Transtorno de Personalidade Esquizoide

O transtorno de personalidade esquizoide (TPE) é um estado crônico e generalizado caracterizado por isolamento social e sensações de indiferença aos outros indivíduos. [National Library of Medicine (NLM), 2023]

Entendendo o transtorno de personalidade esquizoide

Segundo a American Psychological Association (APA, 2023), o TPE é um distúrbio de personalidade caracterizado por frieza emocional de longo prazo, ausência de sentimentos ternos pelos outros, falta de desejo e prazer em relacionamentos íntimos e indiferença a elogios ou críticas e aos sentimentos dos outros.

As excentricidades de fala, comportamento ou pensamento que são características do transtorno de personalidade esquizotípica estão ausentes naqueles com TPE. As pessoas com esse transtorno são usualmente relatadas como distantes ou retraídas.

Elas têm expressão social limitada e tendem a evitar eventos envolvendo contato com outros indivíduos. Para eles é custoso externar emoções e falta-lhes a vontade de constituir envolvimentos íntimos. Pesquisas afirmam que o TPE é um transtorno raro, tendendo a atingir um número maior de homens do que mulheres (Klonsky et al., 2002). Pessoas com TPE também apresentam maior risco de depressão.

O transtorno de personalidade esquizoide e o impacto na Vida Profissional

Aqueles com TPE frequentemente tem poucas amizades, raramente namoram e usualmente não se casam. Os sintomas do TPE também podem trazer dificuldades laborais em cargos que exijam alguma interação social ou habilidades interpessoais.

Por isso, esses indivíduos podem se sair melhor em trabalhos que envolvam atividades individuais. (Cherry, 2006)

Causas do Transtorno de Personalidade Esquizoide

A causa deste distúrbio é desconhecida. (NLM, 2023) Ele é usualmente percebido primeiramente na infância e, geralmente, é mais evidente no princípio da fase adulta. Os sintomas do distúrbio podem impactar inúmeras atividades cotidianas, incluindo relações familiares, escola e trabalho. (Cherry, 2006)

Pode estar relacionado à esquizofrenia e compartilha muitos dos mesmos fatores de risco. Entretanto, o TPE não é tão incapacitante quanto a esquizofrenia, nem causa a desconexão da realidade (na forma de alucinações ou delírios) que ocorre nesta patologia. (NLM, 2023)

Verificou-se que o transtorno depressivo maior na infância e na adolescência é mais fortemente preditivo de TPE no adulto do que de qualquer outro transtorno de personalidade desta fase. Em prisioneiros adultos, descobriu-se, ainda, que uma história de institucionalização na infância está associada a traços de TPE. (Triebwasser et al., 2012)

A visão da Psicanálise sobre o Transtorno de Personalidade Esquizoide

Quando se trata de transtorno de personalidade esquizoide, uma diferença central entre os relatos psicanalíticos e os descritivos predominantes na psicologia e psiquiatria acadêmica contemporânea é que o primeiro vê o distanciamento – uma marca registrada da personalidade esquizoide – como uma defesa que mascara intensa, superestimulante e dolorosa experiência emocional.

Em contraste, o quadro clínico dominante vê o distanciamento da pessoa esquizoide como uma genuína falta de desejo de relacionamentos sociais, acompanhada por déficits sociocognitivos. (Winarick, 2019)

Winarick (2019), afirma que Ahktar (1987) apontou que o conceito de Freud sobre a “personalidade narcísica” correspondia intimamente às concepções atuais de indivíduos esquizoides, concebivelmente entendidos como uma libido dirigida para dentro.

Estrutura psíquica

Segundo Millon & Davis (1996), Freud explicou sua estrutura psíquica em termos de superego e id fracos, inibidos ou ausentes, em contraste com o ego excessivamente desenvolvido e ativo.

Essa “organização estrutural” narcísica tem sido vista como ligada a:

(a) indiferença em relação aos outros e falta de conexão social (ou seja, no contexto de seu superego inativo);

(b) falta de impulsos agressivos ou sexuais (em conexão com a falta de id); e

(c) preocupação excessiva com experiências internas, pensamentos e imaginação (no contexto de seu ego hiperativo). (Winarick, 2019)

Sintomas do Transtorno de Personalidade Esquizoide

A pessoa com TPE comumente apresenta os seguintes sintomas:

– Prefere ficar sozinha e optar por fazer atividades sozinha

– Não quer ou gosta de relacionamentos íntimos

– Sentir pouco ou nenhum desejo por relações sexuais

– Sente-se como se não pudesse sentir prazer

– Tem dificuldade em expressar emoções e reagir adequadamente às situações

– Pode parecer sem humor, indiferente ou emocionalmente fria para os outros

– Pode apresentar falta de motivação e objetivos

– Não reage a elogios ou comentários críticos de outras pessoas

Diagnóstico

Os critérios de diagnóstico do DSM-5 afirmam que as pessoas devem exibir, pelo menos, quatro dos seguintes sintomas para serem diagnosticadas com SPD:

– Sempre escolher atividades solitárias

– Distanciamento emocional e falta de expressão emocional?

– Experimenta pouco prazer nas atividades

– Indiferença a críticas e elogios

– Falta de desejo ou prazer em relacionamentos pessoais íntimos

– Interesse mínimo ou ausente em sexo com outras pessoas

– Nenhum amigo próximo além da família imediata

Tratamento do Transtorno de Personalidade Esquizoide

Pessoas com TPE raramente buscam se tratar por conta própria. Muitas vezes, é somente depois que a condição interrompeu severamente vários campos da vida do indivíduo que o tratamento é procurado.

O TPE pode ser difícil de tratar. Além de raramente procurarem tratamento, a psicoterapia é dificultosa àqueles com o transtorno, por acharem difícil criar laços com o terapeuta. Isolar-se socialmente, uma característica desse transtorno, igualmente dificulta a busca de orientação e tratamento.

Estes pacientes frequentemente preferem criar relações mediadas por atividades intelectuais, ocupacionais ou recreativas, uma vez que tais relacionamentos não dependem de autorrevelação e intimidade emocional.

Conclusão

Medicamentos são utilizados para tratar alguns dos sintomas, como os da ansiedade e da depressão. Esses medicamentos são geralmente usados em conjunto com outras opções de tratamento, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) ou a terapia de grupo.

Pessoas esquizoides não estão necessariamente interessadas no relacionamento ou na autoexploração envolvida na psicoterapia. (Rostafinski, 2023) A psicoterapia individual tem potencial intimidador aos pacientes com TPE, porque exige bastante contato compartilhado.

Esses tratamentos serão mais eficientes na medida em que os especialistas em saúde mental forem cuidadosos para evitar pressionar demais os clientes, para que não enfrentem excessivas demandas emocionais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. National Library of Medicine. (2023). Schizoid personality disorder: MedlinePlus Medical Encyclopedia. Medlineplus.gov. https://medlineplus.gov/ency/article/000920.htm

2. Klonsky, E. D., Jane, J. S., Turkheimer, E., & Oltmanns, T. F. (2002). Gender role and personality disorders. Journal of personality disorders, 16(5), 464–476. https://doi.org/10.1521/pedi.16.5.464.22121

3. Triebwasser, J., Chemerinski, E., Roussos, P., & Siever, L. J. (2012). Schizoid Personality Disorder. Journal of Personality Disorders, 26(6), 919–926.

4. Cherry, K. (2006, November 10). Schizoid Personality Disorder Symptoms and Treatments. Verywell Mind; Verywellmind. https://www.verywellmind.com/schizoid-personality-disorder-2795450.

5. American Psychiatric Association. Schizoid personality disorder. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. 5th ed. Arlington, VA: American Psychiatric Publishing. 2013:652-655.

6. Winarick, D. J. (2019). Freudian Views on Schizoid Personality Disorder | Psychology Today. Www.psychologytoday.com. https://www.psychologytoday.com/intl/blog/personality-quotient/201910/freudian-views-schizoid-personality-disorder

7. Rostafinski, T. J. (2023). Schizoid Personality | Thomas J. Rostafinski, Ph.D. Rostafinski.com. https://www.rostafinski.com/articles/schizoid-personality/

Este artigo foi escrito por Jorge Gilberto Castro do Valle Filho (Instagram: @jorge.vallefilho), Médico Radiologista, membro titular da Associação Médica Brasileira e do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem. Especialista em Neurociência e Neuroimagem pela Johns Hopkins University – Maryland/EUA. MBA em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Gestão de Cuidados da Saúde pela Miami University of Science and Technology (MUST University), Flórida/EUA. Formação e Certificação em Inteligência Emocional, Mentalidade de Alta Performance e Gestão de Emoções pelo Instituto Brasileiro de Coaching – IBC. Formando em Psicanálise pelo IBPC.