traumas infância

Estudo psicanalítico dos traumas na infância

Publicado em Publicado em Transtornos e Doenças

Os traumas na infância que muitas das vezes é ignorado, podem produzir homens depressivos na vida adulta. Neste artigo, abordaremos através da psicanalise clínica, as principais manifestações dos traços depressivos na vida de um homem adulto que teve traumas na infância.

Aqui vamos destacar as experiências traumáticas precoces na infância, que podem moldar os mecanismos psíquicos de um adulto, e contribuir para padrões depressivos duradouros.

Por meio de uma análise teórica, mas profunda e estudos de caso clínico, exploramos o impacto de factores extremamente importantes como todas as formas de abusos na infância, negligência, perda precoce de entequeridos, e apresentaremos a importância da ressignificação e intervenção terapêutica do psicanalista clínico para ajudar as pessoas que sofreram traumas na infância e hoje são adultos depressivos, a saírem da depressão.

Introdução sobre os traumas na infância

O desenvolvimento psíquico de um adulto, depende muito de como foi a suam infância, período em que o ego está em formação e particularmente vulnerável às experiências externas. Sigmund Freud, o pai da psicanálise, enfatizou que a infância é um período crucial para a saúde mental do homem adulto.

Os eventos infantis na formação do inconsciente e no desenvolvimento de transtornos emocionais na vida adulta, dão luzes de como devemos cuidar das crianças evitando que elas vivam trauma, para que não tenhamos adultos depressivos.

Este artigo explora um estudo como os traumas na infância, definidos como experiências dolorosas e duradoura podem criar em traços profundamente depressivos e sentimentos de inadequação, crise existencial e falta de esperança nas relações interpessoais na vida adulta.

Experiências dolorosas

Em Africa meu continente por exemplo, os traumas em crianças são frequentes e de várias ordens, desde as guerras civis, abusos na infância, estigma e discriminação, maus-tratos, abandonos, etc. tem contribuído muito para o aumento de pessoas depressivas na vida adulta.

Tenho acompanhado várias crianças nos centros de acolhimento, crianças infectadas e afectadas pelo HIV, órfãos e socialmente e vulneráveis, e os relatos dessas crianças sobre as suas experiências são profundamente dolorosas. Dificilmente essas crianças não serão adultos com traços depressivos.

Em Àfrica as crianças lidam praticamente sozinhas com os seus traumas, e isso contribui para que muitos adultos tenham traços depressivos sem saberem. O ambiente de guerra, fome, morte prematura dos pais, o abandono familiar, a carência afectiva levam as crianças a terem traços psicológicos que afectam o seu desenvolvimento e inserção na sociedade.

Definição de Trauma na Infância e os Mecanismos Psíquicos do Individuo

O pai da psicanalise, Sigmund Freud definiu trauma como uma excitação que o ego é incapaz de processar adequadamente, resultando em recalque e subsequente formação de sintomas. Na infância, em regra por falta de recursos psíquicos disponíveis para que a criança saiba lidar com situações nefastas, que ofendem a sua psique, como abuso seja ele físico ou verbal, abandono de um incapaz, pode levar uma criança ao desenvolvimento de estruturas psíquicas defensivas, que afectarão através de sintomas, a vida da criança na idade adulta.

As crianças traumatizadas geralmente desenvolvem mecanismos de defesa como repressão, Anna Freud e Melanie Klein, analisaram o funcionamento psíquico infantil, e destacaram que as crianças sofrem algum tipo de agressão depois fazem projecção e identificação com o agressor.

Os meus estudos em crianças dos centro de acolhimentos, órfãos e socialmente vulneráveis, que sofreram algum tipo de agressão, apontam que elas desenvolvem o que eu chamo no meu estudo psicanalítico de Síndrome do sofrimento antecipado por causa de uma experiencia negativa, as crianças que foram vitimas de algum tipo de abuso, passam a desenvolver um medo profundo de vivenciar outras experiências más e por isso, vivem ansiosas, outras isoladas no seu mundo, ou mesmo em estado completamente defensivo e desconfiado. Esses mecanismos, embora protectores no curto prazo, podem cristalizar padrões de autoimagem negativa e dificuldades emocionais no futuro.

Perspectiva Psicanalítica da Depressão e a Relação entre Trauma na infância e Depressão na vida Adulta

O luto é a forma mais flagrante da depressão na vida adulta. Sigmund Freud, em Luto e Melancolia (1917), comparou os estados de luto e melancolia, sugerindo que a depressão deriva de uma identificação inconsciente com objectos perdidos ou experiências frustrantes.

No Brasil por exemplo temos o caso do Adriano Imperador, um grande jogador de futebol mundial que decidiu largar tudo, depois da morte do seu pai. Segundo o seu relato, ele não conseguiu prosseguir a sua carreira na europa, porque sem o seu pai, aquilo não fazia mais sentido para ele.

No caso de traumas infantis, a criança internaliza a dor e a culpa, que se manifestam como baixa autoestima e apatia na vida adulta. Suas memorias dolorosas, afectam a vida adulta e por isso, é necessário aprofundarmos com estudos psicanalíticos o impacto dos traumas na infância para podermos lidar com os traços de depressão na vida adulta.

Traumas na infância e Configuração Psíquica na Vida Adulta

A falta de um ambiente acolhedor e seguro para as crianças, prejudica o desenvolvimento de um ego resiliente e uma base sólida de autoestima para elas. Em Africa é comum não ter esses espaços seguros para as crianças, tornando elas cada vez mais vulneráveis aos traumas na infância.

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Algumas pesquisas indicam por exemplo que crianças submetidas a abuso físico, emocional ou negligência têm maior probabilidade de desenvolver depressão na idade adulta. As crianças em países em conflitos armados e de famílias desestruturadas, são as mais suscetíveis em viverem traumas profundos, causadas por vários tipos de abusos que em regras surgem de pessoas próximas como familiares ou amigos de familiares, vizinhos, professores, etc. que posteriormente se refletirão na vida adulta.

Impacto do Trauma no Desenvolvimento do Superego (sobre EU)

O superego, que é aquela imagem que cada um tem sobre si mesmo, formado pelas introjecções de figuras parentais, pode ser excessivamente punitivo em crianças que sofreram traumas. Os pais jogam um papel fundamental na cura dos traumas das crianças.

Em boa parte das vezes, os pais cuidam da alimentação, vestuário, educação, saúde física, etc. mas não cuida da saúde mental dos seus filhos, podendo terem filhos depressivos na vida adulta. Isso resulta em sentimentos crônicos de culpa e vergonha, por ter vivido um trauma que não conseguiu evitar, predispondo-se à depressão.

É fundamental que os pais, gastem tempo a explicar aos seus filhos, cada fase boas ou mas que eles atravessam ao longo das suas vidas, e quando não existem mais os pais, os adultos tutores devem fazer esse papel, incluindo procurar ajuda de profissionais como psicanalista clinico, psicólogo e outros profissionais que sejam capazes de curar, a mente, a alma, o emocional da criança para que ela siga a sua vida com o mínimo de conforto possível, na vida adulta.

Casos Clínicos e os traumas na infância

Análises de casos clínicos demonstram que pacientes com histórico de trauma na infância frequentemente relatam sentimentos de vazio, crise existencial, isolamento e dificuldade em estabelecer relações interpessoais saudáveis. Os meus pacientes relatam inclusive situações extremas, de viajem mental ao tempo passado em que viveu o trauma a fim de tentar consertar o passado.

Nessa viagem do túnel mental que dá acesso ao passado, dão vida mental aos pais que já faleceram, fazem perguntas sem respostas presentes, mas que fariam sentido no passado, recorrem ao autoflagelo, a autoacusação, etc. A intervenção psicanalítica permite acessar e ressignificar memórias traumáticas, aliviando os sintomas depressivos. Em casos de sofrimento do paciente, recomendo sempre a eles a busca do autocomiseração, o auto-perdão para puder se libertar da dor do passado e seguir em frente.

A ausência de entequeridos em momentos chaves da vida da criança, gera sempre uma vivência muito dura na vida adulta. Aqui em Africa por exemplo, em particular em Angola, é frequente vermos adultos desorientados, seguindo a vida, mas sem saber para onde ir por causa dos traumas de diversos factores, desde a guerra civil, até aos maus tratos no seio familiar.

Intervenções Psicanalíticas para a Ressignificação do Trauma vividos na infância que atrapalham a vida adulta

A psicanálise busca trazer à consciência os conteúdos reprimidos associados ao trauma, no caso específico que as crianças vivem em alguma fase da sua vida, permitindo que o paciente elabore e ressignifique essas experiências. Em geral as experiências traumáticas, tendem a ser mais fortes que as experiências de sucesso, conquistas e superação.

O cérebro humano, está mais apto para absorver e manter vivo as experiências negativas, dai, que a psicanalise ser um reforço extra para quem viveu experiências traumáticas na infância.

A interpretação dos sonhos, actos falhos e associações livres são ferramentas centrais nesse processo.

A ressignificação da verdade traumática

Em geral no acompanhamento com os meus pacientes que vivem assombrados com os traumas da infância, uso uma técnica que chamo de ressignificação da verdade traumática que é levar o individuo a aceitar que viveu um momento traumático, que fisicamente não irá mudar, mas que pode dar um novo sentido psicológico e emocional, para aliviar o impacto do trauma na vida física.

A parte mais difícil que uma pessoa enfrenta na vida adulta, após viver momentos traumáticos na infância, é a aceitação da situação. Apos a pessoa aceitar o que viveu, facilmente ela ultrapassará o trauma ou pelo menos o trauma terá menos impacto na sua vida.

Reconstrução do Ego do Indivíduo Para a Cura de traumas na infância

Vividos na Infância Um objetivo crucial do tratamento para pacientes traumáticos, é fortalecer o seu ego, dando-lhe a entender o poder da autoaceitação mesmo vivendo uma situação traumática. Ajudar o paciente a reconstruir o seu ego e a desenvolver mecanismos adaptativos para lidar com as adversidades, isso fará com que o profissional seja bem-sucedido. Geralmente uso a técnica do espelho.

Quem você realmente é", eu procuro provar ao paciente o poder e a resiliência que ele/a tem, por já ter suportado muito para chegar até ao tratamento, e como ele/a será capaz de ir mais longe se superar o trauma. Confortar o paciente com o seu ego, é fundamental para o sucesso do tratamento.

Isso inclui trabalhar com a transferência e contratransferência para explorar relações passadas e presentes. Orientar e dar a oportunidade ao paciente para crescer na conversa, ajuda na cura da sua alma e no bem estar no seu emocional.

Reintegração das emoções recalcadas

O profissional psicanalista deve ter acesso a emoções recalcadas do paciente, como raiva e tristeza, etc. isso permite ao paciente processar a dor do trauma e romper com padrões autodestrutivos durante a sua vida ao mesmo tempo que o profissional busca oferecer a melhor

ajuda. Esse processo promove uma maior integração psíquica e redução dos sintomas depressivos na vida adulta. Os afetos recalcados, são os mais difíceis de retirar da vida daqueles que viveram traumas na infância e enfrentam sintomas de depressão na vida adulta, por isso ser importante ir a busca dessas emoções recalcadas na vida do paciente, que em muitos casos fica escondidos atrás de um sorriso, de uma brincadeira sem compromisso ou até mesmo com um silêncio profundo.

Conclusão sobre os traumas na infância

O desenvolvimento psíquico de um adulto, pode ser profundamente afectado pelos traumas vividos na infância e ter um impacto profundo e duradouro na vida desse individuo, contribuindo inclusive para a formação de traços de depressão na vida adulta.

A abordagem psicanalítica oferece ferramentas valiosíssimas para que o profissional venha a compreender e tratar essas manifestações psíquicas do paciente, ajudando os indivíduos a reconstruir sua narrativa numa prespectiva pessoal e alcançar maior equilíbrio emocional.

Investigações futuras levadas acabo por profissionais, podem explorar intervenções mais integrativas, que servirão para combinar com aspecto da psicanálise com abordagens mais contemporâneas, como terapias somáticas e cognitivas. Palavras-chave: trauma infantil, depressão, psicanálise, ego, ressignificação, mecanismos de defesa.

Referências Bibliográficas

1. Freud, S. (1917). Luto e Melancolia. Obras Completas. 2. Klein, M. (1935). Uma contribuição à psicogênese dos estados maníaco-depressivos. 3. Bowlby, J. (1988). Apego, perda e depressão. 4. Winnicott, D. W. (1965). O ambiente e os processos de maturação.

Artigo escrito por Noe Francisco Dias Mateus. Angolano, residente em Angola-Africa, mestre em estudos psicanaliticos. E-mail: [email protected]

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