Entender a teoria da Libido é entender que nossa relação com a libido é para a vida inteira. Para uma grande parcela da população, as palavras mais assustadoras que o rótulo de um medicamento pode apresentar são: O ministério da saúde adverte: pode causar diminuição da libido.
De acordo com o senso comum, o que a Teoria da Libido poderia se restringir ao famoso apetite sexual ou ao famigerado desejo, e a simples possibilidade de perdê-lo representaria uma perspectiva nada boa. Mas qual seria a origem dessa percepção existente no inconsciente coletivo?
O senso comum e a Teoria da Libido
Apesar de, em sua origem etimológica latina, a palavra Libido, significar prazer e remeter ao desejo propriamente dito, para a Psicanálise não é bem assim. Esse entendimento popular perpetuou-se em decorrência das milhares de matérias jornalísticas, de cunho sensacionalista, que associaram, ao longo dos anos, o referido conceito ao ato sexual propriamento dito, seja através de questões orgásmicas ou à mera atração física, criando, inclusive, listas e listas de dicas ensinando como despertar ou aumentar a tal “libido” nos parceiros sexuais.
Além disso, profissionais da área de saúde, pouco preocupados com um atendimento médico humanizado e muito mais interessados na maximização dos lucros, através de atendimentos rápidos, não explicam exatamente como se dá o efeito colateral de determinados medicamentos sobre a Libido.
Dessa forma, as pessoas raramente chegam a saber como esse processo está completamente atrelado não apenas à parte fisiológica do nosso corpo, mas também à parte psíquica, recorrendo, muitas vezes, a artifícios lúdicos em uma tentativa frequentemente frustrada de recuperar o desejo sexual. E, assim, a indústria farmacêutica segue alimentando o comércio, que, por sua vez, incentiva o consumo desmedido como alterativa para tratar algo que os indivíduos sequer compreendem bem do que se trata, perpetuando-se, dessa forma, os entendimentos equivocados sobre a saúde mental como um todo e, sobre a Libido, como não poderia deixar de ser.
Afinal de contas, o que é realmente a Teoria da Libido?
Longe desse complexo de informações equivocadas, as pesquisas de Freud sobre o funcionamento da mente humana definem a Libido como algo que vai além do alcance promovido pela interação hormonal ou da simples troca de fluidos entre dois sujeitos. Segundo VALENTE (2002), a Libido é composta por uma força psíquica e instintiva, e se realiza através de investimentos energéticos que movimentam o indivíduo em prol de um objetivo e do alcance da satisfação.
Mas essa satisfação não está restrita ao desejo sexual, pelo contrário, está ligada ao que Freud chamou de Pulsão de vida, algo que motiva a própria existência do indivíduo. Em virtude dessa natureza pulsional e interconectada com o próprio instinto de sobrevivência do ser humano, podemos inclusive afirmar que, quanto menor a Libido, maiores são as probabilidades de uma pessoa desenvolver transtornos ligados à Depressão.
Compreende-se então que, a Libido é uma força motivadora da vida e, como tal, transpassa todas as instâncias da Psiquê humana, dela dependendo as motivações para a vida e para a existência de um indivíduo.
As fases de desenvolvimento da Teoria da Libido
Então, se a Libido é uma energia tão importante para a nossa saúde mental, isso significa que ela se apresenta sempre da mesma forma na nossa mente? Não. Assim como o nosso corpo vai se desenvolvendo lentamente, através de etapas e cada etapa possui suas particularidades, a Libido também é composta por algumas fases que foram classificadas por Freud como: Anal, Oral, Fálica, Período de Latência e Genital.
Freud foi muito criticado por seus pares quando apresentou a teoria do desenvolvimento psicossexual, devido à ideia de que a sexualidade, aqui entendida como energia psíquica e não como interação hormonal entre dois corpos, está presente no indivíduo desde a tenra infância.
Grande parte dessas críticas era devida a uma espécie de inveja acadêmica, uma vez que, comprovou-se uma total coerência dos achados freudianos, pois, na mesma medida em que a criança amadurece torna-se perceptível seu desejo por objetos diferentes e, consequentemente, formas diferentes de realização desses desejos.
O desenvolvimento da Libido
Cada fase do desenvolvimento da Libido é composta por descobertas e aprendizados específicos e vivenciar cada uma delas de modo satisfatório, conseguindo resolver os conflitos inerentes a elas é o que possibilita o alcance de uma dinâmica mental saudável na fase adulta. Quando isso não é possível, ocorrem as fixações. 4. As fixações
Comportamentos exagerados ou destoantes da realidade podem revelar fixações da mente de um indivíduo em alguma das fases de desenvolvimento da Libido. Essas fixações se instalam durante as etapas do desenvolvimento psicossexual de uma pessoa quando ocorrem traumas ou vivências intensas de determinadas experiências subjetivas durante alguma dessas fases.
Falar, comer, beber e/ou fumar excessivamente, ter uma inclinação para a “fofoca”, por exemplo, podem sinalizar pontos de fixação na fase oral, já que é nesta etapa de desenvolvimento que surgem os conflitos ligados à dependência, ao medo do desamparo e à tolerância à frustração.
As neuroses obsessivo-compulsivas
As neuroses obsessivo-compulsivas, por outro lado, estão ligadas às fixações existentes na fase anal do desenvolvimento psicossexual, assim como os comportamentos ambivalentes e o excesso de competitividade. Já os transtornos ligados ao narcisismo exagerado e a um Complexo de Édipo mal resolvido estão ligados às fixações instaladas na fase fálica, e assim por diante.
Alguns dizem que é melhor pecar pelo excesso do que pela falta, mas quando se fala em desenvolvimento psicossexual não existe “pecadinho” ou “pecadão”, frustações ou estimulações em excesso podem gerar pontos de fixações complexos que, inevitavelmente, dificultarão bastante a vida de uma pessoa, originando neuroses e psicoses, daí a importância de um desenvolvimento libidinal saudável.
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Uma Libido saudável
As vivências subjetivas desenvolvidas em cada uma das fases do desenvolvimento psicossexual e as formas como elas se organizam na mente de um indivíduo confluirão para a formação da sua personalidade e, portanto, dirigirão a sua vida.
Alcançar a fase adulta com uma libido saldável não é uma jornada fácil para a maioria das pessoas, especialmente se considerarmos os aspectos socioeconômicos e histórico-culturais que influem diretamente na vida de todos, mas é algo possível e constitui um importante objetivo da Psicanálise.
Conhecer a si mesmo, olhar para a sua história, inclusive para aquela parte do enredo que está contada nas entrelinhas da nossa vida é uma questão de sobrevivência. Sobrevivência dos nossos sonhos, das nossas metas, sobrevivência do nosso eu, e esta é uma relação que levaremos por toda a vida.
O presente artigo foi escrito por Samantha B. Santos. Psicanalista em formação. Mestranda em Formação de Professores. Especialista em Educação. Graduada em Letras – Língua Portuguesa. Se você quer um conteúdo relevante sobre saúde mental. Instagram: @sam.bsantos.