Para o Dicionário da Real Academia, entrevista refere-se a “Vista, concorrência e conferência de duas ou mais pessoas em um lugar determinado, é para tratar ou resolver algum negócio. Feita esta conceituação, surge a pergunta: Qual o objetivo da Entrevista psicanalítica?
A entrevista psicanalítica tem como objetivo decidir se o indivíduo que procura o analista deve ou não realizar um tratamento psicanalítico. Na entrevista, segundo Bleger, se avalia a psique ou a personalidade do possível paciente. Em psicanálise é recorrente o modelo de pesquisa não-diretiva, sem tópicos elencados a priori. É importante lembrar que, para Freud “nenhum ser humano pode dar uma informação fidedigna a respeito de si próprio”.
O que é Entrevista Psicanalítica?
A entrevista psicanalítica é uma técnica de diagnóstico usada pelo psicanalista, nas sessões de atendimento junto a um analisando (paciente). Se for no começo do tratamento, este tipo de entrevista irá acolher a demanda de cura trazida pelo analisando, explicar como funciona o método psicanalítico e combinar o “contrato” de atendimento (valor da sessão, duração da sessão, datas etc.). O termo pode ser usado também para definir a dinâmica de uma sessão de psicanálise que não seja o início do tratamento, ou seja, como sinônimo de sessão de atendimento psicanalítico.
Quando no início do tratamento de um novo paciente em psicanálise, a entrevista psicanalítica pode ser chamada também como:
- entrevistas preliminares
- tratamento de ensaio
- primeira(s) sessão(ões) de análise.
Relação observador-participante na entrevista psicanalítica
Tudo o que acontece em uma entrevista está relacionado com a relação que se estabelece entre os participantes. No caso, os participantes são:
- o analista (ou psicanalista) e
- o analisando (ou paciente),
- sendo que essas duas partes compõem o chamado par analítico,
- e o contexto (do consultório ou virtual) em que a sessão de terapia acontece é o setting analítico.
O recomendável é que o analista participe o menos possível, deixando a iniciativa para o entrevistado.
Para Sullivan, pioneiro no estudo da entrevista, a expressão adequada para esta postura é observador-participante. Para o entrevistado, o estímulo é representado pela presença do analista. Nesse contexto, a partir de uma pergunta elaborada pelo analista, o entrevistado pode abordar temas muito abrangentes, no entanto, o principal questionamento é: por que esta pergunta foi necessária?
Angústias e silêncios na entrevista
É comum na entrevista que ocorram processos de angústia de ambos os lados. Neste caso, é indispensável que esta angústia seja modulada. Isso se dá através de um posicionamento compreensivo e continente do entrevistador.
Também é de vital importância que sejam fixadas as variáveis de tempo e lugar, que se traduzem em uma postura de neutralidade do entrevistador. Atitude esta que deve permear todo o tratamento, há hipótese em que este venha a acontecer.
Usualmente, como ressalta Fernando Ulhoa, é comum que o analista assuma uma postura “iatrogênica” relativamente aos entrevistador. Mostrando-se então muito receptivos sorridentes e informais durante a entrevista, mas assumindo, entretanto uma postura distante, séria e informal durante o tratamento. Desta forma configurando o que o autor denomina de “analista-mudo”.
Neste contexto, um analista percebido como mudo pelo paciente também poderá ser visto como surdo. A consequência mais comum a estes casos é o recrudescimento dos sintomas com o objetivo de reaver “aquele analista” da entrevista.
O lugar da interpretação na entrevista Psicanalítica
Outro aspecto que releva sobremodo ressaltar refere-se à interpretação na entrevista psicanalítica. Para o psicanalista David Zimerman, durante a entrevista, a interpretação deve ser evitada. Uma vez que para o analisando poderá ser compreendida como um “juízo de valor” por parte do analista. Por outro lado, para Bleger, existem casos em que a interpretação é necessária, sobretudo quando houver distorção ou interrupção no processo de comunicação.
Etchegoyen entende que a interpretação é necessária nos casos em que indique a possibilidade de remoção de um obstáculo concreto. Neste caso, é de vital importância que se tenha em mente que a finalidade da entrevista é verificar a adequação do tratamento para “esse” sujeito, da concretização ou não de um processo analítico.
Retornando ao pioneiro do estudo desta temática, Sullivan entende que “é necessário confrontar o entrevistado com alguma angústia no momento da entrevista”. De outra forma, caso o processo fosse totalmente cômodo para o entrevistado, o mesmo não teria razão de ser. Durante a entrevista, as formas de angústia podem fornecer ao analista indícios dos aspectos que mais incomodam o entrevistado.
Transferências e contratransferências na entrevista psicanalítica
Durante a entrevista, a ocorrência de angústia também oferece ao analista a possibilidade de observar os processos de transferência e contratransferência. Durante este processo, o entrevistado reproduz na entrevista conflitos e aspectos do seu passado, os quais assumem uma realidade psicológica.
Neste sentido, o analista não responde apenas de forma lógica, mas também no âmbito contratransferencial.
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Também é de fundamental importância destacarmos a entrevista de encaminhamento. Após proceder à indicação, é recomendável que o indicado informe posteriormente ao analista sobre o “outro” encontro, além de colocar-se à disposição para a hipótese de qualquer dificuldade.
Estas considerações não têm objetivo de esgotar um assunto tão estudado, mas oferecer diretrizes para um posterior aprofundamento neste tema que é tão importante para a prática da Psicanálise.
A entrevista como o início do tratamento em psicanálise
Assim, entende-se entrevista psicanalítica como o início do tratamento em psicanálise. Trata-se de uma técnica utilizada pelo psicanalista para reunir as informações iniciais sobre a vida e a história do paciente. Isso ajudará o psicanalista a entender melhor a vida psíquica do analisando, seus hábitos, medos e desejos. Claro que, durante o tratamento muita coisa pode mudar, pois novos conteúdos podem ser trazidos a todo momento.
A entrevista em psicanálise deve ser usada em um ambiente acolhedor e confidencial. Desde o início, o paciente (ou analisando) deve ser encorajado a falar livremente sobre seus pensamentos, vivências e sentimentos. Enquanto isso, o psicanalista ouve atentamente (utilizando a chamada atenção flutuante) e faz perguntas que ajudam a entender o analisando e ajudam o analisando a começar a olhar para si mesmo.
Essa entrevista pode levar uma ou mais sessões. Pode ser estruturada ou (preferencialmente) mais livre. O objetivo final será criar uma relação terapêutica sólida entre o paciente e o psicanalista, que permita ao paciente livre-associar e elaborar ideias sobre si de maneira segura e relevante.
11 thoughts on “O que é Entrevista psicanalítica?”
Muito boa as ilustrações do texto. Bem claras e de fácil compreensão. Gostei
Fácil para compreender amei
muito interessante os pontos colocados sobre a entrevista.
Amei! Muito claras as abordagens! Obrigada!
Muito obrigado por esse ensino tão esclarecedor!
Muito interessante a abordagem sobre a interpretação
A expressão “OUTRO ENCONTRO” refere-se a um encontro subliminar, ocorrido paralelamente à entrevista, ou ao próximo encontro ?
Muito bom. Faltou apenas as indicações dos textos citados
Comentário muito interessante e de grande ajuda para nós futuros psicanalítas. Obrigado pela ajuda!
Amei a abordagem e de fácil interpretação. Ficou bastante claro a posição do analista.
Esse tipo de clareza, em um texto informativo, atrai a atenção do estudante e também aos que pretendem iniciar na área. Parabéns pela abordagem!