Se você já ouviu falar no termo anomia, provavelmente foi em uma aula de sociologia. No entanto, o que ele pode ter a ver com a psicologia?
Este é o tema do nosso artigo hoje. Assim sendo, não deixe de conferir essa leitura!
O que é anomia?
A anomia, em linhas gerais, significa “ausência ou desintegração das normas sociais”.
Porém, para entendê-la mais a fundo é necessário saber do que o sociólogo francês Émile Durkheim estava falando quando criou essa palavra.
Na psicologia, a anomia é definida como um estado de desorientação e confusão causado pela falta de normas sociais claras.
Anomia na sociologia – anomia social em Durkheim
Durkheim cunhou de “anomia” aquilo que motivou as patologias sociais modernas pós Revolução Industrial.
Veja bem: em um período anterior ao ano 1970, o estilo de trabalho das pessoas era muito diferente do que conhecemos hoje em dia, pois o processo de produção era manufatureiro.
Logo, dependia da capacidade artesanal do trabalhador de produzir. Contudo, com a Revolução Industrial, a produção sofreu a intervenção das máquinas.
Assim sendo, a capacidade de trabalhar com as mãos perdeu valor para a capacidade de operar máquinas. Dessa forma, a relação entre os trabalhadores mudou também.
No entanto, não de uma hora para a outra, mas gradativamente. Confira abaixo algumas mudanças significativas:
- redução do salário,
- carga de trabalho excessiva,
- competição elevada,
- alto risco de demissões,
- ausência de direitos trabalhistas,
- risco de acidentes elevado,
- discriminação de mulheres, doentes, crianças e idosos.
O indivíduo e a coletividade
Sendo este o cenário com o qual as pessoas tiveram de aprender a lidar, Durkheim notou uma mudança expressiva nas relações sociais do período.
A sociedade começou a se organizar de uma maneira distinta. Logo, essa mudança afetou a relação do indivíduo com a coletividade.
Assim, se por um lado a Revolução Industrial trouxe para os indivíduos e instituições a descoberta de novos meios de transporte, tipos de energia, o desenvolvimento da indústria e avanços na medicina, ela também trouxe diversas consequências negativas para como as pessoas se relacionam em um mundo cada vez mais individualista.
A anomia na sociedade Moderna
A Revolução Industrial também contribuiu para que as relações humanas se tornassem cada vez menos regulamentadas.
Isso significa que as pessoas começaram a não enxergar mais o sentido de laços que unem um indivíduo ao coletivo, o que culmina em uma certa desintegração social.
Assim sendo, as pessoas foram se tornando cada vez mais egoístas, egocêntricas e autocentradas.
QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE
Em uma sociedade em que os indivíduos são assim, as regras sociais se tornam mais frouxas, o que pode culminar em situações psicológicas graves, sendo a pior delas o suicídio frente à competitividade.
Anomia na psicologia
É aqui que entra a psicologia em toda essa discussão sobre a anomia, pois ela está na preocupação com o estado emocional dos indivíduos em uma sociedade que preza pela competição em uma valorização exacerbada do “eu” em detrimento do “nós”.
A discussão de Durkheim parece se aplicar a tempos muito antigos, não é? Porém, observamos que as consequências psicológicas da anomia social reverberam tendências individualistas até os dias de hoje.
Dessa forma, impactam os indivíduos de várias maneiras negativas, o que é digno de atenção.
Consequências psicológicas da anomia social
1. Frustração
Primeiramente, a frustração faz parte da rotina do indivíduo que faz parte de uma sociedade individualista e competitiva, pois a competição obriga as pessoas a se compararem constantemente.
Ademais, em alguns momentos, elas constatam que não são boas o suficiente.
Essa frustração pode estar presente no momento de analisar o armário e ver que as suas roupas não são tão boas quanto as roupas de influenciadores famosos.
Ademais, ela pode estar no seu ambiente de trabalho, em que você se compara aos seus colegas e se esforça acima dos seus limites para entregar os resultados que eles entregam.
2. Depressão
Uma pessoa que se sente anômica pode se sentir isolada e solitária, o que pode levar à depressão e à ansiedade.
A depressão já recebe o título de “Mal do Século” há muito tempo. Porém, entendendo melhor o conceito de anomia, fica um pouco mais fácil entender essa expressão.
Nesse contexto, entende-se a depressão como um produto da anomia social. Dessa forma, o problema deixa de ser uma questão social, apenas, para também ser compreendido como uma doença social.
Além disso, em uma sociedade cada vez mais ensimesmada e competitiva, há uma deturpação no significado de valores como:
- bem-estar,
- beleza,
- sucesso,
- felicidade.
Assim sendo, quem se compara com os padrões cada vez mais divulgados pela mídia e pelas redes sociais, sente uma grande inadequação. Esse sentimento, por sua vez, é o lugar de onde nasce a angústia, a tristeza e outras aflições pessoais.
3. Violência urbana
A anomia também pode contribuir com a motivação para atos de violência urbana.
Quando não há uma regulamentação rígida para os laços de coletividade que nos unem, para algumas pessoas não há escrúpulos que limitem algumas ações.
Podemos tomar como exemplo os crimes organizados que levam a assassinatos e torturas, por um lado. Porém, também são exemplos de crimes os assaltos e roubos aos cofres públicos que políticos cometem também sem pensar nos “donos” de todo aquele dinheiro.
4. Crimes variados
Mais acima, citamos os casos de violência urbana que nem sempre machucam alguém diretamente e para os quais as punições não estão claras. No entanto, veja que os crimes que vemos na televisão, de algum modo se conectam ao conceito de anomia.
Os laços entre os seres humanos estão tão frouxos que, para muita gente, os roubos, assassinatos, estelionatos, estupros, enganos e violações de muitas outras ordens são absolutamente triviais.
Obviamente, não é possível desconsiderar as motivações de vida e o psicológico por trás de cada perfil criminoso. Porém, é importante destacar como psicologia e sociologia se ligam muito mais do que imaginamos.
5. Suicídio
Por fim, como já mencionamos mais acima, temos que uma das consequências mais graves da anomia é o suicídio.
Trata-se da decisão de uma pessoa de tirar a sua própria vida frente a uma sociedade da qual ela sente que não faz parte e não pode pertencer.
Durkheim faz uma análise profunda sobre o tema em sua obra “O Suicídio” e nós recomendamos esta leitura.
Considerações finais sobre a anomia
Esperamos que esta discussão sobre a anomia tenha evidenciado o quanto psicologia e sociologia se ligam intrinsecamente. Os movimentos sociais decorrentes de fenômenos históricos impactam diretamente o indivíduo de maneiras até mesmo fatais.
Além disso, uma maneira de descobrir se a anomia social nos afeta de maneira muito intensa é por meio da análise. Assim sendo, destacamos a psicanálise como uma ferramenta importante para aprendermos a lidar com a sociedade em que convivemos.
Consequentemente, destacamos também a importância da formação completa de psicanalistas que aprendam sobre a importância da anomia. Com isso, convidamos você a se matricular em nosso Curso 100% Online de Psicanálise Clínica, pois por lá discussões como essa estão presentes.
One thought on “Anomia: definição na sociologia e na psicologia”
Muito bom artigo! A falta de qualificação profissional, deixou muitas pessoas desempregadas. Não foram preparados para o novo momento, a Revolução Industrial surgiu e as pessoa estavam despreparadas.