Conhecido por ser um tema complexo, controverso e de difícil conceituação, a sexualidade é objeto de tabus e reduções, que tendem a conceituá-la como fenômeno exclusivo do campo da genitalidade. Ainda nos dias atuais, o debate acerca da sexualidade frequentemente depara-se com questões morais, religiosas e até mesmo teóricas. De modo que esta temática continua sendo alvo de polêmicas.
No entanto, a sexualidade continua sendo axial para a compreensão do comportamento humano. Neste sentido, a este termo conceitua-se como um aspecto pulsional do comportamento humano, não estando restrita ao campo da genitalidade.
Os Estudos Freudianos da Sexualidade Infantil
Tendo sido um dos primeiros a estudar a sexualidade, Sigmund Freud expandiu seus horizontes. Levando em conta que suas descobertas causaram uma ruptura com os conceitos aceitos como verdade até então, sobretudo no que diz respeito à sexualidade infantil.
Até então, vigia a ideia de uma infância inocente, desprovida de qualquer manifestação de sexualidade. Em outros termos, os bebês eram considerados indivíduos assexuados.
Observando a ocorrência de transtornos psicológicos em pacientes adultos, Freud desenvolveu a teoria da Sexualidade Infantil. Quando buscava tratar distúrbios provocados pela histeria. Devido às imposições e preconceitos da época, Freud enfrentou dificuldades para delimitar o campo do sexual. Sobre o tema, expressou-se nos seguintes termos.
Frase de Freud sobre o Termo
“{…} Falando sério, não é fácil delimitar aquilo que abrange o conceito de ‘sexual’. Talvez a única definição acertada fosse ‘tudo o que se relaciona com a distinção entre os dois sexos’. […]
Se tomarem o fato do ato sexual como ponto central, talvez definissem como sexual tudo aquilo que, com vistas a obter prazer, diz respeito ao corpo e, em especial, aos órgãos sexuais de uma pessoa do sexo oposto, e que, em última instância, visa a união dos genitais e a realização do ato sexual. […]
Se, por outro lado, tomarem a função de reprodução como núcleo da sexualidade, correm o risco de excluir toda a série de coisas que não visam à reprodução, mas certamente são sexuais, como a masturbação, e até mesmo o beijo (FREUD, 2006, p. 309).”
Distinção entre sexo e sexualidade
Desta forma, fez-se necessário empreender a uma diferença entre sexo e sexualidade. Tendo esta distinçãoo objetivo de entender melhor este tema. Desta forma temos:
- Sexo: tem como objetivo primordial a procriação, pertencendo ao campo do biológico. Por este ponto de vista, refere-se a um conceito anatômico, remetendo à ideia de gênero, feminino e masculino.
- Sexualidade: por sua vez, assume uma característica cultural e histórica, significando mais que as partes do corpo. Para Nunes e Silva (2006, p.73) “a sexualidade transcende à consideração meramente biológica, centrada na reprodução e nas capacidades instintivas”.
Sexualidade e perversão
Para a Sexologia, toda a matéria que não se relacione com a junção entre o macho e a fêmea. Ou seja, que não apresente um aspecto biológico, é tido como um desvio. Ao tratar deste assunto, Freud apresentou-nos a ideia de perversão polimorfa.
Para ele, tais práticas, embora pudessem parecer estranhas, forneciam muitas informações sobre o que se passava com o sujeito. A partir da escuta dos seus pacientes, estabeleceu então um panorama que não se referia apenas ao aspecto biológico, mas ao conceito de Pulsão.
Sexualidade, pulsão e libido
Para Freud, Pulsão é um conceito diferente de instinto. Para o criador da Psicanálise:
- pulsão é um conceito caracterizado por não ter um objetivo pré-formado, sem objeto específico;
- enquanto instinto apresenta-se como um desejo orientado para um objeto específico (como é possível se observar no comportamento padrão dos animais).
Compreensão da Sexualidade na Psicanálise
Para uma melhor compreensão do conceito de sexualidade dentro da Psicanálise, faz-se necessária uma explicação sobre o conceito de libido. No Livro “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, Freud resume este conceito com as seguintes palavras:
“Combinam bem com essas hipóteses sobre a base química da excitação sexual as noções de que nos valemos para procurar dominar as manifestações psíquicas da vida sexual. Estabelecemos o conceito de libido como uma força quantitativamente variável que poderia medir os processos e transformações correntes no âmbito da excitação sexual.
Diferenciamos essa libido, no tocante a sua origem particular, da energia que se supõe subjacente aos processos anímicos em geral, e assim lhe conferimos também um caráter quantitativo. Ao separar a energia libidinosa de outras formas de energia psíquica, damos expressão à premissa de que os processos sexuais do organismo diferenciam-se dos processos de nutrição por uma química especial.
A análise das perversões das psiconeuroses levou-nos à compreensão de que essa excitação sexual é fornecida não só pelas chamadas partes sexuais, mas por todos os órgãos do corpo” (FREUD, 2006, p. 205).
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Concluindo: teoria da sexualidade de Freud
Os conceitos de libido e de pulsão correm de forma paralela. Enquanto a pulsão é uma força constante, a libido é uma força que sustenta a pulsão. Em outras palavras, a libido é a energia das pulsões sexuais.
Nesta breve exposição, pudemos ver o quão abrangente pode ser o conceito de sexualidade e da sua importância central em relação à Psicanálise. É importante destacar que para a Psicanálise a sexualidade é a porta de entrada do indivíduo em seu contato com o mundo.
A teoria da sexualidade de Freud é uma das suas contribuições mais importantes para a psicanálise, para a psicologia e para a sexologia. Além disso, influenciou outras áreas das artes e das humanidades, como o cinema e a pedagogia.
Em sintese, Sigmund Freud propôs que a sexualidade humana começa logo na infância. Além disso, essa vivência vai influenciar o desenvolvimento psicológico e emocional do bebê e, depois, das pessoas em idade adulta. Freud considerava que a sexualidade não se limitava somente ao ato sexual por si, mas sim incluía uma ampla gama de impulsos, desejos e representações.
Deste modo, uma pessoa que perde sua libido no campo da sexualidade possivelmente terá um desencanto também em relação à vida. Neste sentido, a psicoterapia psicanalítica pode ajudar o paciente a encontrar onde está seu desejo, tanto no sentido sexual como simbólico.
A sexualidade infantil é dividida em diferentes fases da sexualidade humana segundo Freud, também chamadas de fases do desenvolvimento psicossexual. Cada fase corresponde a um período principal de vida do bebê e a uma fonte de prazer sexual. São essas fases, começando da mais recente:
- fase oral,
- fase anal,
- fase fálica,
- período de latência e
- fase genital.
Freud também pensou que o desenvolvimento psicossexual pode ser afetado por conflitos, experiências e traumas ocorridos na infância. Essas experiências poderiam influenciar a personalidade e o comportamento até mesmo na vida adulta. Por exemplo, costuma-se falar em fixação: uma experiência traumática durante a fase anal (mesmo não tendo nenhuma relação com sexo anal) pode apreender a psique naquela fase e nas características comportamentais de tal fase (por exemplo, pessoas acumuladoras podem estar relacionadas à fixação na fase anal).
Assim, a teoria da sexualidade de Freud exalta a importância de entender a sexualidade (o que vai muito além do sexo ou da prática sexual) na formação da personalidade humana. Freud sugere que a sexualidade é uma força motora que influencia como a mente se desenvolve e funciona, com ecos na vida adulta.