ansiedade e angústia

Ansiedade e Angústia: significado e diferenças em Psicanálise

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Você já se perguntou se o que sente é ansiedade ou angústia?

Nos tempos contemporâneos, o espectro das emoções humanas parece ter sido invadido por duas forças poderosas e, muitas vezes, confundidas: ansiedade e angústia. No entanto, é fundamental compreender as nuances que diferenciam esses estados emocionais para explorar a origem subjetiva desses sentimentos.

Em outras palavras, o conhecimento e o reconhecimento das diferenças entre ansiedade e angústia podem permitir que cada indivíduo investigue e reflita sobre o que lhe causa ansiedade e por que sente angústia.

Entendendo sobre a ansiedade e angústia

As reflexões a seguir visam explorar alguns conceitos de ansiedade e angústia, destacando as classificações propostas por Freud em relação à ansiedade, e examinar as características distintas entre essas emoções. Consequentemente, conscientizar as pessoas que acreditam ter problemas relacionados a sua ansiedade e ou aquelas que se sentem angustiadas, sobre a importância de buscar ajuda profissional para uma vida mais saudável e uma saúde mental equilibrada.

A ansiedade, de acordo com a teoria freudiana, está intrinsecamente ligada às expectativas que uma pessoa tem em relação ao futuro. Essas expectativas, embora frequentemente associadas a um “objeto” de desejo definido, podem, em alguns casos, não ser tão claras ou distintas.

O desejo de controlar o que está por vir, ou seja, o futuro, muitas vezes não está necessariamente vinculado a algo específico e tangível. Tanto a ânsia pelo que está por vir quanto o temor do que pode vir a acontecer podem desencadear uma intensa ansiedade que prejudica o bem-estar da pessoa no presente.

Freud, ansiedade e angústia

É relevante observar que, quando Freud menciona o “objeto” ou “algo” desejado pelo indivíduo, estes podem representar uma diversidade de coisas, desde aspirações, como a busca pela felicidade, conforto e bem-estar, até metas ambiciosas, como sucesso profissional, aquisição de bens materiais e fortuna, ou até mesmo relacionamentos amorosos intensamente desejados.

Da mesma forma, o “objeto” de desejo pode estar associado ao medo de eventos indesejados ou indesejáveis. Esse desejo pode envolver tanto a busca quanto a manutenção ou a ausência de algo, refletindo a complexidade subjacente da ansiedade.

Em certos casos, a expectativa em torno desse “objeto” pode se tornar tão intensa que evolui para uma ansiedade persistente e debilitante. Em outros casos, a aversão ao “objeto” pode gerar um desconforto semelhante. Em resumo, ao discutir a ansiedade, o foco não está exclusivamente na natureza específica do “objeto” ou “algo”, mas sim no desejo inerente à expectativa associada a ele.

A origem da ansiedade

A compreensão proposta por Freud sobre a origem da ansiedade destaca sua natureza complexa, tanto decorrente de conflitos mentais quanto enraizada em aspectos biológicos inatos. No entanto, a capacidade da ansiedade de nos alertar diante de possíveis perigos, possibilitando uma resposta de fuga ou enfrentamento, revela seu papel como um mecanismo de defesa fundamental para a preservação de nossa sobrevivência.

A classificação proposta por Freud, que inclui os tipos de ansiedade realística, neurótica e moralista, oferece uma visão mais abrangente das nuances dessa emoção cada vez mais presente na vida das pessoas.

A ansiedade realística surge como uma resposta direta a ameaças concretas do mundo exterior, enquanto a ansiedade neurótica deriva de um medo inconsciente de perder o controle sobre impulsos internos ou ver pensamentos específicos se concretizarem.

Ansiedade moralista

Por outro lado, a ansiedade moralista emerge como resultado do embate entre os princípios pessoais e as expectativas sociais, gerando um sentimento de culpa antecipado. Essas formas de ansiedade representam a interseção complexa entre processos psicológicos e sociais, demonstrando a profunda influência desses aspectos em nossa percepção e experiência emocional.

É importante observar que o nervosismo exacerbado associado a eventos futuros é uma característica comum entre os três tipos de ansiedade, resultando em sofrimento psicológico imediato para o indivíduo.

Atualmente, é comum que muitas pessoas se identifiquem e se apresentem como ansiosas, manifestando sintomas predominantemente relacionados ao pensamento acelerado e incessante. Esse estado ideativo é frequentemente caracterizado por uma intensa preocupação em relação ao futuro, além da sensação de impotência e limitação em diversas áreas da vida.

Sintomas, ansiedade e angústia

A experiência da ansiedade constante e/ou intensa pode resultar em sintomas físicos perturbadores, como dores de cabeça, sensação de exaustão cognitiva, dificuldades respiratórias, aperto no peito, garganta seca, taquicardia, desconforto gastrointestinal, como dores de estômago e náuseas, e distúrbios intestinais, como diarreia. Outros sintomas físicos comuns incluem dificuldades de concentração, problemas de aprendizado e distúrbios do sono, entre outros.

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    Ao lidar com indivíduos que expressam sofrimento relacionado à ansiedade, uma escuta analítica atenta é essencial para compreender as possíveis causas subjacentes a essa psicopatologia apresentada pelo paciente. É fundamental reconhecer que a ansiedade pode funcionar como um mecanismo de defesa inconsciente, frequentemente utilizado para evitar confrontos interiores e existenciais que podem surgir na ausência de expectativas e desejos, levando à experiência de angústia.

    Nesse contexto, a ansiedade atua como uma distração, mantendo a pessoa ocupada com outras preocupações para evitar uma reflexão interna mais profunda. Embora intimamente relacionadas, a ansiedade e a angústia não devem ser consideradas sinônimos, pois cada uma possui características distintas que merecem atenção cuidadosa e abordagens específicas.

    Estudo da psicopatologia

    Freud, em seu estudo da psicopatologia, introduziu o conceito de “neurose de angústia”, destacando-a como uma condição peculiar que se manifesta sem um objeto específico de medo. Diferentemente dos outros tipos de ansiedade que ele discutiu, a neurose de angústia está enraizada em uma sensação difusa e avassaladora de perigo iminente, sem uma ameaça clara no mundo exterior que a justifique.

    Nessa condição, o indivíduo pode experimentar crises súbitas de angústia intensa, muitas vezes acompanhadas por sintomas físicos debilitantes, como palpitações, falta de ar e sensação de sufocamento. Freud enfatizou a complexidade e a natureza enigmática da neurose de angústia, sugerindo que suas raízes podem estar ligadas a conflitos internos profundos e reprimidos, que se manifestam de forma abrupta e avassaladora.

    Sua análise pioneira desse fenômeno lançou luz sobre a intrincada relação entre os processos mentais inconscientes e a experiência emocional consciente, fornecendo um ponto de partida crucial para a compreensão mais profunda da angústia no contexto psicológico.

    Jacques Lacan, ansiedade e angústia

    Jacques Lacan, em seu décimo seminário, contemplou a angústia como uma emoção central na experiência humana, intrinsecamente conectada à busca incessante por um sentido de completude e plenitude. Para Lacan, a angústia emerge quando nos deparamos com o vazio existencial e a sensação de incompletude dentro de nós mesmos, estimulando reflexões profundas sobre nossa própria existência e propósito.

    Sob essa perspectiva, é possível reconhecermos a angústia como algo positivo quando expectativas e desejos são “deixados de lado” possibilitando um espaço valioso para uma espécie de “autoanálise”, permitindo um mergulho interno em busca de autoconhecimento e uma compreensão mais profunda de si mesmo.

    No entanto, quando a angústia se torna um estado permanente e impede a pessoa de se engajar plenamente na vida cotidiana, ela pode se transformar em um obstáculo significativo para o bem-estar psicológico e emocional do indivíduo.

    Equilíbrio saudável

    A visão de Lacan destaca a importância de encontrar um equilíbrio saudável entre a reflexão interna e o engajamento ativo com o mundo exterior, reconhecendo a angústia como um indicador crucial da busca contínua por significado e integridade na jornada humana.

    O Psicólogo e Psicanalista brasileiro Christian Dunker ao ser entrevistado pela escritora Tati Bernard em seu vídeocast “Desculpe o Transtorno” em 07/08/2023, apresentou uma reflexão muito interessante para diferenciar ansiedade de angústia.

    Segundo Dunker, “ansiedade sentimos quando temos um objeto no horizonte, ‘pra fora de nós’, é uma expectativa, podemos sentir quando estamos sendo levados para uma sala e não queremos, pode estar ligada ao medo, angústia é quando estamos fechado dentro desta sala, quando se perde ou deixa de existir esse objeto em eminência, e o que fica é o indivíduo com ele mesmo.

    Conclusão sobre a ansiedade e angústia

    Para concluir, a reflexão sobre a ansiedade e a angústia revela a complexidade intrínseca das emoções humanas e ressalta a importância de uma compreensão aprofundada desses estados emocionais. Reconhecer a diferença entre ansiedade e angústia não apenas nos ajuda a identificar e abordar essas experiências dentro de nós mesmos, mas também a desenvolver empatia e compreensão para com os outros.

    A busca por ajuda profissional, quando necessário, não deve ser encarada como um sinal de fraqueza, mas sim como um passo corajoso em direção ao autocuidado e ao bem-estar emocional. Ao entender e aceitar nossos sentimentos e buscar maneiras saudáveis de lidar com eles, estamos construindo uma base sólida para o nosso bem-estar emocional e mental.

    Portanto, é crucial que cada um de nós se comprometa com a própria jornada de autodescoberta e autoaceitação, reconhecendo que a ansiedade e a angústia são aspectos naturais da experiência humana. Somente ao enfrentar essas emoções de frente, com compaixão e apoio mútuo, podemos verdadeiramente aspirar a uma vida de equilíbrio emocional e bem-estar duradouro.

    Alexandre Baptista é graduado em Filosofia e encontra-se em formação como Psicanalista Clínico. Possui uma sólida trajetória de mais de duas décadas dedicadas ao campo de tratamento da adicção. Além disso, exerce um papel ativo como Palestrante, com o objetivo de informar, conscientizar e prevenir acerca das problemáticas envolvendo as dependências compulsivas e obsessivas. Tem compartilhado seu conhecimento e experiências tanto com empresas e seus colaboradores, quanto com instituições de ensino e seus alunos, abordando questões pertinentes ao alcoolismo, dependência química e adicção. Para entrar em contato, você pode enviar um e-mail para [email protected].

    One thought on “Ansiedade e Angústia: significado e diferenças em Psicanálise

    1. Josuel Onofre Bittencourt disse:

      Muito bom o texto, chambinho, parabéns.

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