depressão na perspectiva cristã

Depressão na perspectiva cristã: entre doença e possessão

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Nunca será fácil definir o que é a depressão e depressão na perspectiva cristã. O conceito passou por mudanças substanciais ao longo dos séculos. Falando como um cristão convicto, a depressão bem sempre existiu, ela vem assolando a humanidade desde que nossos primeiros pais desobedeceram a Deus no Jardim bendito, trazendo ruína e sofrimento para si e para a sua posteridade.

Entendendo sobre a depressão na perspectiva cristã

No capítulo nove de seu provocativo livro: “Uma Biografia da Depressão”, Christian Dunker inicia uma espécie de entrevista com a senhora depressão. Ao perguntar: quem é você, Depressão? A resposta foi:

“Tenho muitas faces e várias encarnações, sem mencionar o fato de que eu ando frequentemente mascarada. Costumam me reconhecer por pelo menos três condições psíquicas distintas que podem ocorrer de forma associada.” (Uma Biografia da Depressão, Dunker Christian)

A seguir, Dunker lista as três condições psíquicas que comumente definem depressão: luto patológico, sintoma narcísico e por fim, uma depressão estrutural; uma posição do deprimido diante da realidade –certamente uma posição ligada a certas experiências primárias e traumáticas.

Definindo a depressão na perspectiva cristã

Se é difícil definir depressão, não é menos difícil definir suas causas. Tem haver com o ambiente ou o clima como pensavam os antigos gregos? Ou é causada pelo déficit de certas substâncias no cérebro? Déficit esse causado por luto, traumas, falta de reconhecimento etc. Ela é uma doença, como definiu Hipócrates (460 – 370 a.C.) chamando-a melancolia (ou bílis negra)?

É uma desordem psiconeurótica? Ou um transtorno definido pelo DSM da versão de 1952 como “reação depressiva”? O capítulo nove da obra de Dunker se trata de uma mini enciclopédia para entender a depressão. Dunker é sarcástico em muitos momentos, mas suas definições são assertivas tanto do ponto de vista histórico como também do ponto de vista científico. Mas, porque será que é tão difícil definir a depressão, uma vez que ela prolifera no mundo. Hoje, a depressão já é considerada a doença mais incapacitante do mundo, além de ser uma das que mais matam – uma vez que o suicídio está associado a quadros depressivos graves.

Cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio ao redor do mundo todos os anos. Nem a violência, nem a guerra ou a fome tem ceifado tantas vidas como a depressão. Pois bem, a despeito da dificuldade de defini-la, precisamos falar sobre esse tema. Entretanto, não é somente na sociedade que a depressão é mal compreendida e por vezes estigmatizada como sendo frescura, muito tempo no ócio ou coisas do tipo. No meio cristão, a depressão é também por vezes mal compreendida e tratada de uma forma que acaba por mergulhar o depressivo ainda mais na depressão.

Ideias Erradas sobre o que é Depressão

Gostaria de elencar algumas das ideias errôneas que grassam no meio cristão sobre a depressão e acabam por contribuir para que os crentes que se encontram em estado depressivo demorem ou nem mesmo procurem ajuda psicológica. Há aqueles que acreditam que a depressão é sempre obra demoníaca. Essa ideia foi popularizada no meio cristão em nossos dias por meio de um evangelista pentecostal chamado T. L. Osborn.

Osborn teve um ministério completamente voltado para missões, estima-se que ele tenha pregado o evangelho em 78 nações. Seu foco era o anúncio do evangelho acompanhado de curas e de expulsão de demônios. Osborn escreveu profusamente sobre o tema das missões e os eventos miraculosos que a acompanham.

Nesse sentido, Osborn, que certamente enfrentou contextos de profunda opressão demoníaca nos lugares mais ermos do mundo onde ele se dispôs a ir evangelizar, concluiu que a depressão é atividade de opressão dos demônios sobre uma pessoa.

Pois bem, Osborn disse a verdade, só não disse toda a verdade

É bem sabido que em um mundo que está imerso nas trevas espirituais, os demônios possam atormentar as pessoas trazendo-lhes profunda tristeza e pensamentos suicidas, basta-nos ver o caso de Saul (I Sm 16.14-23), e de um jovem rapaz israelita ao qual Jesus libertou (Mt 17.14-21).

Contudo, seria um erro crasso afirmarmos que todos que padecem de depressão no mundo estão possessos por demônios. Isso porque, caso admitamos que depressão é sinônimo de estar possesso por demônios, o que dizer dos exemplos de homens de nossa própria seara, cristãos, que foram afligidos pela depressão? O que dizer de Elias? Ou de Davi nos Salmos (32, 38 e 51) que desnudou sua alma, evidenciando uma depressão espiritual que acometeu este servo do Deus vivo. O que dizer de Jó? Servo fiel e temente ao todo poderoso mas que, ainda assim, passou por diversas agruras que o lançaram num mar de desespero (Jó 6.26).

Ou o que dizer de David Brainerd, que diante da contínua contemplação de suas misérias, e diante da persistente recusa dos índios norte americanos de receber o evangelho, era levado a momentos sombrios de depressão como relata seu diário?! O que dizer de John Bunyan, autor do clássico O peregrino? Bunyan passou 14 anos de sua vida preso em Bradford por conta da pregação pública do evangelho.

Tristeza e depressão na perspectiva cristã

Ele era lançado de tal forma em demasiada tristeza, que certamente quando relata a história de Cristão e Esperançoso no castelo da Dúvida, e o desejo de cristão de suicidar-se, era até certo ponto, uma cogitação sua diante de tantas circunstâncias adversas. O que dizer de Charles Spurgeon? Que enfrentou severas crises de depressão em meio ao seu longevo pastorado em Londres; crises tal, que ele precisava se ausentar por um tempo do pastorado, a fim de cuidar-se física e mentalmente. Spurgeon padecia de gota, e sentia no físico e na mente as agruras desta doença.

Além disso, não raro, o príncipe dos pregadores, precisava enfrentar ferrenha oposição dos jornais e autoridades londrinas. Certa feita, num culto no fim de outubro de 1856, enquanto Spurgeon pregava a sua congregação, um incêndio se alastrou pelo prédio deixando 7 pessoas mortas e 28 gravemente feridas. No dia seguinte, todos os jornais londrinos lançavam sobre os ombros do então pastor de 22 anos, recém casado a culpa pelo ocorrido. Spurgeon entrou num período trevoso de depressão a ponto de sua esposa afirmar que achou que nunca mais o veria no púlpito pregando.

Duas semanas depois, quando Spurgeon conseguiu reunir forças para subir de novo ao púlpito, foram essas as palavras dele: “Nesta manhã, quase me arrependo de ter me aventurado a ocupar esse púlpito, pois eu me sinto profundamente incapaz de pregar-lhes para seu bem. Eu tinha achado que o silêncio e o repouso dessa última quinzena já tivessem anulado os efeitos daquela terrível catástrofe, entretanto, ao voltar novamente ao mesmo local, e mais especificamente, ficando aqui em pé para me dirigir a vocês, sinto um pouco daquelas mesmas emoções dolorosas que me deixaram prostrado. Portanto, me perdoem nesta manhã (…) Fiquei completamente impossibilitado de estudar (…) Oh, Espírito de Deus, aperfeiçoa tua força na fraqueza de teu servo, e capacita-o para honrar o Senhor, mesmo quando sua alma está abatida em seu interior”. (A Depressão de Spurgeon, SwineZack)

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    A causa de Deus

    Todos estes exemplos são de homens que estavam trabalhando na causa de Deus, e em certo momento da vida, se encontraram em depressão. No entanto, não precisamos dizer o óbvio: eles não estavam endemoniados.

    Mas há ainda aqueles que afirmam que a depressão é um problema eminentemente ligado ao pecado. Jay Adams, pastor e teólogo Presbiteriano foi partidário desta ideia. Bem, não é preciso muita perícia para diagnosticar que muitas pessoas que se encontram em depressão estão nessa situação por conta de pecados; basta olharmos para o Salmos 32, 38, 51, e veremos Davi em um quadro depressivo em decorrência de pecados cometidos e muitas vezes ainda não confessados e abandonados.

    Davi, na condição de rei em Israel, cometeu atos horríveis tais como: adultério, assassinato, mentiras. Nos Salmos mencionados acima, temos os relatos do próprio Davi de como esses crimes, e a ausência de confissão, o lançaram em momentos de profunda depressão. Ademais, temos aqui um importante ponto de contato com a análise.

    A consciência do depressivo

    Como no relato de (2Sm 12) em que um profeta vem até ele para expor seus crimes, mas o faz através de uma história e nesse processo analítico o próprio Davi chega à conclusão de que ele errou. O interessante é que não foi antes disso que ele se viu em profunda depressão mas depois! Antes de conhecer sua situação interna, Davi estava alheio às suas mazelas.

    Ainda assim, o pecado não pode ser a causa absoluta da depressão no mundo, se o fosse, então, primeiro: os cristãos seriam o grupo com maior número de casos, uma vez que a vasta maioria das pessoas vivem suas vidas de tal forma que o pecado não faz parte de seu vocabulário cotidiano. O povo que de fato trata deste conceito e é subjugado pela consciência dele diariamente são os crentes.

    Em segundo lugar, se o problema da depressão estivesse inerentemente ligado ao pecado de forma absoluta, então pessoas que tivessem resolvido o problema de sua culpa pecaminosa não mais seriam pegas num contexto depressivo. Mas como sabemos, este não é o caso. Nós cristãos temos há tempos tratado desse tema inclusive, sob outros nomes como o da melancolia, que Christian Dunker chama de irmã mais velha da depressão.

    A Depressão na Tradição Cristã

    É impressionante como ao estudar a longa tradição cristã que tratou desse tema, vemos uma compreensão que se aproxima em alguns sentidos, da compreensão da psicanálise sobre o tema. Sobretudo, no fato de não enxergar nunca, a depressão de forma simplista e desleixada.

    A tradição cristã não nega a importância dos medicamentos em muitos casos de transtorno depressivo, mas certamente entende e, em parte, concorda, com a crítica de Dunker a cultura de medicalização que se estabeleceu nessa área com a chegada dos antidepressivos. Como nós, os cristãos que se livraram dos extremos já citados, entendem a depressão? Suas causas? Sua cura?

    Para tratar das causas da depressão, irei me valer da ampla tradição puritana deste assunto. Os ministros puritanos eram chamados “médicos da alma” por conta de sua capacidade de identificarem as diferentes situações e experiências da alma.

    A doença da melancolia e a depressão na perspectiva cristã

    Em sua abordagem da depressão, no contexto deles denominada “doença da melancolia”, os puritanos identificaram três causas como sendo a origem da depressão:

    – As circunstanciais – As constitucionais (com ênfase na melancolia) – As espirituais

    Muitas vezes, a causa da depressão na vida de uma pessoa são as circunstâncias nas quais ela está inserida. Talvez um relacionamento que chegou ao fim, ou a perda de um ente querido, ou talvez um importante emprego que foi perdido.

    Perceba que, não obstante essa causa possa levar a pessoa a melancolia e a enxergar a vida com os óculos negros da desesperança, nada até o momento em que algo desagradável lhe acometeu dava indícios de depressão. A depressão, nesse caso, aparece como uma resposta imediata às circunstâncias do momento.

    A cura para a depressão

    Elias padeceu desse tipo de depressão (I Re 19). Após algum tempo no ministério extenuante por conta da apostasia que imperava em Israel naqueles dias, Elias caiu num poço de desespero em uma gruta no monte Horebe. Por um momento, Elias tirou seus olhos de Deus e os fixou nas circunstâncias ameaçadoras provindas das ameaças de Jezabel; Elias fugiu para uma gruta escura fazendo uma leitura assaz pessimista da situação à sua volta. Naquele momento, achou que só ele havia sobrado no meio daquela onda de apostasia.

    Além disso, quando mais precisou de seu moço que lhe servia, Elias caiu na peça que a depressão muitas vezes nos prega: você precisa ficar um tempo a sós consigo mesmo. Elias dispensou seu moço para se afundar em solidão, no momento em que mais precisava de companhia. A cura para a depressão de Elias envolveu várias técnicas que hoje são utilizadas pelos profissionais da alma. Deus o tratou por meio da sonoterapia. Muitas vezes a mente da pessoa depressiva fica extremamente agitada; seu corpo padece, e sua mente não consegue desligar. Nestes casos, um descanso por meio do sono se faz necessário.

    Deus alimentou Elias; recobrar as forças físicas por meio da alimentação é importante no tratamento da depressão. Deus o chamou para fora da caverna a fim de que ele pudesse desabafar: como é importante colocar nossas dores para fora! A assepsia da alma não será completa enquanto não verbalizarmos o que nos aflige. E por fim, Deus deu a Elias novos óculos. Óculos de esperança! Entretanto, há duas outras causas que estes denominados médicos da alma — os puritanos — identificaram como molas propulsoras para levar uma pessoa a depressão. A primeira destas duas, são as chamadas “causas constitucionais”.

    O desenvolvimento do puritanismo e a depressão na perspectiva cristã

    É interessante notar que, no período de origem e desenvolvimento do puritanismo, não havia se desenvolvido ainda a psicologia como a conhecemos hoje. Quando os primeiros puritanos lidavam com o que hoje denominamos depressão, eles a chamavam de “melancolia”. Veja o que o pastor puritano Richard Baxter diz em um de seus sermões sobre as causas e a cura da melancolia:

    “A doença chamada ‘melancolia’ se encontra formalmente no estado de espírito, cuja indisposição o incapacita para o trabalho, uma vez que influencia a imaginação, o entendimento, a memória e as afeições; portanto, por meio dessa indisposição a faculdade de pensar se encontra doente e se torna como um olho inflamado ou um pé torcido ou destroncado, incapacitada para um funcionamento adequado”. (Superando a Tristeza e a depressão com a fé, Baxter Richard)

    Perceba a parte onde Baxter afirma que, a doença da melancolia, se encontra formalmente no estado de espírito da pessoa. Esta é a segunda causa — e também a mais comum — da depressão. A pessoa não consegue encontrar alegria ou esperança na vida, e isso, independente das circunstâncias. O sentimento de tristeza que acomete tal pessoa não é, necessariamente, a resposta dela às circunstâncias a seu redor. Ela não está doente, por exemplo, ou sofreu uma perda amorosa, não!

    Hipócrates e a depressão na perspectiva cristã

    Mesmo quando as circunstâncias vão bem, a pessoa parece enxergar o mundo sempre cinzento, sombrio, e é incapaz de se alegrar com a vida — pelo menos de maneira robusta. Não à toa, Hipócrates pensava que o estado de espírito depressivo estava relacionado com os fluídos corporais, especificamente com os procedentes da Bilis.

    Para o seu tempo, certamente foi uma explicação bastante satisfatória para explicar a depressão. Essa causa – a constitucional – é extremamente mais complexa que a circunstancial uma vez que, se algo externo tem trazido tristeza, segue-se que quando os ventos mudarem, a condição interior também tende a mudar — ainda que não seja sempre o caso.

    Mas nas causas constitucionais, geralmente o processo de tratamento é muito mais complexo e delicado. E, deve-se levar em conta a possibilidade real de que muitas pessoas simplesmente não vencerão absolutamente todas as tristezas de sua alma. O pastor John Piper em seu livro: “Quando a escuridão não passa” menciona brevemente a história de William Cooper, um poeta inglês do século 18 que enfrentou depressão por toda a vida, tentando pelo menos 4 vezes o suicídio.

    Hinos cristãos

    Cooper escreveu vários hinos cristãos; ele se converteu em um clínica para pessoas com doenças mentais, onde um maravilhoso encontro com Evangelho em Rm 3.25 o levou a Cristo. Pouco tempo depois, Cooper conheceu aquele que seria o bálsamo de Deus para suas feridas: John Newton.

    O pastor britânico que é o autor do hino: Amazing Grace, conheceu Cooper no dia em que foi consolar a família Cooper por conta da morte do pai de William. A partir desse dia nunca mais se distanciaram e, nas palavras de Cooper: “Nenhum homem jamais teve um amigo tão sincero e carinhoso”. Deus usou seu servo John para, nas palavras de Piper: “cuidar do jardim abandonado da alma de Cooper”. O título deste capítulo do livro de Piper é: “Amando aqueles que não conseguem enxergar a luz”.

    Talvez uma pessoa simplesmente não sairá inteiramente do quadro depressivo no qual se encontra — ainda que ela experimente momentos esporádicos de rara alegria. Talvez, precisaremos apenas estar sempre ali, ao lado dela, tentando trazer esperança e alegria em seus momentos sombrios. John Newton sacrificou pelo menos um período de suas férias anuais do pastorado, para não deixar Cooper por muito tempo sozinho.

    A psicologia cristã e a psicanálise

    A história de Cooper é um outro importante ponto de contato entre a tradição da psicologia cristã e a psicanálise. Isso porque, em tempos científicos como os nossos, não há espaço para doenças sem cura! Temos ânsia por curar! Como os inibidores seletivos de recaptação de serotonina não irão curar a depressão? Eles são a linha de frente! A depressão tem cura! A história de Cooper nos diz que não é bem assim.

    Além disso, sobre a depressão na perspectiva cristã, a cultura da medicalização abre um ponto importante para a discussão, e não estou falando dos efeitos colaterais de antidepressivos. Mas, do próprio conceito de cura. Será que um comprimido pode mesmo resolver todos os conflitos internos de uma pessoa. O antidepressivo alcança a alma? A psiquiatria responde a depressão na maioria das vezes com medicamentos.

    É a cultura do “comprimido para o deprimido”. Já a psicanálise, e a psicologia Bíblica, preferem a via do diálogo, a fim de que o deprimido possa procurar remediar a sua situação por meio da palavra. Respondendo a pergunta acima: a palavra alcança a alma. Quero deixar claro que eu mesmo tive que tomar Cloridrato de Sertralina, um inibidor seletivo de recaptação de serotonina. Não tenho absolutamente nada contra os antidepressivos, mas tenho certeza que numa época em que eles não existiam, a palavra ajudou milhares de pessoas a enfrentar suas mazelas existenciais.

    Causas espirituais

    A outra causa diagnosticada pelos puritanos são as causas espirituais. Já vimos brevemente que embora as causas espirituais sejam reais, não são sempre o fator determinante para a depressão — como é comumente tratada no meio evangélico. Vimos que os demônios, capangas de Satanás, podem oprimir de tal forma uma pessoa, que a leva a profunda tristeza e desespero (I Sm 16.14-23; Mt 17.14-21).

    Para os que se encontram nesse estado, somente a liberdade proporcionada pelo Senhor Jesus pode trazer alívio. Parte do ministério da igreja na terra é expulsar os demônios da vida daqueles a quem eles têm oprimido. Isso fazemos por meio de oração exorcizante com imposição de mãos em nome de Cristo (Mt 17.21; Mc 16.16), e principalmente, por meio da clara instrução da palavra de Deus (II Tm 2.24-26).

    Vimos também que a depressão pode estar ligada à questão espiritual do pecado. Talvez um pecado oculto não confessado e abandonado ainda, pode lançar a pessoa em um poço de tristeza e desespero. Davi disse no Samos 38.3b: “nem há paz em meus ossos, por causa do meu pecado”. Muitas pessoas podem enfrentar momentos sombrios por conta de sua consciência que os acusa de algo que foi praticado, e é assumidamente aceito como errado.

    Misericórdia divina

    A saída nesses casos se encontra em confessar nossas culpas em quebrantamento e contrição, e apelarmos para a misericórdia divina, tal como Davi o fez nos salmos 32, 38 e 51.

    Aqui, estou ciente de que Freud poderia muito bem dizer tratar-se de uma neurose coletiva ocasionada por uma cultura repressora por parte da igreja e da Bíblia. Eu responderia simplesmente que não é esse o caso, mas isso não vem a discussão por agora.

    Conclusão: sobre a depressão na perspectiva cristã

    O fato é que um diálogo entre a psicanálise e o cristianismo quando o assunto é depressão é possível sob alguns aspectos, tais como a ênfase na palavra do analisando como uma das principais formas de tratamento, a preocupação pelo ser humano integralmente, a ausência de uma ânsia tresloucada por “curar” um depressivo.

    No entanto, as diferenças entre ambas tem se feito sentir, sobretudo no que tange a antropologia. Freud, aceitou como genuína as teorias Darwinianas sobre a evolução das espécies, e em certo sentido, até a usa para explicar certos fenômenos psíquicos que se originam de nossos ancestrais mais primitivos.

    A ansiedade é um destes fenômenos. Para Freud ela é adaptativa, e uma espécie de mecanismo de defesa, preparando o animal – e o humano – para um perigo iminente. O caso é que nós humanos, tentamos não apenas estar preparados para o perigo iminente, mas também queremos antecipar futuros perigos que talvez não irão se concretizar.

    A tradição cristã

    Já na tradição cristã, a antropologia é bem diferente. Afirmamos sem sombras de dúvida que, não fosse um infeliz episódio no qual nossos primeiros pais – Adão e Eva – desobedeceram a Deus nos primórdios da criação, e certamente não haveria ansiedade, depressão, e nenhuma mazela de qualquer tipo.

    Isso pode parecer simplista, mas não é. Cremos que o ser humano é criação direta de Deus, uma criação perfeita, e que, não fosse a grande tragédia do pecado, ainda seria uma criação perfeita. Sendo assim, na tradição cristã, toda e qualquer desordem psíquica no indivíduo tem a sua gênese no mal do pecado, que se infiltrou na criação perfeita de Deus, por meio da ação deliberada da própria humanidade. Pois bem, são antropologias diametralmente opostas, admito. A psicanálise lhe chamará de uma robusta introspecção, pois as respostas para seus conflitos estão dentro de você. O cristianismo até admite a introspecção, mas frisa o fato de que os conflitos internos têm uma origem externa – o pecado – e uma solução igualmente externa – a obra sacrificial de Jesus Cristo na cruz.

    Ainda assim, com a depressão na perspectiva cristã, creio que um diálogo aberto e sem preconceitos, pode ser de grande valia para ambas as tradições. Afinal, ambas afirmam a completa dignidade do ser humano, dignidade essa que nem a depressão, nem qualquer outra coisa pode tirar-lhe. As pessoas são extremamente e integralmente importantes, e a psicanálise tanto quanto o cristianismo sabem disso.

    Bibliografia sobre o artigo: depressão na perspectiva cristã

    “Como lidar com o drama da depressão” – artigo escrito pelo pastor Hernandes Dias Lopes em 2008. Devo a ele este tratamento peculiar da depressão de Elias em meu texto. Quando a Escuridão não passa – John Piper.

    Moldados por Deus – John Piper

    O peregrino – John Bunyan

    A depressão de Spurgeon – ZackEswine

    Depressão e graça – Wilson Porte Jr

    Superando a tristeza e a depressão com a fé – Richard Baxter

    O demônio do meio dia – Andrew Solomon

    Em busca de sentido – Viktor E. Frankl

    Este artigo sobre depressão na perspectiva cristã foi escrito por Bruno Damasceno O. Tomé([email protected]), concluinte do Curso de Formação em Psicanálise.

    One thought on “Depressão na perspectiva cristã: entre doença e possessão

    1. Edson+Fernando+Lima+de+Oliveira disse:

      Show de bola. Uma ótima interface. Gostei muito desse enfoque do ilustre Bruno Damasceno.Parabéns. Veja que, a Psicanálise pode sim, e esta provado por vários artgos, analisar coisas consideradas impossíveis por muitos. Existem as seguintes interfaces: a primeira delas foi a interdisciplinariedade, que começou a melhorar as coisas, na pré, entre e pós guerras; depois veio a segunda, a multidisciplinariedade, bem pós guerras. Depois veio a pluri e trans disciplinariedade, coisa da transição da modernidade para pós-modernidade.. Hoje em dia, já temos a poli, a meta e a ecodisciplinariedade, esta ‘eco’ é recente, envolve o meio ambiente. Um dos exemplos, recentes artigos sobre plásticos no mar, que os peixes comem e já estamos com isso em organismos humanos, ou seja, polímero líquido tóxico cancerígeno, coisa que não sabiam bem antes da visão e percepção polidisciplinar. A Psicanálise pecou muito por negar muitos operadores a conhecer melhor e fazer interfaces mais profundas e foi perdendo espaços. Tanto é verdade que já temos a neuropsicanálise bombando. Porque anlisitas se negam a fazer interface com DI diagnósticos por imagem e se entrosar com médicos. Isso é ausência de interface, resulta na Psicologia e Psiquiatria a frente. Outro dia, numa conversa com psicanalista, ele reportava que se nega a ler o DSM-6, novo, que vai ficar no lugar do 5, e o CID-11, alegando que isso é coisa de Psiquiatra. Então, é falta de visão inter, pluri, trans, multi, poli, meta e eco disciplinar. Quando certa vez disse, olha, dá para usar a Psicanálise para analisar fato bíblicos, alguns deram quá quá quá. Hoje sabem que dá. Quando Davi tocava arpa ele acalmava Saul, que pegou uma lança e tentou matar o jovem que havia degolado o gigante Golias, após abatê-lo com uma funda. Como é que vamos entender melhor Psicanálise sem enter por ex, Jó e sua depressão, e por ai. Concordo com tais reflexões.

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