traumas da infância

O que são Traumas da Infância segundo a psicanálise

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Hoje falaremos sobre traumas da infância. O psicanalista Sigmund Freud foi o pioneiro oficial na descoberta da existência dos traumas infantis. Ele trouxe esse conceito de que desde a primeira infância as crianças poderiam ter experiências traumáticas que as acompanhariam por toda a vida.

Entendendo os traumas da infância

Esta constatação promoveu uma revolução na maneira de enxergar as crianças na época, e dessa forma, ele abriu o caminho para que posteriormente outros especialistas e estudiosos buscassem entender a psique infantil, e dessem a devida importância à mesma, já que segundo Freud, o que acontecia nos primeiros anos de vida, tinha o poder de determinar muitos acontecimentos da vida adulta.

De acordo com o dicionário Michaelis, o trauma é: “uma vivência profunda (medo, susto, perdas, entre outros) que pode ocasionar sentimentos ou comportamentos desordenados e perturbações neuróticas posteriores, gerando assim um estado psicológico decorrente dessa vivência.”

Freud entende esse significado quando vivencia uma experiência na clínica onde atendia pacientes neuróticos, portadores da histeria. Como médico neurologista que era, tentava encontrar razões neurológicas ou fisiológicas para que justificassem as causas da doença, mas não era bem sucedido nas tentativas.

Os traumas da infância e a angústia

Foi quando através de observações empíricas, e aplicações de métodos como a hipnose, percebeu que os seus pacientes sofriam devido a acontecimentos ocorridos no passado, e que isso causava uma angústia que refletia de algum modo no corpo físico.

Freud compreendeu que esses acontecimentos não aconteciam no momento presente, mas sempre estavam atrelados a memórias de infância, e dessa percepção, postulou a teoria sobre os traumas infantis. Essa teoria perdurou até os dias atuais, e é extensamente difundida na psicologia, psiquiatria e outras áreas, o que comprova que Freud não estava equivocado a respeito de suas hipóteses.

Obviamente, essa teoria vem sendo melhor estudada, trabalhada e hoje já se tem maiores informações sobre como o trauma atua na vida das pessoas.

Cuidado dobrado

Dentro desse contexto, considera-se muito importante o cuidado dobrado na criação de filhos, principalmente nos seus primeiros estágios de vida. A infância constitui a base, onde será construído todo o resto da estrutura. Se essa base estiver frágil e deficiente, a estrutura desabará com facilidade.

A neurociência descobriu recentemente que uma criança de 0 a 3 anos é capaz de produzir 700 sinapses por segundo. Ou seja, as conexões neurais se multiplicam com muito mais rapidez que as dos adultos, o que explica o fato de a criança aprender com mais rapidez, captar e absorver tudo com maior facilidade.

Sendo assim, tudo é intensificado para a criança, as emoções estão à flor da pele, o mundo está se apresentando para ela, e as primeiras vezes são marcantes.

Acontecimentos traumáticos

Existe um ditado popular que diz: “a primeira vez, a gente nunca esquece”, e é basicamente essa lógica que elucida o porquê crianças tendem a serem afetadas por acontecimentos traumáticos que as marcam profundamente. A ciência epigenética também traz novos conceitos que dizem que o ambiente uterino influencia na saúde do bebê, e que as emoções vivenciadas pela mãe na gravidez já afetam o feto de maneira significativa.

Sendo assim, observa-se a responsabilidade que os pais da criança possuem, pois eles são as primeiras referências que a criança tem, e são responsáveis pela formação da personalidade da mesma. Já foi comprovado que crianças que vivem em lares disfuncionais, presenciando desarmonia, brigas, violência doméstica, terceirização, entre outros, tem o seu desenvolvimento prejudicado e tem maior propensão para o desenvolvimento de transtornos mentais.

A primeira demonstração de amor que a criança possui é dos seus genitores, se o amor apresentado por eles for tóxico e abusivo, a criança aprenderá que é esse amor que deve receber ou dar na vida adulta.

Os traumas da infância e injustiças

Crianças que não foram acolhidas, amadas e que não receberam afeição adequada de seus familiares, normalmente crescem revoltadas e se tornam aqueles cidadãos rebeldes que buscam compensar essa falta na criminalidade e na vingança contra injustiças vivenciadas. Ou são aqueles que se tornam reclusos em seu mundo particular, envoltos num complexo de inferioridade que os incapacita de produzir e ter uma vida plena e repleta de realizações pessoais, profissionais ou relacionais.

Freud faz questão de dissecar ao máximo o fenômeno do trauma, e ele o explica da seguinte forma: em muitas ocasiões difíceis que vivenciamos, num momento de dor extrema que o eu não suporta, ele simplesmente suprime algumas reações, e as recalca, enviando os afetos para o inconsciente, onde eles não podem causar dor diretamente.

As emoções são reprimidas para poder continuar a vida, é como se fosse uma censura interna, para auto proteção do indivíduo. E quando se reprime algum evento doloroso e insuportável, imagina-se que esse evento foi esquecido ou que não terá mais efeito algum sobre suas vidas, porém o inconsciente encontra formas de continuar se manifestando por outras vias, e influenciando indiretamente comportamentos, pensamentos e atitudes.

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    O inconsciente e os traumas da infância

    Freud diz: “o inconsciente não se lembra, se repete”. Por isso é comum observar pessoas que chegam na clínica afirmando que não sabem porque estão tristes, que não existe razão aparente para a existência desse sentimento, e é então que a psicanálise entra em cena, na busca por aquilo que está além da aparência, aquilo que está latente, escondido, que é o inconsciente.

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    Apesar do enfoque da teoria freudiana ser a fase infantil, os traumas não acontecem somente neste período específico. Existem vários exemplos de pessoas adultas que vivenciaram traumas que afetaram significativamente suas vidas. Exemplos disso são vítimas de sequestros, de violência doméstica, de relacionamentos tóxicos e abusivos, de acidentes e também soldados que lutaram em guerras.

    O funcionamento do trauma é o mesmo, a diferença está na intensidade do trauma, variando de um para o outro, e a maturidade para lidar com o mesmo.

    Freud e os traumas

    Freud reformulou sua teoria sobre traumas infantis, dizendo que experiências ruins podiam acontecer, mas o que importava para o surgimento da neurose não era necessariamente a experiência em si, mas a fantasia inconsciente do paciente. Isso explica porque um evento pode ser traumático para um indivíduo e não ser para o outro. Tudo depende da capacidade de entendimento de cada um, e como se encara o evento traumático.

    Ou seja, para superação de traumas, é necessário o entendimento de que o mesmo está no passado, e já não acontece no tempo presente, que não é possível ignora-lo ou esquecê-lo, mas sim compreendê-lo da melhor forma possível, e seguir em frente apesar da existência dele.

    Muitas pessoas não conseguem chegar sozinhas a esse entendimento, por isso se faz necessário buscar profissionais da área da saúde mental, para auxilia-las nesse processo. Como diz uma célebre frase que circula pelas conversas terapêuticas: “não importa o que fizeram com você, mas o que você fez com o que fizeram de você”.

    Este artigo sobre traumas na infância foi redigido pela aluna Ivana Oliveira ([email protected]) do curso de Psicanálise Clínica.

    One thought on “O que são Traumas da Infância segundo a psicanálise

    1. Sônia Maria Almeida de Lima disse:

      Verdadeiro, muito verdadeiro esse texto! Traumas infantis levam adultos medrosos, baixo autoestima, muitas das vezes sem personalidade. E é muito triste vê o mundo hoje tão adoecido, mentalmente falando.

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