Superdotação intelectual (SI), conforme a American Psychological Association (APA, 2023) é “o estado de possuir uma grande capacidade natural, talento ou inteligência, que geralmente se torna evidente em uma idade muito jovem”.
Entendendo sobre a superdotação
A superdotação intelectual é uma habilidade intelectual significativamente superior à média, sendo frequentemente categorizada como um QI (quociente de inteligência) a partir de dois desvios-padrões acima da média (que seria superior a 130 para a maioria dos testes de QI). O quociente de inteligência (QI) é uma medida da inteligência humana.
As pessoas que desejam ter seu QI medido fazem testes padronizados e recebem uma pontuação que classifica seu nível de inteligência. Quanto maior a pontuação de QI de uma pessoa, mais inteligente ela será considerada. O teste de QI mais utilizado em todo o mundo é o WAIS (Wechsler Adult Intelligence Scale), ou, em português, Escala de Inteligência de Wechsler para Adultos.
Dentre os países cuja população apresenta as maiores médias de QI do mundo, o Japão se destaca, em primeiro lugar, com um QI médio em torno de 106,5; seguidos por Taiwan (QI: 106,4) e Cingapura (QI: 105,3). O Brasil ocupa o 98º lugar com um QI médio em torno de 83,3.
A superdotação e o SI
Alguns artigos costumam colocar o QI de Einstein em 160, embora não esteja claro em que essa estimativa se baseia, uma vez que o teste de QI ainda estava em seus estágios iniciais no início de 1900, quando Einstein emergiu como um luminar científico. A SI pode ser geral ou específica. Por exemplo, uma pessoa intelectualmente dotada pode ter um talento notável para a matemática, mas não ter habilidades linguísticas igualmente fortes.
Superdotação intelectual, portanto, é diferente de uma simples habilidade, pois habilidades são comportamentos aprendidos ou adquiridos, enquanto a SI é uma aptidão pessoal inata para atividades intelectuais que não podem ser adquiridas por meio de esforço pessoal.
Várias ideias sobre a definição, desenvolvimento e melhores formas de identificar superdotação intelectual foram apresentadas. Já é consenso, atualmente, que o dom intelectual não é a única forma de talento. Existem muitas concepções teóricas de superdotação, sendo que as de Francoys Gagné e Joseph Renzulli são duas das mais proeminentes.
Teoria da Inteligência Bem-sucedida
Outras incluem a Teoria da Inteligência Bem-sucedida de Robert Sternberg e a Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner. Gagné propõe, em seu Modelo Diferenciado de Superdotação e Talento, uma clara distinção entre superdotação e talento. Neste modelo, o termo superdotação designa a posse e uso de habilidades naturais não treinadas e expressas espontaneamente (chamadas aptidões ou dons) em, pelo menos, um domínio de habilidade em um grau que coloca uma criança entre os 10% melhores de seus pares de idade.
Em contraste, o termo talento designa o domínio superior de habilidades (ou habilidades) sistematicamente desenvolvidas e conhecimento em, pelo menos, um campo da atividade humana em um grau que coloca a realização de uma criança dentro dos 10% superiores de seus pares de idade que são ativos nesse campo ou campos.
O seu modelo apresenta cinco domínios de aptidão: intelectual, criativo, socioafetivo, sensório-motor e “outros” (por exemplo; percepção extrassensorial). Essas habilidades naturais, que têm um claro substrato genético, podem ser observadas em todas as tarefas com as quais as crianças se deparam no decorrer de sua escolarização.
Renzulli e a superdotação
Já para Renzulli, com a sua Teoria dos Três Anéis, o comportamento superdotado ocorre quando há uma interação entre três grupos básicos de características humanas: habilidades gerais e/ou específicas acima da média, altos níveis de comprometimento com a tarefa (motivação) e altos níveis de criatividade.
Crianças superdotadas e talentosas são aquelas que possuem ou são capazes de desenvolver esse composto de traços e aplicá-los a qualquer área potencialmente valiosa do desempenho humano.
Conforme observado no Schoolwide Enrichment Model (ou, Modelo de Enriquecimento Escolar: programa de desenvolvimento utilizado com estudantes academicamente dotados, bem como uma conduta de melhoramento geral para todas as instituições de ensino estimuladas a desenvolver os talentos de seus alunos), comportamentos superdotados podem ser encontrados “em certas pessoas (não em todas as pessoas), em determinados momentos (não o tempo todo) e sob certas circunstâncias (não em todas as circunstâncias)”. (Renzulli, 2014)
A superdotação e Howard
Em relação à Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner, há uma proposição da existência de vários tipos de “inteligências” não intelectuais, como a inteligência corporal-cinestésica e a inteligência interpessoal. A inteligência emocional é um termo amplo para um tipo de inteligência não intelectual.
Quando combinado com um currículo adequadamente desafiador e a diligência necessária para adquirir e executar muitas habilidades aprendidas, o talento intelectual geralmente produz sucesso acadêmico. Há também a superdotação artística ou criativa, que pode ou não ser combinado com superdotação intelectual.
Muitas escolas e organizações já têm utilizado, como base para avaliar a superdotação, não apenas o QI, mas uma combinação de atributos, incluindo uma ou mais das seguintes características: alta capacidade intelectual, desempenho acadêmico, desempenho demonstrável no mundo real, criatividade, comprometimento com tarefas, talento comprovado, habilidades de liderança, e proeza física ou atlética. (APA, 2023)
QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE
A combinação de vários atributos, ou a proeminência de um atributo primário, pode ser considerada como um indício para a caracterização da superdotação. (APA, 2023)
Teoria do desenvolvimento
As crianças superdotadas podem se desenvolver de forma assíncrona, ou seja, suas mentes geralmente estão à frente de seu crescimento físico, e as funções cognitivas e emocionais específicas são geralmente desenvolvidas de maneira diferente (ou em graus diferentes) em diferentes estágios de desenvolvimento.
Um exemplo frequentemente citado de assincronicidade no desenvolvimento cognitivo inicial é Albert Einstein, que não falou até os quatro anos, mas cuja fluência e realizações posteriores desmentiram esse atraso inicial. Para desenvolvimentistas pós-freudianos, como Jean Piaget, crianças superdotadas podem avançar mais rapidamente através dos estágios de desenvolvimento cognitivo teorizados pelo psicanalista.
O trabalho de Kazimierz Dabrowski sugere que crianças superdotadas têm maiores “excitabilidades” psicomotoras, sensuais, imaginativas, intelectuais e emocionais. Indivíduos superdotados, portanto, experimentariam o mundo de maneira diferente, resultando em certos problemas sociais e emocionais.
Conclusão sobre a superdotação
Não apenas de alegrias, conquistas e realizações vivem crianças e adultos superdotados.
Experiências sociais e emocionais ruins são bastante comuns, podendo serem o reflexo das diferenças entre suas habilidades e de seus colegas, das tendências à introversão e problemas com aceitação social, dos conflitos ou ansiedades associados com suas experiências internas de superdotação e de uma natureza crítica e autocrítica intensas, muitas vezes resultando em perfeccionismo e/ou baixa autoestima.
Pais, adultos e cuidadores precisam estar em sintonia com as necessidades específicas dos superdotados e ajudar a moldar uma estrutura sólida para a saúde socioemocional. Por isso a importância de identificar as altas habilidades e superdotação o mais precoce possível, permitindo ao indivíduo que aprenda sobre si e que possa desenvolver todas as suas potencialidades.
Referências
1. AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. APA Dictionary of Psychology. Disponível em: <https://dictionary.apa.org/giftedness>.
2. WORLD POPULATION REVIEW. Countries by IQ – Average IQ by Country 2020. Disponível em: <https://worldpopulationreview.com/country-rankings/average-iq-by-country>.
3. KIGER, Patrick. What Was Albert Einstein’s IQ? Disponível em: <https://www.biography.com/scientists/albert-einstein-iq>.
4. LOOTI, Mohammad. Intellectual Giftedness Concepts In Psychology. Disponível em: <https://scales.arabpsychology.com/2022/11/19/intellectual-giftedness-2/>. Acesso em: 12 maio 2023.
5. Renzulli, J. (2014). Modelo de enriquecimento para toda a escola: um plano abrangente para o desenvolvimento de talentos e superdotação. Revista Educação Especial, 7(50), 539–562. https://doi.org/10.5902/1984686X14676
6. NATIONAL ASSOCIATION FOR GIFTED CHILDREN. Theoretical Frameworks for Giftedness | National Association for Gifted Children. Disponível em: <https://dev.nagc.org/theoretical-frameworks-giftedness#:~:text=Renzulli%3A%20Gifted%20behavior%20occurs%20when>.
Este artigo sobre superdotação intelectual ou hiperdotação intelectual foi escrito por Jorge Gilberto Castro do Valle Filho (Instagram: @jorge.vallefilho). Médico Radiologista, membro titular da Associação Médica Brasileira e do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem. Especialista em Neurociência e Neuroimagem pela Johns Hopkins University – Maryland/EUA. MBA em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Gestão de Cuidados da Saúde pela Miami University of Science and Technology (MUST University), Flórida/EUA. Formação e Certificação em Inteligência Emocional, Mentalidade de Alta Performance e Gestão de Emoções pelo Instituto Brasileiro de Coaching – IBC. Formando em Psicanálise pelo IBPC.