Você conhece a relação entre depressão e melancolia ? Antigamente a melancolia era o sintoma do século, hoje em dia, no século XXI, o mal estar é a depressão (maníaco-depressivo), que se mostrou a doença mais letal, mais comumente em jovens e adolescentes.
Vamos começar esmiuçando sobre a depressão. Freud em seu livro ‘’O mal estar na civilização’’, diz que os sintomas de mal estar no ser humano é devido a repressão de seus desejos, somos ‘’animais domesticados’’ para que seja possível viver em sociedade, e principalmente em uma sociedade capitalista, onde é exigido um padrão de normalidade, de conseguir sucesso, e uma modernidade do imediatismo e do consumismo, onde a procura da ‘’formula magica’’ para a felicidade é uma procura insaciável.
Uma visão da depressão e melancolia na psicanálise
Devido a essas altas demandas (viver em sociedade, reprimir desejos, conseguir sucesso, riquezas, não ter tempo para elaborar seus sentimentos por ser regida pelo imediatismo e consumir desenfreadamente) do mundo externo, o sujeito entra em colapso, em um conflito entre o EGO e o IDEAL DO EGO (padrões e modelos ideias que serve de referência ao EGO que se submete a esse ideal) que o pressiona para que consiga alcançar suas expectativas fantasiosas e que muitas vezes, se não todas, são inalcançáveis, o que o leva a um estado deprimido de frustrações que pode ser intoleráveis, e que pode até mesmo levar ao suicídio.
É importante pontuar que a depressão é um estado inerente ao sujeito, ela faz parte do nosso psiquismo, todos temos momentos de tristeza, fases em que estamos bem, outras em que estamos mal, a patologia da depressão está na quantidade de tristeza envolvida e de sua estrutura psíquica gerando alguns dos seguintes sintomas:
- Tristeza profunda;
- Crises de choro, podendo estar acompanhada de pânico;
- Autorrecriminação, podendo estar acompanhada de auto punição e/ou mutilação;
- Perda de interesse do mundo externo e de coisas que antes servia de satisfação e prazer pessoal;
- Ansiedade;
- Isolamento;
- Alucinações;
- Em casos extremos, pensamentos suicidas.
Depressão e Melancolia
Como vimos mais acima, a depressão está entre o conflito do EGO e IDEAL DO EGO, o IDEAL pressiona o EGO a alcançar o que ele quer, se o EGO estiver muito fragilizado ele pode adoecer com tanta expectativa.
O tratamento adequado é trabalhar o EGO do sujeito para que ele consiga elaborar todas as fantasias do ideal do ego e avaliar o que realmente lhe cabe no momento, e fortalecer o vínculo com ele mesmo, deixando claro que estar triste faz parte da nossa natureza humana e que é preciso elabora-la para resolver esses conflitos de acordo com a realidade.
Já na melancolia pode ser considerada, em alguns casos, mais graves que a depressão, tendo em vista que o conflito nesse caso seria entre o EGO e SUPEREGO, e sempre está relacionada a perda.
Desenvolvimento psicossexual, depressão e melancolia
É semelhante ao processo de luto, os dois há a perda e o desinteresse pelo mundo externo, porém no luto a perda é real e possível de elaboração, em um processo normal, o sujeito retira o investimento libidinal do objeto perdido e com o tempo a libido vai sendo direcionada a outros objetos.
Na melancolia, o sujeito não retira a libido do objeto, pelo contrário, o sujeito introjeta o objeto para dentro de si, em um processo de simbiose, onde o EGO não sabe quem se perdeu, se foi o objeto ou ele mesmo. É como se parte de si mesmo fosse perdido junto com esse objeto.
Está ligada a fase oral do desenvolvimento psicossexual (neuroses de: dependência, medo do desamparo, baixa tolerância à frustração), dessa forma, quando há a fixação nessa fase, o sujeito ao investir a libido no objeto desejado, ele faz um processo de identificação, que é o mesmo que acontece na fase oral quando o bebê tem o contato com os pais ‘’no ato de devorá-lo realizavam sua identificação com ele’’ (FREUD, pg.149, IMAGO, 1925), uma fase do narcisismo primário, necessário para que o bebê organize sua psique e forme sua identidade.
O ego
Mas quando adulto, o que era para ser investido no outro, voltou para o próprio ego do sujeito, e a isso se da o nome de narcisismo secundário. Por isso que quando o objeto amado é perdido, o EGO sente como se tivesse perdido parte de si, porquê ouve uma identificação com esse objeto.
Nesse sentido, o sujeito está impossibilitado de elaborar o luto, e entra em um estado de melancolia de:
- Tristeza profunda;
- Desânimo;
- Perda do interesse pelo mundo externo;
- Perda da capacidade de amar;
- Sentimento de culpa como se ele próprio tivesse ocasionado o motivo da perda;
- Perturbação da estima de si a ponto de se auto recriminar e uma expectativa delirante de se punir;
- Tendência suicida.
Os pensamentos e tentativas de suicídio aqui é comum, pois como há a perda do eu imaginária, o sujeito não vê nada mais além da sua dor da perda do outro e de si mesmo. Ou seja, ele não vê mais sentido na existência, parte dele morreu junto com o objeto amado.
A tristeza da depressão e melancolia
A depressão e a melancolia são sintomas de tristeza muito parecidos, mas devem ser analisados com extremo cuidado para se identificar a diferença de cada quadro para que o analista possa aplicar o tratamento adequado e mais eficaz ao paciente, pois a depressão, como é um afeto, só é um estado patológico quando a tristeza interfere em todas as áreas da vida do sujeito desencadeando vários outros sintomas como a ansiedade e o complexo de inferioridade de um conflito entre o EGO e o seu IDEAL DE EGO, já a melancolia é um estado em si mesmo patológico, pois a uma perda imaginária de si mesmo que se enquadra em uma estrutura psicótica.
Importante lembrar que o pensamento ou a tentativa de suicídio não está no desejo do sujeito em tirar a sua própria vida, de não existir mais, mas no desejo de que a dor que ele está sentindo para de doer, que cesse.
Nesses casos, para o sujeito encontrar a solução nessa atitude violenta, ele já tentou de tudo, mas não conseguiu fazer a dor cessar, e a única solução que encontrou foi o suicídio.
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Conclusão
Por isso o apoio da família, amigos ou pessoas próximas são de tamanha importância para a sua recuperação, e a busca por um profissional é essencial para que o sujeito consiga elaborar suas tristezas, expectativas, angústias e consiga aliviar a sua dor, porque com força e tempo tudo se ajeita, todos os dias nós morremos e renascemos, bem como a metáfora da fênix. ‘’Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses.’’ (ALVES, Rubem).
O presente artigo foi escrito por Diovana Cristina dos Santos ([email protected])
2 thoughts on “Depressão e Melancolia: conceitos e diferenças na Psicanálise”
EXCELENTE EXCLARECEDOR.
Muito bom!