Shrek no divã: 5 interpretações psicanalíticas de Shrek

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Um conto de fadas onde o príncipe não é nada glamouroso e padrões são intensamente quebrados. O que saberíamos sobre o personagem Shrek se ele deitasse no divã?

Shrek é o personagem de uma série de livros e animação infantil de muito sucesso. O ogro de bom coração e humor ardido vive em um pântano, prezando a solidão e distância de qualquer relação amistosa. Contudo, ele se verá impelido a se pôr entre relações não planejadas por causa de seus sentimentos.

A amizade com o Burro falante e o amor pela princesa Fiona o farão se deslocar de seu pacato pântano. Em defesa de seus anseios, ele lutará para ter sua tranquilidade de volta, manifestando suas incertezas e vulnerabilidades. Ao longo desses percursos ele evolui em alguns aspectos.

A avaliação psicanalítica do personagem nos leva a uma série de interpretações acerca da própria figura humana. Da narrativa, podem ser retirados diversos ponto de discussão a serem explorados. Acompanhe a leitura e fique por dentro de 5 aspectos comportamentais contidos no personagem.

O desajuste social sob o conceito de feiura em Shrek

Shrek, como já dito é um ogro grande e verde que vive em um pântano recluso na floresta. A própria definição de ogro nos remete à condição de vida do personagem. Sendo assim, por conta de sua apresentação disforme e suja, ele seria uma figura indesejada.

Por conta disto ele vive isolado na floresta, sem fazer contato com qualquer pessoa. Além de não permitir que quem quer que seja ultrapasse os limites de sua morada. É nítido o quanto a repulsão à sua pessoa fizeram com que ele desejasse permanecer neste isolamento.

Desta forma, ao longo da história, está presente na fala do personagem a afirmação de que ele assusta as pessoas. Decididamente, durante as sequências de cenas e filmes, quando diante de pessoas, as mesmas fogem aterrorizadas diante de sua presença.

Daí podemos depreender à alusão ao desajuste social baseado na estética.

Existe um padrão social para o que é belo e feio, e estes últimos ficam condenados à não aprovação. Com isso, até mesmo relações amorosas tornam-se dificultosas, como acontece na história

Nesse contexto, a beleza écompreendida como uma condição para ser querido, bem recebido e desejado. Por conta disto, muitas pessoas, principalmente os jovens, vivem hoje em dia este tipo de desajuste representado pela figura de Shrek. Se isolam do convívio social, são hostis e agem de todo modo a parecerem repulsivos.

Entretanto, este comportamento nada mais é do que um escudo protetivo. Trata-se de uma tentativa de impedir o acesso de pessoas à sua intimidade e, consequentemente, evitar seus julgamentos. É desta forma que o personagem se comporta diante da invasão a seu pântano.

A dificuldade para falar sobre sentimentos

Shrek é surpreendido pelo surgimento da figura do Burro falante. Tagarela e insistente, este personagem de cara elege a si mesmo como o melhor amigo do personagem. Contudo, o ogro não se sente nada à vontade com a ideia, por ter vivido tanto tempo só.

Ao longo do tempo, com o convívio quase que forçado, o monstrinho verde se afeiçoa ao animal falante. Porém, leva um bom tempo para que admita seus sentimentos de amizade. Pela sua característica de rudeza e mal humor, ele não se vê declarando gosto por aquela amizade.

É um fato comum do ponto de vista analítico humano. Demonstrar sentimentos não deixa muita gente à vontade. Afinal, admitir bem querer soa para alguns como fraqueza, apego, necessidade. Sendo assim, para uma figura como a do ogro, confessar sentimentos é um grande incômodo.

Assim como a amizade, o amor pela princesa Fiona também é algo que Shrek leva um certo tempo para digerir. O medo da decepção, o medo da ilusão e de tornar à solidão ilustram essa resistência. É desta forma que boa parte de nós se comporta, escondendo ou negando o que sentimos, por medo.

A ilusão da autossuficiência

Shrek vive em seu pântano sozinho até que a narrativa o leve para fora daqueles limites. Até lá ele desconhecia a necessidade da aliança e da ajuda mútua. Contudo, ele vai provar na amizade com o Burro da necessidade e do prazer da amizade.

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    Ao longo da narrativa, ele tenta de todas as formas repelir o amigo Burro. Sempre se declara autossuficiente e destemido o suficiente para agir sozinho. Após ignorá-lo exaustivamente, bem como os seus conselhos, ele termina cedendo. O Burro mostra que pode ser uma amizade leal e colaborativa para ele.

    Os percalços vividos pela nossa sociedade têm feito com que muitos busquem o isolamento voluntário. São relações conflituosas que mais machucam que edificam. Entretanto, o homem é um ser social, e ainda mais, dependente operacional

    Ninguém vive só, não há como se produzir tudo aquilo de que necessitamos sozinhos. Ainda que nos apartemos do convívio, precisaremos nos reportar às pessoas para adquirir insumos, por exemplo. Todos temos nossa função e lugar neste mundo e esta sintonia precisa ser encontrada.

    Quando Shrek se alia ao Burro, ele ganha uma companhia com a qual se lançará em seus objetivos. Ele passa a reconhecer no mesmo uma força, uma representatividade. Sua autossuficiência é deixada de lado, dando lugar à partilha, inclusive com outros personagens da trama.

    Impulsividade e precipitação na personagem Shrek

    Como boa representação de ogro, Shrek se mostra boa parte das vezes impulsivo e insensível. Há uma cena bem clara onde ele esbraveja com o Burro chamando-o de falastrão inconveniente. Após certo tempo, ele se arrependerá desta atitude

    Em outras cenas, ele se antecipa em julgamentos e termina causando desencontros e desacertos. É uma demonstração do quanto podemos perder pela falta de controle emocional.

    Com isso, muitas vezes desalinhados emocionalmente, tomamos atitudes e falas das quais nos arrependeremos.

    O próprio medo de ser condenado o faz condenar primeiro. E é assim que muitos de nós agimos, a precipitação nos leva a fazer doer no outro. A fim de que não sejamos magoados decidimos magoar primeiro, ou rebatemos com ainda mais vigor um golpe que recebemos.

    Sendo assim, a lição é de que não podemos nos deixar moldar pela impulsividade gerada pelas emoções. Decisões tomadas neste contexto tendem a gerar consequências danosas e por vezes irreversíveis. O arrependimento nem sempre nos permitirá reaver o que fora perdido.

    A mudança pelo sentimento verdadeiro

    O clímax da narrativa se dá justamente após Shrek admitir seu amor à Fiona. É a partir daí que ele começa a travar as batalhas necessárias para ficar com sua amada. Assim, notamos o quanto o sentimento verdadeiro é capaz de nos elevar e nos fazer lutar pelo que acreditamos.

    Mesmo ciente dos inúmeros perigos que terá de enfrentar, físicos e culturais, ele escolhe se lançar ao amor. É a prova de que ele, mesmo com seu temperamento ácido, é capaz de se entregar ao bom sentimento. A partir daí ele vai provar de muitas outras coisas como coragem, persuasão, determinação, etc.

    Quando movidos por um forte sentimento, nos colocamos em condição de combate. Sendo assim, descobrimos forças que não sabíamos que possuíamos. Quando estamos diante de uma luta, só nos resta descobrir forças guardadas em nosso íntimo para vencermos nossos piores inimigos.

    E é assim com o personagem: ele enfrenta o medo do convívio, o medo da desaprovação. Sendo assim, fica claro que de nada adianta da força física se temos fraquezas que nos vencem a nível mental. É preciso saber lidar com esses confrontos internos com as ferramentas corretas.

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