Crise da meia idade

Crise da Meia Idade: um olhar da psicologia

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Ainda persiste um debate entre os analistas convergentes e os divergentes dentro das ciências ‘psi’ ou ciências ‘P’ (Psiquiatria, Psicologia e Psicanálise) do que seja o período denominado meia-idade. O critério cronológico que é a faixa etária ainda tem sido alvo de controvérsias. Contudo, já fixaram que crise da meia idade começa aos 40 anos e se estende até aos 65 anos.

Alguns analistas defendem 70 anos como o limite entre meia-idade e a velhice, ou a melhor idade, que começaria aos 70 anos até o óbito. Outros ainda postulam que a meia idade oscila entre os 40 aos 75 anos e após seria a velhice. E por fim, existem os que entendem que acima dos 40 anos começa o período da maturidade e não tem outro limiar.

Entendendo a crise da meia idade

A linha divisória seria a tanatologia ou morte e luto. O que já é constatado é que quando o homem e a mulher atingem uma faixa de 40 a 50 anos de idade, chamada de auge da vida, se instala uma crise denominada crise da meia-idade.

Este fenômeno é biopsissocial e independe de classe de renda, posição social, local de nascimento, sexo, raça, estado civil, ideologia, signo entre outros pressupostos.

A crise da meia-idade é considerada uma crise inevitável e pode ser antecipada ou postergada, vai depender de um feixe de fatores, como grau cognitivo da pessoa, sua formação acadêmica, uso de álcool e drogas, cultura, estilo de vida, depressão, separação, filhos, patrimônio, como usa o estoque de tempo, aposentadoria ou não, se ainda não tem expectativa de aposentadoria, tipo de carreira, ou seja, dependerá do histórico de vida pregresso de cada singularidade.

Mas, afinal, o que é essa crise da meia idade?

A crise da meia-idade pode ser uma crise severa e ter ataques de pânicos, ansiedade, angústia, gerar depressão e neurose e até em alguns casos psicose e ideação suicida. Essa crise é a consciência da pessoa de que esta envelhecendo e deve encarar a morte.

Ocorre uma associação dessa autoconsciência com um sentimento de quase pânico ou de pânico que será gatilho de uma angústia. Pessoa que tem um histórico de família desestruturada ou de pais ansiosos e impulsivos pode ser gatilho para agravar mais ainda o quadro da crise da meia-idade porque a pessoa introjetou aquele tipo de formação, ou seja, inscreveu no seu registro inconsciente e não esqueceu o que sua família legou.

A situação familiar pregressa tem um peso forte na crise da meia-idade porque sendo algo bem estrutura vai fornecer mais instrumentos e juízos de valor para se tentar lidar melhor com a crise. A proporção da crise da meia-idade vai depender de como a pessoa foi formada e instruída e o que ela herdou do patrimônio familiar como um todo sistêmico.

A crise da meia idade e a função fisiológica

Alguns analistas associam a crise da meia-idade com o climatério tanto masculino como feminino, ou seja, onde ocorre paulatina e crescente diminuição da função fisiológica em ambos os sexos, que é chamado de climatério. Nas mulheres chamam de menopausa. Porém, em que pese o biológico, a crise da meia-idade tem expressão psicológica.

É uma crise psicológica muito severa e complexa e a nível mental. Porque a pessoa de forma consciente e inconsciente vai matematizar sua vida, em termos de prazo de validade.

É comum a auto percepção ou reflexão de quanto tempo ainda tem até morrer. Quando a pessoa é acometida por uma patologia severa, de caráter oncológico (câncer) passa a ser um gatilho muito mais forte que pode desencadear um quadro de ataque de pânico grave e a pessoa pode até surtar quando se instala a crise da meia-idade.

Porque o indivíduo começa a pensar que esta declinando, uma sensação de que esta descendo uma lomba abaixo. Outros abrem a janela a noite e começam a abstrair o universo olhando para os céus e se questionar: afinal, quem sou, de onde vim e para onde vou ? Vou voltar ? Tem reencarnação ? Existe Deus ? Quem criou então Deus ? O que será de mim após morrer ? Vou virar ossos e ficar depositado onde ? Serei esquecido ?

Reflexão e aflição

A crise da meia idade é ativada com mais vigor nesses momentos de reflexão e aflição. Soma-se a isto ainda, aqueles que sofrem da síndrome do ninho vazio, ou seja, os filhos já foram embora. Mais agravado ainda se a pessoa é viúva (o). A crise da meia-idade gera o desespero.

As pessoas em processo de autorreflexão geralmente fazem correlações e levantam questões psicológicas profundas e intimas. Algumas tem percepção de que é preciso viver rápido, o aqui-e-agora. Passam a refutar toda visão de investimento no ainda-não ou adiamento de satisfações, pois tudo tem que ser o já-provisório.

Instala-se o sentimento de que não dá mais para esperar por nada, que falta pouco tempo. Alguns frequentemente dizem, olha esta perto, tenho que viver, pois, me resta pouco e matematizam, faltam ‘x’ anos. Começam a somar os dias e horas que viveram.

A instabilidade emocional da Crise da meia idade

É comum pessoas em crise de meia-idade expressar que somou tudo e esta vivendo 570 mil horas, que o ano tem 8.760 horas e que esta com mais de 65 anos e precisa viver cada minuto e cada hora como se fosse morrer daqui ‘’ horas. A instabilidade emocional muito forte nas pessoas que não conseguem lidar com a crise são gatilhos que disparam mais crises.

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    Algumas comentam, que se consideram prisioneiros da atmosfera terrestre, dependentes do oxigênio, pior que os peixes, pois estes estão presos na hidrosfera, que usam oxigênio dissolvido na água, mas tem o mar todo e que gostariam de ser um peixe.

    Parafraseando o personagem Lawrence da Arábia, filme épico de 1962, quando ele diz a um beduíno, venho da cidade dos gordos e dum pais que tem uma Marinha Naval grande e busca dominar os oceanos, mas o deserto é o oceano de vocês.

    Uma crise existencial

    A crise da meia-idade é uma crise existencial. Quanto maior for o nível cognitivo da pessoa maior poderá ser a crise. A pessoa se sente impotente e começa a refletir se teve ou não condições de realizar mudanças em sua estrutura de vida. Existe quadro de arrependimentos.

    A crise da meia-idade é considerada um dos momentos mais dolorosos dos seres humanos. E logo é pensado, os animais estão isentos dessa crise. Mudanças psicológicas começam a aparecer na pessoa madura e podem ter um impacto dramático sobre o senso de self da pessoa. Tudo agravado pela diminuição da eficiência biológica da pessoa que esta envelhecendo, com a idade cronologia e já começam surgir enfermidades biofísico-químicas.

    Cabelos brancos, formação de gases, perda de dentes, daí vem à fase dente de ouro, visão fraca, catarata, torna-se mais lento (a), açúcar no sangue, pedra nos rins, chumbo nos pés, ferro nas articulações, pressão alta ou baixa, dores como enxaquecas, possíveis nódulos. Impõem-se reações como mudança de hábitos, ir para academias, ainda escassas para maduros.

    Uma instabilidade psicológica

    Numa sociedade que não dispõe de equipamentos sociais para maduros fica a crise mais agravada. Não raro alguns procuram o suicídio. Outros são colocados em abrigos e literalmente esquecidos. Isso abala a saúde emocional. E quem tem um fraco ajuste psicológico terá uma crise meia-idade mais alta.

    O tempo de duração da crise ainda é uma incógnita. Algumas pessoas levam quase cinco anos para sair da crise meia-idade outras conseguem em meses uma remissão gradual e ir vivendo até o óbito. A instabilidade se agrava para lidar com a mudança da imagem corporal.

    Alguns recorrem as cirurgias plásticas, implantes de dentes, uso de perucas, roupas jovens num esforço de aparência jovial. O declínio sexual pesa muito nas autorreflexões. Crenças são abaladas.

    Considerações finais

    Muitos laços sociais são fonte de desgastes e correm o risco da baixa autoestima. Alguns se agarram ao poder familiar ou organizacional e liderança patriarcal para buscar lidar melhor e tentar manter o controle sobre o auge da vida e usa mecanismo de defesa maduros, mas sabem que a crise é um rito de passagem de todos e que o óbito será uma realidade.

    Este tema vai ganhar grande destaque na Psicanálise do futuro, nas emergentes sociedades pós e trans modernas dos tempos líquidos disruptura e era do algoritmo.

    O presente artigo foi escrito por Edson Fernando Lima Oliveira. Licenciado em História e Filosofia; PG Ciências Políticas, acadêmico de PG em Psicanálise e pesquisador da Psicanálise Clinica. E-mail: [email protected]

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