como ter contentamento

Como ter contentamento numa sociedade insaciável?

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Neste presente século como ter contentamento? Ao mesmo passo que a tecnologia avança e que as facilidades do mundo digital tornam a vida menos penosa e menos árdua, pode-se observar e constatar que a geração atual a cada dia se revela mais insatisfeita, mais infeliz, mais descontente e mais deprimida.

Como ter contentamento

Essa percepção clara que se constitui através da análise de dados e estatística, onde consegue se observar um aumento crescente ao longo dos anos dos transtornos mentais, gera um grande paradoxo: na medida em que se avança nos aparatos tecnológicos que foram criados para melhorar a qualidade de vida do ser humano e satisfazer seus desejos, há uma constatação factual de que mesmo tendo boa parte dos desejos saciados e uma vida super facilitada, o ser humano se apresenta mais triste e com menos vontade de viver.

Pulsão de Vida e como ter contentamento

Sendo assim, é necessário compreender o porquê mesmo tendo uma vida com maior satisfação de prazeres, a humanidade como um todo se percebe mais angustiada. Para isso, primeiramente é importante entender o que é o desejo.

De acordo com Freud, o termo libido significa desejo, vontade e está associado à pulsão, que é uma pressão inconsciente e perene que impulsiona o indivíduo a realizar o desejo em forma de ação. Ele ainda afirma ter dois tipos de Pulsão: uma de vida (eros), e outra de morte (Tânatos). A ênfase será dada à pulsão de vida, que como o próprio nome já diz, nos impele para preservação da nossa existência.

Portanto, segundo Freud a libido é o motor que impulsiona a criação humana, levando assim ao entendimento de que sem ela, o nosso corpo e mente adoecem. É comum vermos indivíduos em estado de profunda depressão afirmando que não tem desejo de viver, que não tem sonhos, ambições, vontade, libido. Ou seja, a falta da libido é extremamente prejudicial, mas o que dizer então do excesso dela?

O problema dos excessos em relação a ter contentamento

O excesso da libido costuma ser prejudicial também, porque pode levar à obsessão, insatisfação constante e descontentamento. É daqui que se origina problemas como o consumismo desenfreado que tanto é estudado pela sociologia e filosofia, no intuito de compreender os problemas que o mesmo tem gerado.

O excesso da libido faz com que as pessoas nunca sintam que tem o bastante, percebam que podem ter contentamento pleno. E quanto mais prazer se tem, mais prazer se quer, até o ponto crucial que suscita uma crise de não compreender o porquê se tem tantas coisas e não se é feliz, ou o porquê de tantos desejos terem sido saciados, e ainda assim não se sentir satisfeito.

Essa insatisfação constante inclusive é incentivada pela cultura de produção atual, onde o lema é: “não perca tempo aproveitando o que já conquistou, olhe para o que ainda precisa conquistar, e se já conquistou tudo que queria, desenvolva novos desejos para conquistar ainda mais”. Esse discurso apresenta-se de certo ponto como benéfico, pois impede a estagnação, e explicita o fato de que é necessário o desejo para que a nossa vida continue se movimentando.

Discurso perigoso

Porém por outro lado, apresenta-se como um discurso perigoso que pode fazer com que as pessoas pautem suas vidas na busca desenfreada e indiscriminada por prazer, e quando esse prazer não for satisfeito por alguma razão, gerará intensa frustração e vazio, a pessoa se dará conta de que nunca será plenamente feliz, porque a sua felicidade está pautada na busca de infinitos desejos.

Neurose, obsessão e sobre como ter contentamento

Dentro desse contexto, emerge-se a neurose, que é um conflito entre a necessidade de satisfação dos desejos e a impossibilidade de realizá-lo de forma imediata. Isso causa sofrimento que pode se manifestar de várias formas, inclusive como psiconeuroses (fobias, obsessões e compulsões).

A neurose obsessiva se dá pelo pensamento fixo em ideias e atos, e a neurose compulsiva tem como objetivo reduzir o desconforto gerado pela obsessão, ou seja, ela traduz os pensamentos fixos em comportamentos repetitivos exagerados. Exemplo disso é o alcoolismo, a compulsão alimentar, o vício em drogas e entorpecentes, o vício em jogos, vício em compras (consumismo exacerbado), e todos os outros tipos de ações exageradas e sem controle por parte de quem as possuem.

Esse descontrole que se origina de fortes desejos, tem acometido uma grande parte da população mundial, que é levada compulsivamente à busca constante pelo prazer. Por isso aparatos que foram criados para nos ajudar, podem facilmente se tornar nossos maiores inimigos.

Conclusão: como ter contentamento

Partindo desse pressuposto, entende-se que a perda dos desejos e ambições, leva o indivíduo à inércia e à paralisação, da mesma forma que os constantes anseios geram insatisfação e inquietação contínuas.

Portanto, como ter contentamento e alegria, se nunca é possível desfrutar do sabor da vitória, em decorrência da preocupação com a próxima batalha? Como se pode prevenir as psiconeuroses que nos aprisionam na busca desenfreada pelo prazer?

O equilíbrio é uma das soluções para a questão. E neste contexto de equilíbrio, cabe uma explicação de Freud em relação ao Ego e ao ID. É do ID que brotam os desejos instintivos, e o Ego é quem decide se esses desejos serão atendidos ou não, sempre levando em conta as exigências do superego.

O ego e o id

Ele faz uma comparação interessante entre o Ego e o ID, um cavaleiro e sua montaria. Normalmente o cavaleiro domina e dirige a sua montaria por onde ele quer. Isso acontece quando o cavaleiro é experiente e fortalecido.

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    Do contrário, a montaria domina o cavaleiro e vai por onde ela quer. Uma pessoa com ego fortalecido consegue equilibrar a satisfação dos desejos, entende que nem sempre eles serão satisfeitos de forma imediata e que podem não ser satisfeitos. O Ego é o filtro que permite o controle dos desejos.

    Não se deve anular os desejos, eles são intrínsecos e necessários, mas eles não devem controlar o curso da vida humana. Desejos são controlados e filtrados por pessoas, quando essa ordem é desorganizada por alguma razão, conflitos angustiantes emergem e causam consequências desastrosas.

    A insatisfação constante

    Uma outra solução para a insatisfação constante existente na sociedade vigente é a gratidão, é saber desfrutar daquilo que já se obteve, é saber reconhecer o esforço empregado na busca, é compreender que a linha de chegada é ilusória, e que o importante é o desenrolar do processo.

    É antecipadamente olhar para todos os desejos que já foram atendidos, antes de olhar para os que ainda serão conquistados. Um bom antídoto para o culto dos desejos e prazeres é o estoicismo, uma corrente filosófica que não atrela a felicidade à concretização dos desejos, mas sim na busca por autocontrole e temperança que reafirma a necessidade que se tem de equilibrar o uso dos bens criados e o domínio da vontade sobre os instintos.

    Freud também compreendeu e concluiu em seus estudos que todo excesso esconde uma falta, portanto, libertar-se dos excessos que norteiam a vida humana deve ser o objetivo central dos seres humanos.

    Este artigo sobre como ter contentamento foi escrito por Ivana Oliveira. Sou aluna do curso de psicanálise clínica. Para entrar em contato comigo só enviar mensagem para meu email: [email protected].

    2 thoughts on “Como ter contentamento numa sociedade insaciável?

    1. Daiane Valadares disse:

      Excelente texto. Irei compartilhar em meu grupo de mulheres, muitas pessoas estão vivendo esse tipo de sofrimento. Parabéns

    2. Mizael Carvalho disse:

      Muito bom artigo! A insatisfação cada vez mais está aprisionando as pessoas. Parabéns!

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