amor e felicidade

Amor e Felicidade nos tempos da Pós -Modernidade

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Desde que o mundo é mundo, todo ser humano deseja ter amor e felicidade. Amar e ser amado. Filósofos, poetas e escritores, cada um à sua maneira, tentou ou tenta definir o que é ser feliz.

O que é o amor

Para Freud é preciso amar para não adoecer. Já o psicanalista humanista Eric Fromm acredita que o amor é a única resposta sensata e satisfatória ao problema da existência humana. Definições à parte, o indivíduo segue sua existência sempre procurando respostas para preencher o imenso vazio existencial.

O que é amor e felicidade

Para o filósofo francês Lucy Ferry, por exemplo, a felicidade não existe, o que existe é a serenidade. Já o poeta Vinicius de Moraes tem uma música chamada “ Felicidade”, a letra diz : “ Tristeza não tem fim/Felicidade sim”. Alguns acreditam que a felicidade está ligada ao indivíduo bem sucedido.

Ou seja, aquela pessoa que possui bens materiais, um emprego com ótima remuneração e uma beleza de capa de revista . Freud acreditava que a felicidade é um problema individual e que cada um deve procurar ser feliz à sua maneira.

Independente de como cada pessoa define o que é essa tal felicidade, a maioria poderia até concordar que amar e ser amado, na mesma intensidade, seria uma das chaves para a eterna felicidade. O problema, porém, é justamente amar e ser amado na mesma intensidade. Nessa procura, é quando surgem os chamados desencontros amorosos.

Pós-Modernidade, amor e felicidade

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman afirmava que em tempos de pós-modernidade, e globalização, as relações são líquidas e nada foi feito para durar. Ou seja, embora exista o desejo de amar e ser amado, o sujeito carente de amor, para poder viver em plenitude, contraditoriamente, não consegue encontrar o amor. E ao encontrá-lo, muitas vezes, foge dele por medo de sofrer.

Não se pode julgar. Afinal, num mundo em que prevalece o excesso de informação, sons e imagens, vários sites de relacionamento, acessados em apenas um clique, acaba não havendo tempo ou disposição, para investir em apenas um amor. Sim, pois para viver a profundidade do amor, é necessário investimento de tempo, paciência e uma boa dose de coragem para entregar-se ao outro.

Um ser desconhecido, cheio de defeitos e capaz de sair do relacionamento com uma simples mensagem de adeus num aplicativo de celular. Se na teoria o amor é lindo, na prática, ele é complexo. Afinal, amar significa dividir a vida com alguém também cheio de dúvidas , desejos e questionamentos distintos.

Relações passionais

Fora ainda, correndo o risco de se envolver em relações passionais. Cheia de altos e baixos, traições, horários diferentes, problemas econômicos ou até amar uma pessoa que sofre de ciúme patológico e nada garante que esse amor tão sonhado termine na porta de uma delegacia ou ainda em lugar pior.

E como adaptar então, essa complexidade amorosa, num mundo exigente, globalizado, escravo da tecnologia e com sérios problemas sociais e econômicos?

Receita de Bolo

Na verdade, não existe receita de bolo. Quem se arrisca a procurar o amor, entende que precisará investir tempo e energia emocional e sexual para tentar ser feliz afetivamente. Não tem como saber se vai dar certo. A única maneira de descobrir é se envolvendo. Não há garantias no amor.

Como também não há garantia no dia após o outro. Já dizia o escritor Guimarães Rosa, aliás, com muita propriedade, que “ O que a vida quer da gente é coragem”. Assim é também no amor. É preciso coragem para enfrentar as diversas fases e ambivalências do sentimento.

Um amor começado com flores, promessas e bombons, pode terminar de forma melancólica, com traições e até agressões. Basta saber se o indivíduo está disposto a pagar o preço no desconhecido. Nem todos querem. Até por preguiça ou falta de libido.

Libido, amor e felicidade

A libido, certamente, é uma mola propulsora em busca do amor. Para Freud, a libido “se caracteriza especialmente por ser uma energia sexual voltada ao prazer”. E o amor é isso. Uma busca pela felicidade. Pelo prazer afetivo. Pela realização sexual. É a pulsão da vida. Mas que, infelizmente, na pós-modernidade, cada vez mais, essa busca se confunde com a satisfação narcísica do ego.

O objeto do amor, ao invés, de satisfação e prazer, torna-se sinônimo de caprichos e neuroses. Não que essa satisfação narcísica já não existisse antes, existia, verdade, porém, na medida em que o mundo avança na tecnologia e nas cobranças externas, os desencontros tornam-se maiores.

Embora o ser humano “ pós-moderno”, sinta-se cada vez mais só, e deseja uma companhia para dividir bons e maus momentos, prioriza como meta de vida, a profissão, ganhar dinheiro, viajar pelo mundo, envolver-se em questões sociais e ter vários parceiros ou parceiras sexuais.

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    O amor verdadeiro

    Não que outras prioridades impeçam de se conhecer um “ amor verdadeiro” num bar, no trabalho, num curso, ou em outro lugar qualquer. O problema tem sido mesmo o cardápio de candidatos e candidatas aumentando, principalmente por causa do acesso às redes sociais, os desejos também vão se dividindo e o descarte do outro se torna maior. Não há investimento em apenas uma relação.

    No mundo do mercado, viramos mercadoria. Assim, o que poderia ser uma promessa de amor e relacionamento mais sério, depois de um bate papo num site de relacionamento, pode se tornar apenas uma nuvem derretida. Afinal, há chances de se conhecer , no mesmo site, outros candidatos ou candidatas mais interessantes. Troca-se o desejo real pelo desejo virtual.

    Entre Sites e Cliques, amor e felicidade

    Sem saber se vale a pena arriscar, o indivíduo caminha perdido entre sites e cliques. Ama ardorosamente uma pessoa num dia, e dois dias depois, amar outra pessoa com a mesma intensidade. Assim, as relações se vão num toque virtual. Quem deseja nem sempre é desejado.

    Quem ama, nem sempre é amado. Encontra-se o gozo prazeroso que escorre entre os dedos em relações descartáveis. A felicidade torna-se uma senhora volúvel e distante. Ela existe? O desejo de hoje , já não é o mesmo de ontem, a felicidade buscada, já não satisfaz com a mesma intensidade.

    As prioridades mudam em um passe de mágica. A busca por algo que já nem se sabe o que é, segue em cliques, academias, bares, viagens, leituras e desencontros. O desejo já não está mais , onde um dia, ousou pousar. Se é que algum dia pousou em algum lugar. Enquanto isso, a tal felicidade vai derretendo pouco a pouco, dia a dia, em um mar de teoria.

    Fonte – BAUMAN, Z. A Arte da Vida

    O presente artigo foi escrito por Celamar Maione([email protected]). Jornalista, Pós-Graduada em Direitos Humanos e Psicologia Forense. Psicanalista com formação pelo IBPC.

    3 thoughts on “Amor e Felicidade nos tempos da Pós -Modernidade

    1. LARISSA BAIRROS DE OLIVEIRA disse:

      Excelente artigo! Lendo eu lembrei bastante da série da Amazon “Modern Love”
      As pessoas esquentam e esfriam com a velocidade das redes sociais. Vínculos se tornaram práticos demais… Mas, ainda assim, a capacidade de se conectar está ampliada já que o mundo cabe na palma da mão… Nos resta saber agora como fazer isso direito.

    2. Arnaldo Costa disse:

      Hoje, a tendência é substituir amigos por seguidores. E esses seguidores são “invisíveis”, “maravilhosos”, “charmosos”, “inteligentes”, “sarados”. Pura ilusão desses tempos virtuais cada vez mais líquidos, como explica o Bauman.

    3. Mizael Carvalho disse:

      Muito bom artigo! As pessoas vivem uma vida, cheia de fantasias. Infelizmente deixaram de viver !

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