codependentes

Codependentes, Narcisistas e Relacionamentos Disfuncionais

Posted on Posted in Comportamentos e Relacionamentos

Este trabalho sobre codependentes é relevante porque sabemos quão difícil é a convivência com uma pessoa Narcisista, e o quão disfuncional pode ser essa relação, trazendo prejuízos emocionais muito sérios para o codependente.

Entendendo sobre o que são codependentes

Seja em qual relação for com o Narcisista: a relação amorosa, a relação parental, a relação de amizade ou de convivência no geral, todo aquele que se relacionar com um Narcisista vai ser o seu suprimento e vai estar sempre em posição desigual.

O Transtorno de Personalidade Narcisista tem suas características e o que se sabe de pessoas com esse transtorno é que não procuram ajuda ou quando procuram não é de fato preocupados com a sua mudança. Já o codependente quando procura ajuda está totalmente quebrado emocionalmente e por muitas vezes, por ter sido anulado e se submetido à essa relação não se reconhece mais no seu eu.

Nós já sabemos quais as características de um Narcisista e quantos prejuízos, em todos os sentidos, principalmente emocionais podem trazer para um codependente. O que precisamos conceituar mais e discutir, como se forma um codependente, porque ele se sente atraído pela personalidade narcisista e como devemos tratar aqueles que conviveram com a disfuncionalidade de dessa relação tendo como base que ser codependente também é uma disfunção e um certo tipo de transtorno que deve ser reconhecido para ser ressignificado. E é preciso um olhar mais analítico e humanizado para entender a dinâmica Narcisista e Codependente.

Conceito do Narcisismo com base em Sigmund Freud

O conceito de Narcisismo começa antes dos estudos de Freud. Se inicia por Paul Nacke em 1899 sob a ideia inicial do sujeito que se encontra em estado de amor por si mesmo. O termo narcisista vem do mito grego que narra a história de Narciso que era apaixonado pela sua própria imagem e vivia preso a ela.

Em 1914 Sigmund Freud se aprofundou na temática sobre o Narcisismo através de seu texto A introdução ao Narcisismo que seria uma complementação da teoria da pulsão. Nesse texto Freud teoriza sobre a libido do eu e a libido do sujeito. Simplificadamente Narcisismo é uma direção da nossa força libidinal. Energia libidinal internalizada caracteriza o Narcisista.

O Narcisismo é a base fundamental do eu. Um desenvolvimento da construção do ego que para Freud se dá na sua fase primária que é o momento em que o ego é o objeto de amor sem o entendimento do outro, ou seja, toda libido destinada a si mesmo. Essa é a fase dos bebês. Já o Narcisismo secundário é o retorno do eu com sua libido retirada do objeto.

Para Freud, é nessa transição entre a passagem do Narcisismo primário e Narcisismo secundário que o indivíduo aprende a conviver com o outro e entende o que é diferente. Portanto, a base fundamental do eu é o reconhecimento do outro. Contudo o Narcisismo é a construção do ego que sob uma demanda positiva atua na autoestima do sujeito e na sua autopreservação. Mas, quando as demandas da construção desse ego são negativas surgem as feridas narcísicas, ou seja, as feridas do ego. E, essas feridas tornam-se patológicas e tornando-se base para a formação de caráter do sujeito levando ao Transtorno de personalidade Narcisista.

Transtorno de Personalidade Narcisista e codependentes

O Transtorno de personalidade é caracterizado pelo comportamento disfuncional, rígido com inadequações dos impulsos e na relação com as pessoas. Existem alguns transtornos de personalidade dentre as doenças psiquiátricas. O destaque aqui é o Transtorno de Personalidade Narcisista.

O Transtorno de Personalidade Narcisista se caracteriza pela sua percepção de grandiosidade, necessidade de ser admirado e falta de empatia. O sujeito com esse transtorno superestima sua existência e subestima a existência do outro. Ou seja, sua disfuncionalidade está na sua autopercepção de grandioso. O sujeito com transtorno de personalidade possui um caráter não maduro com uma maturidade de uma criança presa em suas feridas narcísicas.

As maiores características de um sujeito com Transtorno de personalidade Narcisista é:

  • Mania de grandeza
  • Falta de empatia
  • Alto grau de manipulação
  • Vitimização
  • Sensibilidade às críticas

Codependentes, sentimento característico do Transtorno de Personalidade Narcisista:

  • Raiva
  • Inveja
  • Empolgação

Nas pesquisas sobre o Transtorno de Personalidade Narcisista pouco se sabe sobre a etiologia dele. Fala-se de fatores hereditários significativos, mas também as teorias mostram a influência dos cuidadores com as crianças, tratando-a de maneira inadequada com negligência, abandono emocional ou até mesmo favorecendo excessivamente a criança.

O fato é que lidar com uma pessoa com caráter disfuncional como o Transtorno de Personalidade Narcisista pode ser desgastante e aniquilador. E um sujeito com esse transtorno de características de grandiosidade, necessidade de atenção, bajulação e de controle do outro de uma maneira geral podem atrair os codependentes.

Codependentes e personalidade

Não existe referência científicas sobre o conceito de codependente e alguns autores divergem sobre alguns pontos.

Para Ross Rosenberg os codependentes são pessoas que respeitam a necessidade e desejo do outro acima das suas. São pessoas patologicamente amáveis, responsáveis e sacrificadas. Para ele há uma patologia por trás da personalidade codependente. A personalidade codependente nasce de uma estrutura familiar disfuncional. Assim como o Narcisista, a criança foi negligenciada.

O termo codependente surgiu na observação das relações interpessoais de em família de alcoólatras onde, se entendeu que na dinâmica relacional influenciava a saúde mental das pessoas envolvidas. Os pesquisadores perceberam que o familiar do dependente se moldava emocional e psicologicamente em torno do vício do outro tornando-se assim também um dependente não do álcool, mas dessa relação em torno do viciado; daí o nome codependente.

QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE

    NÓS RETORNAMOS PARA VOCÊ




    Relação disfuncional

    E, agora esse termo pode ser usado para qualquer relação disfuncional de dependência emocional como é o caso do Narcisista e do Codependente. Não existem muitas referências científicas conceituais sobre Codependência e alguns autores ainda divergem sobre alguns pontos.

    Para Ross Rosenberg, autor do livro a qual é baseado essa monografia, os codependentes são pessoas que respeitam a necessidade e desejo acima da sua. São pessoas que provavelmente passaram por uma dinâmica familiar disfuncional onde, um dos cuidadores pode ter sido um Narcisista e por isso a personalidade se fez codependente e ainda explica a atração que o codependente desenvolve por Narcisistas.

    A dinâmica relacional vivenciada com a relação dos pais se repete na dinâmica relacional experimentada na vida adulta. A Codependência em relacionamentos pode ser entendida como uma forma de viver em função do outro na dependência da resposta emocional do outro.

    A dependência emocional é um sintoma de conflitos internos não resolvidos, no caso a falta, falta essa que o codependente deposita no outro. Todos nós somos dependentes emocionais de alguma forma. O problema é quando isso se torna excessivo e disfuncional.

    Principais características de um codependente

    • Baixa autoestima
    • Falta de autocuidado
    • Focar mais nos outros
    • Sente-se incapaz
    • Tem medo de abandonos
    • Necessidade de controle do outro
    • Coloca o outro em primeiro lugar

    Essas são as principais características do codependente, mas vale lembrar que cada indivíduo tem sua subjetividade.

    Relacionamento disfuncional

    O relacionamento disfuncional é aquele que sofre prejuízos na intimidade, saúde emocional e o crescimento conjugal.

    De regra nem todo relacionamento é perfeito. Mas, alguns podem ser mais funcionais que outros. O problema é quando a relação traz prejuízos reais ao casal. Muitas vezes, mais prejuízo para um do que para o outro. A pessoa disfuncional é aquela cujos os pensamentos são rígidos, irreais com comportamento desajustado e sua inadequação pode trazer prejuízos para si e para o outro. Portanto, Narcisistas e Codependentes são pessoas disfuncionais.

    Qualquer pessoa que se relacionar com um Narcisista, mesmo não sendo um codependente, vai sofrer algum tipo de prejuízo emocional assim, como também quem se relaciona com um codependente mesmo sem ter nenhum tipo de transtorno ou dependência química.

    A relação narcisista

    Na relação Narcisista e Codependentes a disfuncionalidade conjugal vai trazer muito mais prejuízos emocionais, ou até mesmo físico ou financeiro, para o codependente.

    Porque o codependente é aquele que valoriza demais o objeto amado, no caso o Narcisista, que em contrapartida o objeto do seu desejo é ele mesmo. O outro é só um suprimento. A força libidinal que o codependente deposita sempre vai ser no outro o que faz o empobrecimento da libido do eu.

    E a força libidinal do Narcisista é direcionada para si mesmo em um intuito do favorecimento de suas próprias realizações. Essa dinâmica conjugal, então, se torna desigual. Mas ainda sim, nessa relação disfuncional, onde tenha mais prejuízos para o codependente e pouca ou nenhuma satisfação genuína para o Narcisista, esses dois se atraem. E muitas vezes ficam presos nessa relação.

    Atração entre Narcisistas e codependente

    Narcisista – Manipulador emocional. Aquele que guia conforme suas próprias necessidades.

    Codependentes – Aquele facilmente é manipulado e gosta de ser guiado na necessidade de agradar o outro.

    Uma combinação perfeita para essa atração conjugal. E essa atração entre Narcisistas e Codependentes tem como base a falta. E, ambos são codependentes de uma certa forma. Justamente pela falta do eu.

    A diferença

    Ambos por negarem seu próprio eu, vão em busca do outro para suprir sua própria falta. A diferença que a necessidade que o Narcisista tem do outro é na validação do seu falso eu e ele só se sente validado quando encontra quem supra todas suas demandas narcísicas.

    Já o codependente supre a falta do eu depositando toda sua dedicação ao outro, até mesmo se anulando em suas próprias necessidades. Uma oportunidade única para a satisfação do Narcisista e ainda cometer seus abusos.

    Para o Narcisista existe o eu irreal, o falso self idealizado por ele mesmo, que precisa ser validado através do outro. Já o codependente nega o seu eu no momento em que se anula para necessidade do outro, também numa necessidade de validação.

    Relação conjugal difícil

    Essa é uma relação conjugal desigual e muito difícil. Para salvar essa relação é preciso fazer o casal entender o nível de desigualdade entre os dois. Para isso ambos vão ter que mergulhar em suas feridas narcísicas e entender a raiz da sua disfuncionalidade. O problema é em que grau narcísico se encontra o próprio Narcisista. Porque dependendo desse grau ele nunca vai procurar ajuda terapêutica.

    Uma pessoa com Transtorno de Personalidade Narcisista não procura ajuda porque nega sua disfuncionalidade, nega seus abusos, não tem empatia pelo outro. E para esse tipo de transtorno ou até mesmo um psicopata é praticamente impossível haver transformação funcional ideal para seguir com o relacionamento. O caminho mais saudável para codependentes e todos que se relacionam com indivíduos com esses transtornos é o afastamento total e permanente.

    Conclusão sobre codependentes

    Para toda relação disfuncional se faz necessário a terapia. A terapia é fundamental para além de tudo que se diz disfuncional no sujeito. O sujeito disfuncional ao discursar sua rigidez de pensamento, recalques e, ao acessar e entender as partes irreais de si e do que cria do outro poderá ter um entendimento maior do que pode ser ressignificado, melhorado, trabalhado em prol de ter relacionamentos mais saudáveis.

    E, no caso do codependente, é preciso iniciar por si. Para que ele possa focar sua atenção nele mesmo e se entendendo como um todo.

    Para o Narcisista que procura ajuda, o que muitas vezes acontece por pressão do parceiro ou da família do que por ele mesmo, é preciso atenção redobrada do terapeuta para que não caia da falácia narcísica.

    A busca por terapia

    Na maioria das vezes é o codependente que sai em busca de terapia numa necessidade de salvar o casamento em primeiro plano. Entende que o disfuncional é o parceiro narcísico e é ele que tem que mudar. Pois, acredita na mudança real do parceiro e que só assim a relação vai melhorar.

    O codependente tem medo de perder essa relação e tenta salvar a qualquer custo. Mas, é quando o codependente sofre prejuízos de cargas emocionais, financeiras, físicas muito grandes que ele entende que a solução talvez seja sair dessa relação.

    E o que sobra de um codependente depois de uma carga psicológica tão forte é um vazio. Um vazio de não de se entender sujeito, pertencente e capaz. E o importante entender é que isso se deu pela constante busca do eu no outro.

    Codependentes e gatilhos

    Portanto, a terapia voltada para a personalidade codependente seja ela tentando salvar o relacionamento ou se recuperar após um término tem que ser humanizada e entendida na situação de como é o modo operante de um codependente e suas consequências.

    Assim como existe o entendimento do Transtorno de Personalidade Narcisista dentro de como são suas especificações, gatilhos narcísicos e seu modo operante, também é necessário entender, conceituar e atuar sobre a personalidade codependente. Para assim direcionar o sujeito codependente no seu próprio entendimento, clareza e possibilidade de ajuste. Para esse ajuste o codependente precisa se entender como tal.

    Disfuncional em negação de si para benefício do outro. Para aí, poder trabalhar em todas as suas partes que lhe são disfuncionais como a autoestima, anulação de si, sentir que não pode sobreviver sem o outro e tudo que lhe é prejudicial emocionalmente.

    O funcionamento da personalidade

    E aí, cabe ao terapeuta o entendimento de todas essas questões em volta dessa parceria desigual e quando voltar o olhar para o codependente entender o funcionamento dessa personalidade a fim de encaminhar esse sujeito para primeiramente desenvolver sua autoestima, pontuando tudo que lhe é disfuncional e direcionando-o para o caminho de equilíbrio emocional e no foco de sua própria existência.

    E a psicanálise pode ser uma ferramenta para o entendimento dessa parceria disfuncional em busca de cura do casal ou/e de si mesmo.

    Este artigo sobre Codependentes, Narcisistas e Relacionamentos Disfuncionais foi escrito por Maria Aparecida da Silva Adorno, concluinte do curso de formação em psicanálise (e-mail: [email protected]).

    2 thoughts on “Codependentes, Narcisistas e Relacionamentos Disfuncionais

    1. Tenho irmã co-dependente e percebo ela mais no comando da situação que o meu irmão que poderíamos enquadrar como narcisista! Uma diferença fundamental é o convencimento dela junto a ele, na máxima “ele dá a cara a tapa” e ela “entra em cena” quando a situação que ela sugeriu “foge do controle”!!!

    2. Edson+Fernando+Lima+de+Oliveira disse:

      Fico muito contente em ler vários tipos de enfoques, e creio que o blog acertou muito, em abrir espaços para artigos (enfoques). Tem aparecido coisa muito boa. Vejam bem, esse tema do narcismo é show de bola. Aliás, é um problema sério, porque por ex, o Facebook anos atrás foi tomado por isso, depois muitos migraram para outros aplicativos, e queriam só se expor, era a ética enfrentando a estética. Hoje em dia, quem vai por ex, num restaurante, ao entrar se depara de cara, com todos com seus celulares na mesa, alguns comendo com mão direita e operando o celular com esquerda, se for canhoto, o inverso, e bombando msg da rede. E montando fotos e expondo um narcisismo forte.Alguns vão argumentar, calma, é da natureza humana. Ok. Mas, excessos grande de narcisismo em certos aplicativos. Agora é a bola da vez da Barbie. O narcisismo tem sido algo muito sério.Concordo.

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *