Bipolaridade e melancolia

Bipolaridade e melancolia (maníaco-depressivo)

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O que você sabe sobre bipolaridade e melancolia? Antes de começar a ler, gostaria de instigá-lo a pensar sobre todas as atribuições que você faz quando escuta a palavra bipolaridade, ou quando imagina um indivíduo diagnosticado com o transtorno.

Gostaria de apresentar aqui a minha visão de bipolaridade antes de estudar Psicanálise. Claro, uma visão imatura, totalmente desprovida de entendimento sobre o tema, sendo literalmente um mero “Eu acho”. Para mim, bipolaridade era como uma palavra ofensiva para se julgar o outro que, a meu ver, tem um duplo ânimo.

Entendendo sobre a bipolaridade e melancolia

Ora bom, ora ruim. Uma pessoa capaz de parecer falsa, por ter dias de estar feliz e satisfeito, prestativo e amoroso, e em outro dia estar o oposto extremo daquilo a ponto de não parecer ser a mesma pessoa. Isso seria, na minha visão imatura, um indivíduo bipolar.

Bem, se ao ler a minha visão antiga sobre o tema você se identificou, mesmo que apenas em alguns pontos, já adianto aqui que a bipolaridade não se determina por uma variação de humor, ou pelo menos não só isso.

Sendo necessário mais do que um julgamento do comportamento externo, mas sim uma análise mais minuciosa para entender o que ocorre no lado interno do indivíduo. Pois, a bipolaridade é quase que como uma visão pessoal do mundo externo, mais a frente você entenderá sobre isso.

A bipolaridade e melancolia para Freud

Na visão psicanalítica (destacando a figura de Freud), vamos elencar três mecanismos de organização psíquica, são eles as: neuroses, psicoses e as perversões. Esses mecanismos se manifestam tanto na personalidade do indivíduo, como forma de funcionamento psíquico, e também em manifestações psicopatológicas, relacionada a sintomas (sintomáticos).

Essas organizações irão reger o indivíduo nos seus conteúdos internos, ou seja, relação com seu eu. E também nos seus conteúdos externos, que seria a relação com o outro. Em outras palavras, o que dará norte para o indivíduo relacionar-se será o mecanismo que o rege.

As neuroses se manifestam na construção de um desejo pulsional em relação a NÃO realização imediata desse desejo que é proveniente da ação de um mecanismo de defesa gerado pelo Ego.

O neurótico

Simplificando um pouco mais, o neurótico se culpa e recalca desejos como forma de defesa, gerando assim angústias que resultarão na neurose. E vale deixar claro que nada disso ocorre conscientemente, mas sim inconscientemente.

Na estrutura neurótica existem três componentes que chamaremos de psiconeuroses, são elas: fobia, obsessão (neurose obsessiva ou TOC) e Histeria (neurose histérica). Já na Perversão veremos os desvios das formas de obtenção do prazer libidinal relacionado estritamente ao coito genital. Ou seja, para Freud tudo aquilo que foge da normalidade (falo-vagina) na obtenção do coito é uma perversão.

Com isso a obtenção do prazer na perversão se dá por outros objetos sexuais (objeto no sentido de coisa ou pessoa), outras zonas corporais e também de forma subordinada ou imperiosa, que seria o caso do sadismo e do masoquismo.

A bipolaridade e melancolia e o ambiente externo

Simplificando um pouco mais e fazendo um comparativo para que sua associação fique mais clara, na neurose como dito antes, o indivíduo se culpa e recalca as suas ideias para atender as exigências do ambiente externo, meio onde está inserido. Já o perverso, simplesmente atende sem culpa a suas exigências, sem considerar o externo, apenas atendendo ao desejo interno.

E por fim chegamos ao ponto onde retomamos a nossa construção do entendimento sobre a bipolaridade, as psicoses. Antes vamos entender brevemente o que é e como se divide a psicose.

Podemos descrever a psicose como um conflito do Ego com a realidade, onde o Ego está extremamente desorganizado tornando difícil a percepção e compreensão da realidade.

O psicótico

O psicótico está propenso a delírios e alucinações (experiências sensoriais na ausência de estímulos reais). Na organização psicótica o indivíduo recorre a mecanismos de defesa mais primitivos, com uma total distorção da realidade.

Do olhar clínico é possível detalhar a psicose em três subcategorias: os estados psicóticos (caracterizado por uma melhor adaptação ao mundo exterior e estrutura egóica melhor preservada), condições psicóticas (o indivíduo está bem-adaptado ao meio social.

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    Porém devido a núcleos psicóticos o mesmo é tendencioso a recorrer a mecanismos de defesa mais primitivos), e por fim a psicose propriamente dita (que como dito antes, é uma organização psíquica com acentuação nos mecanismos de defesa mais primitivos).

    A paranoia, bipolaridade e melancolia

    No que é inerente à psicose, podemos dividi-la em três subestruturas, que são: A esquizofrenia, a paranóia e a melancolia. Mas aqui iremos nos ater apenas a melancolia ou também conhecido como estado maníaco-depressivo.

    Na linguagem psiquiátrica, o que na psicanálise seria o transtorno maníaco-depressivo, lá seria a bipolaridade. O que ocorre nessa organização melancólica é um conflito contínuo entre o Ego e o ideal do ego.

    Nesse processo o ego se sujeita ao seu ideal inalcançável, promovendo com isso a desvalorização do ‘eu’ e a baixa autoestima, causando sentimentos de culpa e incapacidade, e extrema frustração devido às altas exigências propostas por si e ainda a perda do amor-próprio e predominância do sentimento de que seus desejos são inalcançáveis.

    O ego

    Em contraste com isso, há um momento em que o ideal do ego predomina o ego, e com isso ressalta o oposto do que foi descrito acima. Nesse estado o indivíduo sente-se superior a tudo e a todos e busca o prestígio, nesse ponto a frustração vem por não ser correspondido no seu entendimento de grandeza e daí parte a condição maníaco-depressiva.

    Essa alternância brusca não apenas de humor, mas de percepção do eu com relação ao externo é a bipolaridade descrita na psiquiatria. A construção dos quadros melancólicos se dá quando ao invés do indivíduo se relacionar com pessoas e situações os identificando como parte do mundo externo (o que seria o normal), ele incorpora o que deveria ser apenas externo como parte de si próprio, tendo com isso uma identificação profunda com tal situação ou pessoa.

    Isso ocorre devido a grandes falhas presentes na construção do sujeito. Desse modo o sujeito basicamente precisa projetar suas funções egoicas no outro.

    Conclusão

    Nesse sentido Freud propõe o que seria o Ideal do ego (O ideal do eu), sua origem está no retorno ao ego da libido retirada dos seus investimentos objetais.

    Nesse ponto o ideal do ego caracteriza-se por uma instância trivial, que carrega padrões e pilares inatingíveis, isso em contraste com o superego, resulta numa alternância que é o chamaremos de melancolia na psicanálise, e bipolaridade na psiquiatria.

    Este texto sobre bipolaridade foi escrito por Zana Geritza Hitzschky. Siga-me no instagram para acompanhar meu progresso como estudante de Psicanálise @zana_geritza

    2 thoughts on “Bipolaridade e melancolia (maníaco-depressivo)

    1. Romulo Caixa Ferreira disse:

      Eu também achava que bipolaridade era apenas uma mudança brusca de humor! Ótimo esclarecimento traz este artigo!

      1. É um pensamento bem comum na verdade, eu vejo sempre a palavra bipolaridade sendo usada quase que como uma ofensa a alguém.

        Fico feliz que tenha gostado do meu texto ☺️ espero ter esclarecido pontos sobre a bipolaridade.

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