Neste trabalho, abordarei as várias faces da depressão, conhecida como mal do século. Veremos a abordagem tanto em sua visão histórica e tratamentos bem como maneiras como a atualidade lida com essa epidemia.
No século XX, a depressão foi considerada o mal do século. Isso por causa de sua ampla difusão e por seus impactos na vida das pessoas. Estamos no século XXI, e a depressão continua sendo chamada assim. Sinais de que o cenário não mudou tanto de umas décadas para cá.
Na incrível canção Esperando por mim (Legião Urbana, 1996), Renato Russo canta: “O mal do século é a solidão“. Muitos cientistas diziam que a Aids seria o mal do século XX, por ser a nova doença mais devastadora surgida naquele período. Ao cantar que o mal do século é a solidão, Renato Russo (que era soropositivo) aponta para uma leitura de que os aspectos mentais podem trazer doenças muito mais severas e impactar muito mais pessoas.
A solidão como mal do século é um sentido próximo a um transtorno muito associado à ideia de solidão: a depressão.
Índice de conteúdos
Esta abordagem é relevante, pois nos permite um novo olhar sobre um problema tão recorrente nos consultórios. Assim, possibilitando explorar novos métodos de tratamento e compreensão da real dimensão do problema, essencial para o terapeuta.
Como objetivo, buscarei neste trabalho demonstrar que não se trata de uma nova doença. Mas que a depressão acompanha os seres humanos desde sempre – o que na verdade mudou foi a forma de se encarar a problemática, estigmas e possíveis soluções.
Primeira parte
Na primeira parte do trabalho, abordarei um estudo histórico, demonstrando a presença dessa epidemia nos meios filosóficos artísticos e científicos.
Segunda Parte
Na segunda parte do trabalho, demonstrarei os tratamentos propostos ao longo dos séculos.
Terceira parte
Já na terceira parte, farei um relato de como atualmente lidamos com essa epidemia pelo mundo (incluindo o significado de mal do século). Abordarei, inclusive, a dificuldade das campanhas vinculadas pela mídia e redes sociais, além de questões sobre “qual é o mal do século”, afinal.
A metodologia empregada foi através de pesquisa bibliográfica.
1 – Um breve histórico sobre a depressão: mal do século
Antiguidade (500 a. C. – 100 d. C.)
Mente sã em corpo são. Os gregos já acreditavam que as doenças da mente estavam conectadas de algum modo à disfunção corporal.
Hipócrates, que foi considerado o pai da medicina, criou a palavra melancolia: mêlas=negra e kholê=bile. Portanto, bile negra, para definir os quadros de depressão, pois acreditava que o indivíduo saudável deveria ter os 4 humores bem equilibrados (bile negra, bile amarela, sangue e fleuma), caso um desses humores prevalecesse, no caso a bile negra, o paciente apresentaria:
- falta de ânimo,
- insônia,
- irritabilidade,
- inquietação,
- cessação de interesse pelo mundo externo,
- desejo de morte,
- perda da capacidade de amar,
- inibição,
- baixa autoestima.
Teoria dos humores e o mal do século
A teoria dos humores foi um marco na história, pois através da observação clínica propôs um modelo biológico em substituição das antigas mitologias.
Anteriormente à concepção de humores de Hipócrates, todo padecimento físico ou mental era obra da punição ou vingança dos deuses. Aquele que se encontrava doente, enlouquecido, depressivo, colérico, estava pagando por um erro seu ou de seus ancestrais.
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Já na Grécia antiga a melancolia era valorizada. O filósofo grego Aristóteles afirmou que os melancólicos tinham mais espírito que os outros. E, através de suas observações, descreveu vários quadros psicossomáticos de grande valia. (CHAUI M. Convite à filosofia. 11a ed. São Paulo: Ática; 1999.)
O racionalismo grego
Por mais de 800 anos, o racionalismo grego influenciou as formas de lidar com as dores psíquicas e físicas na Europa. Entretanto, com a queda do Império Romano, chegamos a uma outra época histórica, a Idade Média, conhecida como a Idade das Trevas.
Idade Média (450 a 1400 d.C.)
Na Idade Média o Cristianismo se tornou uma força política e religiosa em toda a Europa. Assim, alterando a forma como as doenças mentais eram vistas.
O que antes eram considerados desequilíbrios corporais, agora eram vistos pela ótica do misticismo e do sobrenatural. Com isso, atribuindo ao demônio todo tipo de doença mental.
Santo Agostinho declarou que o que separava os homens dos animais era o dom da razão. Portanto, a perda da razão era um desfavor de Deus, a punição para uma alma pecadora. (SOLOMON A. O demônio do meio-dia. Rio de Janeiro: Objetiva;2002)
Portanto a melancolia foi considerada como a não presença de Deus no indivíduo, que passou a ser tratado como um animal. Ainda, um ser isolado do convívio social e submetido a trabalhos manuais pesados e enfadonhos.
Século XIII
No século XIII, a situação piorou ainda mais, a melancolia passou a ser considerada um pecado incurável, multando ou aprisionando os portadores desse mal da alma.
Idade Moderna (séculos XV a XIX)
A Idade Moderna se refere às grandes épocas culturais que ocorreram na Europa. Como o Renascimento, o Iluminismo e o Romantismo.
Nesse período, surgiu uma releitura dos filósofos gregos, como Sócrates, Platão e Aristóteles, ressaltando o antropocentrismo, naturalismo e racionalismo. No século XVI, notamos grandes contrastes entre os pensadores europeus. De um lado a melancolia foi glamourizada, definida como um anseio humano pelas grandes idéias e ideais. E, assim, todo gênio seria um melancólico.
Por outro lado os pensadores ingleses continuaram a acreditar que a melancolia vinha das relações com demônios e suas manifestações. Porém, as pessoas afligidas por esse mal não eram mais as responsáveis por essas intromissões. (SOLOMON A. O demônio do meio-dia. Rio de Janeiro: Objetiva;2002)
Final do século XVI e século XVII
No final do século XVI e ao longo do século XVII, a melancolia entrou na moda, se tornou algo desejável. Assim como demonstrou Shakespeare com o personagem Hamlet – que a retrata como essencial para a sabedoria e básica para a loucura.
O filósofo e matemático francês, René Descartes, no final do século XVII, através da explicação mecânica e matemática do universo, inaugurou uma nova época, conhecida como o Grande Racionalismo Clássico. Aqui, a máxima “Penso, logo existo” enalteceu o poder do intelecto no conhecimento e domínio das emoções. (CHAUI M. Convite à filosofia. 11a ed. São Paulo: Ática; 1999)
Dualismo cartesiano e o mal do século
O dualismo cartesiano, separou corpo e mente. Assim, mudou o olhar da depressão, afinal será que a mente adoece o corpo ou o corpo adoece a mente, qual o papel do cérebro? Será a depressão um desequilíbrio físico ou uma fraqueza da mente?
O século XVIII foi marcado pelo Iluminismo, que trouxe novas descobertas da ciência. Isaac Newton, por exemplo, com sua teoria da gravitação universal, a fé no poder da razão humana e Friedrich Hoffman, o primeiro a sugerir que a loucura seria uma doença hereditária. (SOLOMON A. O demônio do meio-dia. Rio de Janeiro: Objetiva;2002)
O Romantismo surgiu como uma reação do culto à razão, o sentimento, a imaginação, e o anseio passaram a ser glorificados. As atenções se voltaram ao sublime.
O depressivo, na visão do filósofo Arthur Schopenhauer, vive simplesmente porque tem um instinto básico e, assim como Voltaire, acreditava que somente o trabalho poderia desviar o homem de sua depressão essencial. (SOLOMON A. O demônio do meio-dia. Rio de Janeiro: Objetiva; 2002.)
O existencialismo e a melancolia
Soren Kierkegaard, precursor do existencialismo, falou do desespero. Ele classificou toda a humanidade como melancólica. (SOLOMON A. O demônio do meio-dia. Rio de Janeiro: Objetiva;2002.)
O século XIX, portanto, relacionou as doenças mentais com a patologia orgânica do cérebro. Assim, a melancolia foi subdividida em categorias e subcategorias.
Wilhelm Griesinger introduziu a tradição clínica na Alemanha e declarou que as doenças mentais são doenças do cérebro, graças às autópsias cerebrais. Griesinger medicalizou a depressão, tornando o século XIX conhecido como o século dos manicômios.
Isso, pois, centenas de manicômios foram construídos para atender ao imenso número de internações realizadas nessa época. Esses polos foram os responsáveis pela psiquiatria como especialidade médica.
Fato é que apesar de muitas vertentes, a depressão passou a ser vista e reconhecida muito mais a nível orgânico e cerebral que emocional ou espiritual.
Idade Contemporânea (século XX até os dias atuais)
No século XX, surgiram novos avanços e descobertas em psicopatologia, farmacologia, anatomia patológica, neurologia e genética. Isso possibilitou que a psiquiatria, através de sua clínica e observação, fosse reconhecida como uma ciência. (RIBEIRO PRM. Da psiquiatria à saúde mental: esboço histórico. Bras Psiq. 1999; 48:53-60)
Em 1917, Sigmund Freud escreveu “Luto e melancolia” – em que considerou que a melancolia é uma forma de luto devido a uma sensação de perda da libido. E, assim, tornando o ego pobre e vazio. (FREUD, S. Luto e melancolia. Tradução de Marilene Carone. Novos Estudos – CEBRAP, 1992, n. 32, pp. 128-142.)
Emil Kraepelin, em 1883, classificou a depressão em três categorias – da mais suave à mais grave – permitindo um tratamento diferenciado em termos de dosagem.
Hereditariedade do mal do século
O conceito de hereditariedade em 1970 estava em alta e foi considerado responsável por 80% dos casos de depressão. (SOLOMON A. O demônio do meio-dia. Rio de Janeiro: Objetiva; 2002). Adolf Meyer, por exemplo, definiu o homem como um ser psicobiológico. Assim, introduzindo o conceito de terapia dinâmica, onde as ações sociais e biológicas estariam relacionadas diretamente ao desenvolvimento mental do indivíduo.
A Teoria da Evolução, a Teoria da Relatividade e a Teoria Quântica, juntamente com a perda do Absoluto representado por um Deus e a falta das certezas matemáticas e físicas, trouxeram mais angústia e ansiedade para a humanidade, como questões: “ansiedade como enfrentar o mal do século?”. E, assim, mergulhando mais e mais pessoas na depressão.
Inicio do século XXI e a depressão, hoje nosso mal do século
No início do século XXI, ela é considerada uma doença mental. Estando catalogada na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) e no Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM).
No Brasil, temos cerca de 12 milhões de pessoas que sofrem de depressão, 5,8% da população brasileira. Esse índice é a maior taxa da América Latina e a segunda maior das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos.
Em todo o mundo, estima-se que mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, sofram com esse transtorno. Nas livrarias, centenas de livros trazem esse tema visando a auto ajuda e dicas como superar a tristeza e depressão.
Nunca a depressão foi tão falada, estudada e orientada. Porém, muitas lacunas terão que ser preenchidas até que se encontre uma luz nessa epidemia.
2 – Tratamentos da depressão através dos séculos
Antiguidade (500 a. C. – 100 d. C.)
Antes de Hipócrates, encontramos múltiplas histórias de reis e heróis que se afastaram dos deuses ou os desafiaram. E, como castigo ficaram loucos – portanto, a sanidade mental e física só poderiam ser resgatadas mediante um perdão divino.
Já segundo a concepção hipocrática, o corpo tem uma tendência natural à cura (Physis) toda vez que existe uma desarmonia dos humores (discrasia). Para isso, existiria 3 etapas das doenças agudas; apepsia, pepsia (cocção) e crisis. (CHAUI M. Convite à filosofia. 11a ed. São Paulo: Ática; 1999.)
A crisis tem tendência a ocorrer em dias certos, o que levou Hipócrates a estudar os dias críticos de várias enfermidades, entre eles a melancolia. (CASTIGLIONI, 1947, pp. 191-192)
O tratamento proposto pelo médico grego, depois de vários estudos da crisis, consistia em mudanças na dieta, ginástica, hidroterapia e medicamentos orais, ervas catárticas, eméticas e purgantes destinadas a eliminar o excesso da bile negra. Ele acreditava também na importância do diálogo e na necessidade de não deixar o doente sozinho.
As expressões “bom humor”, “mau humor”, “bem-humorado”, “mal-humorado” são reminiscências dos conceitos dos humores (discrasia) e seu equilíbrio. E, esse conceito guiou a prática médica por mais de dois mil anos.
Idade Média (450 a 1400 d.C.)
Como foi visto anteriormente na Idade das Trevas, as doenças mentais eram tidas como manifestações do demônio. Como possessões e bruxaria.
Se o louco fizesse a confissão de que era bruxo, poderia ser exorcizado ou punido (muitas vezes queimado vivo) e posteriormente submetido à ordem religiosa. Caso o louco fosse rico, poderia comprar a Santa Inquisição e era considerado apenas ‘’excêntrico’’.
A loucura era encarada, nessa época, como uma heresia.
Para todos os outros tipos de loucura, o procedimento de ‘cura’ era trancafiá-los em um navio e mandá-los para outra cidade, exilados, simples assim, problema resolvido. (VIEIRA, Willian. Como os transtornos mentais foram vistos ao longo da humanidade. [Online]. Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/quando-ainda-eramos-loucos/>. Acesso em: fev. 2020.)
Idade Moderna (séculos XV a XIX)
No final do século XVI, o conceito de humores perdeu terreno com o advento do microscópio. Esse revolucionário aparelho permitiu a observação das estruturas celulares, responsáveis pela formação dos órgãos e tecidos.
Coube a Rudolf Virchow (1821-1902) estabelecer as bases da nova patologia, fundamentada nas alterações celulares e não mais nos humores de Hipócrates.
A milenar doutrina da patologia humoral foi substituída pela patologia celular. Isso representou um marco na evolução da teoria e da prática da medicina.
Por outro lado, graças ao Renascimento e ao Iluminismo – onde o antropocentrismo foi o foco – a loucura passou a ser associada à ociosidade. E, o comportamento dos doentes, a ser visto como algo que deveria ser corrigido, pois infligia a ordem moral e social dos novos tempos.
Os deprimidos e outros doentes
Entre os doentes mentais, os deprimidos sofriam menos abusos que os demais por serem relativamente dóceis. Porém, as outras patologias eram tratadas de uma forma desumana.
Consta que entre as várias práticas para a obtenção de cura desses enfermos, estava os métodos de afogamento, tortura para distrair a dor da mente, aparelhos para os enfermos vomitarem até desmaiarem entre outros. (SOLOMON A. O demônio do meio-dia. Rio de Janeiro: Objetiva;2002)
Trabalho como cura do mal do século (depressão)
No século XVIII, a cura para a depressão foi o trabalho braçal. Isso porque a melancolia, o desalento, o desespero e freqüentemente o suicídio eram considerados conseqüência da visão sombria das coisas no estado relaxado do corpo. E, portanto, quanto mais trabalho braçal o indivíduo fizesse, menos ele padeceria das dores da alma.
Ainda hoje na nossa concepção atual sobre depressão, mantemos pensamentos arraigados oriundos dessa época. Por exemplo, associa-se a depressão ao ócio, preguiça, falta de vontade e a necessidade do trabalho braçal. Quantas vezes não ouvimos frases como: “depressão é doença de quem não tem o que fazer e o remédio é um tanque cheio de roupa suja para lavar”.
Tratado médico-filosófico
Em 1801, Philippe Pinel publicou o Tratado médico-filosófico da alienação mental ou mania, no qual classifica quatro espécies do gênero de loucura:
- mania,
- melancolia,
- demência,
- idiotismo.
Com isso, surgiu a preocupação com a saúde mental dos indivíduos dentro das casas de internamento ou asilos. A psiquiatria passou a ser vista como uma medicina mental baseada na anatomia cerebral e não mais nos metafísicos (filósofos) ou nos moralistas (a Igreja). (PINEL, P. Traité Médico-Philosophique sur l’Aliénation Mentale ou la Manie. Paris: Richard, Caille e Ravier, 1801. Tradução por Maria Vera Pompeo de Camargo Pacheco. Revisão técnica pelo Prof. Dr. Mário Eduardo Costa Pereira, ambos do Laboratório de Psicopatologia Fundamental da Unicamp)
Luto e depressão (mal do século), por Freud
No texto “Luto e Melancolia”, de 1917, Freud realiza um estudo comparativo entre os dois estados: o estado de ter perdido alguém (luto) e o estado depressivo – como chamamos hoje – ou melancolia.
Nessa diferenciação, Freud nos trás o olhar para do paciente e não mais o ‘encaixar’ o depressivo na sociedade. E, essa nova forma de tratamento através da fala, coloca o doente em posição de destaque e não mais ‘os outros’ ou mesmo o ego do médico em primeiro lugar.
Vários outros terapeutas influenciados por essa nova concepção contribuíram e muito para o avanço da psicanálise. Nomes como Yung, Lacan, Klein entre muitos outros. Esses, propuseram novas teorias e meios de se alcançar a sanidade mental.
Idade Contemporânea (século XX até os dias atuais)
O século XX foi marcado por uma nova fase de compreensão dos processos mentais, na década de 1950. Os antidepressivos revolucionaram o tratamento da depressão ao se utilizarem dos mecanismos de neurotransmissores.
Vários estudos foram realizados para se descobrir quais eram os neurotransmissores que regulavam as emoções. E esses estudos continuam sendo realizados até hoje.
A década de 1990 foi denominada a “década do cérebro”, em virtude dos progressos científicos ocorridos em torno da compreensão e tratamento das enfermidades mentais. Isso com a ajuda do eletroencefalograma (EEG), da tomografia computadorizada de emissão de fóton único (SPECT) e da tomografia com emissão de pósitron (PET). Essas, puderam demonstrar qual parte do cérebro é acionada por determinada emoção – correlacionando assim a depressão, ansiedade, distração, obsessão e violência a determinadas áreas cerebrais.
A Psicanálise e o mal do século
No campo da Psicanálise, várias correntes surgiram para o auxílio dessa enfermidade:
- terapias breves,
- constelação familiar,
- programação neurolinguística – PNL;
- terapias cognitivas, entre outras.
Foram criados os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) como alternativa para substituir o modelo do hospital psiquiátrico tradicional. No cotidiano do trabalho nos CAPS, são realizadas atividades que visam à socialização da pessoa portadora de transtorno psíquico, entre elas:
- educação física,
- oficinas culturais,
- oficinas de música; de expressão corporal; de dança,
- caminhadas no bairro, entre outras.
Nosso século vem marcado com uma visão mais humana dos transtornos da mente e uma busca incessante de soluções.
3 – Campanhas de prevenção (depressão, suicídio e o mal do século)
Uma área que se destacou nesse século foi o uso das grandes mídias. Bem como as redes sociais para conscientizar a população dos perigos da depressão.
O Reino Unido no ano de 2018 formou o Ministério da Solidão – tal a gravidade do problema que esse pais vem enfrentando – para se ter uma idéia do quadro geral. “Uma em cada três pessoas na faixa dos 75 anos diz que seus sentimentos de solidão estão fora do controle. Oito em cada 10 cuidadores de idosos se sentem isolados do convívio social, por causa da profissão.
Cinquenta por cento das pessoas com algum tipo de deficiência se sentem abandonadas e 58% dos imigrantes e refugiados de Londres dizem que a solidão tem sido o maior desafio na adaptação”. (CRUZ, Daniel. Com 9 milhões de solitários, Reino Unido cria Ministério da Solidão.)
Setembro amarelo e o mal do século
No Brasil e pelo mundo muitas campanhas foram desenvolvidas, campanhas como “Setembro Amarelo”. Ela foca a depressão e o suicídio, tendo como motivos o fato de que o mal do século é a depressão.
Porém o que observa é que quando se coloca o foco sobre essa doença, o índice de suicídios aumenta, esse fato leva a um dilema: Calar ou falar sobre a questão?
Relatos: o mal do século e o suicído
Mari afirma que: “Facebook, WhatsApp e Instagram aumentam a exposição ao ciberbullying assim como o compartilhamento de comportamentos disfuncionais, como divulgação de métodos de suicídio e minimização dos perigos da anorexia”.
Já Asevedo lembra casos como o jogo da baleia azul, uma fake news que fez sucesso em 2017 – ao estimular comportamentos como automutilação e suicídio.
“Quando fomos analisar as buscas no Google, notamos aumento nas pesquisas sobre como se matar. O efeito é muito maior que as campanhas de internet para prevenção ao suicídio”. (SOBRINHO, Wanderley Preite. Suicídio cai no mundo, mas cresce até 24% entre adolescentes no Brasil)
Conclusão: Mal do Século
A depressão (mal do século 21) é uma constante na vida dos seres humanos desde que o mundo é mundo. Muito foi feito, descoberto, vários estigmas foram derrubados – mas é fato que ainda hoje somos milhões que padecem dessa doença.
Podemos ver um movimento pelo mundo, que tenta de alguma forma acolher essas pessoas, trazer a alegria, a vontade de viver de volta. No entanto, a impressão que se tem é que as tentativas de solução são inversamente proporcionais aos resultados.
Talvez, as novas tecnologias, o uso dos celulares, a independência, a facilidade de se viver isolado, o aumento da expectativa de vida, sejam alguns dos fatores responsáveis por esse surto de depressão.
O que pude ver ao longo desses cinco anos clinicando em meu consultório, é que somente uma força é tão poderosa a ponto de reverter os quadros de depressão e tendências suicidas. O nome dessa força é amor.
O amor, a depressão (mal do século) e a Psicanálise
Creio, talvez de uma forma ingênua, que somente o amor. E, quando digo amor, me refiro a transferência e contra-transferência dentro das sessões – que permite aos pacientes receberem e terem força para testarem as ferramentas que, nós, terapeutas disponibilizamos a eles.
Somente quando se forma um laço real as mudanças ocorrem. Portanto, a conclusão desse trabalho é que temos muito que aprender com a história. Também com as novas tecnologias e métodos. Porém, nunca poderemos perder nosso mais precioso bem, o sentir o outro, o olhar, o acolhimento sem julgamento.
Teorias servem de guias, mas nunca para engessar nossa profissão.
Referências bibliográficas
CAIRUS, H. “Da Natureza do Homem”. História, Ciência, Saúde-Manguinhos, vol. 6, no 2, jul.-out. 1999.
CASTIGLIONI, A. A História da Medicina. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1947
CHAUI M. Convite à filosofia. 11a ed. São Paulo: Ática; 1999.
CRUZ, Daniel. Com 9 milhões de solitários, Reino Unido cria Ministério da Solidão. Disponível em: https://noticias.r7.com/com-9-milhoes-de-solitarios-reino-unido-cria-ministerio-da-solidao-28092018. Acesso em: fev. 2020.
FREUD, S. Luto e melancolia. Tradução de Marilene Carone. Novos Estudos – CEBRAP, 1992, n. 32, pp. 128-142.
MARTINS, Ademir. Escrita criativa: os desafios do ensino superior. São Paulo: Editora Saraiva, 2003.
PINEL, P. Traité Médico-Philosophique sur l’Aliénation Mentale ou la Manie. Paris: Richard, Caille e Ravier, 1801. Tradução por Maria Vera Pompeo de Camargo Pacheco. Revisão técnica pelo Prof. Dr. Mário Eduardo Costa Pereira, ambos do Laboratório de Psicopatologia Fundamental da Unicamp.
RIBEIRO PRM. Da psiquiatria à saúde mental: esboço histórico. J Bras Psiq. 1999; 48:53-60.
SOBRINHO, Wanderley Preite. Suicídio cai no mundo, mas cresce até 24% entre adolescentes no Brasil. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2019/04/27/suicidio-cai-no-mundo-mas-cresce-ate-24-entre-adolescentes-no-brasil.htm. Acesso em: fev. 2020.
SOLOMON A. O demônio do meio-dia. Rio de Janeiro: Objetiva;2002
SURJUS, Luciana Togni de Lima e Silva. Cuidado integral em saúde mental. Disponível em: http://www.saude.pr.gov.br/arquivos/File/cuidadointegralemsaudemental.PDF. Acesso em: fev. 2020.
VIEIRA, Willian. Como os transtornos mentais foram vistos ao longo da humanidade. [Online]. Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/quando-ainda-eramos-loucos/>. Acesso em: fev. 2020.
Este material sobre Mal do Século: um guia sobre Depressão é de Priscila Tubio, concluinte do nosso Curso de Formação em Psicanálise Clínica
5 thoughts on “Mal do Século: um guia sobre Depressão”
Ótimo e relevante artigo, muito agregador a respeito da “depressão”.
Parabéns à autora do trabalho.
Gostei do artigo, acho esse assunto de suma importância!!!
Não perco nenhum artigo, cada um escrito de forma peculiar que me enriquece muito. Parabéns pelo artigo, como está na canção de Jota Quest “O amor é o calor
Que aquece a alma”.
Excelente trabalho. Envolvente.
Gostei muito do texto. Traz um resumo sobre os ´momentos históricos, visão , tratamentos até a atualidade. Muito bom . Parabéns.