sentido do ego

O Real sentido do Ego

Posted on Posted in Teoria Psicanalítica

Hoje veremos sobre o sentido do ego. Durante grande parte da minha vida, li e ouvi nas mídias e nos livros de autoajuda coisas tipo: “O Ego é seu inimigo”, “Não se deixe levar pelo seu Ego” ou “Controle seu Ego”. É como se o Ego fosse sinônimo de vaidade, algo que me colocasse acima de tudo e de todos e fosse prejudicial às minhas escolhas.

A Diva Pop Beyoncé, que faz de suas músicas uma ode ao empoderamento feminino, em sua música – Ego – enaltece esse Ego vaidoso: “Eu tenho um ego imenso, Um ego tão enorme, Mas ele adora o meu grande ego. E isso é demais, Eu ando assim porque eu consigo me garantir.”

O sentido do ego

A palavra Ego vem do latim ego e quer dizer eu. Porém, quem cunhou e difundiu o termo foi o pai da Psicanálise, Sigmund Freud. Em seus estudos acerca da mente humana, Freud publica, em 1923, o livro “O Ego o Id e outros trabalhos”, onde propõe uma nova estruturação para o aparelho psíquico. Ele percebeu limitações em seu modelo atual, chamado de primeira tópica ou modelo topográfico, em que dividia as instâncias em Consciente, Pré-consciente e Inconsciente.

Sendo assim, ele sugeriu um novo modelo, complementar ao anterior, em que dividia as instâncias psíquicas em Ego, Id e Superego. Essa foi a segunda tópica de Freud – o modelo estrutural – a qual consolidou o termo Ego que, um século depois, foi cantado por Beyoncé e por milhões de pessoas que querem se sentir o máximo. Mas qual o sentido do Ego para a psicanálise? Não, não é excesso de vaidade e consideração a si mesmo.

O Ego é a instância mediadora de conflitos. Se, por um lado, temos um Id que é puro instinto e desejo, no outro extremo temos um Superego que é controlador e cheio de julgamentos. Acalmando essas duas instâncias está o Ego. Em minha mente criativa e viajante, eu imagino o Id como a figura de uma criança alegre e saltitante, em fase de descoberta, querendo colocar tudo na boca, correr pelada pela areia da praia, puxar o cabelo de outras crianças…

O sentido do ego e o superego

Já o Superego, imagino como se fosse um bigodudo dos anos 70, querendo controlar e dar lição de moral em tudo e em todos. O Ego seria a figura de uma mãe, por ora serena, outras vezes nem tanto, mas que coloca a roupa na criança para ela correr na areia vestida e avisa para o bigodudo que, calma, as coisas não precisam ser assim, tão rígidas.

A maneira como essas três instâncias interagem irá definir como a pessoa percebe e interage com o mundo ao seu redor e o papel do Ego é extremamente importante nessa interação. Ele, como bom mediador, também protege a nossa integridade psíquica de sentimentos ou desejos aversivos e intoleráveis.

Para isso, ele lança mão de mecanismos de defesa que, de forma inconsciente, ajuda a manter o relacionamento entre as instâncias psíquicas, fazendo com que não “surtemos”. Por exemplo, se uma criança passa por alguma situação traumática na infância, o Ego pode “esconder” esse sentimento no inconsciente, de maneira com que esse indivíduo possa continuar seu desenvolvimento apesar do evento traumático.

O sentido do ego e o mecanismo

A esse mecanismo, Freud deu o nome de recalcamento ou repressão. É o “varrer a sujeira para debaixo do tapete”. Só que, eventualmente, esses sentimentos escondidos podem querer romper a barreira do Ego e se manifestar de forma consciente. São aí que surgem os sintomas, a angústia… Mas o recalque não é o único mecanismo de defesa.

Sentimentos ou afetos aversivos para a pessoa podem ser também negados ou renegados (tem uma pequena diferença entre eles). A realidade é tão difícil que se inventa outra. Na negação, a realidade inventada se torna real para o indivíduo – ele realmente acredita nela. Já na renegação, esse rompimento com a realidade é parcial, ou seja, no fundo, no fundo, a pessoa sabe da mentirinha que ela conta pra si mesma.

Isso me faz lembrar de alguns líderes religiosos… Outro mecanismo de defesa do Ego bastante conhecido é a conversão orgânica. Somatização, para os mais íntimos. Quem já ouviu o ditado popular “Quando a mente adoece, o corpo padece”? Pois às vezes, os traumas encontram, no corpo, uma maneira de se expressar ou descarregar.

Conclusão

Uma dor idiopática, sem causa orgânica, que aparece após um divórcio. Uma alergia inesperada na pele que aparece “do nada” após uma decepção… Entretanto, de todos os mecanismos de defesa, o que eu mais gosto é a sublimação. A sublimação tem o poder da transformação. Por meio dela, grandes obras e descobertas foram realizadas.

O Ego do artista tem o poder de transformar o sofrimento em grandes obras de arte. Gabriel Garcia Márquez nunca teria escrito uma obra maravilhosa como O Amor nos Tempos do Cólera, se não tivesse tido um grande amor em seu repertório emocional. Eric Clapton compôs a música Tears in Heaven após a morte do filho.

Transformar sentimento ou sofrimento em arte ou trabalho é o que de mais maravilhoso nosso Ego pode fazer. Então, será que realmente o Ego é seu inimigo? Será que já não é hora de acertarmos as contas com essa figura popularizada do Ego e darmos a ele o sentido original, cunhado por Freud? Afinal, um Ego forte, bem-educado e preparado, faz com que levemos a vida com mais sensatez e leveza.

Este artigo sobre o sentido do Ego foi escrito por Fabiola Aurich (instagram: @parentalidade.comciencia), psicanalista em formação, pós-graduada em Neurociências e Neurodesenvolvimento e Funções Executivas. Host do podcast Parentalidade Comciência, um lugar de conhecimento sobre desenvolvimento infantil e familiar.

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