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O coaching na formação de neuroses: um exame crítico da cultura de comparação contínua

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A palavra coaching e “coach” tem o início do seu uso no século XVI. Mas foi a partir do século XIX, que o termo “coach” passou a ser usado em contextos esportivos, nomeando os treinadores dos atletas. Só no século XX que passamos a usar o termo para descrever o tipo de treinadores que vemos hoje, pessoas especializadas para treinar no contexto de desenvolvimento pessoal e profissional.

Entendendo sobre o coaching

A psicologia humanista e a psicoterapia existencial, na década de 1950, foram de grande influência no desenvolvimento do coaching moderno. Psicólogos como Carl Rogers e Abraham Maslow que trouxeram suas teorias enfatizando a importância do autoconhecimento, autenticidade e crescimento pessoal, alavancaram a recente profissão de coaching como uma abordagem que se concentra em treinar e aprimorar indivíduos em suas conquistas pessoais ou profissionais.

Claro que o conceito que hoje conhecemos de Coaching foi influenciado por outros campos de estudo, como a administração de empresas e o desenvolvimento organizacional. Foi a partir das décadas de 1970 e 1980 que o coach executivo começou a ganhar destaque, com foco em habilidades de lideranças e gerenciamento, e tem crescido exponencialmente até então.

O que começou de forma a melhorar o desempenho de pessoas e empresas tornou-se em si uma empresa, ou poderíamos dizer um lucrativo negócio. Que tem gerado altíssimos valores financeiros no mercado de troca de serviços e educação. Dos pequenos serviços a grandiosas palestras. De acompanhamento de micro empreendedor a artistas.

A indústria do coaching é sem dúvida um grande empreendimento moderno

Hoje em dia, o coaching é uma abordagem amplamente reconhecida e utilizada em várias áreas, incluindo desenvolvimento pessoal, carreira, saúde, finanças e relacionamentos e tudo mais que se possa imaginar. É uma prática amplamente difundida e tem uma presença significativa no mundo moderno, com profissionais de coaching atendendo indivíduos e organizações em todo o mundo.
Mas nem tudo são flores, e nem tudo é sucesso… Embora muitos encontrem benefícios na busca por orientação e aprimoramento pessoal, e de fato há muitos benefícios, é importante realizar um exame crítico sobre como essa ascensão do coaching tem influenciado a formação de neuroses na sociedade contemporânea, especialmente em relação à cultura de comparação contínua que acompanha esse fenômeno, e que destacamos nesse artigo.
A cultura de comparação contínua é alimentada por diversos fatores, incluindo as redes sociais e as narrativas de sucesso promovidas pelos coachs. O que tem se tornado uma preocupação significativa. 

O coaching e redes sociais

Essa mistura de rede sociais em que os indivíduos sentem prazer em compartilhar suas vitórias, e coachs que prometem que o sucesso, o dinheiro e o poder estão ao alcance de suas mãos, se você viver dentro da disciplina e do compromisso propostos por eles, fazem um perigo moderno, em que a pessoa está sempre se comparando com alguém, acreditando que ainda não é tão rica, tão bonita, tão fitness, tão importante quanto aqueles que a cercam no mundo virtual.
O que é apresentado pelos coachs, provados por suas histórias de sucesso que viram seu marketing, faz com que as pessoas alcançadas por esse marketing acreditem em resultados excepcionais, com padrões altamente elevados de sucesso e felicidade. Pode parecer tudo lindo, uma história de conto de fadas moderno, mas de forma sutil, porém muito poderosa, faz com que as pessoas se comparem constantemente com tais realizações notáveis.
Basta um minuto dentro das redes sociais, que as pessoas compreendam que não tem a felicidade e a realização que de acordo com os coachs, poderiam e deveriam ter. Essa constante busca por comparação pode levar ao desenvolvimento de neuroses na sociedade.

A exposição excessiva

As pessoas se sentem ansiosas, estressadas, e inadequadas em suas muitas tentativas de alcançar padrões tão elevados e até inatingíveis, ou a frustração ao se medirem pela régua do outro.
Se o gramado do vizinho é sempre mais verde, na visão da pessoa ela estará sempre aquém dos resultados do outro e o que o mundo digital deixou muito pior, visto que os vizinhos no mundo digital, aqueles que você segue, podem ser celebridades como Neymar e Gisele Bündchen, ou até celebridades internacionais.
A exposição excessiva às conquistas aparentemente extraordinárias dos outros, especialmente nas plataformas, leva à percepção errônea de que suas próprias realizações não são tão significantes. Isso tudo só contribui com as doenças deste século: ansiedade, depressão e outras neuroses.
A cultura da comparação, incentivada pelas redes sociais e os Coachs, pode gerar neuroses como, Ansiedade, Baixa autoestima, depressão, insegurança social, transtorno alimentares, desordem de imagem corporal, perfeccionismo, insatisfação crônica, fobia social, autocrítica excessiva, medo do fracasso, síndrome do impostor, isolamento social, insegurança profissional, dificuldade de relacionamentos, crise de identidade etc.

Coaching e análises

É de extrema importância enfrentar essas preocupações com uma análise crítica e consciente sobre o papel do coaching na cultura de comparação contínua e seus impactos na saúde mental da sociedade.

Os profissionais de coaching devem assumir a responsabilidade de apresentar suas histórias de sucesso de forma transparente, evitando exageros e estabelecendo metas realistas e alcançáveis para seus clientes.

E não somente isso, é preciso compreender e apreciar o fato que vivemos em um mundo de pessoas diferentes, e que nossas diferenças precisam ser aceitas e valorizadas, em vez de promover uma cultura de comparação.

Conclusão

Cada pessoa é única, em suas formas, desafios, história de vida, sucesso, felicidade etc. É preciso exaltar suas próprias vitórias, não se comparando a ninguém e não sendo modelo de comparação para o outro.
É preciso uma abordagem equilibrada do serviço de coaching, que considere aspectos positivos do desenvolvimento pessoal e profissional, mas analise em que momento se tem cruzado a linha tão tênue que sai da motivação pela história do outro para o lado da comparação com o outro.
Este artigo sobre coaching na formação de neuroses foi escrito por SAMANTHA GRAMACHO (Instagram: samanthagramacho). Sou uma profissional apaixonada por desafios e liderança, atuando há mais de uma década como administradora de empresas e há mais de 15 anos como administradora religiosa. Minha trajetória tem sido marcada por inspirar e liderar pessoas e equipes em ambientes diversos.

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