O caso Elisabeth Von R analisado por Freud

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O trabalho de Freud com a histeria teve início em 1892, a partir de um caso emblemático: o tratamento de Elisabeth Von R. 

O trabalho de Freud com a histeria se originou a partir de um caso emblemático em sua carreira. Valendo-se do arsenal que tinha, o mesmo precisou de uma certa reinvenção nos métodos utilizados.

Portanto, a seguir, vamos fazer uma análise do caso Elisabeth Von R e entender um pouco mais sobre a expansão do conceito da histeria.

Sobre o caso

Elisabeth Von R protagoniza um caso clínico de Freud de sofrimento com conversões histéricas. 

Segundo documentos e relatos, Von R possuía dores em suas pernas e delírios sobre perseguição. Ainda assim, a mesma só veio trabalhar essas questões mais ativamente dois anos após o início dos sintomas.

Elisabeth apresentava intensas dores nas pernas, principalmente na coxa direita, que a impediam de caminhar. 

Além disso, sofria com delírios de perseguição. As dores nas pernas estavam relacionadas ao apoio que dava à perna doente do pai quando o ajudava com curativos.

As primeiras abordagens de Freud sobre a jovem incluíam o uso de choque para tratar as dores nas pernas. Entretanto, Elisabeth se mostrava feliz com os fortes estímulos que tinha na região que recebia descargas. 

Em seguida, iniciou o tratamento psíquico através da associação livre para captar fatos sobre a vida dela.

Esse caso é visto como uma evolução do trabalho realizado com Emmy Von N. Por exemplo, o uso da hipnose foi deixado de lado, já que com Elisabeth não tinha utilidade. 

Embora a associação livre tivesse ganhado força, a mesma não possuía tamanha liberdade pois o destino era investigar a origem dos sintomas.

Divisão

Freud dividiu os estágios de sua doença em dois momentos distintos e delicados de sua vida. 

É importante deixar claro que esses pontos foram vitais na construção do declínio psíquico de Elisabeth Von R. 

Foram eles:

1. A morte do seu pai

O pai de Elisabeth era um homem doente e que precisava de cuidados constantes da filha. Sem contar que ambos eram muito próximos um do outro, já que ela minimizava seu sofrimento. 

O que fica documentado e discutido é a ideia de que a sua morte impactou diretamente na filha, a adoecendo.

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    Elisabeth nutria uma forte ligação afetiva com o pai, sendo a filha mais velha e sua cuidadora durante a doença. Freud acreditava que essa relação continha uma repressão de desejos da parte dela.

    Posteriormente, a paciente associou as fortes dores que tinha na coxa com o seu pai. Segundo ela, o local servia de base para apoiar as pernas do pai para que pudesse trocar curativos. Isso se repetiu durante várias vezes sem a atenção plena dela.

    2. A morte de sua irmã

    A concepção de existir um triângulo amoroso não oficial era tema recorrente na perturbação histérica de Elisabeth. 

    Neste ponto, fica ressaltado que a protagonista da sessão sentia culpa por essa figura fraterna. Porém, isso se divide na ideia de que não havia cuidado dela por não poder e os sentimentos por seu cunhado.

    O trabalho de Freud com o caso foi criticado por negligenciar outras perspectivas sobre os sintomas de Elisabeth, como a influência do luto pela perda do pai e da irmã.

    Recursos e livramentos

    Freud investiu bastante no caso de Elisabeth Von R enquanto a tratava, sendo desafiado até. 

    O mesmo percebeu que algumas de suas abordagens não podiam ser empregadas nesta paciente dada algumas circunstâncias. 

    Um dos eventos de transformação em sua abordagem foi o:

    1. Abandono da hipnose

    Freud tentou hipnotizar Elisabeth, mas não obteve qualquer sucesso com a técnica. Não se sabe exatamente o período, mas ele acabou por deixar de utilizar essa ferramenta em suas abordagens. 

    Assim, mesmo sendo um objeto estrutural de sua teoria, isso não impediu se mostrar falho conforme o desafio.

    2. Sugestão

    Sugestão se mostra como o processo de influenciar as decisões e pensamentos de uma pessoa, de modo que ela apenas aceite. 

    Freud costumava deixar o seu paciente livre durante a terapia e depois ia “fechando o cerco”. 

    Ele colocava a mão sobre a testa do indivíduo e fazia perguntas para que se pudesse obter uma verdade.

    Embora ainda usasse a mão na cabeça da paciente, Freud deu mais liberdade à livre associação.

    Após o tratamento, Elisabeth se casou e teve filhos. Foi considerada curada por Freud, mas alguns questionam a efetividade do tratamento.

    A explicação da dor nas pernas

    Elisabeth Von R foi devota nos cuidados do pai quando este ficou doente e isso é de conhecimento universal. 

    O que não se divulga com frequência é que a mesma desistiu de um namorado para cuidar do patriarca. Foi aí que surgiu o primeiro sintoma histérico: a dor na coxa direita.

    A explicação do fenômeno é que ela recalcou toda a ideia erótica que alimentava para longe de sua consciência. 

    Como bem sabe, reprimir ou esconder desejos na Psicanálise se torna um combustível para o desenvolvimento de traumas.

     No caso dela, transformou o afeto e lascívia em sensações físicas de dor no local de apoio do pai.

    Após meses de cuidado, o seu pai faleceu e deixou um vazio no seio da família. Isso acabou por fragilizar ainda mais a saúde da mãe e colaborar para o seu isolamento social. 

    Gradativamente, seu estado de espírito foi se declinando e escurecendo.

    Todo caso de histeria carrega conteúdo sexual

    Avaliando a história de Elisabeth Von R, Freud acabou por dar prioridade à parte sexual do processo. 

    De acordo com a história, Elisabeth nutria uma paixão secreta por seu cunhado, algo que a mãe desconfiava. 

    Em meio a tanta tragédia e o progresso contínuo do seu mal-estar, Freud indicou que sua histeria advinha de conteúdo sexual.

    Nos trabalhos inerentes à Psicanálise, o psicanalista defendia que todos nós fazíamos repressões contínuas ao inconsciente. Tal repressão partia da ideia de rejeição e repudia entregue pela sociedade externa. 

    A fim de não levar represálias, tais desejos e emoções eram escondidos, acumulados, mas acabavam por refletir em nossa postura.

    De acordo com o caso, Elisabeth sofria de uma constante pertencente a essa proposta. A ideia de que ela estava disposta a se casar com o cunhado após a morte da irmã poderia chocar a sociedade local. 

    Mas cabe ressaltar que o caso de histeria Freud e Elisabeth Von R possui dois lados diferentes e conflitantes.

    Inferência

    Chegando ao fim do caso Elisabeth Von R, encontraremos regularmente a expressão “inferência”. 

    Trata-se do ato de tirar conclusões por meio de premissas conhecidas anteriormente vistas como verdadeiras.

    Esse trabalho com Elisabeth é abraçado por uma inferência recorrente por parte do seu psicanalista.

    O próprio Freud defendeu com força a ideia de que a paciente deu um posicionamento positivo à ideia de união. Fica a questão se ele havia decidido por ela que ela imaginou que o caminho estava livre para isso. 

    Isso acaba por levantar a questão sobre a veracidade dos fatos expostos neste caso, já que temos mais a visão do psicanalista do que dela.

    O uso desse recurso fecha em um círculo as camadas pertencentes à realidade. Talvez Freud não tenha mentido de fato, mas acabou por omitir outras perspectivas importantes. 

    O que se pode fazer ao reviver a história é pensar em outras perspectivas a partir dos olhos de Elisabeth.

    Flexibilidade

    Como vimos acima, a inclusão de inferências pode ser um fator prejudicial dentro de um estudo. Isso porque é capaz confundir a audiência, tomando desta a liberdade de ver a real história por trás de uma avaliação

    O levantamento de suposições consegue deturpar e manchar o real significado de um evento.

    No caso de Elisabeth Von R, Freud deixa ambígua a relação e reação dela com o cunhado e a irmã morta. 

    Observando seus escritos, dá a entender que a paciente concluiu por si só que estaria livre para amar o cunhado. Entretanto, a própria Elisabeth em contato com a sua filha afirma que Freud a tentava convencer de que estava apaixonada pelo homem.

    Por isso que se deve estabelecer mais de um caminho para se olhar um caso clínico. Muitos consideram que esse equívoco de Freud acabou por negligenciar outras perspectivas interessantes a esse trabalho. 

    Com isso, se criou um olhar pobre a respeito das possibilidades de resposta clínica para esse estudo em particular.

    Considerações finais sobre Elisabeth Von R

    Essa passagem de vida de Elisabeth Von R levanta muitos questionamentos a respeito da construção histérica em uma pessoa. 

    O relacionamento com o pai e com o cunhado levaram à construção de uma complexa rede de suposições e sofrimento. 

    Neste último, o fato do cunhado ter recebido tão bem parece ter iniciado a abertura de uma represa emocional.

    O caso Elisabeth Von R levanta questionamentos sobre a origem da histeria e o valor das interpretações psicanalíticas à luz do conhecimento atual.

    Quanto ao futuro dela, ambos chegaram até a conclusão de que “estava curada”. Tanto que a observou dançando em um baile de forma autônoma, descobrindo posteriormente que se casou.

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    Assim como Elisabeth Von R, terá em mãos um tempo para se dedicar a si mesmo e encontrar seu aprimoramento.

    Referências:

    1. Freud, S. (1995). Estudos sobre a histeria. Rio de Janeiro: Imago.
    2. Breuer, J., & Freud, S. (1995). Fragmentos da análise de um caso de histeria. Rio de Janeiro: Imago.
    3. Laplanche, J., & Pontalis, J.-B. (1992). Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins Fontes.

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