Hoje falaremos sobre o consumo excessivo. Por volta da década de 1940, o capitalismo teve uma grande expansão. Após a segunda grande guerra o mundo apresenta as seguintes correntes político-econômicas: os Capitalistas, como líder os Estados Unidos da América (EUA) e os Socialistas, liderados pela União Soviética.
Por este motivo, pode-se inicialmente considerar o consumismo como um dos problemas originados pela existência do sistema capitalista e em seguida a globalização. Alves (2007, p.15) relata que “o problema financeiro das pessoas surge a partir da falta de educação financeira, tendo como base a falta de planejamento.
Entendendo sobre o consumo excessivo
Em uma sociedade altamente consumista, quanto maior a renda familiar maior os gastos, e, consequentemente, maior o seu endividamento”. As autoras Perleberg e Lubeck (2014, p. 7) afirmam que, “grande parte da população perde o controle de seus gastos, pois desconhece uma forma de organizar, controlar e calcular seus proventos e despesas e o equilíbrio das finanças encontra outro desafio quando se observa as várias ‘armadilhas’ do mercado”.
As autoras ainda explicam que o consumo desenfreado leva as pessoas em direção às dívidas intermináveis, às vezes se prolongando por toda a vida. Esse comprometimento é muitas vezes causado por medo de parecer fora do seu círculo social, gerando insegurança, onde o mercado tira proveito da situação. Porém, para a psicanálise, a questão do consumo excessivo vai além da falta de educação financeira.
O consumo é algo tido como natural. Entretanto, o consumismo passa a lidar com o excesso, com a compulsão por compra, tornando-se uma patologia. Essa patologia se caracteriza por um comportamento obsessivo em relação à atitude do comprar.
O consumo excessivo para Freud
Freud (1907/1986 apud Filippi; Sadala & Loures, 2019) explicam que, o sintoma obsessivo se dá no pensamento dessas pessoas, com o que Freud denomina inicialmente, de ‘ideias obsessivas’ e depois do ‘pensar obsessivo’; nesses casos se estabeleceria então uma base de pensamento patológico, sendo muito comum os obsessivos ficarem presos por uma cadeia interminável de pensamentos.
Ainda em um entendimento Psicanalítico, quando o indivíduo se depara com uma angústia, os sintomas compulsivos podem aparecer como uma tentativa de alívio. Exemplificando-se, no ato de comprar compulsivamente, busca-se a satisfação dos próprios desejos, e quando esses desejos são satisfeitos, o pensamento se volta para realização de um novo desejo.
Freud (1907/1986 apud Filippi; Sadala & Loures, 2019) afirmam que o mecanismo da neurose obsessiva está sob uma vigilância inconsciente para barrar o conteúdo recalcado à consciência, contudo, os sintomas da neurose de obsessão são de tendências contraditórias, ocasionando culpa, autorrecriminação e ambivalência. Correlaciona-se a origem desses sintomas ao sentimento da falta de proteção dos pais, nos primeiros anos de vida, que coincide, conforme Freud, com a fase anal.
A concepção freudiana
Com isso, Freud inferiu sobre os impulsos de ódio e do erotismo anal, a formação dos sintomas da neurose obsessiva. O indivíduo que apresenta uma neurose obsessiva seria uma regressão a um estádio pré-genital, sádico e anal-erótico. Macedo (2005), com base na concepção freudiana explica que, a partir de um trauma origina-se no psiquismo uma força excedente de energia, denominada de gozo inconsciente e doloroso – que necessitaria ser recalcada.
Todavia, o processo de recalque também origina força no psiquismo que tenta dominar essa carga excedente, de modo que ocorre uma sobrecarga, e com isso, entram em conflito. O consumismo pode ser entendido como um autocuidado, no empenho da redução do sofrimento psíquico, e assim, preenche-se o vazio existencial. Ao ser detectado em um indivíduo a presença de tais características, pode ser um indício de um transtorno hoje denominado oniomania.
Conforme Godoy (2021) a oniomania, é considerada uma doença que reflete o consumidor compulsivo por compras, é caracterizada como um transtorno de personalidade e mental, classificado dentro dos transtornos do impulso. Para compreender-se a oniomania, torna-se necessário entender que o objeto de desejo do consumidor compulsivo, o que lhe excita não é o objeto que ele comprou, mas sim, o ato de comprar (Godoy, 2021). Nesta convergência se faz o diagnóstico em psicanálise, cujo propósito é direcionar o tratamento.
Conclusão
Freud apontou a possibilidade de um resgate desse sujeito, onde, do ponto de vista psicanalítico, o processo inicialmente dependerá do vínculo entre paciente e analista. Durante as sessões de terapia o tratamento vai ocorrendo a partir do desenvolvimento da capacidade da observação de si mesmo, onde esse sujeito iniciará a diferenciar os pensamentos funcionais dos pensamentos disfuncionais e gradativamente poderá identificar os pensamentos obsessivos que disparam o processo compulsivo.
Com tal entendimento e autoconhecimento, os sintomas obsessivos compulsivos podem vir a reduzir na duração, na frequência e na intensidade. O paciente pode aos poucos escolher seus próprios pensamentos, “controlando” os pensamentos indesejados e consequentemente ações que também não deseja, esforçando-se para alcançar a redução de episódios obsessivos-compulsivos para as compras ou pelo menos buscar se relacionar de uma melhor forma com tais pensamentos obsessivos.
Para a Psicanálise, é um processo que depende da relação analítica, não há como prever a evolução. Com isso, apesar da neurose de obsessão ocorrer após um deslocamento do afeto de sua representação original, reprimida após um intenso conflito psíquico, a Psicanálise aposta no sujeito do desejo, pois a partir do seu querer, ocorre a possibilidade de mudar o seu destino.
Referências
• ALVES, F. Qualidade na educação fundamental pública nas capitais brasileiras: tendências, contextos e desafios. 2007. 243 p. Tese (Doutorado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. FILIPPI, A. S. D.; SADALA, M. da G. S. LOURES, J. M. T. A neurose obsessiva: da teoria à clínica. Artigo • Ágora (Rio J.) 22 (3) • Sep-Dec 2019 • Disponível em: https://www.scielo.br/j/agora/a/xCPHqZLQ3V3qTV4dHZfWXRB/?lang=pt Acesso: 22/04/2022.
• FREUD, S. A hereditariedade e a etiologia das neuroses (1896a). Rio de Janeiro: Delta Editora, 1986. (Ed. standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 3).
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• FREUD, Sigmund. A Disposição à Neurose Obsessiva: uma Contribuição ao Problema da Escolha da Neurose (1913). In: Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1969, v.XII, p.399-409.
• GODOY, Daniela Bueno de Oliveira Américo de. Como é a evolução do neurótico obsessivo no tratamento com o psicanalista. 2021. Disponível em: https://www.doctoralia.com.br/perguntas-respostas/como-e-a-evolucao-do-neurotico-obsessivo-no-tratamento-com-o-psicanalista-existe-cura. Acesso: 25/04/2022.
• LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. Neurose Obsessiva. Tradução: Pedro Tamen. Ed. 2001. São Paulo: Martins Fontes, 2004. Título original: VOCABULAIRE DE LA PSYCHANALYSE.
• MACEDO, M. M. K. (Org.) Neurose: leituras psicanalíticas. Porto Alegre: Edipucrs, 2. Edição, 2005.
• PERLEBERG, Tania Regina. LÜBECK, Kelly Roberta Mazzutti. A educação financeira como alicerce para um consumo mais consciente. Os desafios da Escola Pública Paranaense na perspectiva do Professor. Paraná, 2014.
Este artigo sobre consumo excessivo foi escrito por JOSIMARA EVANGELISTA DE SOUZA, psicanalista e psicóloga em formação, moro em Salvador BA, estou disponível no Instagram em @josimaraevangelistade, aguardo sua mensagem.