolar. Seria o relacionamento do bipolar com a borderline. Como a fusão idealizada não acontece o tempo todo, ou simplesmente não acontece, a tensão sexual se transforma em brigas e expressões emocionais carregadas. O casal fica com fama de “barraqueiro”.

Por se ter o anseio de uma fusão tão completa, o ciúme também é excruciante. Um dos tipos de paranoia é o ciúme, que geralmente se manifesta em doses cavalares nesse tipo de relacionamento, vindo de um ou ambos os parceiros. Isso acontece porque, se o que deu segurança foi a imagem de aceitação do outro, a perda dessa imagem pode deflagrar forte crise de insegurança existencial, seguida de intenso ódio, pelo poder que se dá ao outro.

Se houver um forte componente oral nos parceiros, eles terão vícios que revezarão com o vício no próprio relacionamento, o que de certa forma é um modo de equilibrar este último, de maneira que não haja nem fusão, evidentemente impossível, e nem separação definitiva.

3. SIMBIOSE – Fase oral

Nesse tipo de relacionamento, ambos os parceiros não conseguiram chegar a um desenvolvimento sexual adequado e permaneceram fixados no patamar das necessidades orais, aquelas que vieram pela amamentação, que não foram adequadamente satisfeitas. Assim, esse tipo de relacionamento aumenta em carência e perde em intensidade em relação ao anterior.

Os parceiros querem incorporar o “seio” perdido, e veem um no outro a possibilidade de satisfação de seus anseios. Já não há uma expectativa de identificação, mas de nutrição por um objeto parcial que é percebido como parte de si mesmo. Com isso, os parceiros podem se relacionar em nível extraordinariamente íntimo, no qual as fronteiras de ambos parecem se perder, o que cria muita dependência um do outro. Há uma visível regressão quando estão juntos, falando “tatibitate” e se tratando como bebês.

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    Só interagem socialmente em dupla, fazem tudo juntos, não conseguem mais se ver como uma pessoa separada. Há casais em que um parece ter “engolido” o outro. Como essa é uma visão irrealista de um relacionamento, este acaba por se tornar mais difícil, especialmente quando um dos parceiros se ressente de tantos cuidados que o outro cobra, ou se sente emocionalmente drenado.

    Oral compensado

    Seu parceiro quer ser “carregado”, tanto no colo quanto de energia. Se ele ameaçar ir embora, pode se ver diante de atitudes desesperadas por parte do outro. Geralmente não vai, porque também desenvolveu codependência do parceiro, e, em outro momento, pode ser ele a fazer tais cobranças emocionais.

    Por outro lado, o carente pode encontrar o tipo chamado “oral compensado”, que não admite ter necessidades e se satisfaz satisfazendo as necessidades alheias.

    Aí é o par perfeito. Sexualmente, é difícil que os parceiros estabeleçam carga para uma relação sexual completa, e frequentemente ocorre a ejaculação precoce.

    4. EXPLORAÇÃO – Fases oral e anal

    Esse relacionamento acontece quando a pessoa carente (oral) encontra um parceiro que chegou no nível anal e já tem uma visão do outro, não como objeto indispensável, mas como objeto manipulável. Ele próprio, na infância, sentiu-se usado, tratado como um objeto manipulável, vítima de diversas chantagens emocionais. O ódio que nutre por isso não transparece nos olhos opacos, mas se deixa entrever nos maxilares trancados.

    Assim, ele seduz objetivamente o oral de tal modo que este fica nas mãos dele, assim como um objeto, e o explora até extrair tudo o que pode lhe dar. São os relacionamentos que estampam os sites de notícias sobre “golpes em sites de relacionamentos”. Estes sempre parecem óbvios, mas a vítima custa a perceber.

    Claro, seu parceiro psicopata aprendeu na infância a ler as reações da mãe ou cuidadora para poder dominá-la, e usa esses dados sem dor na consciência, já que se sente nesse direito por ter sido “privado” de alguma coisa que não sabe bem o quê. Na verdade, esse tipo de pessoa foi privado de ter uma identidade própria por uma mãe abusadora, e só vai superar isso se abrir mão de fazer o mesmo com outras pessoas. Já o parceiro oral precisa urgentemente de amor-próprio e noção de sua individualidade para poder se libertar.

    O amor

    O amor aqui não é incondicional como nos outros tipos de relacionamento. Este deve preencher certas condições, que um dos parceiros impõe ao outro.

    Se ele não consegue pela sedução, começa a usar outros meios de coerção, como chantagem ou mesmo violência, para atingir seus objetivos. Ele precisa ter o controle da situação, ou se sente totalmente desamparado.

    As pessoas de forte oralidade, ou seja, muito carentes, devem ficar atentas aos que se aproximam delas, muito sedutores, muito ansiosos por entrar no relacionamento e aparentando uma perfeição irreal. É cilada.

    5. TORTURA – Fase anal

    Nessa fase, a educação no uso do banheiro pode ter efeito de tortura para uma criança pequena, sem falar nas palmadas. Por outro lado, ela pode descobrir que o que ela faz ou deixa de fazer é muito importante para os pais, tornando-se ela mesma a torturadora, ao negar o que eles querem. Bater e esmagar são impulsos que surgem nessa fase, assim como o sentimento de humilhação e o prazer de apanhar. O sadismo e o masoquismo são, portanto, comportamentos típicos de quem se fixou na fase anal.

    Esse tipo de relacionamento inclui o sadomasoquismo clássico, em que um parceiro, o masoquista, se torna “escravo” do outro, que faz o papel do sádico, por livre e espontânea vontade, submetendo-se às suas vontades tanto na cama quanto fora dela. Mas há outros tipos de tortura. A ênfase aqui é na dominação, e esta pode se dar também pelo masoquista, que domina o parceiro com suas queixas extenuantes e sua submissão ostensiva.

    Objetos e fetiches e outros tipos do que é considerado perversão também podem ser o que desencadeia a excitação sexual. Esta se detém em determinado platô, nunca chegando à gratificação do orgasmo genital. O prazer é algo que deve ser arrebatado mediante tortura. O masoquista não se permite gozar se não for obrigado, mas não vai deixar quem o obrigou em paz, e esse é o seu verdadeiro gozo.

    6. TRAIÇÃO – Fase fálica

    A fase fálica é quando a criança toma consciência de seus órgãos genitais, e isso vale tanto para meninas quanto para meninos. Tais órgãos tornam-se objetos de poder ou motivo de vergonha, conforme a aceitação que tenham ou não dos pais.

    No primeiro caso, leva ao donjuanismo nos homens e à ninfomania nas mulheres. No segundo caso, os homens tornam-se moralistas e as mulheres se consideram santas. Esses dois grupos costumam se encontrar e casar entre si, e tais casais são de maneira geral considerados “normais”. O relacionamento é duradouro. Eles não têm atritos ou peculiaridades que chamem a atenção. O que eles fazem é na surdina.

    O homem que tem seu falo como objeto de poder, pois foi valorizado por isso, não o vincula ao relacionamento amoroso. É como se o órgão existisse por si só e devesse satisfazer a quem quer que o deseje. Assim, ele trai sem consciência de culpa. Por sua vez, a mulher com quem ele se relaciona geralmente é frígida e finge que não vê, pois isso a isenta da responsabilidade de lhe dar prazer. O mesmo acontece com a mulher, que se casa com um homem que a trata como deusa, pois assim se torna menos ameaçadora, e tenta alcançar com outros um prazer que nunca consegue, pois não chegou a integrar o órgão sexual ao restante da personalidade.

    7. VINGANÇA – Fases fálica e genital e relacionamentos e evolução psicossexual

    O impulso de vingança ocorre quando os desejos sexuais da criança foram frustrados depois de aceitos. Golpes de faca são uma expressão radical desse impulso. O relacionamento que estaciona nessa fase se transforma num ringue. Os dois parceiros querem ter razão, ser os “donos da bola” ou do “falo”. Como já foi dito, isso vale para homens e mulheres. O falo se torna uma espada com a qual se digladiam entre si.

    A relação também se transforma num tipo de tortura, porém, com características diferentes do tipo 5. A questão é mais verbal, porque chegaram ao nível da linguagem, que é o genital. É a famosa “picuinha”. Por transferência, o parceiro se transforma naquele genitor de quem querem se vingar.

    É um tipo de relacionamento que sempre parece que vai logo acabar, mas que dura anos. O ódio cria laços mais fortes que o amor. A separação é necessária para que o sujeito se individualize, então, a relação parece ter algum sentido, mesmo nos piores momentos.

    8. DEFASAGEM – Fase genital em estrutura psíquica neurótica

    É a fase edipiana, em que o genitor de sexo oposto é reconhecido como objeto total, porém, interditado. Isso gera uma frustração, que é sentida como castração, e com ela a noção da falta. A falta induz ao desejo de ter o que falta, e o neurótico fica preso a isso. Aqui, pela primeira vez, os indivíduos se reconhecem um ao outro como seres diferentes e independentes, que parecem se complementar. Com um desenvolvimento espontâneo até a fase genital, os dois podem estabelecer uma relação afetiva e sexual saudável.

    O próprio encontro com o outro leva a um amadurecimento sexual. É o que seria esperado acontecer no fim da adolescência e início da vida adulta. No entanto, quando o casal é neurótico – ela, histérica e ele, obsessivo – ocorre uma defasagem de desejo. O desejo nasce da falta, logo, é algo impossível de se satisfazer. Em cima dessa falta o casal estabelece a dinâmica de sua relação.

    A histérica quer manter o desejo sempre vivo; logo, não pode ter o gozo. Assim, ela seduz para depois se negar. O obsessivo só quer o gozo, e não quer atender às demandas da parceira. Assim, ele mata o desejo desta só para depois querer ressuscitar. O obsessivo é aquele que “pensa, logo existe”; a histérica, ao contrário, não pensa para poder existir.

    Trauma de infância e os relacionamentos e evolução psicossexual

    Uma situação sexual traumática na infância bloqueou o desenvolvimento deles. Devido à questão edipiana, a triangulação também é comum.

    Uma terceira pessoa é inserida na relação, para que esta possa se manter. A histérica às vezes até prefere que seu amado esteja com outra, mas pensando nela. Ou então está com o marido, mas pensando naquele que acendeu seu desejo. O obsessivo pode ficar obcecado com os outros parceiros que a mulher possa ter tido ou vir a ter. Ou pode estar com a sua mulher pensando naquela que não pode ter.

    Esse casal também pode durar por anos, mesmo que seja uma “relação ioiô”, que vai e volta, mas umas sessões de psicanálise poderiam ajudá-los a chegar ao encontro existencial pelo qual tanto anseiam.

    9. ENCONTRO EXISTENCIAL – Fase genital

    Essa seria a coroação do desenvolvimento psicossexual: o reconhecimento do outro como ser independente, separado, livre e capaz de compartilhar conosco momentos mágicos, que jamais se repetem. Nesse tipo de relacionamento, os parceiros confiam um no outro. Seria a relação objetal pós-ambivalente, que superou os afetos de amor canibal e ódio sádico de tipos anteriores. O que não significa que esse relacionamento não possa incluir fantasias, rusgas, e outros elementos dos tipos anteriores.

    A capacidade de entrega se manifesta no sexo como potência orgástica, ou seja, a capacidade de se entregar aos movimentos involuntários que se seguem ao orgasmo. O relaxamento que se segue ao ato aproxima ainda mais os parceiros, em vez de afastá-los, como nos tipos em que o parceiro é visto como objeto.

    Cada membro do casal usa a energia produzida por esse encontro no desenvolvimento da própria vida, sem inveja, ciúme ou competição com o parceiro, e o amor entre eles só aumenta com o tempo.

    Conclusão

    A psicanálise, identificando em qual fase ocorreu a fixação de cada parceiro, pode ajudar a evitar esses tipos de relacionamentos. Eles podem se transformar em verdadeiras armadilhas, que se repetem mesmo trocando de parceiro.

    A análise séria e honesta de sua vida amorosa leva cada um a superar suas próprias fixações e investir em seu próprio desenvolvimento psicossexual, para chegar a estabelecer um relacionamento maduro, harmônico e com respeito pelo outro.

    Artigo escrito por Adriana Rodrigues( [email protected]), Psicanalista e escritora.

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