Supervisão psicanalítica e o Meio de Observação da Sessão Psicanalítica
A supervisão é, ou parece ser, do ponto de vista extraído das consultas às fontes bibliográficas escolhida e apreciadas pelo autor deste artigo, o meio mais eficaz de observar, através das lentes da consciência, as inserções e insurgências no universo clínico delimitado pela sessão psicanalítica, dos fatos psíquicos cujas causas primeiras, ou geradoras, são oriundas das ’somas dos inconscientes’ diluído na formação do par analítico e de qual proporção é dotada, esta solução anímica, é dubitável que se consiga quantificar com precisão as porções originais, contudo da fração dela que se puder alinhavar os estreitos paralelos entre a elaboração e os objetos que ali se observam tardiamente, ainda incrustado nos rastros deixados pela transferência ou nas elaborações mais susceptíveis de serem tarjadas como ’descobertas’ acerca do acervo inconsciente do analisando paciente, analisado pelo analisando supervisionado.
Antes de um conceito teórico ou mero procedimento didático formativo, a relação de supervisão é um poderoso instrumento processual que examina as muitas facetas irrompidas no seio da transferência, durante as sessões com o paciente, guardadas, seletivamente, pela memória do analista, e observadas privilegiadamente pelo expectador não presencial( o supervisor), e por isso não suscetível às influências de ordens emocionais causada pelos fatos psíquicos que foram tratados em seção.
O desenrolar dos fatos da supervisão é, ou assim deve ser quando ocorre, a percepção pelos envolvidos atuais(analista/supervisor), de um segundo universo paralelizado à relação paciente\analista pela relação analista\supervisor, donde surge a relação que em si mesma é imprópria, impossível (por não ser uma relação que de fato se deu entre o supervisor e o paciente, pois estes estão desconectados e emocionalmente distantes, excluídos da transferência presente na sessão analítica, e pós unidos apenas pelo objeto representado pelo analista e sua intenção de fazer ressurgir, para o supervisor, aquela vivência ali contida no durante da sessão ora passada, pelo único elo que une o supervisor e o paciente, que é o psicanalista.
A supervisão psicanalítica e a aprendizagem
“Configurando-se em um espaço de ensino-aprendizagem e sendo uma relação bipessoal, a supervisão acaba despertando sentimentos tanto no supervisor como no supervisionando.” (Zaslavsky et al., 2003), caracterizando uma relação primordialmente humana, sujeita às comunicações conscientes e inconscientes (Ribeiro & Wierman, 2004) apud Apostila IBPC, Encontro 01 –A Supervisão na formação do Analista).
Supervisão como acompanhamento
A supervisão, nos limites do mais amplo conjunto de fatos que ela passa a ressignificar com a sua natureza própria, erigida a partir da re-vivência da relação paciente/analista por efeito emanado da vivência atual, por sua vez permitida pela intervenção tardia do supervisor(no sentido de ocorrer após a consumação original dos fatos percebidos pelo analista durante a terapia).
Notemos que a supervisão está como acompanhamento e/ou assistência para o analista, assim como a psicanálise (em alguma medida) está para o paciente, com a particularidade de que a supervisão observa no analista, também, ‘as marcas’ psíquicas talhadas pela iteração com o paciente no analistaora em foco, alvo da supervisão. Estas citadas ‘marcas’ podem ser, de fato, faltas ou ausências de algo em si que se possa observar no conteúdo extraído da prática clínica.
A supervisão também pode ser entendida como função terceira, ou seja, aquela que opera na mente do analista como função simbólica de mediação, configurando um terceiro vértice de observação da relação que ocorre entre o supervisionando e seu paciente (Resnisky, 2002, citado por Gálvez, 2002; Ribeiro & Wierman, 2004). Ribeiro e Wierman (2004) apud IBPC Apostila, Encontro 01 –A Supervisão na formação do Analista.pdf)
Supervisão psicanalítica, intransferibilidade da Responsabilidade do Terapeuta
Nada obstante a atuação de controle e amparo que a figura paternal do supervisor possa insuflar no psicanalista ao atuar, ele deverá ter sempre em mente que de fato e verdadeiramente está sozinho no momento da decisão que abarca o seu ato psicanalítico, uma vez que ao assumir o papel de psicoterapeuta está se sujeitando à todas as responsabilidades inerentes àqueles que se propõe a levar auxílio à outras pessoas.
A tarefa do psicanalista é solitária e as bases sólidas as quais tem para se agarrar com o propósito de também não se perder nos torvelinhos em quais tem de adentrar para amparar o seu paciente não fazem parte do set analítico como ambiente estático e a intervenção do supervisor, como dita antes, é tardia, póstuma à sessão. Souza e Teixeira (2004) referem que, estando no lugar de quem oferece ajuda a outras pessoas, o psicoterapeuta deve estar ciente da responsabilidade que diz respeito ao seu papel.
Assim, no exercício de sua clínica, o analista em formação, a despeito do auxílio do supervisor e da troca com colegas, é o único responsável por seus atos analíticos, estando irremediavelmente só e sem garantias (Padilha, 2005; Rocha, 2003; Souza & Teixeira, 2004, apud IBPCApostila, Encontro 01 –A Supervisão na formação do Analista.pdf, disponível em https://drive.google.com/file/d/1Rz21emqgypCpfuYgxkD0kDZFMvqP6jBw/viewPagina 264
Conclusão: sobre a supervisão psicanalítica
Distanciando-nos adequadamente de todo o amplo panorama que constitui a prática psicanalítica, de tal modo que possamos enxergar todo o complexo que a compõe desde a formação do psicanalista (de qual é parte imprescindível a supervisão) podemos perceber que o acompanhamento do psicanalista por outro psicoterapeuta durante toda a sua vida laboral como psicanalista, é, fato, uma continuidade da supervisão em muitos de seus aspectos, apenas vista por outra ótica em que não entra a questão ‘controle’ com os contornos da hierarquia sapiencial.
Tanto é assim que muitos autores, como é citado na apostila(1), na página 265: “A utilização de casos/exemplos Relatos de situações de supervisão são muito comuns, pois servem como ilustrações clínicas dos modos de se operar na supervisão. Diversos autores (Fuks, 2002; Gonçalves, 2005; Ribeiro & Wierman, 2004; Silva, 2003), portanto, recorrem a vinhetas clínicas no intuito de exemplificar ou elucidar algum conceito, algum aspecto teórico ou alguns procedimentos e formas de conduzir a supervisão.”
É claro que a literatura sobre supervisão durante a fase de formação do psicanalista demonstra a preocupação, por parte dos autores, de frisar a diferença entre o trabalho de supervisão e o tratamento das questões pessoais do supervisionado.
O supervisor
Mas vejamos: O supervisor pode apontar separadamente estas questões (a supervisão como processo de formação e o acompanhamento/atendimento por outro psicoterapeuta das questões pessoais do supervisionado), somente se, as questões pessoais em foco não tiverem correlação com os fatos considerados pela supervisão, ao menos na avaliação do supervisor, ou seja, depois de formado o psicoterapeuta, a razão pela qual se possa ter separado as duas instâncias de intervenção sobre o psicanalista, quais sejam, a supervisão e o acompanhamento de questões pessoais do supervisionado durante a sua formação por outro psicoterapeuta, perde completamente a relevância e o acompanhamento do psicanalista por outro, em seus aspectos quais poderiam ser considerados em tempo passado(de formação) pelo supervisor, atualmente passa a ser o substituto psiquicamente representado , pode-se dizer, da figura do supervisor.
E é ai, neste fechamento de ideias acerca da supervisão como acompanhamento terapêutico, em certa medida, para o formando, que finca-se a afirmativa da necessidade de continuidade da supervisão por toda a vida do psicanalista, mudando-se apenas o foco de processo didático formativo para o que em si é e em maior grau sempre foi, ou seja, acompanhamento terapêutico do analista durante o exercício da sua função, durante o desempenho do seu papel como psicanalista/psicoterapeuta com o propósito de lhe fornecer meios de amadurecimento e crescimento, ao traçar os possíveis paralelos entre a sua vivência durante a sessão com o par analítico de qual é parte, os irrompimentos emocionais no âmbito da transferência / contratransferência, produzindo daí, destas bases, os balaústres onde se firmará com cada vez mais segurança, quando necessitar enfrentar os bravios ventos dos deveres de um psicoterapeuta comprometido com a cura do seu paciente, independentemente de ela ser possível.
O dito acima não deve ser compreendido por vias erroneamente práticas, no sentido de “valer ou não valer a pena” ou de “possibilidades de eficácia” contudo, como equivalente a “enquanto o analisando que me procura puder me ajudar a produzir caminhos em quais eu rume em sentido a decifração de ramos das suas angústias, dos seus desconfortos, fá-lo-ei sem hesitar, sem temer o desfortúnio da derrota. Trata-se de preparar o psicoterapeuta para administrar as dores que surgirão no seio da transferência sem negá-las, sem debatê-las, olhando-as tão de frente quanto for necessário com o intuito de aprender delas mesmos o caminho que indicará ao seu paciente para contorná-las.
QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE
Este artigo sobre a supervisão psicanalítica foi escrito por Ronilson Vieira Muniz, concluinte do Curso de Formação em Psicanálise Clínica.