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Vida agitada: significado e soluções

Publicado em Publicado em Comportamentos e Relacionamentos, Psicanálise

Cada vez mais as pessoas reclamam da vida agitada. Com tantas tarefas e exigência de produtividade, o tempo parece se tornar cada vez mais curto. A Psicanálise é uma terapia lenta, via de regra. Será que o método da Psicanálise ainda cabe na sociedade moderna? E o que a Psicanálise nos diz sobre o significado e as soluções para a vida agitada.

Uma ciência da natureza centrada na dimensão especulativa

Renato Mezan, em “Que tipo de ciência é a psicanálise?”, afirma que Freud considerava a psicanálise como ciência da natureza. E, não uma ciência do espírito ou ciência humana.

E esta definição de caráter epistêmico por parte de Freud não decorria apenas da sua formação como médico. Assim, a Psicanálise se travestia de uma opção política ante a uma perspectiva metódica presente nas chamadas ciências do espírito.

Elas ainda eram centradas em uma dimensão especulativa. Além disso, se legitimavam academicamente em conceitos fechados. Inclusive, é por este motivo que muitos dos pensadores não consideravam a psicanálise merecedora do status científico.

Então, Freud respondeu a esta crítica não só reafirmando o lugar da psicanálise no terreno das ciências da natureza. Mas, a partir desta localização, demonstrando que neste território, os conceitos são construídos a partir da observação e experimentação.

O pai da psicanálise considera que esta ciência se singulariza pelo fato de não partir de categorias ou conceitos precisos e fechados. Isto é, como nas ciências do espírito ou humanas.

Mas estes são descobertos e vão sendo construídos no decorrer das interpretações dos fenômenos observáveis.

Preconceitos e estigmatizantes

E por que esta postura de Freud é uma ruptura? Os conceitos fechados que eram tradicionais nas interpretações das ciências humanas carregavam “juízos de valor”.

Isso abria espaço para a ação de visões preconceituosas ou estigmatizadas de determinados fenômenos. Neste sentido, a interpretação científica cumpria o papel de racionalizar visões estigmatizadas já existentes.

Essa é a razão pela qual uma interpretação que se parte de uma categoria fechada era refutada por Freud.

O deslocamento do autocentrismo de um sujeito com a vida agitada

E esta postura política freudiana foi fundamental no papel que o percurso constitutivo da psicanálise teve no deslocamento da visão de neuroses. A histeria partiu de uma perspectiva mágica e preconceituosa para um olhar científico. As investigações de Freud permitiram:

  • Desassociar-se da ideia vigente. Pensava-se que a histeria era motivada por um mau funcionamento do aparelho genital feminino;
  • Entender que a histeria não era motivada por aspectos mágicos negativos associados a mulher, herdeiros, provavelmente, da transformação da mulher em causa do pecado original;
  • Descobrir, por meio de investigações, que a histeria era um transtorno existente também em homens, como também decorrente de experiências traumáticas.

Outra ruptura psicanalítica pode ser observada quando Freud desloca o autocentramento do sujeito. Este é constituído na Modernidade como o senhor da razão e tem uma vida agitada.

O desenvolvimento da ciência psicanalística

Além do mais, há processos históricos, ao demonstrar que os atos humanos não são apenas produtos de uma razão clara e planejada. Mas também fruto de uma dimensão da mente que não se mostra claramente, o inconsciente. Este é percebido como uma dimensão que é composta por conteúdos não presentes no consciente.

Ou seja, tendo leis próprias, que se comunicam por meio de imagens mnemônicas e que tem uma atemporalidade.

Constituído o objeto da ciência da psicanálise, ela percorreu pelo desenvolvimento de métodos e técnicas buscando a sua significação.

As experiências de Freud com o médico Breuer e Charcot, no uso da hipnose como técnica para trazer ao consciente narrativas presas no inconsciente, possibilitou não só a descoberta de métodos terapêuticos para a histeria principalmente. Ela também motivou o desenvolvimento da ciência psicanalítica no desvelar desta dimensão desconhecida do aparelho psíquico.

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    Podemos observar dois movimentos da psicanálise então. Primeiro, no campo terapêutico, com a trajetória de Freud saindo da aplicação da hipnose para a técnica da pressão e associação livre.

    Com isto, nota-se um aprofundamento e uma complexificação dos conceitos utilizados na ciência psicanalítica para os estudos sobre o inconsciente. E também, do aparelho psíquico. Assim, a grande inovação conceitual foi a centralidade nos estudos do desenvolvimento psicossexual.

    Mecanismos de defesa que conflitam com os desejos

    As neuroses são então conceituadas como doenças cujos sintomas são a expressão simbólica de conflitos psíquicos dos compromissos entre o desejo e a defesa. Os desejos são produtos do que Freud caracterizou como pulsões, primeiramente, classificadas como do ego, autopreservação. E sexuais, preservação da espécie. Depois, como da vida, Eros, e da morte, Tanatos.

    Os mecanismos de defesa que conflitam com os desejos são:

    • o recalcamento
    • formação reativa
    • regressão
    • projeção
    • racionalização

    Nota-se aqui a centralidade do desenvolvimento psicossexual no pensamento freudiano. Trata-se da busca pelo prazer que se desenrola pelas quatro fases: oral, anal, fálica e genital.

    Elas se materializam nos instintos sexuais e a economia libidinal compõe a trajetória não linear do ser humano. E, também, nas suas relações e conflitos com outros seres humanos e com as dimensões sociais e culturais.

    Um novo olhar sobre aqueles que levam uma vida agitada

    Esta visão fragmentária e complexa do ser humano completa a ruptura com o autocentramento do sujeito. Então, abre espaço para um olhar diverso e plural da condição humana e principalmente para aqueles que levam uma vida agitada.

    Portanto, pensadores posteriores a Freud apontaram caminhos novos e diversos para a compreensão da mente humana.

    Houve uma apropriação e uma transgressão do pensamento freudiano por Jung, Lacan, Melanie Klein, Winnicott, entre outros.

    Conclusão

    E, por este motivo, a psicanálise se configura como uma ciência que se baseou na cura pela fala para aqueles que levam ou não uma vida agitada. Zimmermann afirma que uma das causas da “crise da psicanálise” é que os seus métodos terapêuticos não são funcionais.

    Mas os dilemas da sociedade em que vivemos sinalizam não só que a psicanálise tem grande importância, mas que o seu pai fundador, Freud, foi um visionário.

    Texto de Dennis de Oliveira, especialmente para o blog do Curso de Psicanálise Clínica.

    1 thoughts on “Vida agitada: significado e soluções

    1. Antônia Gomes da Silva disse:

      Estudos da mente são muito complexos e fantásticos.

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