resistência e transferência

Resistência e Transferência: conceitos e diferenças em Psicanálise

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Através da compreensão, enquanto subjetividades, os fenômenos da resistência e transferência, trazidos nas obras freudianas, acontecem durante a relação terapêutica.

Entendendo sobre a resistência e transferência

Se formos buscar o significado das palavras resistência e transferência em dicionários da língua portuguesa, como em Michaelis (2015), encontraremos que resistência é a propriedade de um corpo que reage contra a ação de outro corpo; é o não ceder; o ato de defesa. E transferência seria, a passagem ou mudança de algo ou alguém de um local para outro; é o deslocamento; a transição, a troca.

Primeiramente falaremos sobre a resistência, enquanto conceito psicanalítico. Freud utilizou a palavra em alemão “Widerstand” que se traduz como resistência: ‘o que tenta sabotar a associação-livre, regra fundamental do contrato analítico’.

Sendo determinado em Laplanche e Pontalis (1988, p. 595-6) como, “tudo o que, nos atos e palavras do analisando, se opõe ao acesso deste ao seu inconsciente” e em Roudinesco e Plon, (1998, p. 659) como, “o conjunto das reações de um analisando cujas manifestações, no contexto do tratamento, criam obstáculos ao desenrolar da análise”.

Psicanálise, resistência e transferência

Esses autores referenciam a grande importância do fenômeno resistência na psicanálise, caracterizando como – a oposição de ideias enfrentadas ou um obstáculo.

Em 1891, Freud fala da resistência como um obstáculo à hipnose, onde escreve em seu artigo Hipnose, que “sempre que surge uma intensa resistência contra o uso da hipnose, devemos renunciar ao método e esperar até que o paciente, sob a influência de outras informações, aceite a ideia de ser hipnotizado” (Freud, 1891/1987, p. 125).

Em 1893-1895/1996, Freud afirma que: a princípio, a técnica pareceu funcionar bem, fornecendo bastante conteúdo para a análise da paciente, porém, em algumas situações, parecia haver impedimentos de cuja natureza eu não desconfiava na época. E descreve sobre a paciente histérica: A resistência que ela havia repetidamente oferecido à reprodução das cenas que atuaram de forma dramática corresponde, na verdade, à energia com que a representação incompatível fora expulsa de suas associações (FREUD, 1893 – 1895/1996).

A concepção inconsciente

Com isso, foi percebido que o fenômeno da resistência em relação à hipnose era uma resistência consciente, afastando-se da concepção inconsciente psicanalítica. Analisada como íntima ao mecanismo do recalque, a psicanálise buscou através do inconsciente uma forma de ‘quebrar’ a resistência. Freud compreende ser necessário considerar esta resistência da paciente para relatar suas lembranças.

Entretanto, segundo Zimerman (1999) deve-se atentar que numa terapia onde o analisando paralisa por muito tempo, esse fato pode estar sendo um motivo para este paciente não se confrontar, nem confrontar o analista. Acrescentando que, uma certa ‘paralisação’ ou ‘altos e baixos’, durante a terapia, é natural, pois, a análise não é um processo linear até o progresso/resultado. A falta de ação e até alguns retrocessos precisam ser também levados em conta para reelaborar-se algumas ideias e se ultrapassar as resistências.

Sobre a transferência, seus estudos e análises são paralelos ao surgimento da psicanálise. Freud reflete sobre a ligação da transferência com a teoria do complexo de Édipo conceito de complexo de castração. A transferência pode ser em síntese as reedições de conteúdos edípicos, cujo fenômeno é apresentado por Freud – ao mesmo tempo, como obstáculo e facilitador do tratamento psicoanalítico.

A resistência e transferência em bases freudianas

Zimerman (1999, p. 335) entende a transferência, sendo “[…] um investimento afetivo que o paciente realiza nas primeiras manifestações de interesse em seu próprio tratamento”. A partir do momento que a ‘aliança terapêutica’ está sendo construída, o paciente investe seus sentimentos afetivos na pessoa do próprio terapeuta (ZIMERMAN, 1999).

A autora Maurano (2006 p.15-16) analisa a transferência com bases freudianas, como:

“[…] a matéria prima afetiva por onde o analista terá acesso ao inconsciente do paciente, de modo que, através dela, o paciente se colocará na atitude chamada ‘compulsão à repetição’, atuando/atualizando de uma forma que permitirá a interpretação e o manejo do profissional. Um laço afetivo intenso, que se instaura de forma quase automática e independente da realidade, na relação com o médico, revelando o pivô em torno do qual gira a organização subjetiva do paciente”.

O conteúdo sexual

Enquanto Lourenço (2005 p. 143) afirma que, o fenômeno da transferência sempre possui um conteúdo sexual, e que o “sentimento transferencial se encontra pronto, por antecipação, só aguardando a oportunidade de dirigir-se à figura do terapeuta, o qual, por sua vez, ocupa na transferência o lugar de algum personagem importante na história do paciente”.

A autora, citando Freud (1937/1980), alerta que:

[…] durante todo o percurso do tratamento o analista permanece com o foco dos conteúdos edípicos. Essa permanência cria obstáculos, talvez intransponíveis, para o manejo da transferência. Sem uma finalização adequada dos sentimentos transferenciais, torna-se problemática a questão referente aos términos dos tratamentos analíticos (LOURENÇO, 2005, p. 149).

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    Conclusão

    Chamamos a atenção também, para a contratransferência, que se não for bem refletida pelo analista, enquanto questões psíquicas, poderá se tornar um modo do analista projetar-se no paciente. Por isso, o psicanalista deve levar em consideração não somente a teoria, mas também a análise pessoal e a supervisão.

    Mais uma vez, a partir dos autores pesquisados, podemos concluir que Freud conseguiu através das descobertas e confirmações trazidas em sua obra, que a transferência se relaciona de modo imprescindível com o tratamento, apesar de não haver trazido o desfecho desse fenômeno transferencial com uma possível finalização do processo de análise.

    Porém, Sigmund Freud traz a diretiva para que a clínica de psicanálise seja continuamente refletida e reinventada, acompanhando os inconstantes percursos do desejo.

    Referências

    FREUD, S. (1891/1987). Hipnose. In S. Freud, Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 1, pp. 123-133) (2a ed.). Rio de Janeiro: Imago.

    FREUD. S. (1893 – 1895/ 1996) ESB, v. II. Estudos sobre a histeria. Rio de Janeiro: Imago.

    FREUD, S. (1912/1980). A dinâmica da transferência (J. O. A. Abreu, Trad.). Em J. Salomão (Org.), Edição standard brasileira de obras completas de Sigmund Freud (Vol. XII, pp.131-143). Rio de Janeiro: Imago.

    LAPLANCHE, J., & PONTALIS, J.B. (1988). Vocabulário da psicanálise (10a ed.). São Paulo: Martins Fontes.

    LOURENÇO, Lara Cristina d. Transferência e Complexo de Édipo, na obra de Freud: Notas sobre os Destinos da Transferência. Psicologia: reflexão e Crítica, 2005.

    MAURANO, Denise. A transferência: uma viagem rumo ao continente negro. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

    MICHAELIS, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Equipe de lexicografia. Editora Melhoramentos, 2015.

    ROUDINESCO, E., & PLON, M. (1998). Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

    ZIMERMAN. David E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica – uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed, 1999.

    Sobre o(a) Autor(a): este artigo sobre definição e diferenças entre resistência e transferência foi escrito por JOSIMARA EVANGELISTA DE SOUZA. Sou psicóloga em formação e trabalho com Psicanalista em Salvador, BA; me encontre no instagram @josimaraevangelistade.

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