Especial Dia das Crianças: a Psicanálise de Melanie Klein

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Aqui no Brasil, o dia das crianças é uma data muito celebrada. Nas televisões, você certamente vê inúmeros anúncios de brinquedos. Além disso, não há como negar que os shoppings ficam cheios nessa época do ano. Diante disso, nós Psicanálise Clínica queremos falar com você neste post sobre a Psicanálise de Melanie Klein.

Caso você não tenha lido nossos posts anteriores, saiba que os estudos dela são voltados diretamente para as crianças e os relacionamentos desde a nossa primeira infância. Retomamos as ideias da psicanalista por entendermos que, mais do que comprar presentes, é necessário entender o que é ser criança.

Breve biografia de Melanie Klein

Melanie Klein nasceu em 30 de março de 1882 em Viena e morreu Londres em 22 de setembro de 1960. Ela foi uma psicanalista austríaca, sendo geralmente classificada como uma psicoterapeuta pós-freudiana.

Seu pai era um estudioso do Talmude que aos 37 anos rompeu com a ortodoxia religiosa e cursou Medicina. Já sua mãe era comerciante e se manteve judia. Além disso, ela possuía uma personalidade tirânica, possessiva e destruidora. Consequentemente, ela provocou vários problemas para Melanie em decorrência de intromissões na vida adulta dela.

Ademais, Melanie era a quarta filha do casal e não foi desejada. Assim sendo, sua juventude foi marcada por uma série de lutos. Muitos provavelmente foram responsáveis pela culpa, cujos vestígios se encontram na obra teórica da autora. Entre esses lutos, se encontra o de sua irmã quando ela pequena e o do pai na adolescência. Por fim, há também o de seu irmão, já muito próximo em sua vida adulta.

Em 1896, Melanie entrou para Medicina no Liceu Feminino. Porém, após o casamento em 1903, passou a fazer cursos de Arte e História na faculdade de Viena. Depois de se graduar, teve 3 filhos. Em 1960 ela ficou anêmica e em setembro foi operada de um câncer do cólon. Morreu no dia 22 de setembro, com 78 anos de idade. Assim, apesar de toda a infelicidade, teve uma vida próspera com sua família e em sua profissão.

Melanie e a Psicanálise

Contato com a Psicanálise e vida profissional

Seu primeiro contato com a obra de Sigmund Freud foi em 1916, em Budapeste. Ademais, no tocante à Psicanálise, ela fez análise com Sándor Ferenczi e, estimulada por ele, iniciou o atendimento de crianças. Como já dissemos, é por essa razão que trazemos uma reflexão sobre sua obra em outubro, mês das crianças.

Sua entrada como membro da Sociedade de Psicanálise de Budapeste ocorreu 3 anos depois, em 1919. Em 1929 foi que ela conheceu pessoalmente Freud e Karl Abraham, no Congresso Psicanalítico de Haia. Nesse encontro, Abraham convidou-a para trabalhar em Berlim.

Trabalho efetivo com Psicanálise

Em 1921, o marido de Klein se transferiu para a Suécia e Melanie permaneceu em Berlim com os filhos. Já em 1923, passou a dedicar-se integralmente à Psicanálise e, aos 42 anos, iniciou uma análise de 14 meses com Abraham.

Foi durante o VIII Congresso Internacional de Psicanálise, em 1924 que Klein apresentou seu trabalho: A técnica da análise de crianças pequenas.

A psicanálise de crianças pequenas

Nesse estudo, a mãe tem um lugar central como objeto primário na constituição do psiquismo. Afinal, as mães têm uma intuição aguda, um olhar, ouvidos e sensibilidade à angústia e ao sofrimento das crianças. Em seguida, muito cedo, entra o pai, formando o casal parental e toda a sua concepção do Édipo arcaico.

O ato de brincar

Além disso, para Melanie, o brincar equivale ao papel dos sonhos e das associações dos adultos. A partir disso quando via uma criança inexpressiva ou cheia de medos e incapaz de brincar, questionava-se sobre esses limitantes.

Foi assim que iniciou seus estudos sobre noções de fantasias muito agressivas em operação. Fantasias essas que levam ao estancamento do desejo de conhecer e à impossibilidade de se expressar.

Melanie Klein versus Anna Freud

Em 1927, Anna Freud, filha de Freud, publicou o livro O tratamento psicanalítico de crianças e Melanie criticou suas ideias. Esse atrito deu início a um subgrupo kleiniano na Sociedade Britânica de Psicanálise. No mesmo ano, a autora tornou-se membro da Sociedade.

Mais contribuições para a Psicanálise

Entre os anos de 1929 a 1946, Melanie realizou a análise em Dick, um menino autista com cinco anos. Em 1930, começou as análises didáticas e o atendimento de adultos. É possível pensar neste ano como um marco para a intensa produção bibliográfica de Klein. Veremos em seguida que ela foi muito produtiva academicamente.

Em 1932, publicou a obra “A psicanálise da criança”, que foi publicada tanto em inglês quanto em alemão. No ano de 1936, realizou conferência sobre O desmame.

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    Em 1937, publicou “Amor, ódio e reparação”, em coautoria com Joan Rivière. Já em 1942 e 1944, elaborou com seus discípulos a sua teoria.

    Em decorrência das diferentes teorias vigentes, em 1945 a Sociedade Britânia de Psicanálise foi dividida em três grupos: annafreudianos (freud contemporâneo), kleiniano e independente.

    Aos 65 anos, no ano de 1947, Melanie publicou Contribuições à psicanálise. No ano de 1955 foi fundada a Fundação Melanie Klein e, nesse mesmo ano, foi publicado o artigo: “A técnica psicanalítica através do brinquedo”.

    A criança segundo a teoria Kleiniana

    Como dissemos no início, no mês do Dia das Crianças, é importante falar sobre os estudos psicanalíticos voltados para as crianças. Por esse motivo, vamos falar aqui como Klein vê a construção da psique nas interações afetivas no início da vida.

    Para Klein, o inconsciente é habitado sobretudo por fantasias inconscientes. Para ela, essas fantasias são representantes mentais das pulsões instintivas. Elas têm existência no inconsciente sob a forma de uma representação figurativa, tal como um fragmento de cena.

    Assim, as representações evocam estados e significados afetivos. Esses, por sua vez, organizam as emoções enquanto as vivemos. Além disso, todo impulso instintivo é dirigido a um objeto, que é uma fantasia do inconsciente. Ou seja, uma distorção da realidade.

    Mais considerações sobre a criança na teoria de Klein

    Para Klein, as fantasias do bebê se iniciam sob a forma de sensações e aos poucos adquirem uma figurabilidade interna. Esse objeto interno é um dos conceitos centrais do seu sistema e é  uma representação figurativa capaz de evocar afetos.

    No que diz respeito à figura da mãe, ela é primeiramente uma representação parcial como seio alimentador. Este é o primeiro objeto interno do bebê e pode ter qualidades boas ou ruins. Elas, por sua vez, estão relacionadas às funções que executa.

    Essa qualidade é construída com base na saciedade alcançada ou não a figura interna que ele tem. Por exemplo, a fome é uma representação interna. Se o seio mata a fome, a mãe recebe qualidades positivas, se não, negativa.

    Instinto de morte: Klein versus Freud

    Dessa forma, o medo que o bebê sente está nas suas primeiras necessidades. Para Klein, quando esse momento acontece, o bebê é dominado por um medo de desintegração. Esse medo ela denomina de ansiedade de morte. Ela postula que esta ansiedade é originária de uma estrutura instintiva. No entanto, para Freud, o instinto de morte é aquele que se contrapõe permanentemente ao seu oposto: o instinto de vida.

    Vale dizer que esse embate permanente entre o instinto de vida e o de morte ocorre da seguinte maneira: diante da pressão exercida ao nível mental pelas necessidades físicas ligadas à sobrevivência, o bebê é colocado diante de duas possibilidades. Ou o mesmo se organiza para satisfazê-las ou para negá-las.

    Klein, seguindo Freud, considera que quando o bebê tenta satisfazer suas necessidades está sob a influência do instinto de vida. De maneira análoga, quando nega as necessidades, o bebê está sob a influência do instinto de morte. Ou seja, saciar a fome gera atributos bons. Não saciar, atributos ruins.

    Conforme os objetos internos são associados a pulsões positivas e negativas, vão assumindo significados. Consequentemente, esses passam a gerar sentido na vida da pessoa. Como resultado, ações, crenças e percepções tomam sentido e forma seu mundo externo e interno.

    As fantasias inconscientes são evocadas e constroem nossa psique. Além disso, todos os objetos mentais de nossa infância determinam nossa construção afetiva e mental.

    Comentários finais sobre o dia das crianças e a psicanálise de Melanie Klein

    Considerando tudo o que foi dito, é importante se fazer presente. Precisamos entender como nosso relacionamento afetivo influência no mundo interno e externo de quem nos rodeia, principalmente no que diz respeito às crianças com quem convivemos. Se você entendeu bem a preocupação de Melanie Klein, verá que é necessário prestar atenção até nos desejos dos bebês.

    O Dia das Crianças já passou e se trata apenas de um dos 365 dias do ano. No entanto, se você entendeu a importância das interações infantis e quer saber mais sobre a teoria Kleiniana conheça nosso curso EAD de Psicanálise Clínica. Nós abordamos a psicanálise de uma maneira profunda e didática. Além disso, o curso é 100% online e tem início imediato. Confira!

    One thought on “Especial Dia das Crianças: a Psicanálise de Melanie Klein

    1. Iris Milena da Cunha Ramos disse:

      Excelente texto para compreender como surgiram os primeiros estudos abordando a infância na Psicanálise. Obrigada a toda equipe da Psicanálise Clínica!

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