interdiscurso e subjetividade

Interdiscurso e Subjetividade: conceitos em linguística e psicanálise

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Neste artigo, vamos apresentar como o ato de falar revela muito mais do que queremos dizer, isto é, ao pronunciarmos algumas palavras e frases, deixamos marcas e subentendidos que também dizem muito sobre nós e nossas vontades. A essa técnica que normalmente chamamos de entrelinhas ou subentendido é chamada de interdiscurso.

O interdiscurso e a linguística

O conceito de interdiscurso foi estudado originalmente pela linguística quando estudiosos dessa ciência começaram a se interessar pelo significado das palavras e das frases em seus contextos. Dessa forma, as teorias que começaram a surgir na época objetivavam entender como as palavras e frases significam quando eram ditas por pessoas e situações específicas.

Para a linguística, um interdiscurso tem a ver como um discurso dentro do outro e para que eles signifiquem é necessário que um discurso (fala ou pensamento) apoie o outro em uma relação de significado. Com esses estudos linguísticos, uma série de novos conceitos que conhecemos hoje começaram a fazer parte das ciências da linguagem, da língua portuguesa (no caso do Brasil) e consequentemente da psicanálise.

A psicanálise de Freud

Quando falamos na psicanálise de Freud, os conceitos mais centrais que temos que tem em mente é a noção de inconsciente e a teoria da sexualidade (fases do desenvolvimento psicossexual). De modo mais geral, Freud propôs em sua teoria que as experiências sexuais da infância deixam marcas que definem o comportamento humano.

Entretanto, as experiências que eram traumáticas ou insuportáveis para o sujeito seriam recalcadas na instância do inconsciente. A partir de forte investigação com seus pacientes, Freud desenvolve algumas técnicas de tratamento que se iniciaram com a hipnose e sugestão, mas com o passar do tempo foram substituídas pelo método de associação livre.

Tal modelo permitia que o paciente falasse livremente sem interrupção. Era nessas falas que o inconsciente do paciente se revelava através de palavras, sentimentos e representações.

A cura pela fala

Quando Freud descobriu que ao deixar seus pacientes falarem livremente o inconsciente poderia ser acessado, a fala (o discurso) se tornou o objeto principal da psicanálise. Ao analista cabia então escutar o que o paciente dizia e interpretar de acordo com a teoria desenvolvida.

Freud percebeu que ao falar, muitas das inconsistências da fala e pensamento dos pacientes traziam à tona questões importantes de suas histórias de vidas que, por vezes, eram de traumas e experiências angustiantes.

Com a publicação de seus estudos, Freud foi aprimorando sua teoria ao mesmo tempo em que ela se espalhava pelo mundo ganhando novas dimensões e adeptos. Dessa forma, a psicanálise como conhecemos hoje é uma terapia de cura pela fala. Isso porque ao falar de suas dores e questões pessoais, o paciente já sente melhor. Além disso, a intervenção do analista ajuda no autoconhecimento de quem era atendido.

A psicanálise e o interdiscurso

No século XIX, Sigmund Freud foi buscar na linguística muitos dos subsídios que o ajudariam a formar sua teoria psicanalítica. Entre os autores mais renomados, Ferdinand de Saussure e sua publicação sobre o signo linguístico colaboraram para que Freud escrevesse sobre a constituição do sujeito e sua subjetividade.

Mesmo com os estudos sobre discurso e semântica ainda não estivessem pautados em conceitos como o interdiscurso, Freud usou muito dessa ideia para pensar no método de associação livre.

Determinadas palavras ou frases podiam mostrar muito mais do que o paciente queria ou sabia dizer. À época, Freud denominou essa técnica como escuta flutuante, isso porque os subentendidos estavam presentes sem que a pessoa percebesse. Dessa forma, palavras que em um primeiro momento pareciam inocentes, mostravam os desejos e anseios quando interpretadas pelas lentes da psicanálise.

Exemplos de interdiscurso

Você sabia que o tempo todo estamos usando o interdiscurso? Muitas das vezes não percebemos esse uso, mas na clínica psicanalista ele pode ser um grande aliado para orientar as pessoas.

Por exemplo, se ao fazer uma pergunta de caráter mais pessoal e a resposta for um breve “Não sei” é possível interpretarmos como “eu não quero dizer, pois é doloroso demais para mim”. Assim, podemos investigar outras manifestações da linguagem para entender a dor.

Da mesma forma, palavras específicas podem mostrar certas inclinações dos pacientes. Como exemplo, se o paciente disser: “Eu fiquei muito triste” essa frase será diferente de “Eu chorei muito”, pois se apoiam em discursos anteriores diferentes e, portanto, significam diferentemente.

Na primeira frase uma intepretação possível seria uma situação mais recorrente, na segunda teríamos uma situação mais traumática. Essa situação poderia estar ligada a algum trauma da infância entre várias outras leituras.

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    Este texto sobre interdiscurso e subjetividade foi escrito por Renan Gaudencio Vale ([email protected]), professor de língua portuguesa, linguista, mestre em semântica e futuro psicanalista, sempre tive forte interesse nas questões pertinentes à mente. Defendo a ideia de que o sujeito é essencialmente constituído pela linguagem e é através da sua plasticidade que o sujeito se orienta no mundo. Entendo a psicanálise como uma forma mais efetiva de acessar a linguagem e perceber a complexidade humana.

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