difereça entre ética e moral

Diferença entre ética e moral segundo a Psicanálise

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É importante contextualizar a diferença entre ética e moral, já que a visão sobre ética na psicanálise não converge para a comum gênese filosófica e difere de como se encara – a ética – também em outras áreas. Pensando nisso foi elaborado o texto a seguir: “Diferença entre ética e moral segundo a Psicanálise.”

Notar-se-á que a ética na psicanálise se encaminha mais para a responsabilidade do psicanalista, na regra de abstinência e na questão do manejo transferencial pelo par analítico.

Diferença entre ética e moral na Filosofia

É necessário, também, abordar questões filosóficas semânticas no que tange a diferença entre o conceito de ética e moral; visto que, para a filosofia, já se sabe que a ética se relaciona a uma reflexão sobre a moral de um certo grupo ou sociedade; a um acordo postulado ao bem-viver nela; e a moral, por sua vez, é intrínseca ao sujeito, é só dele.

Para a psicanálise há uma pergunta a ser respondida e uma afirmação a ser compreendida! Ainda mais se tratando do tema sobre a diferença entre ética e moral. A pergunta: por que se deve preconizar claramente a ética? A afirmação: a psicanálise é amoral (diferente de imoral).

Jacques Lacan tornou-se fundamental nesta intrincada questão, ao expor um “caminho” muito claro na questão da ética no contexto psicanalítico: o “desejo do analista”, que nada mais é do que o desejo que a análise prossiga e que o paciente se confronte com sua própria verdade, desejos e tome suas decisões.

Ética versus moral na Filosofia e na Psicanálise: A questão semântica

Freud (1927 – 1931), em “O Futuro de uma ilusão, o Mal-estar na civilização”, deixa transparente “que a psicanálise rompe com a moral filosófico-religiosa e propõe uma ética dos atos e desejos inconscientes ou não sabidos”.

Exalta-se a ética na psicanálise, em contraponto a como se encara – a ética – em outras técnicas psicoterápicas; já que na psicanálise é condição “sine qua non”, justamente, nunca impor qualquer tipo de julgamento de valor, regras, ou críticas no que tange a fala do paciente.

Netto (2014), em importante artigo sobre o assunto, expõe uma pergunta e uma afirmação: “Mas, por que ética e não moral? A psicanálise é amoral! ”

Etimologicamente a palavra MORAL não traduz por completo, a palavra grega originária.

“A palavra ÉTICA origina-se do termo grego ´ethos´, que significa o conjunto de costumes, valores, hábitos de uma determinada sociedade ou cultura.

Os romanos traduziram ethos para o termo ´mos´, ´moris´ (que mantém o significado de ´ethos´), dos quais provém ´moralis´, que deu origem à palavra moral em português” (MARCONDES, 2015).

Explicação pertinente para distinguir os dois conceitos; como sendo diferentes; e o engano semântico advindo de questões de tradução!

Éthica

“Éthica“ possuía, para os gregos, dois sentidos complementares: o primeiro derivado de “êthos” e significava, numa palavra, a interioridade do ato humano, ou seja, aquilo que gera uma ação genuinamente humana e que brota a partir de dentro do sujeito moral, ou seja, “êthos” remete-nos para o âmago do agir, do desejar. Aqui se designa a MORAL!

Por outro lado, êthica – ética – significava também “éthos”, remetendo, aí sim, para a questão dos hábitos, costumes, usos e regras, o que se materializa na assimilação social dos valores. Aqui se designa a ÉTICA!

Resumindo a diferença entre ética e moral

A ética converge a uma reflexão em sociedade sobre o pensando moral de um grupo e a melhor forma de agir e conviver neste grupo. Já a moral é intrínseca ao sujeito, própria dele por inteiro, que caracteriza seu modo de agir (ou não), sentir, ser.

Assim, a questão ética imbrica a uma condição de algo acordado por um certo grupo e a este grupo tenta ser universal, geral. Portanto, quem não segue tais acordos perante este grupo é quisto como antiético.

Já, a moral, diferentemente, é algo relativo, é de cada um. Logo, ser ou não imoral ou moral é algo que depende do que se sente, vem de dentro.

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    Ainda sobre a diferença entre ética e moral

    Daqui advém uma questão conceitual filosófica essencial: por vezes há a incapacidade de o sujeito avaliar se algo para é moral ou imoral; ou seja, pela incapacidade de definir sobre, considera-se aí o amoral (incapaz de discernir).

    Deve-se assim compreender, portanto, que a psicanálise tem sua própria e essencial ética e é amoral!

    A ética e a Psicanálise

    Lacan (1997) cita que, a ética na psicanálise “consiste essencialmente num juízo sobre nossa ação” e completa, “se há uma ética da psicanálise é na medida em que, de alguma maneira, por menos que seja, a análise fornece algo que se coloca como medida de nossa ação – ou simplesmente pretende isso”. E enfatiza que “para medir a eficácia terapêutica é preciso observar o efeito da análise sobre o gozo obtido pelo sintoma e a construção de um saber pelo próprio sujeito a partir da análise”.

    Este “juízo sobre nossa ação” citado por Lacan, talvez implique em considerar, semanticamente, para psicanálise, também muito apropriada a palavra responsabilidade!

    A responsabilidade ética e moral

    Forbes (2012), propõe tal “responsabilidade” ao citar o próprio Lacan: “ser analista é estar em uma posição responsável, a mais responsável de todas, porque ele é aquele a quem é confiada uma operação de uma conversão ética radical, aquela que introduz o sujeito na ordem do desejo”.

    Neste contexto, é de responsabilidade ética de cada psicanalista proceder, em sua própria análise, a uma investigação de seu desejo de ser psicanalista.

    Visto a necessidade de compreender seus próprios desejos e demandas, que diferem das do paciente que, através da livre associação e da transferência profícua, coloca suas demandas e desejos próprios. Faz parte, portanto, da regra de abstinência!

    Considerações finais

    Na psicanálise é essencial ser absolutamente transparente em não fazer promessas de cura absoluta; pois não garante respostas as demandas do paciente uma vez que este – o paciente – deverá, numa terapia psicanalítica ética e responsável, tornar-se capaz de reconhecer suas dores (sintomas), seus desejos; o que o levará a escolhas no caminhar de sua vida de acordo com a “batalha” travada no continente do consciente para onde emergem os conteúdos outrora reprimidos.

    Lacan (1967) esclarece: “ […] então é o analista com sua oferta que cria uma demanda de saber. Mas, eis o ponto ético na clínica, ele cria a demanda de saber e não responde à demanda do cliente, para mostrar que o verdadeiro sujeito suposto saber não é ele, é o analisante, que tem de escutar o que seu ego não quer nem saber.

    O analista não pode responder desse lugar da demanda, o que seria uma impostura, pois ele não sabe de fato. Pode sim apostar que há ali um sujeito do inconsciente e decifrar junto com o analisante”.

    Referências Bibliográficas

    FORBES, J. Inconsciente e responsabilidade: psicanálise do século XXI. São Paulo: Manole, 2012

    FREUD. S. ESB, v. XXI. O futuro de uma ilusão, o Mal-Estar na civilização e outros trabalhos (1927 – 1931). Rio de Janeiro: Imago, 1996.

    LACAN, J. O seminário, livro 7: a ética em psicanálise. Texto estabelecido por Jacques Alain- Miller. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1997.

    _______. A direção do tratamento e os princípios de seu poder; in Écrits. Paris: Senil, 1967.

    MARCONDES, D. Textos básicos de ética: de Platão a Foucault. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

    NETTO, G. A. F. A ética da psicanálise; in publicações “Associação livre: ensino continuado de psicanálise”. Campinas/SP, 2014

    O presente artigo foi escrito pelo autor Marcos Castro. Marcos é Psicanalista clínico, supervisor em psicanálise, pesquisador, professor, escritor e palestrante. Reside em Ouro Fino – Sul de Minas Gerais e faz atendimentos presenciais e online. Contato: Instagram: @marcos_castro_castro (https://www.instagram.com/marcos_castro_castro/).

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