desenvolvimento da personalidade

Desenvolvimento da personalidade: teoria de Erik Erikson

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Erik H. Erikson (1902-1994) foi um psicanalista, autor de relevantes ideias sobre o desenvolvimento da personalidade, crises de identidade e desenvolvimento ao longo do ciclo vital.

Erikson e o desenvolvimento da personalidade

Nascido na Dinamarca, Erikson era judeu e não conheceu seu pai biológico. Foi cuidado por sua mãe dinamarquesa e por um pai adotivo de origem alemã. Viveu na Alemanha e fugiu para os Estados Unidos durante a ascensão das guerras mundiais.

Inicialmente seguiu carreira como artista, mas posteriormente dedicou-se à psicanálise por influência de Anna Freud. As diversas crises experimentadas por Erik Erikson durante sua vida produziram nele grandes reflexões sobre a construção da personalidade.

Devido a isso, Erikson elaborou sua Teoria do Desenvolvimento da Personalidade, que é amplamente estudada por várias áreas do conhecimento e será resumida neste texto.

Definição de Personalidade

Segundo o dicionário de português da Oxford Languages, a palavra Personalidade no campo da Psicologia significa o “conjunto dos aspectos psíquicos que, tomados como uma unidade, distinguem uma pessoa, especialmente os que diretamente se relacionam com os valores sociais”.

Os traços de personalidade que definem quem nós somos são determinados por:

  • Fatores biológicos: herança herdada dos nossos pais pela genética.
  • Fatores contextuais: experiências aprendidas na interação com o meio social.

Para Erikson, a personalidade tem a ver com: – um senso de ser único, diferente dos outros; – uma percepção de si mesmo e do mundo.

Crises Psicossociais

Para Erikson, a personalidade se desenvolve de forma saudável através do crescimento fisiológico, do amadurecimento mental e do aumento da responsabilidade social. Todo este processo é chamado por ele de “Desenvolvimento Psicossocial”. No entanto, o desenvolvimento da personalidade não se dá da mesma forma para todos.

Na visão de Erikson, nós passamos por “crises”, que são conflitos internos e externos vividos nos períodos de grande mudança que enfrentamos em cada fase do desenvolvimento. Assim, para este psicanalista, o desenvolvimento saudável da nossa personalidade está relacionado a uma boa ou má resolução dos momentos de crise.

Princípio Epigenético e o desenvolvimento da personalidade

O desenvolvimento psicossocial segue uma sequência de estágios onde as nossas capacidades motoras, sensoriais, cognitivas e sociais se aperfeiçoam para lidarmos melhor com o mundo à nossa volta. Cada estágio que vivemos, desde a infância até a velhice, aprimora as características da nossa personalidade.

O 2º estágio é mais complexo que o 1º, o 3º depende do funcionamento do 2º, e assim por diante… Esta progressão do desenvolvimento em estágios mais complexos recebeu o nome de “Princípio Epigenético” por Erikson.

Estágios do Desenvolvimento da Personalidade para Erik Erikson Sabendo então que a personalidade atravessa crises cada vez mais complexas para progredir nos estágios de desenvolvimento, vejamos agora os principais traços adquiridos em nossa personalidade através da teoria psicanalítica de Erik Erikson:

Confiança vs Desconfiança e o desenvolvimento da personalidade

No primeiro estágio, que vai do nascimento até 1 ano de idade, o bebê é totalmente dependente do cuidador, precisando dele para ser alimentado, higienizado e sentir-se seguro.

A personalidade aprende a capacidade de Confiar nas pessoas quando é bem cuidada ou Desconfiar delas se não acreditar que o mundo não pode prover o necessário. A força básica adquirida pela personalidade é a Esperança de que o mundo é bom.

Autonomia vs Vergonha e Dúvida

No segundo estágio, entre 1-3 anos, a criança começa a explorar o ambiente, agarrar e soltar objetos a sua volta, reter ou expelir fezes e urina, mas ainda é totalmente dependente do adulto. A personalidade é capaz de ter Autonomia, mas por vezes pode sentir Vergonha ou Dúvida por fazer algo errado e sofrer represália. A força básica adquirida pela personalidade é a Vontade de ter ou fazer algo.

Iniciativa vs Culpa

No terceiro estágio, entre 3-5 anos, a criança ganha novas capacidades cognitivas e motoras, sendo um pouco mais independente dos pais do que no estágio anterior e usando eles como modelo para o comportamento adequado ou inadequado (ex: a menina que quer se parecer com a mãe, ou o menino que quer parecer o pai).

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    A personalidade desenvolve mais Iniciativa para explorar o mundo e sente Culpa ao ser reprimida ou ter comportamento inadequado, mas por vezes pode sentir Vergonha ou Dúvida por fazer algo errado e sofrer represália. A força básica adquirida pela personalidade é o Objetivo de alcançar metas.

    Indústria vs Inferioridade e o desenvolvimento da personalidade

    No quarto estágio, entre 6-11 anos, a criança entra na escola e aprende novas habilidades e conhecimentos como meio para ser elogiada, adora exibir suas produções e seus feitos, também tem as primeiras amizades com crianças de mesma idade. A personalidade desenvolve a capacidade de Indústria, ou de ser reconhecida por sua produtividade.

    Quando não é incentivada ao obter êxito ou reconhecida pelas pessoas, ela desenvolve sentimento de Inferioridade aos outros. A força básica adquirida pela personalidade é a Competência, utilizando suas habilidades com sucesso e sentido-se útil.

    Identidade vs Confusão de Papéis; No quinto estágio, entre 12-18 anos, o adolescente entra na puberdade e sofre grandes alterações em seu corpo e hormônios, iniciando a aquisição do corpo adulto. Ele busca formar sua identidade, ter um senso de quem é, qual seu lugar e quem quer se tornar – para tanto, se reúne em grupos sociais, exclui outros e cria fortes ideais. A personalidade solidifica sua Identidade ou vivencia uma grave Confusão de Papéis, a chamada “crise de identidade” da adolescência. A força básica adquirida pela personalidade é a Fidelidade a suas opiniões, ideias e ao seu “eu”.

    Intimidade vs Isolamento e o desenvolvimento da personalidade

    No sexto estágio, entre 18-35 anos, o adulto vive uma fase mais independente, assumindo um trabalho produtivo e estabelecendo relacionamentos íntimos amorosos ou de amizade.

    A personalidade aprende os limites da Intimidade ou, se não consegue vivenciar tais momentos, experimenta a sensação de Isolamento dos laços sociais produtivos, sexuais ou de amizade.

    A força básica adquirida pela personalidade é o Amor que desenvolve pelos seus parceiros, família e trabalho com quem tem um compromisso.

    Generatividade vs Estagnação

    No sétimo estágio, entre 35-55 anos, o adulto está mais maduro e pronto para se preocupar com as próximas gerações através da orientação e educação dos filhos, adotando o papel de pai ou mãe ou envolvendo-se em instituições sociais de comércio, governo ou acadêmicas.

    A personalidade desenvolve a Generatividade, ou seja, a preocupação com gerações futuras, ou sente-se Estagnada por não dar vazão aos seus aprendizados que poderiam ser transmitidos às novas gerações. A força básica adquirida pela personalidade é o Cuidar de si e dos outros.

    Integridade vs Desespero

    No oitavo estágio da personalidade, dos 55 anos em diante, a velhice gera uma profunda avaliação sobre o que foi feito ao longo da vida, trazendo o sentimento de satisfação ou decepção.

    A personalidade experimenta a sensação de Integridade, realização com o que foi vivido até então, ou o Desespero por ainda não ter concluído seu projeto de vida.

    A força básica adquirida pela personalidade é a Sabedoria de lidar com a existência como um todo, suas conquistas e falhas.

    Conclusões sobre o desenvolvimento da personalidade

    Concluímos que a teoria de Erik Erikson apresenta ideias para análise de personalidades: – confiantes ou extremamente desconfiadas, – mais autônomas ou duvidosas, – que possuem maior iniciativa ou sentem-se culpadas a todo instante, – que são produtivas e prontamente realizam suas tarefas ou sentem-se inferiores às outras, – que têm uma identidade estabelecida ou vivenciam crises de identidade que duram toda a vida, – que sabem se relacionar intimamente ou preferem se isolar, – preocupadas com o cuidado dos outros ou paralisadas no tempo, – íntegras com os resultados que alcançaram ou desesperadas com a iminência de morte.

    Sendo assim, a partir da pertinente Teoria do Desenvolvimento da Personalidade de Erik Erikson, ao longo deste texto é possível refletirmos sobre as crises que foram bem ou mal resolvidas em nós e nos outros ou sabermos sobre o porquê de este ou aquele traço de personalidade.

    Indicações de leitura

    1) Erikson. “Oito Idades do Homem”, capítulo 7 do livro Infância e Sociedade (um texto síntese de sua teoria).

    2) Shultz & Schultz. “Erik Erikson: Teoria da Identidade”, capítulo 6 do livro Teorias da Personalidade (uma introdução à teoria de Erikson).

    O presente artigo foi escrito por Raphael Aguiar. Teresópolis/RJ, contato: [email protected] – Formando em Psicanálise (IBPC), Pós-graduando em Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem (PUC-RS) e Terapeuta Ocupacional (UFRJ). Atuação clínica na área de Saúde Mental na Infância e Adolescência.

    One thought on “Desenvolvimento da personalidade: teoria de Erik Erikson

    1. Mizael Carvalho disse:

      Muito bom artigo! Interessante ! Sempre observo nas pessoas da terceira idade, que no caso aqui é o “oitavo estágio”, elas fazem o que eu costumo chamar de retrospectiva, falam que a atitude que foi tomada na época poderia de sido diferente.

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