conceito de melancolia

Conceito de Melancolia na psicologia

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“Oh, pedaço de mim Oh, metade afastada de mim Leva o teu olhar Que a saudade é o pior tormento…” (Chico Buarque) “Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada… a dolorida.” (Florbela Espanca). Nas palavras de Freud, no conceito de melancolia, “a sombra do objeto cai sobre o ego”, ou seja o objeto de certa forma é incorporado pelo sujeito, e passa a fazer parte dele.

O conceito de melancolia

É realmente, um pedaço que por razões que a razão desconhece, foi brutalmente arrancado da vida do melancólico, e vem a “síndrome do coração partido”, o “eu prefiro morrer do que viver sem ele/ela” e a terrível sensação de não ter sido “suficiente” para que o objeto de amor não tenha partido.

Ao contrário dos versos de Camões: “Alma minha gentil, que te partiste, tão cedo desta vida descontente, repousa lá no Céu eternamente E viva eu cá na terra sempre triste.” ,que nos fala do luto, para o melancólico a tal “alma minha” não repousa no céu, pelo contrário, anda bem viva, e certamente já é objeto do afeto de um terceiro…

Esta é a diferença entre luto e melancolia. No luto, o objeto de amor/afeto, realmente não está ou não poderia estar presente, e com o isso, o investimento de energia vai aos poucos se desfazendo, passo a passo, fase a fase, a pulsão de vida vai se reestabelecendo e o falecido deixa de fazer parte do mundo “real”, visto que, segundo nosso Camões, “repousa lá no céu” e repousa eternamente, ou seja, segundo as crenças religiosas de cada um, só depois de partir dessa terra de dor e sofrimento, ou numa próxima encarnação, o enlutado pode se reencontrar com o ente que se foi, levado nos braços da morte.

A tristeza no conceito de melancolia

Essa triste certeza de que o ser amado, no qual foi investido tanta emoção, partiu e não volta, na questão do luto, faz com que, de certa maneira, não haja mais esperança, e aqui, reside o inferno do melancólico, a certeza de que o objeto de amor e desejo, a razão do “afeto”, a força motriz da “razão de viver”, se foi, por livre arbítrio, e portanto, enquanto há vida há esperança, e assim o melancólico se põe a esperar, e enquanto isso sofre como se lhe faltasse um pedaço.

Alguns sublimam, escrevem versos, produzem obras de arte, outros racionalizam, buscam entender os motivos da perda do objeto, mas, aí encontramos a diferença entre o estado psicótico e a psicose em si. No estado psicótico, e estamos falando dos melancólicos, portanto vamos nos manter dentro dessa categorização.

Diante de tudo que nos foi ensinado, no nosso processo de socialização, via sociedade e mídia, sofrer por amor é aceitável, são dezenas de milhares de obras de ficção enaltecendo a dor do amor, a saudade, e a “melancolia”.

O estado psicótico

O estado psicótico portanto, fica ali, no limite entre neurose e psicose, o que se conhece como personalidade borderline, o ego ainda mantem contato com a realidade e portanto é capaz de utilizar algumas de suas defesas na “luta” contra sua destruição e ruptura perante a psicose melancólica.

Na melancolia psicótica não acontece o mesmo. O psicótico vai se defender do ego, pois não pode aceitar a realidade.

“A melancolia é, em si, o que Freud chamou (mas que logo perdeu-se como conceito) de neurose narcísica, denotando uma dificuldade ou impossibilidade de transferência libidinal (isto é, a libido volta-se em favor do próprio sujeito narcisista, não se eternaliza).”

A baixa autoestima e o conceito de melancolia

Ora, sendo a melancolia uma psicose que se origina do narcisismo, numa situação em que o ego não se considera capaz de atingir o ego ideal, sintoma de baixa autoestima portanto, e o melancólico vê, mais de uma vez certamente, o objeto de sua estima, que fazia parte do seu próprio ser, o repudiar, como na primeira infância em algum momento, de forma real ou imaginária, foi repudiado pela mãe, a qual ainda sentia como parte de si, toda a dor do primeiro abandono retorna.

Me pergunto, seria a psicose da melancolia responsável pelo sujeito melancólico buscar objetos de afeto que não apenas o complementem na sua busca por um ego ideal, mas também por objetos de amor que certamente o abandonarão para que a mais uma vez ele esteja “certo” ao afirmar que nunca será suficientemente “bom” ? O melancólico sabotaria suas relações por medo da “certeza do abandono”?

Conclusão

O fato é, melancolia, também chamada de psicose maníaco-depressiva, não é luto e não é “depressão”, não creio que se enquadre apenas numa questão da perda do objeto de amor ou numa deficiência de produção da química cerebral.

É uma psicopatologia que infelizmente acaba sendo idealizada pela questão artística e midiática, e deve ser observada com atenção, pois diante dessa dor e sofrimento, a perda da pulsão de vida é tal, que muitas vezes medidas extremas podem ser a única saída para o psicótico.

O presente artigo foi escrito pela autora Ana Blotta ([email protected]). Ana é formada pela PUC RJ em Sociologia e Politica, decidi cursar Psicanálise na busca não só de uma nova carreira mas também de autoconhecimento neste momento de Pandemia do Covid. Escritora de ficção, apaixonada pelos mistérios da alma humana, moradora de Petrópolis RJ, busco nos meus textos neste blog unir e explicar as noções de psicanálise numa linguagem coloquial, com um certo humor e leveza, permitindo ao leitor não apenas compreender, mas repensar.

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