sofrimento

Conceito de sofrimento

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Neste trabalho desenvolveremos o conceito de sofrimento, composto em sua base nas afirmações e análises de Freud sobre as 3 fontes do sofrimento que seriam elas:

  • do corpo,
  • do mundo externo e
  • das relações com os outros.

E por outro lado nas conclusões pessoais do autor deste monólogo. Afirma-se segundo Freud que, a origem do sofrimento do homem civilizado se dá a partir do momento em que o mesmo entrega uma parcela da própria liberdade, impondo limites às suas pulsões, em troca de segurança.

Logo a concepção de sofrimento na teoria Freudiana pode ser entendida como o antagonismo de duas forças que geram conflitos, em torno dos quais se desdobra toda obra psicanalítica e, além disso, em torno dos quais se desdobra toda a vida do homem, visto que estes conflitos não findam, nas próprias palavras de Freud, apenas mudam seu foco de tensão.

O sofrimento advindo do corpo

Em “O mal-estar na civilização” de 1930, Freud argumenta afirmativamente que a “felicidade humana não parece ser a finalidade do universo e as possibilidades de infelicidade realizam-se mais prontamente”. Essas possibilidades estão centralizadas em três fontes: O sofrimento físico; corporal; perigos advindos do mundo exterior e distúrbios ocasionados pela relação com outros seres humanos – Talvez a fonte mais penosa de todas.

Segundo a perspectiva pessoal do autor do presente monólogo, respectivo a afirmação de Freud; O corpo (sociedade) tem e gera mais impacto sobre o corpo (indivíduo) do que se pode perceber ou parecer objetivamente.

Pois enquanto a sociedade ignorar o fato do seu funcionamento geral ser semelhante a um organismo e não considerar que apesar das diferenças culturais e étnicas em si, é possível exercer iniciativas e suster em sua base o estímulo de um povo com valores e princípios bem cultivados e transmitidos. Seu movimento permeará em caos e desordem crônica, levando à divisão hostil e inviabilizando o princípio da extinção daquilo que enfraquece o crescimento coletivo.

Citação sobre o sofrimento

“Logo, eu estava no parque público. De repente tive uma iluminação. Um estalo e ficou tudo claro e cristalino: A existência tinha se revelado. Ela não era mais uma categoria abstrata e inofensiva, era a própria substância e a raiz das coisas. As raízes, o banco do jardim, a relva escassa. Tudo se desvanecia. A individualidade das coisas era apenas aparência, um verniz. O verniz tinha desaparecido. Eu via massas monstruosas e moles, em desordem, nuas, de uma assustadora obscuridade. As árvores flutuavam em direção aos céus. Eu esperava que a qualquer momento seus troncos cansados se dobrassem até o chão e virassem uma massa só. Elas não queriam existir, mas não podiam fazer nada quanto a isso. Por definição, a existência não é necessária. Existir é apenas “estar lá”. Os existentes aparecem, se deixam encontrar mas não se pode nunca deduzi-los. Tudo é gratuito; este jardim, está cidade e eu próprio. Quando a gente se dá conta disso, o coração fica pesado e tudo começa a virar [..]”. (Jean Paul Sartre, Livro – A náusea ) 1.1

O homem é o princípio dos seus próprios males, pois exalta e generaliza com inconsciente orgulho o quanto conseguem consumir e se tornar para e com a tão somente finalidade de escapar de si mesmo, da dor, do incômodo; prefere a dor de resistir ao princípio da cura e não se curar, do que a dor do processo da cura.

Segundo Hayes e Smith (2005):

“As pessoas sofrem. Elas não tem simplesmente dor – O sofrimento é muito mais que isso. Os seres humanos lutam contra suas formas de dor psicológica; suas emoções e pensamentos difíceis, suas lembranças desagradáveis, e suas necessidades e sensações não desejadas. Elas pensam nisto e se preocupam com isto, tem ressentimento disto, antecipam e temem isto (…) Ao mesmo tempo demonstram uma enorme coragem, profunda compaixão e uma habilidade notável de seguir em frente mesmo a despeito de suas histórias pessoais difíceis. Mesmo sabendo que podem se machucar, os humanos amam outros humanos. Mesmo sabendo que vão morrer um dia, eles se preocupam com o seu futuro . Mesmo sabendo da falta de sentido em muitas coisas da vida, abraçam idéias.” 2.0 – Que entendimento podemos desenvolver para lidar com o sofrimento ?

Tendo agora Nietzsche como base e o sofrimento

Para ele, o sofrimento não precisa ser uma experiência ruim, pode ser uma forma de engrandecer nosso ser e expandir nossos horizontes de vida. Em seus escritos, ele enfatizou a importância do físico, do emocional e da dor como condições para uma vida ativa.

“Nietzsche recupera o sentido de afirmação do corpo, de afirmação da vivência, e de afirmação dos sentidos. Mesmo, e em particular, como afirmação do sofrimento e da finitude. Como modo natural de potencialização da vida, e de promoção de uma superabundância de suas forças, pela afirmação da potência do retorno da vida.” (Fonseca, em “História das psicologias e psicoterapias fenomenológico existenciais’)

Já para os psicanalistas, a dor é uma evidência da existência de pulsões no corpo. Freud (1977/1926) discute ansiedade, dor e luto no rascunho C de Inibição, sintomas e ansiedade, onde ele equipara a dor mental à dor física, a resposta à perda de uma reação real do objeto. A dor é um evento corporal e é uma metáfora da unidade corpo / mental, como demonstrou Marcos Creder (2002) em importante estudo sobre a dor, no qual analisou alguns casos de migração da dor: do Mental para o Corpo e da carne para mente.

Observação do autor

Usufruir do corpo e da vida como um todo dá-se pela capacidade humana de se auto conscientizar de si mesmo, abstraindo o máximo de suas vivências e retendo valor para si daquilo que experienciou enquanto ser vivente e para além deste, racional.

Desde a infância nota-se a dificuldade de aceitar ser o suficiente por apenas ser ou valorizar o que se tem por mínimo que seja, não inviabilizando o progresso de se ter mais no processo de crescimento como indivíduo na sociedade, ainda assim, as relações sociais deparam-se incansavelmente com seu próprio umbigo.

Isso por ansiar e necessitar automaticamente (como hábito) o que compete ou pertence ao outro, mesmo aquilo que não tem preço, sendo esse último a sua vida, levando abaixo toda possibilidade de uma vida bem aproveitada pautada tão somente na auto consciência sobre a própria felicidade, que deveria desde então independer de bens e status sociais.

O sofrimento e a fuga

Vive o ser humano em fuga constante daquilo que na verdade deveria tomar para si como potencialização do ser, como diz o conceito do Super Homem desenvolvido por Nietzsche. Segundo o filósofo especialista em Nietzsche Oswaldo Giacócia, da USP, O Super Homem (ou Além do Homem) poderia ser representado por aquele que encara a vida sem as muletas que o homem usou até hoje para poder suportar a existência, como a religião ou a moral, por exemplo.

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    Segundo Nietzsche, essas muletas seria uma negação da morte. E seria por causa dessa negação que as pessoas acreditam em falsas promessas como o “paraíso”. Portanto, O Super Homem seria um ser superior, uma ideia melhorada de nós mesmos; não na força, mas no âmbito psicológico.

    Além dessas muletas referidas por Nietzsche, as relações amorosas e familiares se auto denunciam como uma das estratégias das pessoas se susterem em sua auto estima e “razão para viver “. O ser humano tem se tornado cada vez mais incapaz de se sustentar em si mesmo para e como sua própria felicidade e motivo de usufruir de cada vivência.

    É possível chegar a extinguir o sofrimento?

    Sim. É possível chegar próximo a extinguir o sofrimento, afirmo isto fundamentado na psicologia individual, fundamentado por Alfred Adler, que coadunava com Freud até os anos de 1900, em Viena. Porém, ele rompeu com Freud, devido às suas ideias divergentes sobre o desenvolvimento da personalidade e da relação entre o indivíduo e o mundo circundante.

    Ele usou duas cadeiras, em vez do método freudiano de usar um sofá/divã, para fomentar um sentimento de igualdade entre o terapeuta e paciente.Adler também escreve: “nenhum homem consciente de suas próprias forças tem necessidade de se exibir em atitudes agressivas e violentas. Nunca devemos olvidar esse fato” (ADLER, 1961, p. 258).

    Deve-se logo salientar que o sofrimento não é necessariamente negativo ou positivo, se não exatamente aquilo que decidimos que seja a partir da auto conscientização do eu e de seu poder íntimo sobre si e sua realidade. Adler também, s

    Sobre a tristeza chega a dizer;

    “A paixão da tristeza se manifesta quando alguém não se consola de uma perda ou privação. A tristeza, assim como outras paixões, é uma compensação de um sentimento de desprazer ou fraqueza, e importa na tentativa para conseguir melhor situação. A este respeito, é igual a uma explosão de cólera” (ADLER, 1961, p. 259).

    A dor e o sofrimento são fatores que acompanham toda a natureza, não só a natureza humana, e sua existência é uma ferramenta fundamental para os mais ávidos de inteligência.

    A fragilidade exacerbada no século XXI

    O século XXI esteve sendo marcado populacionalmente pelas queixas de ansiedade e depressão, como outros distúrbios e transtornos provenientes dos mesmos. As pessoas cada vez mais vem se tornando impossíveis ouvintes da verdade, sobre si e sobre o mundo a sua volta.

    Se tornam estranhamente com audaz prazer escravos da ignorância, apenas para sentir a falsa sensação de satisfação e realização, seja esse um modo pessoal ou coletivo,o que realmente importa não é mais crescer e evoluir mentalmente de maneira sadia, mas atingir o outro e rebaixá-lo até que o mesmo lhe deixe em paz vivendo na mentira que desnutre cada vez mais a mentalidade deste e daqueles que deveriam ser vistos como “colunas base” da sociedade.

    A religião tem abandonado seu posto de “religar” o homem a deus, e tem servido mais como mera muleta para os mais inseguros e desajustados.

    Conclusão

    É de surpreender até mesmo a certo ponto a credulidade de muitos cujo estes invalidam o sofrimento alheio justificando ser este um propósito divino, ao invés de pela razão e veracidade transmitir que se há um propósito é que o ser humano encontre no próprio sofrimento o fim do último termo citado.

    E está aí a consciência que ao ver pessoal do autor deste monólogo é a chave para romper; o desmatamento da floresta triste é a diluição total da ignorância revestida de superstições que corroboram cada vez mais para a extensão da doença do século, sendo a mesma causadora da depressão e da ansiedade. Porém, obviamente não é somente essa a causa, mas parte da raiz, e parte por parte chegaríamos onde cada vez mais nos afastamos de dominá-la.

    E o mais absurdo e não mais surpreendente: por pura escolha dos homens que povoam este globo tão vasto e tão devastado por quem deveria zelar por ele.

    Este artigo foi escrito por Gabriel Alexandre([email protected]), concluinte da Formação em Psicanálise.

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