Você já ouviu falar entre as diferenças entre o Id e o Ego? Nas últimas décadas a humanidade tende a delinear-se em categorias fechadas, usualmente chamadas de bolhas. Iniciamos esse texto com essa afirmação porque daqui gostaríamos de traçar um caminho singular que são as diferenças entre Id e Ego.
E para tal empreitada as bolhas devem ser furadas, o olhar científico deve prevalecer sobre o livre arbítrio da opinião. Categorias de ambientes aparentemente herméticos tendem a salientar construções que estão fora dos constructos científicos. Percebamos a própria experiência de apropriação do conceito e manipulação do Ego.
Entendendo as diferenças entre o Id e o Ego
Em algumas tradições religiosas, e declaramos que aqui o juízo de valor está suspenso, a bolha sugere que esse ego é múltiplo e que um dos trabalhos essenciais para o engajamento em tal escola é a desconstrução, a desconsideração, a tal ponto do Ego, que qualquer conduta seja ela assertiva ou contundentemente malograda é sucedida de um “está tudo certo”. Ou seja, os outros pressupostos que se constituem paralelamente ao Ego não são levados em conta.
Contemporizando, vi a pouco tempo um perfil no Instagram chamado @acabajovemmístico e atitude do administrador é justamente desmitificar essa postura que citamos acima. Posturas como a do positivismo tóxico, da vacuidade (o vazio é forma, a forma é vazio) e outras, sobretudo de origens orientais, são denunciadas em tom jocoso no perfil comentado.
Contudo é um manifesto de denúncia sem proporções teóricas. Aqui não temos o objetivo de denunciação e sim de revisão bibliográfica de uma das mais célebres teorizações no campo da Psicanálise: o Id e o Ego, a diferença que há entre um e outro. Naquilo que conhecemos como Segunda Tópica de Freud se debruçou em plena década de vinte do século passado na edificação de uma obra que permanece sólida: o modelo de funcionamento do mecanismo psíquico.
Ainda sobre as diferenças entre o Id e o Ego
Se primeiro ele trabalha com a noção de lugar (inconsciente, pré-consciente e consciente) agora ele se aprofunda na percepção estrutural (id, ego e superego). Considerados os dois modelos que norteiam a Psicanálise, o presente texto envergará essencialmente o que difere Id de Ego. Entendendo ambos, vamos primeiro ao Id.
Considere a primeira infância e terá em sua vista o exemplar de um mecanismo psíquico de puro Id. Nesse sentido o Id é uma estrutura psíquica primitiva, responsável por todos os desejos, desejos e pulsões anárquicos (os anarquistas que me perdoem cunhar tal predicado para um aparelho tão confuso como é o Id).
O Id é a manifestação onipotente e onipresente em nosso psiquismo da busca implacável pela satisfação. A qualquer custo! Frise-se; a qualquer custo. Pensemos em brevemente nas três movimentações do Id como é amplamente lido em várias escolas psicanalíticas. Existe o ponto de vista de sua construção como elemento de constituição econômica, de capital de prazer.
O ID e o prazer
Sua funcionalidade como já foi dito, é o prazer. Sua dinâmica milita com o Ego, naquilo que diz respeito às funções deste último, externa, porém internamente sua dinâmica de militância é com o Superego, com quem trava veementes combates. Assertivo seria dizer que não obstante à esses debates e afrontas entre esses dois últimos, para que sejamos sujeito, eles não raramente estão em acordo, trégua.
Como parte de um mecanismo maior, o Id sabe que para sua sobrevivência e persecução de seus objetivos de satisfatoriedade, ele necessita coexistir com as outras partes da mente humana. Mesmo considerando as movimentações do Id e sua capacidade de entrar em acordo com o Superego, por estar completamente – isso importa – envolvido na camada inconsciente, o princípio da satisfação nunca cessará, sem racionalizações ou cálculo de riscos.
Na verdade, as concessões que o Id faz ao Superego são momentâneas, inclusive pelo seu próprio estado inconsciente. É aqui que entra o Ego, e nessa narrativa conseguiremos expor a diferença entre os dois. O Ego gerencia, coordena, faz a gestão mais próxima do ideal de toda defluência arrojada do Id. Isso se dá porque o Ego possui sua maior parte no campo da consciência, então ele é o grande mediador entre as molecagens do Id e a tirania do Superego. Por isso o constructo teórico da Psicanálise privilegia a busca por um Ego robusto.
Diferenças entre o Id e o Ego e Superego
Tantas vezes usado de maneira pejorativa, sempre em contraposição ao que é altruísta, bom e moralmente relevante, um Ego robusto torna o ser humano mais apto a se relacionar enquanto sujeito. Diferente do que pretendem as escolas iniciáticas e os jovens místicos, como mencionamos no início, a teoria psicanalítica, seja ela qual for pretende indicar aos seus analisados que é só é possível integrar o mundo à partir do princípio da realidade interagindo com um Ego que seja capaz de lidar com todas as adversidades que lhe surgem na parte consciente, amparando, corrigindo, cuidando, harmonizando as demandas do Id, sobretudo.
Porque ainda existem as demandas do Superego e do mundo externo, sobre as quais não nos aprofundaremos aqui. O Ego também tem dinâmica própria. A parte consciente, essencial que vai desde a memória até a busca por sociabilidade. A parte inconsciente, complexa, e aqui temos angústias e a simbolização do mundo. E por fim a representação, a identidade.
Expostas as diferenças entre ambos, verifica-se que grandes empreitadas surgem quando essas instâncias do nosso psiquismo esbarram uma na outra, porém é sempre válido lembrar, dentro da estrutura de funcionamento do nosso mecanismo psíquico a equidade é possível e às travessuras do Id (que são de todo saudáveis – é importante não demonizar os desejos), está a atenção do Ego, garantindo uma existência e um relacionamento com o mundo externo sem que haja relações patológicas e mesmo a própria falência da psique humana.
Considerações finais
Cabe finalizar lembrando que a saúde mental está muito mais em entender todo esse mecanismo e validar tanto o Id quanto o Ego, os desejos e o sujeito desses desejos, do que desconectar os dois do nosso universo de significados, como muitas vertentes místicas sugerem.
Com um Ego enfraquecido é bom lembrar, um Id prepotente se manifesta em um universo de significados reais dos quais ele não sobreviverá de maneira saudável. Assim a relação dos dois é sim, diferencial, porém complementar. Diga o contrário quem nunca teve um desejo atendido pelo compassivo senhor Ego.
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O presente artigo foi escrito por Raphael Juliano([email protected]).Cientista Social, Escritor, Dramaturgo, Mediador de oficinas de escrita criativa e estudante de Psicanálise.