A fuga da realidade é definida como uma busca por alternativas que aliviem a dor causada pelos problemas existenciais. Apesar de ser um assunto atual, ele já vem sendo abordado há bastante tempo.
Entendendo sobre a fuga da realidade
No ensaio “O mal-estar na cultura” o criador da psicanálise, Sigmund Freud, traz uma reflexão sobre a dificuldade de alcançar a harmonia entre a felicidade e as demandas do dia a dia.
O autor defendia que “É impossível enfrentar a realidade o tempo todo sem nenhum mecanismo de fuga” e, segundo ele, existem 3 caminhos de compensação adotados pelo indivíduo, como forma de aliviar o sofrimento causado por esse conflito, que são: distrações, satisfações substitutivas e entorpecentes.
Frente a isso, é importante entender o processo de fuga da realidade para evitar alternativas, aparentemente, “fáceis” na tentativa de amenizar o sofrimento.
O que nos motiva a fugir da realidade?
Encarar os problemas de frente é uma tarefa difícil que exige, entre algumas características, maturidade e resiliência. Nem todos possuem a força necessária para lidar com os obstáculos que surgem e acabam desviando a atenção deles.
Essa mudança de foco pode levar ao esquecimento momentâneo dos problemas, mas não à resolução deles. Ansiedade e fuga andam juntas: Como é difícil lidar com o imprevisível! A necessidade de controlar as situações pode levar, facilmente, à ansiedade que também é conhecida como: excesso de futuro.
Para frear essa desagradável sensação as pessoas recorrem, comumente, ao consumo de drogas, álcool, abuso alimentar, entre outros mecanismos compensatórios. Também é preciso estar atento à realização de atividades que não são nocivas, porém quando praticadas em excesso podem representar uma fuga como, por exemplo, trabalhar compulsivamente – o famoso ‘workaholic’.
Fugir da rotina é necessário!
As mudanças são essenciais para estimular o sistema cognitivo e evitar o desgaste emocional do dia a dia. Aprender coisas novas é importante para manter o cérebro ativo e saudável.
Praticar um esporte, mudar o trajeto até o trabalho, ler, aprender um instrumento, são alguns exemplos de atividades que produzem um efeito renovador para o indivíduo encarar a rotina com mais leveza.
O equilíbrio entre a fuga da rotina e as atividades necessárias do cotidiano podem promover alívio e bem-estar mental.
A fuga da realidade na Esquizofrenia:
A esquizofrenia trata-se de um transtorno mental com a presença de surtos que caracterizam-se pela substituição do mundo real por alucinações e delírios.
O indivíduo esquizofrênico apresenta, entre outros sintomas, apatia e mania de perseguição. Isso pode levá-lo ao isolamento social, desinteresse pelas atividades cotidianas e elaboração de fantasias na tentativa de resgatar momentos felizes e fugir da realidade.
Além do tratamento medicamentoso, o acompanhamento psicológico desses pacientes é fundamental para que os fatores desencadeantes dos surtos sejam identificados e, assim, amenizados ao longo do tempo.
O que é a ‘Fuga ou amnésia dissociativa’?
Considerada uma forma rara de amnésia, na fuga dissociativa a pessoa apresenta uma perda de memória que pode durar horas ou dias e até confusão com a própria identidade.
De origem psicogênica, pode surgir de um evento traumático, como uma experiência de guerra, por exemplo.
Não existe um medicamento específico para esse tipo de transtorno, porém a psicoterapia pode auxiliar o paciente a lidar com as emoções desagradáveis e amenizar a evolução de casos graves.
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A internet como mecanismo de fuga:
A internet é, sem dúvidas, uma ferramenta pós-moderna indispensável para comunicação, pesquisa, educação, publicidade, entre outros recursos. Apesar dos inúmeros benefícios, o ciberespaço também pode trazer alguns riscos para os usuários, já que não é possível saber quem está atuando nele.
Além disso, a falta de uma dosagem equilibrada quanto ao tempo investido na frente das telas pode danificar a saúde física e mental das pessoas, pois ademais dos riscos posturais e oftalmológicos, trata-se de um ambiente repleto de informações que, muitas vezes, são negativas. O contato com o mundo real não deve ser substituído pelo virtual. Essa falta de interação presencial pode levar ao perigoso hábito do isolamento e, consequentemente, à fuga da realidade.
Uma alternativa para evitar o excesso, é manter uma rotina disciplinada e estabelecer um limite de tempo diário para usar a internet. Com isso, é possível evitar que essa atividade ocupe o espaço das demais que também são importantes.
Nietzsche e o choque de realidade
Tanto as boas quanto as más experiências são fundamentais para a formação do caráter e estabelecimento de uma personalidade resiliente, ou seja, capaz de lidar com as dificuldades da vida.
O filósofo contemporâneo Nietzsche já dizia que o idealismo foi uma invenção do homem para fugir da realidade. Segundo ele, a ilusão não pode ser usada para justificar a própria fraqueza, sendo assim, o indivíduo precisa ter consciência dela para prosseguir com o seu desenvolvimento pessoal.
Conclusão: lidar com as incertezas da vida e não fugir da realidade
Há dias que sustentar a realidade é uma tarefa muito difícil e o ato de fugir do enfrentamento dos problemas pode ser um sinal de debilidade emocional e imaturidade.
Lidar com as inseguranças da vida requer uma base educacional e cultural que, desafortunadamente, está cada vez menos valorizada na atualidade, conforme alguns especialistas. Do vazio interior, decorrente dessa falta de alicerce, surgem os vícios na tentativa de preenchê-lo.
É importante que a pessoa tenha consciência de que a incerteza faz parte do processo e não é possível controlar tudo. Quando o dia a dia é encarado com mais objetividade e realismo há menor espaço para frustrações diante dos imprevistos da vida.
Artigo escrito por STELA MARIS MACIEL([email protected]), JORNALISTA ESPECIALISTA EM SAÚDE E FORMANDA EM PSICANÁLISE.