bloqueio mental

Bloqueio Mental: quando a mente não suporta a dor

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Quando passamos por alguma situação estressante ou traumática, para proteger nossa saúde mental, nosso cérebro pode lançar esse acontecimento para o inconsciente, causando um bloqueio mental, como um mecanismo de defesa, visando evitar o sofrimento.

Outra forma de bloqueio mental, pode ser observada também em escritores ou compositores, que por algum motivo, não conseguem mais organizar as ideias e produzir textos, poesias, canções.

O que é bloqueio mental?

O bloqueio mental é uma repressão que o cérebro gera a um fato traumático ocorrido. Nesses casos, a dor da emoção provocada pelo acontecimento se torna insuportável de sentir, então o cérebro lança esse fato para o inconsciente, com o objetivo de proteger o sujeito..

Quando ocorre o bloqueio mental?

Em casos de acontecimentos traumáticos, o cérebro age para nos proteger das consequências do fato vivido e, muitas vezes, esse processo pode, mais tarde, se apresentar como um sofrimento emocional que o indivíduo não consegue identificar, até que, através do processo terapêutico, possa trazer o ocorrido ao consciente e ressignificá-lo.

Os acontecimentos que podem gerar o bloqueio mental são: violência física e/ou psicológica de todo gênero (que envolve a violência sexual e doméstica), perdas de pessoas próximas, situações adversas como desastres naturais, acidentes, assaltos, sequestros e outros.

Nos casos de bloqueio mental onde a pessoa não consegue organizar seu pensamento e exprimir suas ideias, o bloqueio mental causa angústia, ansiedade e outros sintomas, uma vez que o indivíduo, não consegue exteriorizar o conteúdo o qual estava acostumado a produzir com facilidade. Nesse caso, é importante também procurar uma ajuda médica e emocional para ajudar a liberar e exprimir as emoções que, por alguma razão, estão sendo freadas pela mente.

Quais as consequências do bloqueio mental?

Ainda que seja um mecanismo de defesa, o qual o cérebro age para nos proteger de ficar revivendo e relembrando vivências traumáticas, a longo prazo, o bloqueio mental ocorrido devido a traumas e situações estressantes, pode trazer adoecimento emocional. É natural que durante a vida, tenhamos contato com algum evento estressante, cuja reação orgânica envolve a liberação de cortisol, adrenalina e outros hormônios para ajudar o corpo a reagir, mas a questão está na memória.

Enquanto algumas pessoas, depois da reação orgânica normal do corpo, vão conseguir seguir a vida, sem serem afetadas emocionalmente, outras podem apresentar memórias recorrentes do fato acontecido e nesse momento, o corpo irá ter as sensações orgânicas que teve durante o acontecimento, configurando o trauma, por isso, o cérebro às vezes, bloqueia o acontecimento, visando evitar o sofrimento emocional do sujeito.

Caso não sejam ressignificados, os estímulos negativos que vivenciamos e ficaram escondidos no inconsciente, podem se transformar em sabotadores da saúde mental e, mais adiante, se apresentarem em forma de medos, fobias, inseguranças, sentimentos de menos valia e muitos outros. O bloqueio mental que ocorre em escritores, pode levar à baixa autoestima, tristeza, depressão e outros sintomas provocados pela incapacidade de se expressar.

Crianças vítimas de abuso e violência

Segundo Ministério da Saúde, em 2019, foram feitos 159 mil registros pelo Disque Direitos Humanos (Disque 100) e, desses registros, mais de 85 mil, referem-se a violência contra crianças e adolescentes.

De acordo com o MSD (Merck Sharp and Dohme), “Qualquer ato com uma criança, visando a gratificação sexual de um adulto ou de outra criança significativamente mais velha e mais poderosa é considerado abuso sexual”.

Sofrer violência na infância, seja ela de qualquer cunho, é um acontecimento traumático que coloca em risco o desenvolvimento da criança e por isso, muitas vezes o cérebro age bloqueando o acontecido, fazendo com que a vítima cresça sem lembrança do fato.

As psicopatologias decorrentes do bloqueio mental

Quando a mente da vítima de violência infantil bloqueia o acontecido e não ocorre identificação, nem o tratamento para o ocorrido através de uma rede de apoio, a criança pode desenvolver impactos negativos na sua saúde mental, podendo ocorrer, ao longo da sua vida, o surgimento de psicopatologias como: TEPT (Transtorno de Estresse Pós Traumático), Depressão, Transtorno de Borderline, Transtornos Dissociativos e outros. – TEPT: é um transtorno de ansiedade que pode ocorrer após exposição do sujeito a um evento traumático.

Associado à exposição ao evento traumático, a vítima também vivencia um medo intenso, uma sensação de impotência e um horror, ou seja, o evento traumático é de natureza extrema.

No TEPT são observados a presença dolorosa de pensamentos, imagens, sentimentos, ligados ao evento, muitas vezes de forma confusa e ininterrupta que são uma forma do cérebro não deixá-los vir ao consciente.

Depressão

É um transtorno afetivo caracterizado pelo acometimento de uma tristeza por um longo período de tempo, associada a outros sintomas como: desesperança, desmotivação, apatia, problemas com o sono, crises de choro e outros.

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    Uma pesquisa australiana, mostrou que indivíduos que sofreram abuso emocional na infância, apresentam três vezes mais chances em ter depressão quando adultas

    Transtorno Borderline

    É um transtorno de personalidade onde o sujeito apresenta comportamentos como extremo medo de ser abandonado, instabilidade nos relacionamentos (amo e ódio), deturpação da autoimagem, grande impulsividade (sendo comportamento um dos que apresenta maior risco devido ao risco elevado de provocar autolesões e tentativas de suicídio).

    Muitos indivíduos diagnosticados com esse transtorno, relatam terem sido vítima de violência infantil. Alguns não tem consciência desses abusos, até iniciarem a terapia e trazerem o acontecimento para a consciência.

    Transtornos Dissociativos

    Nesse tipo de transtorno, ocorre o rompimento da consciência, de memórias, de emoções, de identidades.

    Sua ocorrência está geralmente associada à vivências de situações opressivas, na maioria dos casos, são fruto de violências sofridas na infância, como uma forma de se defender daquilo que a criança não conseguia entender, nem processar.Um tipo de autodefesa com objetivo de suportar a angústia e a dor do fato vivido.

    Como trazer o trauma para o consciente?

    Inicialmente, deve-se procurar ajuda médica, para descartar qualquer alteração orgânica que possa estar provocando esse bloqueio e, depois de descartada essa hipótese, buscar ajuda terapêutica, que será essencial para identificar o motivo do bloqueio e através de técnicas terapêuticas, reverter esse quadro.

    Algumas vezes, o tratamento médico e terapêutico devem ocorrer de forma paralela, para que os sintomas físicos e mentais possam ser tratados.

    Enquanto o terapeuta cuida da parte emocional, através de técnicas que levem o paciente a trazer o trauma para o consciente e depois disso, fazer uma ressignificação do ocorrido, ajudando-o a ter uma melhor qualidade de vida, o médico vai tratar da parte orgânico que está em desequilíbrio.

    Referências bibliográficas

    Gov.br – Governo Federal. Ministério da mulher, da família e dos direitos humanos. 2020. Disponível em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2020-2/maio/ministerio-divulga-dados-de-violencia-sexual-contra-criancas-e-adolescentes>

    Manual MSD – Versão saúde para a família. Considerações gerais sobre o abuso e negligência infantil. 2020. Disponível em: <https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/abuso-e-neglig%C3%AAncia-infantil/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-o-abuso-e-neglig%C3%AAncia-infantil> Norman, R. E.; Butchart, A. As consequências a longo prazo do abuso físico, do abuso emocional e da negligência para a saúde: uma revisão sistemática e meta-análise. https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1001349, 2012. Pronin, T. Viva Bem UOL. Borderline: o transtorno que faz a pessoa ir do “céu ao inferno” em horas, 2018. Disponível em: <https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2018/04/16/borderline-a-doenca-que-faz-10-dos-diagnosticados-cometerem-suicidio.htm>

    O presente artigo foi escrito por Ana Regina Figueiras([email protected]). Graduada em Pedagogia e Comunicação Social. Psicanalista. Especialista em Saúde Mental. Especialista em Suicidologia. Especialista em Neuropsicopedagogia. Especialista em Educação Especial e Transtornos Globais do Desenvolvimento. Escritora do site: https://acolhe-dor.org

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