A catacrese é uma das dezenas de figuras de linguagem usadas na língua portuguesa, ela se faz presente especialmente no cotidiano do brasileiro, em meio aos diálogos diários e banais.
Por definição, a catacrese se conceitua como o uso de um termo distinto do seu contexto original para nomear (de forma figurativa) algum elemento ou alguma situação que não possui um específico nome ou caracterização.
O que é catacrese e qual é a sua origem?
Diante da definição apresentada, a catacrese como uma das inúmeras palavras do vocabulário português (dentre outros), tem origem grega, vinda da palavra katákhresis. Nesse sentido, no idioma grego antigo, essa palavra possuía o sentido de “uso impróprio da língua”.
Em contrapartida, ao que muito se pensa sobre o vocabulário português, há algumas afirmativas que nos mostram como nossa língua se construiu. Nesse sentido, é claro, se sabe que o português se originou do latim, uma língua morta.
No entanto, muitos termos e palavras utilizadas nos países derivados do latim, inclusive o Brasil, possuem no vocabulário também influências gregas. Isso acontece, por sua vez, pelo fato de que a Grécia era muito reconhecida como um país precursor das ciências, principalmente de elementos linguísticos. Logo, a catacrese é um desses elementos tão usuais língua portuguesa.
Definição da figura de linguagem catacrese
De modo consequente, já apresentado o que é a catacrese, é curioso pensar o que é em si uma figura de linguagem. Em vista disso, as figuras de linguagem são expressões utilizadas pelas pessoas a fim de atribuir um sentido conotativo, ou seja, um sentido que foge das definições de dicionário.
Dessa forma, a catacrese é uma ferramenta linguística conotativa, e isso significa que atribuímos o uso dela em contextos específicos, que fogem do significado literal da palavra. Sendo assim, quando a usamos em alguma frase estamos aproximando nossa fala a um modo mais casual da língua.
Diferença entre catacrese e prosopopeia
Em alguns casos do uso da catacrese, é possível confundi-la com outras figuras de linguagem, como a prosopopeia/personificação. Em vista disso, a prosopopeia/personificação embora seja parecida com a catacrese, possui outro tipo de utilização.
Logo, é importante diferenciar ambas figuras de linguagem. Enquanto a catacrese se define com o uso de um termo fora do seu significado real e literal (para atribuir sentido a algo que não tem seu próprio nome), a prosopopeia é diferente.
Diante disso, muitas pessoas confundem as duas figuras de linguagem pelo fato de a prosopopeia ser definida como o uso de características humanas a tipos de seres inanimados. Como exemplo, temos a frase “As flores bailavam lindamente na primavera”.
Como identificar uma catacrese?
Assim sendo, enquanto a prosopopeia atribui características sentimentais a seres inanimados ou irracionais, a catacrese cria uma denominação que não existe para um objeto. Nesse sentido, é simples identificá-la apenas percebendo o contexto em que ela está sendo usada.
Como dito anteriormente, a palavra grega katákhresis tendo sua definição como “mau uso” ou “uso impróprio”, já traz indícios de como identificar sua presença em alguma fala. É possível identificar quando se percebe seu sentido totalmente subjetivo e que só funciona naquela situação de comunicação.
Exemplos de catacrese no cotidiano
Ademais, esse “uso impróprio” e subjetivo não está somente presente em falas durante diálogos orais, uma vez que é bastante amplo, com uma infinidade de exemplos.
Dessa maneira, muitos escritores de fábulas infantis, ou até mesmo outras obras literárias, usam a catacrese como recurso. Isso acontece porque essa figura de linguagem é muito interessante e curiosa, dando um sentido “a mais” para o texto ou até mesmo uma noção poética. Além de, sobretudo, fazer parte da cultura.
Além disso, outro exemplo é a catacrese sendo usada em receitas de culinárias, como “Utilize um dente de alho para o arroz” ou “Use um fio de azeite para o tempero”. Portanto, pode-se afirmar que o uso dessa figura de linguagem é observado em vários contextos da nossa língua portuguesa.
Exemplos de frases com o uso de catacrese
Segue abaixo uma lista de frases com o uso de catacrese, todas possivelmente já usadas em algum momento do nosso dia a dia ou de nossas leituras.
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- “A asa da xícara quebrou”;
- “Comprei duas cabeças de alho no supermercado”;
- “Estou com um machucado no céu da boca”;
- “A boca do fogão não está funcionando!”.
Alguns outros exemplos são: “a maçã do rosto da menina ficou corada de vergonha”; “como dói a batata da perna depois da academia!”; “bati meu dedo no pé da cama”; “vou embarcar no avião às 15 horas”; “fizemos uma trilha e subimos o pé do morro!”.
Relação entre catacrese e pareidolia
Vimos que a catacrese é uma forma de nomear algo com atributos de outra coisa, sem o que seria difícil de designar. Por exemplo, quando dizemos “pé da mesa”.
Assim, vamos verificar outros dois termos relacionados:
- antropomorfismo: figura de linguagem que dá características humanas a algo que não é humano, como os comportamentos dos animais no filme Babe Um Porquinho Atrapalhado;
- pareidolia: processo psíquico de interpretar imagens a partir de outras imagens conhecidas, como quando vemos figuras desenhadas nas nuvens, muitas vezes relacionados com rostos ou formas humanas.
Importante reforçar que a catacrese não é a mesma coisa que esses termos.
Mas, em todas essas definições, há por trás um mecanismo psicologicamente humano que funciona para “reconhecer” o desconhecido. Isto é, usar o que é conhecido (em geral, mais próximo do humano) para significar fatos ou imagens novas.
Catacrese em composições musicais e na literatura
Ainda mais, alguns exemplos em músicas: “O que é o que é/ que tem asa mas não voa?/ o que é o que é/ que tem asa mas não voa?/ é o bule/ da minha coroa/ é o bule/ da minha coroa” (O que é O que é, de Jovelina Pérola Negra).
Outros versos que se constroem com a mesma figura de linguagem (Composição Estranha, de Renato Rocha e Ronaldo Tapajós Santos):
- “Usei a cara da lua”;
- “As asas do vento”;
- “Os braços do mar”;
- “O pé da montanha (…)”.
Além disso, temos a música “Maçã Do Rosto”, do cantor Djavan, que serve de exemplo logo pelo título da letra. “Me ame devagarinho/ Sem fazer esforço/ Tô doido por seu carinho/ Pra sentir aquele gosto/ Que você tem na maçã do rosto/ Que você tem na maçã do seu rosto”.
A famosa música de Gilberto Gil ao programa infantil “Sítio do Pica-Pau Amarelo” também exemplifica a catacrese com o verso “Marmelada de banana…”
Com relação a trechos literários, temos a presença da catacrese em poesias e prosas, como o poema “Inutilidades”, de José Paulo Paes, escritor paulista:
“Ninguém coça as costas da cadeira
Ninguém chupa a manga da camisa
O piano jamais abana a cauda
Tem asa, porém não voa, a xícara
De que serve o pé da mesa se não anda?
E a boca da calça, se não fala nunca?
Nem sempre o botão está na sua casa.
O dente de alho não morde coisa alguma.
(…)”
Em suma, pode-se concluir que essa figura de linguagem é encontrada em diversos momentos em que usamos nosso idioma. Seja nas falas rotineiras como também na leitura de trechos literários de receitas culinárias ou no ato de escutar alguma música.
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