Neste artigo falaremos sobre o ensino da Psicanálise. Criada por Freud e lançada oficialmente em 1900 com a publicação da obra Interpretação dos Sonhos, que se torna um marco temporal, a psicanálise continua viva e pujante. Ao longo desses 121 anos só fez ganhar força.
Às vezes atacada por outras áreas do saber, às vezes envolvida em algumas polêmicas sobre quem pode ou não atuar profissionalmente, influenciando e sendo influenciada por intelectuais, mesmo não sendo considerada por muitos até hoje uma ciência, como já criticavam os positivistas do século XIX, a psicanálise resiste, evolui e se propaga.
Complexidade, profundidade e consistência no ensino da Psicanálise
Sobre essa questão Ons (2021, p. 28) sustenta que “o saber transmissível da ciência, válido para todos, não é aquele ao que um paciente chega mediante a análise; porém, a lógica com que o paciente chega a ele se baseia nela”. Sem contar que na verdade, o desenvolvimento da psicanálise não seria possível e ela não teria resistido até hoje sem se amparar nos princípios da ciência.
O próprio Freud (2010, p. 294) deixa claro sua visão sobre as críticas à psicanálise quando diz que “o que se depara como preconceito na literatura e na sociedade é o efeito residual de um juízo anterior que os representantes da ciência oficial pronunciaram sobre a psicanálise”. E como anda psicanálise hoje? Até hoje a psicanálise está presente nas universidades como disciplina em diversos cursos das Ciências Sociais, Ciências Humanas e Ciências Biológicas e da Saúde. Também está presente em diversos cursos livres espalhados pelo Brasil que formam psicanalistas todos os anos amparados nas prerrogativas da Classificação Brasileira de Ocupações – CBO que reconhece a atividade como uma ocupação amparada por lei e por que não dizer por Freud que nunca sugeriu, defendeu ou concordou com ideia de que só profissionais da área da saúde pudessem praticar a psicanálise.
Seus estudos, práticas e descobertas eram democraticamente colocados à disposição de todos. Aliás, Lacan (2009, p.18) considerava os textos de Freud maravilhosos e sobre isso ele testemunha que “estes e escritos são de um frescor, de uma vivacidade que não perdem em nada para outros escritos” nos mostrando uma visão ampla que vai além de um possível olhar restrito do ponto de vista dos críticos da época. Tomando como referência todos os fatores mencionados, é possível intuir que a formação de um bom psicanalista não é fácil.
A complexidade do ensino da Psicanálise
Estamos falando de alguém que vai ajudar seus pacientes ou clientes, como alguns preferem chamar, no processo de identificação, amenização e possível cura de problemas emocionais como traumas, fobias e neuroses entre outros. Desta forma a responsabilidade pelo bem estar do outro e a consciência dos perigos que estão envolvidos são grandes. A formação precisa ser sólida, carece de muito empenho e deve seguir o tripé que envolve análise, base teórica, e supervisão. É complexa? A resposta é sim. Exige tempo e dedicação? Sem dúvida. Exige uma consistência que não se restringe somente ao período de formação, mas que é permanente e profunda? Com toda certeza sim.
Calligaris (2019, p.100) trás um relato bastante interessante sobre ler como estudante universitário e ler como um estudante de psicanálise num instituto para formação de terapeuta ao afirma que “há uma diferença entre ler como estudante, que deve dar conta do que aprendeu, e ler como terapeuta em formação, que interpreta os textos a partir da experiência singular de sua própria terapia ou análise” isso durante a parte prática da formação. É possível perceber essa necessidade de dedicação e aprofundamento logo na fase inicial da formação e porque não dizer, desde o primeiro dia de estudo.
Muitos são os conceitos, longa é a história desde os primeiros texto e experiências de Freud, diversos são os psicanalistas, correntes de pensamento e muitas são as relações ou influências entre a psicanálise, filosofia, arte e cultura geral. A carga de leitura é imensa se a intenção for ter uma bagagem sólida, um repertório robusto e um arcabouço suficientemente seguro e que garanta uma prática com resultados efetivos. Uma pesquisa atenta aos principais livros de Freud e seminários, Lacan pode surpreender ao incauto que imagina que para ser um bom psicanalista basta alguns textos e vídeos ou algo ainda mais superficial. Isso sem falar em tantas outras leituras de assuntos correlatos ou nos conteúdos produzidos por tantos outros nomes e escolas da psicanálise desde seu surgimento.
Crescimento contínuo e motivador
Para alguém que começa uma formação na área, principalmente quando bem no início, onde tudo é novo, a quantidade de conceitos e teorias pode assustar no ensino da psicanálise. Entender tudo corretamente epistemologicamente não é fácil, mas é desafiador e motivante.
Perceber a evolução que se dá paulatinamente é gratificante. Mas uma coisa deve ficar clara, gostar de ler, ser curioso, não se contentar em ler palavras desconhecidas e não procurar seu significado, ter foco, determinação e inquietação acadêmica pode tornar a rotina de estudo bem mais suave já que dessa forma as conexões de conhecimentos diversos acontecerão naturalmente. A prática leva a novos hábitos. A repetição facilita a criação de novas trilhas de conhecimentos.
Conclusão sobre o ensino da Psicanálise
Para finalizar, muitas vezes o Id tentará lhe empurrar na direção da busca pelo prazer, que significa a busca por opções melhores para aproveitar o seu tempo do que estudar a psicanálise, mas o superego vai buscar lhe deter. No meio desse conflito estará o ego tentando equilibrar as coisas.
Paralelamente outros conceitos estarão envolvidos tais como o princípio do prazer e o princípio da realidade. Nossa, quanta coisa né? Isso não corresponde a 1% do que faz parte da formação de um bom psicanalista. Certamente o luto narcísico poderá aparecer em algum momento diante de certas perdas oriundas de possíveis escolhas ao longo desse caminho, mas não desista e se orgulhe do caminho percorrido porque nesse caso, os meios justificam os fins. Seja sério e ético sempre. Bons estudos!!!!
O presente artigo foi escrito por Ricardo Gomes da Silva([email protected]). Mestrando em Administração, MBA em Gestão Empresarial e com formação em Marketing. Professor universitário, aluno do curso de psicanálise, mentor de desenvolvimento pessoal e profissional na ONG Genaration Brasil, Hipnoterapeuta, consultor educacional e de competências sociemocionais na Escola da Inteligência do Dr. Augusto.
3 thoughts on “Ensino da psicanálise e formação do psicanalista”
A formação em Psicanálise comentam analista de proa, passa pelo seu foco, que é seu objeto, o inconsciente. Este é o objeto exclusivo e primordial da Psicanálise. A Psicologia tem seu foco nos mecanismos de defesa e no comportamento, usa o estudo do aparelho psíquico mas não tem foco exclusivo como tem a Psicanálise. A Psiquiatria também uso o AP, aparelho psíquico mas tem seu foco na bioquímica cerebral, apela para invasão cirúrgica em parceria com a Neurologia e alopatia. Então, isso precisa fica bem claro ao operador da Psicanálise, o foco é no seu objeto que é o inconsciente. Quem ficar fora desse eixo, não esta fazendo psicanálise. Cada campo do saber tem seu objeto. Isso não quer dizer que outros saberes não possam atuar no inconsciente só que se ficarem no inconsciente estão fazendo psicanálise. Concordo.
Ótima contribuição.
Valiosas observações para quem está em processo de formação e para quem já se formou.
Muito bom artigo! Ajudará os futuros psicanalítas.