Carl Rogers e Paul Ricoeur

Diálogos entre Carl Rogers e Paul Ricoeur

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Os diálogos entre Carl Rogers e Paul Ricoeur se dão a partir da perspectiva centrada na pessoa como sujeito posto no mundo no modo do diálogo.

A aliança entre os dois pensadores possibilita conferir dignidade ao ser humano. Ademais, conforme o desdobramento do artigo, veremos que há uma dimensão ética importante oriunda das relações intersubjetivas que se dá pela valorização do cuidado com o outro.

A ACP de Carl Rogers e a Abordagem centrada na pessoa

A Abordagem Centrada na Pessoa, conhecida por sua sigla ACP, é decorrente do trabalho e das pesquisas de Carl Rogers. Rogers é psicólogo estadunidense e, ao longo de toda a sua trajetória intelectual e clínica, preocupou-se com o desenvolvimento de uma abordagem humanista para a psicologia, o que o levou a pensar e estabelecer bases e fundamentos filosóficos para esse campo de saber.

A ACP é decorrente das suas incursões clínicas, sendo uma abordagem que possui vários pontos de contato com a psicanálise. Deve ser dito que a transposição de conceitos, de categorias e de noções da filosofia para a psicologia não se realiza de modo direto e linear, o que não impede que Rogers tenha elaborado a sua clínica a partir de uma perspectiva autorreflexiva.

Não são poucos os autores que aproximam as discussões do psicológico estadunidense das perspectivas filosóficas de natureza humanista, em que se percebe o seu esforço de natureza fenomenológica. Contudo, não é uma linha direta, pois ele mesmo afirma que seu contato com, por exemplo, Kierkegaard e Buber se deu gradativamente. Mesmo nessas condições há aproximações de conceitos e de temáticas entre os polos aludidos.

Base fenomenológica e orientação humanista

A base e a orientação do seu pensamento dialogam abertamente com a fenomenologia e com o humanismo, o que não implica que ele fizesse parte de uma escola ou de um movimento. É possível perceber esses enfoques a partir das preocupações de Rogers, inclusive em se tratando de clínica.

O trabalho com a experiência prática, com o âmbito do vivido, para formular o seu pensamento, e estruturar a ACP, pode ser compreendido como uma ponte entre esses mundos. Outro ponto que se faz importante é a da inclusão da subjetividade do analista junto à elaboração dos conteúdos psíquicos trazido pelos pacientes no setting.

A pessoa como centro

A aproximação da proposta de Rogers com a psicanálise se dá, assim sendo, pela ênfase conferida à experiência imediata das pessoas, que não são comunicáveis em sua integralidade, abrindo, então, espaço para a intepretação.

Interessante o foco dado na vivência, quer dizer, há uma comunicação intensa entre sentimentos e conhecimentos no processo terapêutico, sendo o analista um participante.

A Abordagem centrada na pessoa e a neutralidade

É um ideal que rompe com a neutralidade absoluta e com o distanciamento excessivo do analista. Há, nessa direção, a aposta na ciência, mas em uma direção distinta daquela que pregava a imparcialidade em grau zero. A sua psicologia é centrada na pessoa, focada nos seus valores, sendo essa a base que oferecerá a aliança, ou o par, terapêutico.

O sujeito como pessoa que se comunica em Paul Ricoeur

A obra do filósofo Paul Ricoeur também pode ser compreendida nos horizontes do humanismo e centrada na pessoa. É um pensamento que se dirige ao outro de modo aberto e dialogal. Para tanto o sujeito, segundo o estudioso francês, é comunicacional.

Por meio da linguagem, da comunicação de forma mais ampla, a pessoa tem a possibilidade de se autoafirmar e, dessa maneira, oferecer uma estabilidade narrativa para a sua existência, isto é, passa a poder narrar a sua própria história.

A ênfase está na pessoa, assim como Rogers, que acaba sendo um olhar que busca assimilar a integralidade do outro e a sua mesma. A narrativa serve, então, como oportunidade de criação de uma identidade (não essencialista), em que se passa a se compreender e a se estimar.

O conceito de pessoa em Ricoeur

A pessoa é entendida na hermenêutica de Ricoeur a partir de um movimento tripartite: linguagem, narração e ação. É por meio desse horizonte que a pessoa encaminha as suas vivências junto ao meio social que a enreda. Ricoeur chama essa abertura de solicitude, quer dizer, a pessoa em abertura com os outros e para o mundo a sua volta.

O plano das experiências é sempre enriquecedor e se organiza através do câmbio do eu e tu. Como se pode perceber, o pensamento de Ricoeur dialoga com Rogers, pois a sua proposta possibilita ao analisando um entendimento possível dos seus valores, mas não significa que a sua narrativa esteja fechada em si, na medida que a cada novo diálogo, a cada nova ação, a sua identidade também se transforma.

Enquanto isso o terapeuta pode se valer da solicitude como uma forma de valorizar, de acolher e de redirecionar a economia de transferência do analisando. Por fim, há um componente ético, isto é, a responsabilidade mútua com o outro.

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    Referências

    BEZERRA, Márcia Elena Soares; BEZERRA, Edson do Nascimento. Aspectos humanistas, existenciais e fenomenológicos presentes na Abordagem Centrada na Pessoa. Revista Nufen, vol. 4, n. 2, 2012. CORÁ, Elsio José. Paul Ricoeur: Do personalismo à pessoa. Revista Guiaracá, vol. 29, n. 1, 2013.

    Artigo escrito por Piero Detoni([email protected]). Professor de História. Graduado e mestre em História pela UFOP. Doutor em História Social pela USP. PD Júnior na Unicamp.

    One thought on “Diálogos entre Carl Rogers e Paul Ricoeur

    1. Maria Auxiliadora Carvalho Roma disse:

      Parabéns pela escrita desse artigo que com a análise desses senhores citados demonstra a importância deles para a Psicanálise!!

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