Hoje falaremos sobre o autismo infantil. Para podermos falar sobre vinculação e ou sensibilidade terapêutica com as Crianças com Autismo, primeira precisamos pontuar algumas colocações sobre o que é o TEA (Transtorno do Espectro Autista) e seu desenvolvimento próprio e particular.
Hoje, podemos dizer que as crianças com Autismo possuem um desenvolvimento próprio, com diferenças em algumas áreas, onde, geralmente, nos primeiros anos de vida já é possível notar essa diferença e ou atraso em seu desenvolvimento.
O autismo infantil
É comum observamos atrasos no desenvolvimento da linguagem oral e comunicação, desenvolvimento social e de interação com os outros, dificuldade a mudanças de rotinas e ou a falta dela, assim como outras particularidades que cada um vai desenvolvendo, mas estas áreas citadas são as mais comuns e convergentes em crianças com este transtorno. De acordo com GADIA (2006): “Os comportamentos que definem o autismo incluem déficits qualitativos na interação social e na comunicação, padrões de comportamento repetitivos e estereotipados e um repertório restrito de interesses e atividades.
As dificuldades de interação social em crianças autistas podem manifestar-se como isolamento ou comportamento social impróprio, pobre contato visual, dificuldade de participar em atividade de grupo, indiferença afetiva ou demonstrações inapropriadas de afeto e a falta de empatia social. A comunicação pode apresentar diferentes graus de dificuldade, tanto na habilidade verbal, quanto na não-verbal, de compartilhar informações com os outros.” (p. 423) Um dos primeiros pontos a ser abordado em relação ao vínculo de uma criança, é de quais são ou devem ser os seus primeiros vínculos e relações pessoais.
No autismo infantil, quando pensamos na relação do bebê com o mundo, devemos lembrar que geralmente o primeiro contato dele com o afeto e, onde se dará o seu primeiro vínculo, é o contato com sua mãe, ou quem será o seu primeiro cuidador (quem irá desempenhar a função materna), este é um dos vínculos mais importantes do bebê, pois será o primeiro, onde ele verá o mundo através dos olhos desta pessoa, por mais que este bebê, recém nascido, ainda não entenda que sua mãe se trata de outro ser vivo, o bebê a vê como uma extensão de seu corpo, e através deste relacionamento que seu desenvolvimento, experiências, vinculações e aprendizagens vão acontecendo, inclusive é pelo relacionamento com a mãe que entra o pai nesta relação, ou alguém que desempenhará a função paterna.
Ainda sobre o autismo infantil
ABRÃO (2011) sobre a construção das primeiras relações coloca: “Trata-se de uma importância que se estende muito além das necessidades físicas, biológicas. O seio materno supre muito mais que fome e sede. É o prazer mais primitivo do bebê, é seu vínculo inicial com o mundo, que ele não sabe ainda diferenciar de si próprio. Para construir uma relação equilibrada com o mundo exterior e consigo próprio, esses momentos iniciais são decisivos. “ (p. 06)
Vínculo terapeuta x paciente
Contudo, quando vamos pensar no vínculo terapêutico, independente do atendimento com crianças ou adultos, devemos cuidar e zelar por algumas combinações, regras e manejos. Para se pensar em vínculo, e estabelecimento do mesmo, primeiro precisamos pensar em frequência e constância, não se pode criar uma relação vincular sem uma frequência semanal, com dias, horários e setting organizado, sem mudanças frequentes. O paciente precisa se sentir acolhido e seguro para realizar o vínculo com o terapeuta, e o primeiro passo é estabelecer o contrato com essas combinações que devem valer para os dois lados.
Com o autismo infantil, e ou paciente com autismo, este cuidado com a frequência, horários e setting deve ser redobrado, para poder criar segurança, organização interna e poder oferecer as ferramentas para o desenvolvimento do vínculo terapêutico. Sabemos que na maioria dos casos, as maiores dificuldades do sujeito com TEA é a vinculação e a socialização, por isso a importância do terapeuta estar atento às brincadeiras, falas e tentativas particulares do paciente de se comunicar com as pessoas ao seu redor e com o próprio terapeuta, às vezes, isso pode acontecer através de um olhar, um pedido, um pegar na mão para solicitar algo, enfim de diversas formas, mas são os pequenos detalhes que vão mostrando esse processo.
Na teoria Winnicottiana, é a partir do holding materno, ou seja, do olhar integrador, do calor, do cheiro e dos cuidados da mãe, que o bebê tem a possibilidade de sentir-se uno e de constituir-se ( por intermédio desse contato ) numa linha de continuidade do self, base da genuinidade do ser. (winnicott, 1983; Silva, 1997) Muitas vezes, o processo inicial do terapeuta com o paciente, vai se dar neste mesmo formato, primeiro ele está sozinho e no seu mundo, depois vamos entrando neste mundo, fazendo parte, crescendo e construindo sessão a sessão seus desenvolvimentos e habilidades. CARRERA (2014), sobre o autismo infantil complementa dizendo que: “ Muitas pessoas com autismo têm o que é chamado de “prosopagnosia”, isto é a dificuldade de reconhecer rostos. Além de não reconhecer rostos, alguns não reconhecem a si mesmos em frente ao espelho.
O autismo infantil e o olhar das pessoas
Outra característica é achar que o olhar das outras pessoas é agressivo, por isso evitam o rosto, e se concentram em reconhecer as pessoas através de suas características, como o corpo, barba, cabelo, pescoço, voz, etc.” (p. 481). Pensando em todos estes aspectos iniciais, devemos destacar a importância do terapeuta em manter sua supervisão sistematicamente, bem como sua terapia individual, pois, muitas vezes ao repassar o caso, vamos nos dar conta dos pequenos crescimentos que a cada sessão vão acontecendo, entre terapeuta e paciente.
Em qualquer situação terapêutica, deve-se pensar que há o encontro de dois mundos diferentes, um é o do paciente com sua história, e o outro o terapeuta com sua técnica e seu próprio mundo, e no atendimento de crianças com TEA, muitas vezes a aproximação desses dois mundos, ou o encontro dos mesmos, pode ser um dos maiores desafios, mas é o principal para poder acontecer o vínculo, e partir daí as evoluções começarem a acontecer, pois, sem vínculo, não haverá desenvolvimento e ou crescimento terapêutico, cognitivo, social e psicomotor.
KANNER (1997), traz a seguinte colocação: “Sobre as relações com as pessoas, o autismo infantil, em muitos ambientes vão voltar a sua atenção, aos objetos de onde ela está, e não as pessoas, pode ser aos brinquedos e objetos deste lugar”. (p 164) Desta forma, precisamos estar atentos aos seus gostos, preferências e objetos que chamam a atenção destas crianças, pois esta pode ser a brecha para o início de conversas, ou fazer com que a criança se interesse em fazer parte daquele ambiente e ou sessão.
O conhecimento e compreensão do terapeuta
Um outro aspecto que deve ser ressaltado, estudado e compreendido sobre o atendimento aos pacientes com TEA, é o desejo, preparo, rapport do especialista, para poder atender uma criança com autismo, além de conhecer e estudar sobre o autismo, o terapeuta precisa ter o desejo de o fazê-lo, não pode ser por falta de opção, ou por uma questão financeira, o terapeuta precisa desejar fazer este trabalho, pois se não houver desejo de um dos lados, dificilmente o encontro dos dois mundos irá acontecer, pois, além de habilidades e estudos constantes sobre o transtorno do Espectro Autista, o terapeuta precisa querer e poder atender crianças, adolescentes e adultos com este transtorno, caso contrário é uma tentativa que não dará certo, pois não se chega no fim sem trilhar o começo.
Temos diversos estudos nos quais cada autor possui sua linha de raciocínio para o pensamento de uma terapia adequada à uma criança portadora do espectro autista, dentre eles vou citar alguns: Falek (2013) apresenta o projeto de pesquisa TECER, realizado na Universidade de São Paulo, entre os anos 2002 e 2007, o qual oferecia atendimento psicológico gratuito e contava com um amplo espaço para realização de oficinas. O projeto não era centrado no atendimento psicanalítico propriamente dito, mas sim em oficinas realizadas pelas crianças e, segundo Falek, era frutífero trabalhar com esse enfoque coletivo.
Segundo a autora, o projeto possibilitou-a entender a real importância do analista de ocupar-se “do jogo erótico estabelecido entre mãe e criança, tentando cultivar uma transferência e, ainda, criar com a criança uma transferência” (Falek, 2013, p. 3). E, a partir de sua experiência, ela defende ser possível estabelecer a transferência com crianças autistas, isso porque há diferentes possibilidades de subjetivação humana e, por conseguinte, diferentes formas de estabelecer-se uma relação transferencial. Machado (2016) também faz um relato de experiência em uma instituição que acolhe crianças e jovens autistas e psicóticos, com caráter de não urgência.
O autismo infantil e a “Courtil”
Nessa instituição, chamada “Courtil“, ocorre a aplicação da psicanálise por meio de uma modalidade clínica denominada “prática entre vários”. A modalidade “entre vários” é uma “variante da psicanálise aplicada”, que possui como princípio a ideia de que a psicanalítica não precisa de uma duração determinada ou de lugar específico para acontecer, pois o que é necessário é o trabalho do analista com a palavra.
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Segundo Machado (2016), a “prática entre vários” pode ser muito benéfica, uma vez que permite uma maior mobilidade na equipe, já que a criança autista não se fixa em um único parceiro e, consequentemente, o analista não se fixa a uma única criança. Vê- se, portanto, a partir das experiências de Falek (2013) e Machado (2016), a importância do coletivo e do atendimento em equipe para o tratamento de crianças autistas, a fim de diluir a transferência que aí se estabelece.
Na esteira dos trabalhos com grupos, Bentata (2014) apresenta um Centro de Acolhimento Terapêutico em Tempo Parcial (CATTP), a fim de mostrar a importância das instituições como dispositivos no tratamento da criança autista. O autor destaca que as instituições, articuladas com as sessões analíticas individuais, assumem um papel importante, pois funcionam como um lugar de acolhimento, onde a criança autista pode participar de um grupo, aplicar aquilo que vem desenvolvendo no tratamento psicoterapêutico e, consequentemente, funcionam como um lugar de “acolhimento e de sociabilidade onde os terapeutas podem ocupar a função de um mediador institucional para seus pacientes” (Bentata, 2014, p. 2).
Formas e tratamentos
Muitos autistas utilizam também da escrita como uma forma de comunicação, devido ao fato da ausência de uma conexão entre psiquismo e corpo, existe a dificuldade em se expressar através da fala e acaba muitas vezes encontrando na escrita a forma de se comunicar. Alguns autores defendem a escrita como sendo um processo muitas vezes terapêutico, pois existem autistas não verbais que através da escrita nos trazem um pouco do seu sofrimento, explicando muitas vezes o motivo do seu comportamento.
A escrita acaba transmitindo um duplo efeito, pois permite uma mudança do autista em seu meio social e também visa um trabalho de organização de pensamentos e sentimentos e, além disso, se torna um material rico dentro da individualidade de cada autista, a estratégia que cada um utiliza, suas angústias e a forma que cada um trabalha com isso. A escrita para os autistas indica um processo terapêutico dentro desta vivência vista e interpretada pela visão psicanalítica. É por meio desta que iniciamos nosso trabalho, fazendo dela nossa base inicial, registrando suas vivências em forma de desenho, tornando suas angústias menos reais o que torna o trabalho mais leve, de forma a compartilhar suas vivências.
A criança com TEA vai demonstrar de diferentes e diversas formas que o vínculo entre especialista e paciente está acontecendo, diferente das crianças com desenvolvimento normal, pode-se perceber o estabelecimento desse vínculo através de um olhar, um pegar na mão do terapeuta, buscar um colo para uma brincadeira, pedir por jogos que já conhece e ou está esperando que os dois o façam juntos, enfim precisamos estar atentos ao pequenos detalhes, pois são crianças que vão se vincular, com seu terapeuta, talvez com uma demora maior a do que esperamos, ou de uma forma não tão convencional, como as outras crianças com autismo infantil, mas quando ela o fizer, a beleza, a troca e os crescimentos vão acontecendo sessão após sessão, como sementes que irão criando raízes profundas para toda a sua vida.
Um mundo externo do autismo infantil
Para alguns autores o autista possui um contato único com seu mundo externo, isso nos faz acreditar que o autista possui uma recusa em se alienar ao outro, mas mesmo havendo esta recusa ele não consegue se isolar totalmente da linguagem.
O autista cria em seu universo uma dependência em objetos reais, devido a isso, ocorre a dependência destes objetos para se manter distante do outro, desta forma acaba sendo compreendido como uma borda de um corpo que ele não pode se separar e a partir disso podemos iniciar nossa abordagem clínica trabalhando com objetos autísticos, em busca de um entendimento que estes objetos vão nos trazer sobre aquela criança, tentando sempre estabelecer uma troca. Muitos acreditam que a retirada dos objetos autísticos seria a melhor forma de tratamento, porém, alguns autores acreditam que a melhor forma de terapia é mantendo estes objetos.
Lucero e Vorcaro (2015) defendem a não retirada dos objetos autísticos da criança, na contramão do que preconizam outras abordagens terapêuticas, e apoiam-se na argumentação de Maleval (2017) de que os objetos proporcionam proteção à criança, enfatizando que essa é uma das maneiras que o indivíduo encontra para adaptar-se ao mundo. Ainda, elas reconhecem que “apenas a partir de uma imagem real, forjada a partir dos objetos, que o autista pode estabelecer uma ‘troca’ com os outros” (Lucero & Vorcaro, 2015, p. 6), ressaltando a importância dos objetos para integrar o corpo do autista.
Autismo e sua linguagem
A Linguagem é considerada de total importância na construção do sujeito pelo fato de ser a ação de invocar aquilo que é real no corpo de um bebe.Já iniciamos este processo através da voz da mãe que chega ao bebe inicialmente como uma musica e posterior começa a entender uma sequência de sons que passa a ser entendido pelo processo inicial da linguagem. No caso da criança autista não acontece a pulsão desta voz, ou seja, acontece uma falha na transmissão do som até a voz e desta forma a voz acaba não conseguindo se tornar objeto de pulsão e com isso não se instala como uma função psíquica.
Fundamentando-se nas ideias de Marie-Christine Laznik, Azevedo e Nicolau (2017, p. 12) enfatizam a importância do manhês (fala prosódica materna) para que ocorra a “pulsionalização do ato de escuta do bebê e, inclusive, para sustentar uma ‘protoconversa’ com o cuidador”. Desse modo, mesmo que não se estabeleça ainda uma conversa, posto que não há significantes incorporados no bebê, mas pura cadência sonora, a protoconversa introduz alternâncias entre fala e escuta, presença e ausência, convocando o bebê a assumir a posição de sujeito por supô-lo onde ainda não o é, antecipando-o em sua posição de falante (sujeito da enunciação) (Travaglia, 2014).
Na esteira dessa discussão, Moraes e Lerner (2016) defendem a importância da característica prosódica do manhês. Para eles, “a música presente na voz da mãe faz um chamamento irresistível, uma pressão de aceitação, por parte da criança, do significante, deixando esse traço onde, posteriormente, a palavra poderá germinar” (p. 6), e propõem que uma das alternativas de tratamento consiste na aproximação da criança com a musicalidade, a fim de tentar facilitar uma conexão com o outro.
O desenvolvimento infantil
A oralidade é considerada por alguns autores uma das fases mais importantes do desenvolvimento infantil para que a criança inicie e siga no processo de constituição psíquica, porém no caso da criança autista a forma da oralidade é uma forma primitiva onde a oralidade assume uma supremacia, sendo que a boca tem uma prioridade, fazendo parte apenas como um orifício e não mais como um objeto erógeno que faria a ligação.
O Autista pode iniciar relações que podem ser estabelecidas pela boca de forma que a prioridade é oral, podendo nos trazer uma sensação de vazio devorador, se expressando muitas vezes por meio do distúrbio da oralidade. Por fim, o artigo de Travaglia (2014) também convoca a pensar sobre como ocorre a incorporação da voz e a sua operação na qualidade de objeto pulsional. Para Travaglia (2014), o poder musical da voz (manhês) é relevante para o desenvolvimento da criança, já que abre caminho para a palavra, para os significantes, e convoca o sujeito para adentrar no mundo da linguagem.
Entretanto, para a autora, o autista adentra a linguagem de forma conflituosa, o que não permite que esse “assuma a posição de enunciação, de sujeito do inconsciente” (Travaglia, 2014, p. 3). Parte das discussões e embates entre correntes e escolas de psicanálise ocupa-se desta divergência: o fato de existir ou não sujeito no autismo, referenciado, neste contexto, ao sujeito do inconsciente.
Psicanálise e autismo
Mesmo tendo uma grande quantidade de textos e artigos que falam sobre o Autismo, grande parte deles não aborda como foco principal o tratamento. Em uma busca, encontrei alguns artigos que citavam questões referentes ao tratamento psicanalítico com crianças autistas: Azevedo e Nicolau (2017), Bialer (2014a), Lucero e Vorcaro (2015), Untoiglich (2013), Wajntal (2013).
Pensando referente às opções que surgiram ao tratamento psicanalítico do autismo, consegui perceber que, no artigo de Bialer, a autora propõe que o tratamento deve ser feito com direcionamento em formas particulares criadas pelos próprios sujeitos, colocando como principal objetivo do analista a necessidade de que ele valorize as criações únicas feitas por cada autista, tendo como argumento de que o analista pode reforçar este tratamento através do laço de transferência. Para Bialer (2014a, p. 6), o analista deve exercer essa potencialização por meio de uma atuação sutil, “ocupando o lugar de um duplo não demasiadamente presente, mas que pode fazer barreira ao gozo em excesso quando necessário.
Trata-se, pois, de uma presença dócil, não invasiva, mas capaz de atos de limitação do gozo invasivo”. Em artigos criados por Lucero e Vorcaro (2015), conseguimos ver que eles possuem a mesma linha de pensamento de Bialer, onde eles acreditam que a forma como o analista deve conduzir seu atendimento é com base nas estratégias criadas pelo paciente.
O atendimento e o autismo infantil
A principal forma de conduzir um atendimento psicanalítico em crianças autistas é executando o tratamento de forma a fazer valer as defesas criadas e estruturadas pelo próprio paciente. “A principal conduta no atendimento psicanalítico às crianças autistas é fazer valer no tratamento as defesas que o sujeito foi capaz de estruturar, pois isto é o próprio sujeito, o que lhe é mais singular” (Lucero & Vorcaro, 2015, p. 8). Da mesma forma, Azevedo e Nicolau (2017) nos trás que a clínica psicanalítica do autismo é possível, tendo em vista que temos que focar naquele paciente como único.
É necessário que o analista faça seu trabalho de acordo com a invenção proposta pelo seu paciente como meio de comunicação, “tornar como objeto de escuta uma fala que, muitas vezes, apresenta-se por manifestações verbais e motoras, como sons, gritos e agitações, não endereçadas a um outro.” (Azevedo & Nicolau, 2017, p. 14)
Vejo como um primeiro desafio para uma clínica de atendimento ao paciente autista o pensar de uma estrutura psíquica, manter um processo de transferência com um paciente autista é muito difícil, precisamos explorar nossa capacidade de inovar, estar atento a todo e qualquer gesto único de cada criança, pensando sempre em uma forma leve de tratamento para este paciente, de modo que o mesmo não se sinta sobrecarregado, na busca da construção de um vínculo sempre em busca de uma forma de construção da existência daquela criança.
Conclusão
O objetivo deste artigo foi a busca por identificar questões sobre o autismo dentro da área da psicanálise, bem como contribuir para diversas possibilidades de tratamento. Neste artigo podemos observar que a prática da psicanálise em casos de autista são consideradas singulares e subjetivas para cada paciente, analisando sua história, seus objetivos, suas vontades, e a forma como se dá sua convivência com o mundo externo. Na psicanálise nos encontramos refletindo sobre a importância ou não de considerar como prioridade aspectos cognitivos sobre os aspectos que organizam a personalidade de cada paciente.
Quando falamos em tratamento psicanalítico para autistas, grande parte dos autores relaciona a forma de manejo da transferência como técnica psicanalítica adequada. Uma boa parte dos autores acreditam que devemos adaptar as técnicas conforme as características únicas de cada paciente, entretanto muitas citam o tratamento mas não relatam as técnicas utilizadas como intervenção, nos dando a entender muitas vezes que o método psicanalítico pode ser aplicado em qualquer situação sem a necessidade de descrever as diferentes formas singulares de cada paciente.
Notamos que as intervenções e diagnósticos psicanalíticos nestes casos são mais voltados para a infância, poucos relatam situações e casos clínicos voltados para adolescência, nos dando a entender que o foco principal se concentra na fase infantil, incluindo bebês, talvez pelo fato de que uma intervenção feita de forma precoce obtenha um resultado mais promissor. Referente à postura do analista, observa-se a necessidade de uma atualização constante do profissional para que sua conduta clínica seja adequada e satisfatória em qualquer situação.
O analista no autismo infantil
O analista muitas vezes busca caminhos impensáveis para entrar no mundo de um autista, que é único a cada paciente, o analista acaba muitas vezes “emprestando seu próprio corpo” ou se adequando a comportamentos que consideramos primitivos, como por exemplo sons de animais, imitações de sons específicos, isso favorece o processo de troca e vinculação ao paciente.
Por fim, percebemos que quando falamos em pacientes autistas não existem receitas e técnicas prontas para a construção desta terapia, cada paciente autista é único, seu universo é um mundo à parte onde nós como profissionais precisamos desbravar e descobrir a forma correta de entrar em seu mundo e conseguir instaurar uma relação de vínculo paciente x terapeuta, a partir deste momento o trabalho inicia de forma única e natural. A psicanálise possui uma proposta onde se acredita em uma intervenção que respeite a forma do autista de ser e de estar no mundo, buscando uma aproximação delicada e não invasiva.
Este artigo sobre autismo infantil foi escrito por Débora de Oliveira Soares, concluinte do Curso de Formação em Psicanálise do IBPC.