ouvir a si mesmo

Ouvir a si mesmo é reconstruir a própria história

Posted on Posted in Teoria Psicanalítica

Estudando a parte teórica do curso de Psicanálise do IBPC, mais especificamente sobre a clínica e sua prática, bem como as questões de transferência, contratransferência, vendo como a terapia psicanalítica funciona, chama mais atenção nesta arte é a preparação para que o principal ocorra: que o inconsciente vá à consciência.

Mas para que isso ocorra é importante que exista a livre associação de ideias, ou seja, que o analisando fale livremente e, se possível, sem filtros de uma moral, que em condições e convenções sociais o sujeito não falaria.

Ou seja, falar livremente, falar de tudo que lhe vem a mente, que lhe incomoda e, a partir daí, começar a entender as razões de suas neuroses.

Reconstruir a história é ouvir a si mesmo

Pode parecer simples esse processo, mas fiquemos só no campo das aparências. Em geral, tendemos a filtrar o que falamos de acordo com as pessoas, lugares e instituições que frequentamos. A própria sociologia cuidou de definir essas particularidades de nossa vida social chamando-a de papeis sociais.

Um dos autores mais conhecidos na sociologia é Erving Goffman (1922-1982), sociólogo e escritor, que ao tratar sobre o tema dos papeis sociais, mostrou como os sujeitos criam e encenam nos cenários sociais.

No entanto, na psicanálise a dinâmica dos gestos externos são importantes, mas não os únicos determinantes na vida do sujeito. Se é possível uma transposição à psicanálise diria: na relação, ID, Ego e Superego, a sociologia está apenas a olhar para Ego e Superego.

O lugar do desejo na psicanálise

Na psicanálise faz-se necessário olhar para as instâncias do sujeito, sobretudo dessa relação que pode causar tantos conflitos que é o ID, ou seja, a instância mais profunda do desejo, local que se assevera nossos conflitos interiores.

Nas demais instâncias (no caso da psicanálise) Ego e Superego estão a controlar a razão destas pulsões, em influenciar. Estamos, igualmente, conectados às instâncias externas de nossa existência.

O contrário disso nos colocar numa patologia muito mais grave, à exemplo das psicoses, no qual o sujeito perde essas percepções externas em função do seu ID incontrolado.

A ideia, agora, não é tratar sobre as instâncias psíquicas e, sim relacionar com o que somos. O sujeito é único e, portanto, a psicanálise traz uma teoria ampla, rica e complexa e não se esgota no tempo.

Ouvir a si mesmo: os lugares do analisando e do analista

O psicanalista ao se deparar com o outro, está não apenas num exercício de se reconhecer com seu semelhante, mas de autoconhecimento de si e do seu tempo. As neuroses de sessenta anos atrás não são as mesmas deste inicio de século.

Vejamos quanta coisa mudou depois desta pandemia da Covid-19 (que está controlada, mas não finda). As ansiedades que foram geradas ante as incertezas, mas para além disso, novas forma de trabalhar que tendem a mudar toda organização de como as pessoas vivem em suas casas, a exemplo do trabalho home office no qual os sujeitos tiveram que reorganizar suas convivências em casa.

Isso levar a perceber a importância das teorias psicanalíticas e das técnicas que envolve “um fazer psicanálise”.

Isso passa, primeiramente pela formação em psicanálise, pela busca das teorias por um exercício intenso dos textos clássicos e contemporâneos da psicanálise, mas, também, da análise pessoal, ou seja, àquele que se pretende psicanalista vivenciar análise não só como requisito, principalmente, como autodescoberta, um conhecimento de si profundo – que não se esgota no setting analítico mas que se supera num ciclo continuo de estudos, analises e, depois de apto, escuta.

O papel da comunicação no setting analítico

Pensando o setting analítico, é importante pensarmos sobre o papel da comunicação. O que seria essa comunicação? Segundo Macedo e Falcão (2005) o desejo de ser escutado.

O desejo da escuta se compõe como a outra face da moeda. Se a psicanalise se constitui como a cura pela fala, neste processo tem que ocorrer a escuta. Essa é uma situação no qual a comunicação exerce um ciclo completo.

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    Falar e escutar numa relação que não é apenas entre o analista e seu analisando, mas o próprio analisando com o passar de sua experiência escutar a si próprio. O desejo de ser escutado é o de poder entender sua própria fala. Claro que para isto é necessário a experiência da análise, da interpretação que vem do psicanalista.

    O desenvolvimento da psicanálise e o ato de ouvir

    Freud ao criar a psicanálise como uma terapia que se colocava como alternativa aos métodos de tratamento de sua época, não irá só questionar os métodos empregados no seu tempo, mas perceber que o sujeito não poderia ser visto como uma máquina, numa crítica direta ao positivismo empregado por seus pares.

    Com Charcot, Freud vai buscando um caminho alternativo ao tradicional, mas suas experiências o leva perceber a fala.

    Com Freud no aperfeiçoamento de suas técnicas tem nos casos estudados e analisados em pacientes Ana O. e Emmy Von N a escuta como algo fundamental.

    Segundo Macedo e Falcão (2005) buscar uma historização do indivíduo passou a se constituir o caminho para o autoconhecimento, para uma liberdade pessoal. A possibilidade do sujeito entender aquilo que lhe incomoda.

    Por parte do psicanalista é preciso deixar-se entregar à atenção flutuante, fazendo um par analítico com seu analisando. Segundo J. D. Nasio, no livro “Sim, a psicanalise cura” (2017), o psicanalista deve ser um observador. Deve está atento a uma comunicação que está na fala, mas, igualmente, em todo o ambiente em que esses sujeitos (analista e analisando) estão inseridos.

    Fontes Pesquisadas:

    NASIO, J.-D. Sim, a psicanálise cura. Trad. de Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.

    MACEDO, Mônica Medeiros Kother; FALCAO, Carolina Neumann de Barros. A escuta na psicanálise e a psicanálise da escuta. Psychê, São Paulo, v. 9,n. 15,p. 65-76, jun. 2005 .Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-11382005000100006&lng=pt&nrm=iso>

    Este artigo foi escrito por Jorge Alexandro Barbosa ([email protected]), estudante do Curso de  Formação em Psicanálise do IBPC.

     

    One thought on “Ouvir a si mesmo é reconstruir a própria história

    1. Mizael Carvalho disse:

      Tem que ter muita coragem para “ouvir a si mesmo “, do que estava em oculto!
      Parabéns pelo belíssimo trabalho!

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