escrita automática

Escrita automática e linguagem do inconsciente

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Neste artigo sobre a Escrita automática, apresento algumas reflexões de fundo psicanalítico acerca de um meu poema, escrito em italiano (minha língua natal), a partir dos pressupostos da escrita automática.

Todavia, admito, o poema é apenas um pretexto para falar sobre o Subconsciente, nossa camada psíquica mais profunda. Inevitavelmente, surgirão algumas digressões, isto é, variações no tema.

Obs.: em psicanálise, adota-se preferencialmente a nomenclatura “inconsciente” em vez de “subconsciente”. Ainda assim, alguns autores, traduções e idiomas utilizam muito a ideia de subconsciente. Neste artigo, ambos os termos poderam ser utilizados, com significação similar.

Entendendo a Escrita automática

Aqui e em outras publicações adoto um viés circular, antes que linear (o círculo, afinal, não seria uma linha fechada em si mesma?), ou para melhor dizer, elíptico. É um circular que adentra, vai fundo.

E as digressões, longe de ser evasivas, contribuem para aprofundar mais ainda, além de ser, muitas vezes, anedotas, as quais, como veremos adiante, do ponto de vista clínico, foram amplamente utilizadas pelo psiquiatra e psicoterapeuta Milton Erickson, com diversas finalidades, entre as quais, o intuito de quebrar as resistências mais ferrenhas ao acompanhar seus pacientes em uma jornada de autoconhecimento profundo.

Quem sabe, através desse texto, a leitora e o leitor possas adentrar, ir fundo dentro de si, enquanto os nossos inconscientes se encontram e interagem. Parto do pressuposto que a Psicanálise é uma ciência, em si e por si, não é nenhuma subárea da Psicologia, sendo que as duas se ocupam de questões diferentes, têm abordagens diferentes, e surgiram de maneira diametralmente oposta.

Escrita automática e a Psicanálise

A Psicanálise, que foca no Inconsciente (Ics), surgiu a partir da empiria freudiana, e a partir da práxis clínica, tornou-se uma ciência, dotada de todo um arcabouço teórico peculiar, com consistência de publicações e inúmeros dicionários e vocabulários específicos. A Psicologia, que de forma abrangente foca no comportamento humano, surgiu enquanto teoria, e tornou-se um conjunto de práticas bastante diferentes entre si (TCC, bioenergética, psicologia transpessoal…).

O cognitivo e o comportamental são por ela explicados de maneiras diversas (de acordo com cada ramificação desta ciência) e o enfoque não considera necessariamente o Inconsciente (Ics) e o recalcado que nele tende a se alojar. Vale frisar que, os psicólogos e as psicólogas, em sua grade curricular, cursam uma ou duas disciplinas de Psicanálise (ou seja, 60 ou 120 horas/aulas, em média) e, eventualmente, alguns deles fazem uma especialização em Psicanálise. Eles estudam, quase exclusivamente, Psicologia.

Diferentemente, nós psicanalistas estudamos Psicanálise, e no caso do IBPC, trata-se de uma jornada de 1400 horas/aula, fora cursos avançados e, no meu caso, concluí uma Pós-graduação em Psicanálise, e estou cursando uma em Psicologia Diagnóstica, porque é crucial entender da forma mais assertiva possível quem, de fato, está na nossa frente. Sendo uma ciência autônoma e que se sustenta por si só, a Psicanálise dialoga com as demais, inclusive com a Psicologia. E dialoga com as artes, a literatura e, dentro dela, com a poesia.

Escrever poemas pode ser uma maneira lúdica de entrar em contato com o próprio ID

Sim, a escrita literária ficcional, em prosa, também facilita este encontro e integração. Ambas podem ser utilizadas como complementos da análise. Como chaves de acesso às componentes psíquicas mais profundas.

Se a poesia, de uma maneira geral, facilita a emersão de conteúdos ocultos, a técnica da escrita automática, notadamente associada à corrente artística denominada Surrealismo, permite o afloramento sistemático de material inconsciente, e as respectivas associações.

Jackson Rubem, autor do artigo “Escrita Automática: Psicografia ou Surrealismo Breton?” (2016), entende por Escrita automática, “a capacidade que todo ser humano tem de produzir textos sem a interferência da mente consciente. Ou seja, toda pessoa tem esta habilidade, mas nem todos sabem usá-la”. O artigo encontra-se online no site do autor.

Exemplos

No blog Livro Leve Solto, hospedado no WordPress, há um artigo que, além de definir a escrita automática, traz um exemplo redigido pelo autor ou autora. O título do artigo é: “O surrealismo e a escrita automática”. Segue: “Um post bonito com muita cadência aliviadamente feio escrito com vozes perfeitas azuis rosas e amarelas perdidas no escuro da mão e da noite amada rosa maria escretínio escrutínio renascido da luz”.

A autora ou autor, faz questão de “cutucar” quem lê, ao acrescentar: “Não entendeu? Tudo bem. Eu também não – e olhe que fui eu que escrevi. Essa estranha sequência de palavras foi só uma tentativa de exemplificar a ‘escrita automática’, pilar da literatura surrealista. A ideia é escrever, ininterruptamente tudo o que vier à cabeça, sob o ‘comando’ do inconsciente (ou do subconsciente), indo de encontro à lógica e à razão e ignorando até mesmo as regras gramaticais”.

Trata-se, aqui, de uma definição interessante, original, e regada a subjetividade. É por aí. Aproveito para homenagear o poeta conterrâneo (dessa minha terra adotiva, também chamada de Paraíba), o saudoso Zé Limeira, apelidado “o poeta do absurdo”.

Outros exemplos

Tive o prazer de fazer documentários com os repentistas veteranos da Casa do Poeta Popular, cantadores de viola que conheceram Zé Limeira, em suas perambulações pelo Cariri paraibano. Por que poeta do absurdo? Porque escrevi e cantava estrofes que, como aponta a autora ou autor do blog que acabo de citar, desrespeitam a gramática.

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    Tipo: para rimar com “mês”, Zé Limeira solta sua imaginação e combina os versos da seguinte maneira: “e a batalha dos inguilês” (querendo falar dos ingleses). Seria, Zé Limeira, um surrealista do Semiárido nordestino?

    No site Hisour.com, há um artigo consistente e profundo sobre a escrita automática e o automatismo no design. Quanto à escrita automática, o autor ou autora (o nome não consta), destaca: “O automatismo é o reflexo do inconsciente, o espelho do interior do indivíduo.

    O surrealismo e a Escrita automática

    É uma forma de expressão que sempre existiu e que por anos tem sido equivocadamente considerada uma técnica, sendo este um movimento em si, que dá origem a outras formas de expressão como o surrealismo”. Então cita o fundador do movimento: “André Breton usou-a apenas como uma forma descritiva de surrealismo e não como um movimento em si; Breton definiu: ‘O surrealismo é um automatismo psíquico puro, através do qual se tenta expressar verbalmente, escrito ou de alguma forma o funcionamento real do pensamento’ ”.

    O artigo, ainda, traz a informação de que “Gaetan Gatian de Clerambault, que era diretor do Hospital Psiquiátrico da França, falou de automatismo antes mesmo de Breton, no entanto, ele se recusou a usá-lo como uma forma de interpretar ou ler seus pacientes”. Vale frisar que a sistematização da Psicanálise, por parte de Sigmund Freud, e a criação do Manifesto Surrealista, são fenômenos paralelos, em termos cronológicos. A segunda tópica freudiana, contida em “O Ego e o ID” (1923), foi publicada exatamente um ano antes do referido Manifesto (1924).

    Evidentemente, a difusão da Psicanálise e o seu foco no Inconsciente, prepararam o terreno e viabilizaram o advento do Surrealismo.

    Escrita automática e o subconsciente

    Quanto ao foco no subconsciente, é importante acrescentar que, no mesmo período (em 1921), o psiquiatra suíço Hermann Rorschach criou o famoso teste das machas, cuja interpretação representa uma leitura inconsciente das formas criadas pelas cores, a qual, por sua vez, revela a saúde ou morbidez psíquica do paciente.

    Coincidentemente, no começo deste ano de 2023, fiz questão de me submeter ao teste, e o resultado foi: normal. “Mais ou menos normal”, digo eu, voltando a Freud, e pedindo emprestada a expressão com a qual o Pai da Psicanálise definia a si mesmo e ao próprio equilíbrio psíquico. Como canta o poeta, “de perto ninguém é normal”.

    Quanto às conexões entre Surrealismo (especialmente a escrita automática) e Psicanálise, concordo com Lúcia Grossi dos Santos, quando, em seu artigo “A experiência surrealista da linguagem: Breton e a psicanálise” (2002), aponta: “O surrealismo foi considerado como a via literária de entrada do freudismo na França, mas a história dos mal-entendidos entre Freud e Breton adquiriu uma importância talvez desmesurada, levando os comentadores a estabelecerem, sobretudo, as diferenças entre os dois. Nossa perspectiva é, ao contrário, a de buscar as contribuições e as questões comuns ao campo da psicanálise e do surrealismo”.

    A terapia e o terapeuta

    Quanto à minha experiência de ontem com a escrita automática (não foi a primeira vez que a utilizei, mas desta vez fui mais sistemático), tenho ciência do fato que, todos nós (principalmente nós psicanalistas), precisamos de um analista (ou de uma analista) para conhecermos, de maneira assertiva, as camadas mais profundas de nosso aparelho psíquico. Neste quesito, estou em análise há dois anos, antes já tinha feito terapia, mas com uma psicóloga e, anteriormente, com um psiquiatra que também era terapeuta. Ao todo, fui paciente durante cinco anos.

    A minha análise não só está em dia, como avançou muito, entre o final de 2022 e o começo deste novo ano (2023) a partir de alguns “desvios” da análise stricto sensu. Enfim: rebelde com causa! Parêntese no parêntese (já falei em artigos anteriores sobre o modus operandi que caracteriza a minha mente, no molde matrioska.

    Seria só a minha?), sei como é aflitivo, ou até decepcionante, quando um analisando, notadamente movido por algum tipo e grau de resistência, abandona a análise, deixando o psicanalista como um escultor que, em estado avançado de seu labor em “tirare” (tirar, subtrair, já que o escultor trabalha desta forma, retirando partes de determinada matéria bruta para obter as formas desejadas), é privado da matéria prima, ou seja, da possibilidade de terminar sua obra de arte.

    Escrita automática, Psicanálise e artes plásticas

    É bastante comum ler ou ouvir esse tipo de analogia entre Psicanálise e Artes Plásticas e, no caso específico, a Escultura. Sim, trata-se de uma analogia um tanto ultrapassada, já que, de acordo com Zimerman, a Psicanálise contemporânea é caracterizada pela formação de um par, o que torna obsoleta a imagem do psicanalista enquanto Maestro, assim como poderia ser um escultor.

    O analista é mais um guia, alguém que anda junto, que acompanha, ou ainda, um facilitador. É necessário, também, constatar a obviedade do fato que, a matéria prima inerte, moldada pelo escultor, nada tem a ver com uma criatura animada e complexa qual o tal do ser humano.

    Feitas essas ressalvas, falando como psicanalista atuante, formado por este Instituto, sei da frustração gerada pela “fuga” de alguns pacientes, o que, reiterando, é devido à resistência. Freud alertara sobre esse problema desde seus primeiros escritos, à época dos “Estudos sobre Histeria” (1893-1895). Jahwol, Herr Freud, quanto mais nos aproximamos do núcleo patogênico, mais o paciente será tomado por um patamar sempre maior de resistência.

    Padrões comportamentais

    Confrontar o analista pode remeter à transferência de padrões comportamentais infantis, que como o próprio termo elucida, são “transferidos” da relação filial/parental do analisando para a relação clínica que ocorre junto ao analista dentro do setting (psicanalítico). Mas, e a fuga?

    É aqui que quero chegar! Isso tem tudo a ver com o meu “desvio”. A fuga é um mecanismo de defesa que ocorre perante o medo. O pior medo chega a nos paralisar, a nos congelar. A fuga é um mecanismo mais leve, ou “light”, como se diria atualmente. Onde aprendi? Eis a questão!

    Chegou uma hora, em minha análise, que percebi a necessidade de aprofundar sobre as emoções. Já tinha feito dois cursos breves com o José Roberto Marques (Fundador e CEO do Instituto Brasileiro de Coaching).

    O curso

    Isso foi no começo do curso de formação do IBPC, em 2020. De lá para cá, aprofundei meu conhecimento sobre o funcionamento do aparelho psíquico a partir de vários vieses, a saber: Psicanálise, Hipnose clínica, Coaching, Programação Neurolinguística, Meditação, Mindfulness, Flow, Psicologia Positiva, Psicologia Diagnóstica, Reprogramação Bioneurocomportamental, Lei da atração (ou melhor, da Vibração), Terapia Quântica, Constelação Familiar e Sistêmica, e…Inteligência Emocional.

    Sei, aqui é um portal (ou blog) de artigos de fundo psicanalítico. Orgulhosamente, faço questão de declarar que toda a minha base teórica é firmemente psicanalítica, como já destaquei em outros textos, as coisas não são antagônicas, e sim, dialogam. Por sinal, fecho o parêntese sobre resistência com uma questão a ser ponderada, principalmente, pelos psicanalistas mais ortodoxos, aqueles que menosprezam a Hipnose.

    Em um texto chamado (coincidência ou não…) “Os Seminários didáticos de Psicanálise de Milton H. Erickson” (1983), descobri que o psiquiatra, Dr. Milton Erickson, como já acenei acima, recorria às anedotas para inúmeros fins, entre os quais, para amenizar e desconstruir a resistência. Pessoas hipnotizáveis, quer dizer, pessoas facilmente induzíveis, podem ser auxiliadas a entrar no estado “Alfa” (ondas cerebrais de 14 a 7 ciclos por segundo), ou “Theta” (7 a 4 ciclos por segundo) de forma mais direta.

    Escrita automática e a resistência

    O problema surge quando a paciente resiste, e isso ocorre, segundo minha modesta opinião e de acordo com a minha modesta experiência, devido ao medo do desconhecido. A pessoa tem receio de revelar algo oculto de si, não tanto para o terapeuta, e sim, para si mesma. E é aí que entra a anedota, a analogia, a metáfora.

    Erickson é conhecido pelas suas “metáforas”, mas de fato ele trabalhava mais com analogias e anedotas. As anedotas daquele gênio da psique humana davam como um nó na mente consciente dos pacientes mais resistentes. A saber, os “sentinelas” da mente consciente permaneciam ocupados a desvendar o significado de certa anedota e…les jeux sont faits…enquanto isso, era possível acessar a mente subconsciente, o que permitia a emersão de conteúdos psíquicos ocultos à mente racional da pessoa.

    Já me declarei assumidamente digressivo, então peço vênia à leitora e ao leitor mais impacientes. Tudo isso que escrevi tem um porquê. Mas voltemos, voltemos! Minha análise pessoal me levou a sentir a necessidade de aprender mais sobre Inteligência Emocional. Em miúdos, a análise aumenta a nossa autopercepção, a qual, por sua vez, nos ajuda a perceber as nossas reações emocionais. Inteligência Emocional é algo que pode ser aprendido, desenvolvido.

    Inteligência emocional

    Por sinal, continua não sendo ensinado nas escolas. Voltarei em breve a lamentar este fato (deplorável). Afinal das contas, porquanto eu tenha sido beneficiado pela oportunidade de criar alicerces firmes e consistentes através da excelente escola pública lá na Itália, faço questão de afirmar que, de lá para cá, infelizmente, o sistema escolar, inclusive em países de primeiro mundo, ainda andando teimosamente na contramão da evidência, já destacada por scholars quais o Dr. Daniel Goleman, apenas para mencionar um dos mais proeminentes estudiosos da Inteligência Emocional.

    Quando é muito, movidas por interesses meramente marqueteiros, escolas particulares de elite, qual aquela onde tive o desprazer de deixar que meu filho “estudasse” ao longo de oito longos anos, podem até inserir no currículo (escolar) algo vagamente relacionado à Inteligência Emocional, mas trata-se de um “placebo”, de um paliativo cuja finalidade é mais voltada a gerar um suposto diferencial no mercado, a respeito das demais concorrentes, do que à urgente e necessária educação emocional de crianças e adolescentes.

    Além disso, de que vale você obrigar os pais dos alunos a pagarem trezentos reais por ano letivo (isso há 2 anos), para comprar quatro livros de material escolar de fundo emocional que, mesmo se fosse realmente bom, exigiria um profissional capacitado em Inteligência Emocional e no funcionamento da Psique humana para ensinar as tais noções aos alunos do Fundamental II?

    Desabafo sobre educação formal e Escrita automática

    Por sinal, já que me declarei assumida e orgulhosamente digressivo, aproveito a chance de fazer chegar o meu desabafo sobre educação formal a, quiçá, mais pessoas. Para quem desejar pular esta parte: isso vai além da Inteligência Emocional e tem a ver com Q.I.. Logo, faço questão de incluir neste artigo umas mensagens que acabei de receber via Whatsapp por parte do meu querido filho único, meu herdeiro. Ele mora com a mãe.

    Após ter tomado café da manhã, vi que meu filho tinha enviado a foto de um colega segurando um coelho. Seguiram três mensagens (não vou corrigir, estão transcritas exatamente como chegaram em meu celular):

    “Tu quer adotar esta coelha”?

    “É femea”

    “É bem manchinha docio”.

    O pior foi que, praticamente, acordei com essas aberrações, com aquilo que, no Direito Penal, chamar-se-ia de “destruição ou vilipêndio de cadáver”.

    Exemplificação

    Explico: Sim, cadáver, porque a língua portuguesa já é assassinada diariamente, inclusive por pedagogas! Em sete anos de celibato, após meu divórcio da respeitável mãe de meu filho, conheci inúmeras moças graduadas, pós-graduadas, ou até mesmo Mestras em Pedagogia…supostamente incapazes de distinguir entre “mas” e “mais”, ou “detalhes” verbais, tais quais o “infinitivo” e o “indicativo presente”. Tipo, gente que escreve: “como você estar?”.

    Meu Deus, eu me pergunto como deveria responder a tais asneiras: “Eu estar bem”?! Ah sim, e quando seria estar, elas colocam “está”! Gente… As mensagens de meu filho falam por si só. Sim, mandei reescrever corretamente. “Ah, mas é seu filho que é burro!”, poderia insinuar alguém.

    Infelizmente, não é disso que se trata. Em março ou abril de 2019 tive um affaire com uma moça que, também, estava terminando Doutorado em Letras, embora em outra universidade. Ela disse que, à época, 25% por Doutores PhD, no Brasil, estavam desempregados ou sobrevivendo com algum bico. Ou seja, não estavam exercendo a profissão de educadores escolares ou acadêmicos, e nem a de pesquisadores. De lá para cá, a coisa piorou de maneira dramática.

    Não ouso chutar, mas a estatística é vergonhosa

    Na Europa, apenas 2% dos Doutores PhD não exercem a profissão de ensino e pesquisa, e creio eu que se trate de Engenheiros, Médicos e Juízes, pelo fato que, nas respectivas profissões, ganham muito mais que como catedráticos, aqui é desemprego mesmo, ou bicos quais entregador, digitador de texto etc. Já que anteriormente fiz uma analogia inerente ao campo do Direito, vou fazer outra, ou melhor, vou tomar uma atitude bastante comum naquela área: evito chegar às conclusões.

    A este respeito, já tive o prazer de ler, e até citei em minha tese de Doutorado, “El Don Quixote de la Mancha”. Miguel de Cervantes já me alertara, então abro mão de me expor ao ponto de ser moído! Pelo visto, o problema não é meu filho. Durante a pandemia, ele vinha estudar aqui, utilizando o meu laptop (ou notebook que se queira). Às vezes ia ver se ele estava assistindo mesmo, ou se estava jogando e se distraindo. Em alguns momentos, havia o intervalo, e os alunos enviavam mensagens uns aos outros.

    Meu malgrado, já li asneiras piores daquelas que acabei de citar neste artigo, de autoria do punho escritor de meu filho. Asneiras escritas por colegas dele, alunos de uma das 3 escolas particulares mais prestigiosas (e caras…) desta Comarca. O problema não são os alunos. Se bem que poderiam ler mais, ainda que fossem: receitas de bolo, quadrinhos, ou revistas de fofocas!

    Direto ao ponto

    O problema é sério e, quase a enfatizar esta triste situação, acabei de ler que a Livraria Cultura foi à falência. Direto ao ponto: enquanto sempre mais Doutores PhD são excluídos sistematicamente do sistema escolar e acadêmico brasileiro (“sempre esperando a vez na fila dos normais”, para citarmos Siba, cantor pernambucano), professores e professoras incompetentes e incapazes de ensinar o bom Português aos alunos, estão ocupando as tão almejadas cátedras.

    E a roda gira. Isso vale somente para o português? Não sei. Creia, querida leitora, querido leitor, tenho muitos defeitos, mas não sou invejoso. Por sinal, inveja de quê? Inveja de quem? Voltemos para a Inteligência Emocional. O Q.I., segundo Daniel Goleman (e tantos outros psicólogos e neurocientistas) chega a ter um peso de 20% no âmbito da realização profissional, principalmente no mundo corporativo.

    Já, o peso da Inteligência Emocional é de 80%. Ah, sim, para quem não sabe, Q.I. não é “Quem Indica”, e sim, “Quociente (de) Inteligência”. Qual inteligência? Aquela racional. E a tal da educação formal, isto é, o sistema escolar, o que faz de bom para preparar seus alunos de maneira a ingressarem um mundo profissional que, quase como o nosso aparelho psíquico, é regido prioritariamente pela Inteligência Emocional? Deixo que cada um e cada uma responda…

    Na formação do IBPC

    Pois é, Doutor em Letras há três anos, e com o currículo devidamente depositado em praticamente todas as faculdades da Comarca, além de diversas escolas (inclusive aquela onde meu filho aprendeu o fantástico Português das mensagens acima), de profissão Psicanalista Clínico, Treinador, Coach e Hipnoterapeuta, Prof. De Meditação e Mindfulness (…), resolvi aprofundar sobre Inteligência Emocional.

    A academia, principalmente meu último orientador, o de Doutorado (que por sinal é “dos meus”, já que demorou quinze anos para se tornar professor efetivo, ou seja, pelo visto, é desprovido de Q.I.!!) me ensinou a ir fundo nas coisas. No âmbito da Psicanálise, além da formação pelo IBPC, completei um curso avançado, também oferecido por este Instituto, e completei, também, uma Pós-graduação (Especialização em Psicanálise). Quanto à Hipnose, já em posse do título de Master Hipnoterapeuta, estou na décima formação, e tive o prazer de aprender com alguns dos melhores hipnoterapeutas ingleses e escoceses da atualidade (além dos brasileiros).

    Pelo que concerne aInteligência Emocional, estou em uma formação Master, a minha quinta, ministrada pelo Sênior Coach, Sr. Robin Hills. Trata-se de um curso reconhecido por uma prestigiosa entidade internacional voltada para Desenvolvimento Humano e Liderança. Sem embargo, vale a pena abrir um breve parêntese sobre as últimas duas formações, as quais dialogam com as já mencionadas aulas pelas quais fui prestigiado há três anos, ministradas por JRM (IBC), tratam-se, em realidade, de treinamentos, onde a teoria é logo aplicada de maneira veementemente terapêutica.

    Escrita automática e a autopercepção

    Uma delas, a do treinador Márcio, fundador e CEO do IBN (Instituto Brasileiro de Neurociência e Coaching), ex-pugilista e professor de Boxe, nos convida a aumentar a autopercepção, ao anotar reações emocionais cotidianas em um diário ou caderno. Além disso, ele propõe uma leitura muito interessante sobre as principais emoções, o viés segundo o qual as emoções seriam divididas em positivas e negativas, e que ainda é teimosamente ensinado em escolas e faculdades de psicologia, não faz mais sentido. Ou nunca fez.

    Quanto a isso, os três professores e treinadores, além do José Roberto Marques, concordam plenamente. Márcio enumera quatro emoções principais, a saber: Tristeza, Medo, Alegria e Raiva (JRM aponta para cinco, outros autores para vinte ou mais, tratam-se de sistematizações, pois há emoções principais e derivadas).

    Cada uma delas tem um aspecto negativo e um positivo. O positivo da tristeza é a humildade, e o seu negativo é a depressão, ou desânimo exacerbado. O positivo do medo é o planejamento, e o seu negativo é a fuga ou o congelamento, a paralisação, o positivo da alegria é a motivação, e o seu negativo é a euforia. E para concluir, o positivo da raiva é o impulsionamento, e o seu negativo é a impulsividade.

    O fluxo de emoções

    Entre outras coisas, Márcio destaca o fluxo correto das emoções. O ponto de partida seria a humildade (tristeza), pois ela permite a transformação. Afinal, só mudamos se reconhecemos que precisamos mudar, que há algo a consertar. Aquela questão bem frisada pelo Coaching, onde para se atingir determinado objetivo, é preciso, antes do que mais nada, ter noção acerca do estado atual. Saber onde estou comporta em tomar consciência dos meus limites, dos meus descontroles emocionais, enfim, da minha postura reativa ao invés de proativa.

    Sem ter autopercepção, sem saber onde estou, será improvável que eu alcance o estado desejado. Autoconhecimento é fundamental. Para adquirir autoconhecimento, preciso ser totalmente sincero comigo. “Onde quero chegar” só vem depois de ter bem claro “onde é que estou agora”. E isso vale também para a Psicoterapia, correto?

    Segue o planejamento. E aqui eu me toquei, porque por índole tendo a improvisar em quase tudo aquilo que faço. Planejar reduz o medo e, portanto, reduz a ansiedade. Simples assim. Planejar é fundamental em qualquer profissão e, além disso, é útil nas esferas familiares, relacionais, e até mesmo na esfera individual.

    Espaço à criatividade

    Planejar, enfim, não reduz a genuinidade, pois há espaço para variações no tema e, dentro do planejado, é possível dar espaço à criatividade, até no Jazz, notadamente, músicos eruditos e experientes improvisam dentro de determinadas estruturas. Se fossem “à toa”, a música deles resultaria em uma insuportável cacofonia! Sem planejamento, andamos à deriva, como um barco que fica dando voltas sem saber bem para onde está indo. Segue a motivação, ou disposição, ou coragem, que é advinda da alegria no positivo.

    A euforia gera disforia, ela “eleva” para, em seguida, fazer cair. Te condena a altos e baixos, onde os baixos são diretamente proporcionais aos altos.

    Quanto mais subir, mais vai cair. Quanto mais eufórico, mais você irá cair para abismos e poços de disforia. Mas, a alegria sadia, em seu caminho do meio, nos dá disposição, motivação, nos faz sentir bem. Trata-se da alegria de quem tem um propósito.

    Escrita automática e a motivação

    Enfim, é aquela alegria equilibrada. Ter motivação é fundamental. Não é um caso que, pessoas acometidas por depressão maior, tendem, em suas crises, a não sair da cama. Falta-lhes motivação, disposição e coragem. Às vezes, até para escovar os dentes, ou esse tipo de coisas. Já, a alegria equilibrada traz motivação.

    E a motivação nos permite realizar, nos permite atingir os nossos objetivos. E enfim, segundo o Márcio, há o impulsionamento. Aqui, também, me toquei bastante, já que tendo a utilizar esse “boost”, esse turbo, que é fruto da raiva.

    O fígado já chegou a dar umas pontadas. Já ficou piscando! Hoje, como Psicanalista, Practitioner de PNL, Mindfulness e Flow, Prof. de Meditação (…) tendo a ser mais tranquilo. Mas ainda vou bastante pela “raiva no positivo”, pelo impulsionamento.

    Doenças e emoção perigosa

    E isso esgota a nossa energia. A raiva, segundo Márcio, é uma emoção perigosa, que gera muitas doenças. Não sou de guardar rancor, coloco logo para fora, não sou tão impulsivo, mas, justamente para sublimar a raiva, recorro bastante ao impulsionamento. Usar o “turbo” é gastar muita energia, muito Chi, Ki ou Prana que se queira. Márcio destaca que o ideal é avançar pela motivação. E concordo com ele.

    O impulsionamento só é bom usar se a motivação não for suficiente, com muita parcimônia e moderação. Quer dizer, não o tempo todo! O risco, embora não seja automático, é chegar a integrar a estatística sempre mais numerosa dos acometidos por Burnout! Quanto ao outro treinamento e formação em Inteligência Emocional, ministrado pelo Vitor Salles, treinador do “LibertAÇÃO”, fui impelido a colocar no papel ferida por ferida, trauma por trauma. Percebi que há uma correlação entre feridas e crenças.

    Há crenças limitantes que surgem por causa de feridas emocionais. Mas há outras que não estão atreladas a nenhum trauma. Uma minha paciente, apenas para exemplificar, veio apreciar e saborear a melancia somente em sua idade adulta, devido ao fato que a mãe, quando ela era pequena, teria dito que o tal fruto tem cheiro de “cachorro molhado”.

    Escrita automática e a criança

    Notadamente, uma criança pequena é naturalmente suscetível. É uma folha em branco. E confia totalmente em sua mãe (e pai). Se mãe falou que a melancia tem cheiro de cachorro molhado, então assim deve ser! Voltando a mim, e às minhas feridas emocionais, colocar no papel foi ao mesmo tempo, cansativo, aflitivo e libertador. Como dizem em língua inglesa: “no pain, no gain”. Tem que sofrer para ganhar.

    O fato interessante é que, ao focarmos em nossas feridas, percebemos que existem traumas nos traumas, e quanto às crenças, verifica-se que há crenças nas crenças. No molde matrioska. Coincidência ou não! E há associações entre crenças, assim como há associações entre feridas e crenças. Sabemos que o Inconsciente não faz distinção entre as coisas, que não analisa, e que lá dentro está “tudo junto e misturado”. Mas o treinamento do Vitor não se limita à confrontação cartácea com as próprias crenças e feridas. Vai além.

    Leva a substituir crenças limitantes por crenças fortalecedoras, e enfim, leva a ressignificar os traumas. Quando você termina, de fato, se sente aliviado. Ufa!

    Crenças limitantes

    Além de tomar consciência das próprias crenças limitantes e trocá-las por crenças que nos empoderam, é preciso traçar estratégias que auxiliem esta troca, até que a mesma se torne um padrão inconsciente, por repetição. Sim, as crenças negativas, além de serem (às vezes, mas não sempre) reflexos de feridas e traumas emocionais; também são oriundas da opressão superegóica que, pelo visto, existe em muitas pessoas que procuram o nosso atendimento; enfim, elas podem se tornar um padrão pela repetição.

    Falta dizer que as emoções são estímulos eletroquímicos, nascem no inconsciente e, ao se tornarem conscientes, são racionalizadas e passam a se chamar sentimentos. Sendo inconscientes, elas acabam determinando o nosso rumo, nossos comportamentos, ações e resultados.

    Enfim, elas nos condicionam, ao gerar padrões de conduta que se repetem ad infinitum. Estes padrões se reproduzem desde a nossa pré-história psíquica, a saber, a nossa primeira infância. E é preciso efetuar um trabalho psicoterápico consistente e muito competente, para que o paciente possa tomar consciência desse mecanismo inconsciente que lhe é próprio. Afinal, a mudança só pode vir de dentro. Nós, analistas e terapeutas, somos facilitadores do processo de autopercepção e cura interior. Não somos curandeiros!

    O destino e o Karma

    De certa forma, a autopercepção, representa o fator principal, pois viabiliza o processo de cura interior. Não é possível alterar aquilo que se desconhece, ou que se faz questão de desconhecer. Há alguns meses conheci uma moça e ela disse para mim: “ah, você é psicanalista. Olhe, eu tenho medo do meu inconsciente”. Pelo visto, não é só ela!

    Mas é necessário enfrentar os fantasmas, integrar a sombra, ou a mesma (sombra) irá determinar o rumo da própria vida e, com Jung, será confundida com o “destino” ou, como está erroneamente na moda, na atualidade, o tal do “karma”, termo emprestado de culturas antigas, profundas e longínquas, cujo empréstimo e adaptação ao modelo ocidental, está pautado pelo esquecimento de um detalhe “básico”: o “Dharma” vence o karma.

    E o que é Dharma? Traduzo aqui como “retidão”. É corrigir a rota. Corrigindo a rota, o destino será diferente. Logo, o karma não é infinito, não é uma condenação. Pode ser alterado. Todavia, é preciso conhecer aquilo que está por baixo da superfície, aquilo que determina a “rota” que estou seguindo. Mais uma vez, não posso mudar aquilo que desconheço.

    Escrita automática e a autoconsciência

    Estas formações e treinamentos levaram minha autopercepção para outro patamar, e minha autoconsciência para outro nível. Sem contar que, quanto mais você vai fundo e se conhece, maior será a sua empatia para com o próximo. Vale frisar que uma coisa é você fazer uma formação ou treinamento como aqueles oferecidos pelo Vitor e pelo Márcio, quando você já tem certa consciência e autopercepção.

    Explico melhor. Aproveitei ao máximo ambos os treinamentos e formações por ter a base que eu tenho, tanto em termos teóricos, via Psicanálise, como em termos terapêuticos (como analisando e, anteriormente, paciente de psicoterapeutas), e enfim, enquanto Psicanalista e Psicoterapeuta.

    Mesmo desconsiderando a minha atuação profissional como terapeuta, o que quero ressaltar é o seguinte: uma coisa é você fazer um trabalho de Inteligência Emocional conhecendo suas feridas e traumas. Outro é você mergulhar no continente das emoções (que é o Subconsciente), sem a companhia de um psicanalista ou de um psicoterapeuta que tenha intimidade suficiente junto ao Inconsciente.

    Reações emocionais

    Estas formações, em minha modesta opinião, podem servir sim a incentivar as pessoas a fazer terapia, mas melhor ainda, seria primeiro fazer terapia e, em um segundo momento, aprofundar sobre as próprias reações emocionais e tudo mais, por meio destas ferramentas. Expliquei, portanto, a razão da pausa em minha análise pessoal, sendo que, em realidade, juntei um rico material e tão logo, irei compartilhá-lo com a minha analista. Já falei com ela e a resposta foi: “está tudo bem”.

    Ela só pediu para caprichar na ressignificação de traumas e feridas. E isso exige certo tempo. Encontrei, pois, na Inteligência Emocional, um poderoso e eficaz complemento à minha análise pessoal. “E o poema?”. Sim, o poema! Vamos lá.

    Vou começar pelo método, pelas condições às quais me submeti antes de começar a escrever. Primeiro, pensei na lógica não-racional que permeia a tal da “escrita automática”. Segundo, escrevi em um momento em que me encontrava próximo da exaustão. Acerca dessa condição, lembrei do teatro.

    Próximos da essência

    Na representação teatral, há diretores e diretoras que levam gradualmente os atores à exaustão e, somente quando estes estiverem realmente esgotados, “extraem” deles o melhor. “Tirar”, “extrair”…alguma coincidência com o já mencionado trabalho do escultor? Nos ensaios, o metteur-en-scène (diretor) recorre a diversas práticas lúdicas, com finalidades psicológicas. Quando brincamos, cai a nossa máscara. Ou seja, a resistência começa a diminuir. Estamos mais próximos de nossa essência.

    E quando estamos exaustos, nossa mente racional dá um nó, e é naquele momento que conteúdos inconscientes tendem a emergir de maneira análoga à água de um rio. Tudo flui. Eppur si muove! Enfim, escrevi o poema, em minha língua natal, o italiano, de uma forma a mais automática possível. E escrevi quando, em realidade, precisava dormir. Nos últimos dias, voltei a acordar bem cedo, seis e meia, seis, cinco e meia.

    E, para agravar, tive que tomar um anti-histamínico, cujo efeito soporífero chega a lembrar as drogas que alguns de nossos pacientes, orientados por médicos psiquiatras, costumam tomar para amenizar a insônia e a ansiedade! Caindo literalmente de sono, e deitado na rede, caderno e caneta em mãos, me forcei a deixar fluir tal poeminha em italiano. E assim foi. Fluiu.

    Relaxando a mente

    O dia seguinte (hoje), acordei pensando em escrever este artigo. Notadamente, ao acordarmos, estamos em Alfa (as ondas cerebrais completando de 14 a 7 ciclos por segundo, mais lentas de quando estamos na vigília, ou Beta, com 21 a 14 CPS). Em Alfa estamos acessando, digamos, o Pré-Consciente. Sabe quando você, em estado de vigília, tem um nome na ponta da língua?

    Quanto mais você se esforçar, menos o nome vai aflorar. Mas, se você se distrair, ou seja, caso você permita o relaxamento da mente consciente racional: lá vai o nome, emerge sem esforço…et voilá! Mais uma vez (escrevi em outros artigos), isso lembra o Wu-Wei, princípio Taoísta do “fazer sem fazer e não-fazer fazendo”. “Ação na inação e inação na ação”. A fruição de nossas camadas psíquicas profundas exige a adesão à lógica e práxis peculiar do Wu-Wei.

    Ao acordar, afloraram associações referentes a alguns trechos do poema escrito por mim na tarde de ontem. Conscientemente, ontem, eu não tinha “pensado” nisso. Surgiu, aflorou, emergiu, por si só, quando, em Alfa, estava despertando. Parêntese: falta explicar que, este momento quando, naturalmente, estamos em Alfa, dura aproximadamente entre cinco e dez minutos. Mesmo se levantando e indo ao banheiro, ou se a pessoa for fazer um café na cozinha, ainda assim, por esse breve lapso de tempo, permanecerá em Alfa.

    Ultramind

    Isso exige mais um parêntese, tratando-se, todavia, de uma variação no tema. Entre os tantos textos, cursos e formações que tive o prazer de apreciar durante estes últimos anos, cheguei a conhecer um livro (Silva’s mind control) e os treinamentos de um saudoso senhor mexicano chamado José Silva. Silva emigrou para os EUA. Assim como outras questões aqui esboçadas (enquanto variação no tema), isso mereceria, por si só, um artigo. E tão logo o providenciarei.

    Silva criou um método chamado Ultramind (“mente além”, de acordo com a tradução livre do termo). Silva não tinha curso superior, era um técnico de rádio, enfim, um eletricista especializado. Pai de dez filhos, ele percebeu que o desempenho escolar deles deixava a desejar.

    Tornou-se ávido de leituras sobre a psique humana: Freud, Jung, Adler…estudou e praticou meditação, enfim, bebeu de várias fontes. Silva conseguiu reverter a situação escolar dos filhos, ao criar um método voltado para a apreensão de conteúdo escolar. Deu tão certo, que o método de Silva foi adotado por diversos colégios e universidades.

    Escrita automática, mente racional e analítica

    O cerne (do treinamento) era o seguinte: adentrar o estado Alfa “at will” (à vontade, toda vez que a pessoa desejar) e, desta maneira, aproveitar o potencial do subconsciente que, notadamente, é bem mais poderoso que a nossa necessária, mas limitada (e às vezes prejudicial) mente consciente racional e analítica. Meditar e entrar em Alfa, tudo bem, ser hipnotizado e entrar em Alfa, tudo bem. Se auto-hipnotizar e entrar em Alfa, tudo bem. Mas, você entrar em Alfa estando perfeitamente acordado e capaz de raciocinar como se estivesse em Beta e até resolver problemas! Ah, isso é quanto menos raro!

    Havia, no estado norte-americano em que Silva residia, um detrator do método de Silva, o professor Mc Kenzy, da Universidade do Texas. Este scholar convidou José Silva a demonstrar o método Ultramind no laboratório acadêmico. Silva foi e, equipado com as ferramentas do eletroencefalograma (EEG) e outros maquinários de ponta daquela época, conseguiu resolver todos os problemas propostos por Mc Kenzy e sua equipe, enquanto permanecia em nível Alfa. Mc Kenzy, indignado e cético ao mesmo tempo, disse-lhe que ele era um caso excepcional, um em um milhão.

    Silva levou o filho Tony, treinado por ele a entrar em Alfa “at will”, e o resultado foi exatamente o mesmo. Ah, mas o filho tem a mesma genética!! Silva se propôs a levar mais dez alunos treinados por ele através do método Ultramind. Mc Kenzy, porém, rebateu, dizendo que quem iria chamar dez pessoas aleatórias, seria ele, e não Silva. E assim foi.

    Expansão da conciência

    Silva treinou as dez pessoas escolhidas por Mc Kenzy e provou que qualquer um pode ser treinado e adquirir a capacidade de entrar em Alfa assim que o desejar, alcançando assim, a expansão da consciência, maior criatividade, imaginação e até um maior desempenho em termos de memória e armazenamento de informações. Pelo visto, Silva demonstrou que a mente consciente esgota quando sobrecarregada, aquela subconsciente não.

    Por que “divaguei”, quando deveria falar sobre o meu poema? Tanto o poema, como o método de José Silva, e os demais assuntos discutidos neste artigo, dizem respeito ao aparelho psíquico e às peculiaridades da mente subconsciente.

    Inclusive, aqui sinto a necessidade de um preâmbulo básico: Assim como aprendi no curso de formação que completei junto a este Instituto, e com as leituras complementares, além de minha experiência de psicanalista clínico, desde dezembro de 2021: o Inconsciente (Ics) e o Pré-Consciente (Pcs), são caracterizados pela representação da coisa, diferente da camada Consciente (Cs) de nosso aparelho psíquico, que é caracterizada pela representação da palavra.

    Freud e teoria

    Isto é, a mente subconsciente como um todo (Pcs + Ics) representa seus conteúdos por meio de imagens. Ora, se com a segunda tópica, Freud demonstra que nós nascemos completamente dominados pelo ID, quer dizer, o recém-nascido é totalmente inconsciente (inclusive da distinção entre Eu e não-eu, a saber: Eu e o outro, que é a minha mãe), logo, a mente inconsciente é mais arcaica e, por consequência, as imagens antecedem as palavras.

    Sabemos também que o Princípio do Prazer regula, ou melhor, rege o Inconsciente. E sabemos que deslocamento e condensação, como também a fragmentação, são mecanismos peculiares da linguagem desta camada psíquica mais profunda.

    Frisei estes breves pontos centrais das duas tópicas freudianas, com o intuito de evidenciar o fato da mente subconsciente, longe de ser uma fábrica de “non-sense”, apenas, opera a partir de um logos peculiar, um logos não-racional, não-analítico, acrítico e não-julgador. Vale lembrar, também, que o Ics é atemporal. Neste quesito, para o ID (que é totalmente inconsciente), aquilo que ocorreu em nossas primeiras horas de vida e aquilo que está ocorrendo hoje, literalmente, tanto faz.

    O aparelho psíquico

    Para não confundir a leitora e o leitor, vou arriscar pecar por pedanteria, ao destacar aquilo que alguns experts já sabem, mas talvez este não seja o caso dos alunos novatos do IBPC. Enfim, na primeira tópica, incluída no chamado “Livro do Século” (1899-1900), isto é, “A interpretação dos Sonhos”, Freud esboça a composição tópica virtual do aparelho psíquico, distinguindo entre as camadas Consciente, Pré-consciente e Inconsciente.

    A segunda tópica (incluída em “O ego e o ID”, publicado vinte e poucos anos depois do “Livro do Século”), não desmente e nem desmonta a primeira, e sim, a complementa. Logo, ID torna-se sinônimo de Inconsciente (Ics), a camada mais profunda e, supostamente, inacessível, do aparelho psíquico, onde vai se alojar o recalcado (afeto aflitivo expulso da mente consciente), peculiar de pacientes neuróticos.

    Já, o Ego alastra-se nas três camadas, tendo uma parte consciente, uma pré-consciente e enfim, uma inconsciente. O mesmo vale para o Superego. Como já informei acima, segundo Freud, o ser humano nasce completamente inconsciente. O bebê, a certa altura, começa a tomar consciência do “outro”, e isso é muito bem explicado por Lacan, através da teoria do espelho. Tipo: “eu sou eu, porque mãe é mãe”. Aproximadamente com um ano de vida, o Ego começa a tomar consciência de si e do outro que é mãe.

    Teoria do espelho e Escrita automática

    Por que “teoria do espelho”? Espelho porque o Eu (Ego) se manifesta a partir do Outro (Mamãe). Se fosse digressivo (risos) ia dizer que isso dialoga com o dialogismo bakhtiniano, no qual “eu sou através do diálogo com o outro”. O self exige o outro para, de fato, vir a ser tal qual ele é. Segundo Bakhtin, há algo como uma retro-iluminação entre o Eu e o Outro.

    E a luz, oriunda do encontro dialógico, ilumina ambos. Preciso do outro para ser. Ao menos, para ser de verdade. Segundo Freud, passadas as principais fases de desenvolvimento psicossexual (oral, anal e fálica), no auge do Édipo, finalmente surge o Superego, que, como já falei, igualmente ao Ego, perpassa as três camadas “tópicas” que compõem o aparelho psíquico: consciente, pré-consciente e inconsciente.

    O Superego é o “fiscal”, o “juiz interior”, o fruto da introjeção de regras e normas morais absorvidas na primeira infância através do “outro” que, a essa altura, não é só mamãe, e sim, o outro membro da tríade parental (papai), como também, familiares, professores, padres e pastores, animadores e instrutores, etc. Todavia, segundo Lacan, simbolicamente, quem representa a “autoridade” é o pai.

    O superego

    É preciso evidenciar que o Superego, segundo outros psicanalistas, entre os quais destaca-se Melanie Klein, surgiria anteriormente ao momento apontado por Freud, isto é, durante a fase anal ou antes. Neste quesito eu, pessoalmente, concordo com Klein, e um breve exemplo pode servir para comprovar o meu raciocínio e, principalmente, aquele da psicanalista britânica.

    Para quem tem filhos, ou já teve irmãos mais novos, ou sobrinhos, netos…é comum observar que crianças de 2 ou 3 anos, nas brincadeiras, passam a incorporar o papel do/da genitor/genitora, falando com certa autoridade, que “isso pode” e “aquilo não pode”. Os filhos pequenos fazem isso com os pais: eles invertem a situação e te convidam a ser o filho enquanto eles passam a representar o papel dos pais. Ensaio superegóico? Assimilação de regras e normas?

    Pequena divagação dialógica: vemos que, na Constelação Familiar, criada pelo alemão Bert Hellinger, o pai impulsiona o filho para a realização profissional (o Labor) enquanto a mãe é responsável por viabilizar, ou viabilizar e conciliar, para o filho, bons relacionamentos (o que diz respeito ao Gozo). Onde Gozo e Labor são pilares no âmbito da teoria psicanalítica. Impulsionamento paterno e conciliação materna, representam questões de ordem simbólica.

    Estado de esgotamento

    Feita essa breve explanação sobre as duas tópicas freudianas, finalmente posso apresentar os conteúdos inconscientes oriundos de minha escrita automática em estado de esgotamento (por sono acumulado e agravado pelo uso de xarope anti-histamínico “bravo”). É preciso reiterar que o Inconsciente não produz imagens sem nexo, meras maluquices, e sim, gera conteúdos psíquicos que, em seu conjunto, representam uma verdadeira linguagem, baseada em uma lógica outra, isto é, não-racional, mas não por isso aleatória.

    A tal linguagem inconsciente, portanto, não deixa de ser “lógica”. Ou seja, nem toda lógica é racional. Digo mais, o racional é apenas a ponta do iceberg. E de acordo com a minha modesta, mas zelosa experiência clínica, percebo que as pessoas que procuram o meu atendimento estão sendo completamente reféns desta pequena parte de próprio ser psíquico, sendo que esta identificação unívoca com a mente consciente e racional acaba sendo mais prejudicial do que benéfica: mente acelerada, perturbação, confusão, distância das camadas mais profundas, a saber: a emocional e a espiritual (ou anímica).

    Sim, precisamos dessa maravilhosa ferramenta analítica que é a mente racional. Sem embargo, quando ela deixa de ser tratada e utilizada como uma mera ferramenta e pretende ser o centro de nosso ser psíquico, então surgem problemas, aflições e acometimentos psicopatológicos.

    A cura interior

    Sem contar que é o invisível, o subjacente, que condiciona o visível. E para concluir esta breve reflexão, vale frisar que o processo de cura interior precisa brotar do inconsciente. Pouco vale insistir com a razão, quando o emocional (e o espiritual) é desconsiderado e, na maioria dos casos, apontaria o exato contrário.

    Neste quesito, me atrevo a propor mais uma digressão. Hoje está na moda falar em Lei da Atração. Sim, a tendência começou com o filme “O Segredo”, e daí surgiram centenas de Gurus e ainda mais Pseudo-Gurus, cada um vendendo cursos, formações e áudios milagrosos. Estou estudando e aprofundando a esse respeito com gente digna de respeito.

    A Lei da vibração (este seria o nome mais correto), de fato existe, e é algo profundamente científico. Não só. Esta Lei é profundamente bíblica, conciliando nada menos que Ciência e Religião. Todavia, tem um porém. Você pode se esforçar quanto quiser, desejar atrair isto ou aquilo, se concentrar no seu objetivo, e dizer a si mesmo que está sentindo que aquilo já aconteceu. Será que, de fato, você está sentindo? Porventura o sentir é algo racional? Não mesmo!

    Escrita automática e crenças

    E vou além neste quesito, porventura adianta você afirmar que quer, por exemplo, sucesso em sua vida, realização profissional, quando em nível mais profundo, subconsciente, existem crenças segundo as quais você não merece ter sucesso, ou você não pode ter sucesso, ou que ter sucesso é algo ruim? E adianta você utilizar técnicas aprendidas nestes cursos e formações sobre a Lei da Atração para encontrar alguém com quem ter um relacionamento estável, quando inconscientemente você é completamente refém de crenças segundo as quais entrar em um relacionamento é como se condenar ao sofrimento?

    Ou generalizações do tipo: “as mulheres (ou os homens) não prestam”? Ou ainda: “sempre sou traída (traído)”? Estes são apenas exemplos, mas são suficientes para demonstrar que de pouco adianta recorrer à “ponta do iceberg” quando, na verdade, atraímos de maneira inconsciente. E a maioria das pessoas teme enfrentar o desconhecido que há dentro de si. Sabe aquele ditado: “colocar a carroça em frente aos bois”?

    É isso que este povo tende a fazer. Investe em Lei da Atração sem primeiro trabalhar as próprias crenças, sem primeiro enfrentar e integrar a sombra, sem primeiro perdoar e se perdoar, sem primeiro aprender a agradecer e parar de reclamar, sem primeiro aprender a ser verdadeiramente sincero consigo mesmo, sem primeiro ter humildade e entender que é preciso mudar de dentro para fora, sem primeiro assumir a autorresponsabilidade, sem primeiro ir além da fachada, da ponta do iceberg. Vai funcionar? Claro que não!

    O nosso subconsciente

    Sei que as pessoas gostam de atalhos, mas creia, nenhum curso ou formação, ou áudio binaural vai fazer esse trabalho por você. E esse trabalho você precisa fazer junto a um psicanalista, ou psicoterapeuta. A mente subconsciente, de fato, é poderosíssima, porém, para acessarmos e desfrutarmos dos nossos poderes intrínsecos, precisamos, primeiramente, adquirirmos certa familiaridade com o nosso Subconsciente.

    E para nos resolver, precisamos enfrentar os nossos fantasmas, adquirir intimidade com a nossa sombra, com aquilo que todos nós tendemos a rejeitar, quem mais, quem menos. Sim, temos o poder de atrair, de cocriar, mas para tanto, antes precisamos aprender a vibrar em uma frequência mais alta. A mais alta é a do amor.

    Para vibrar mais alto, precisamos estar em harmonia conosco, com o nosso subconsciente, e com Tudo que é, com a Criação Divina. Quem estiver em desarmonia, em conflito consigo mesmo, terá como estar em harmonia com o Universo? Claro que não. E sem harmonia, minha gente, não rola! Agora sim, vamos ao poema…

    O “flow” inconsciente

    Enfim, hoje acordei “pensando” (em Alfa não “pensamos racionalmente”, a não ser que tenhamos passado pelo treinamento do gênio José Silva) que o material poético que compõe o meu poema, serve para confirmar diversas características do Inconsciente.

    Voltando ao método que impôs a mim mesmo para a escrita destes versos, preciso admitir que, embora eu tenha utilizado a escrita automática, preciso reconhecer que, em seguida, após o “flow” inconsciente, fiz questão de ajeitar, corrigir, melhorar alguns detalhes. Contudo, evitei alterar o conteúdo, evitei esforços voltados para a criação de um sentido lógico-racional sobre algo que, como já destaquei anteriormente, é fruto de uma lógica outra, não-racional e inconsciente.

    A este propósito, evito entediar a leitora e o leitor com a transcrição e a improvável tradução do meu poema como um todo. Mas vou escolher alguns trechos, através dos quais, mesmo enfraquecendo o “sentido” – via tradução do italiano para o português – eu possa apontar conexões e associações com a teoria psicanalítica, principalmente no que diz respeito à linguagem do inconsciente. Por sinal, é interessante observar que, ao publicar este poema no Instagram, não recebi nenhuma curtida.

    Escrita automática e o mundo virtual

    Foi a primeira vez que publiquei um post em italiano. Se eu fosse digressivo (risos), ia entrar na discussão freudiana sobre familiar e não familiar. A citei em minha tese de doutorado, focada nas interações dialógicas entre outsiders em três filmes de Jim Jarmusch.

    Existe algo familiar no não-familiar, no que é estranho, e algo estranho no familiar. Sim, porém, neste caso, as pessoas estranharam mesmo! Não que eu viva de curtidas no Instagram, as quais não pagam minhas contas e nem determinam o grau da minha autoestima (graças a Deus).

    Porém, preciso destacar a completa indiferença dos meus seguidores do mundinho virtual acerca do meu poema. E vou além: creio eu que, mesmo se tivesse escrito em português, como costumo fazer, não ia suscitar muita aprovação. Primeiro, porque trata-se de um texto de uma extensão tal que, assim como os demais posts de minha autoria, a maioria nem sequer se atreve a “enfrentar”.

    A superficialidade

    Cá entre nós, a falta de leitura é responsável pelas asneiras mencionadas anteriormente neste artigo. Claro, ninguém é obrigado a ler e tanto menos a curtir ou comentar aquilo que eu escrevo, mas percebo que há certa preguiça, que tudo precisa ser telegráfico, até mesmo os áudios do Whatsapp, imagine um texto! Viva a superficialidade, o imediatismo, a mediocridade que nos rodeia e define a nossa “cultura” atual!

    O aspecto formal, ou seja, a extensão do meu poema pode não ter sido o único problema. Como disse, mesmo se tivesse escrito em português, a reação mais comum ia ser algo do tipo: “que po##a é essa?”. Pois é. A pessoa se atrever a deixar fluir algo inconsciente e compartilhar com pessoas cuja grande maioria se refugia compulsivamente lá na ponta do iceberg, receando, rejeitando ou mesmo fugindo de seu próprio subconsciente? Este é um crime contra a humanidade!!

    A falta de conhecimento, faz com que, muitas pessoas, talvez a maioria, acreditem que o inconsciente só produz maluquices, coisas sem nexo. Além disso, a moral superegóica tende a se opor veementemente contra os conteúdos de teor sexual e agressivo que caracterizam o nosso ID.

    Defesa do ego

    O resultado, além do acionamento da defesa do ego chamada de “projeção”, é o seguinte: segundo o pesquisador André Lemos, a partir de dados de 2014 (eu estava no Mestrado), 8 acessos de 10 na Internet representam buscas por conteúdos pornográficos: 80%. É gente! Não obstante eu não pretenda ser considerado um santo, pessoalmente não assisto pornografia. A escopofilia não me satisfaz.

    Sinto a necessidade de ressaltar que, embora tantas pessoas procurem pornografia na WEB, essas mesmas pessoas receiam integrar a sombra inconsciente, e conhecer a “pornografia” que há neles mesmos. Aquilo que evitamos, acaba nos perseguindo.

    Digressão na digressão: gente que lava as mãos ou a casa compulsivamente, também tende a querer lavar…sua sombra inconsciente permeada por “sujeiras” de fundo sexual e agressivo. Se não seria algo tão clichê, ousaria dizer: “Freud explica!”. Sim, não podemos generalizar, mas…

    Enfim, o poema!

    Já que acabei de falar sobre conteúdos de fundo sexual, é a partir deles que começarei. Logo no início, há um verso no qual menciono a razão do contabilista, embora isto em português não produza o mesmo efeito (semântico?) que em italiano. Na minha língua natal, contabilista se diz “ragioniere”.

    O texto começa assim:

    “Emocional. Razoável. Todavia, tem razão o contabilista: as porcas são benévolas”. Tradução de poema é triste, principalmente quanto concerne à manutenção das rimas, que às vezes torna-se impossível. Em italiano seria assim: “Emozionale. Ragionevole. Tuttavia, ha ragione il ragioniere: le maiale sono benevole”.

    Se Nelson Rodrigues só confiava nas mulheres que ainda se ruborizavam (à época dele já começavam a entrar em extinção!), eu digo o exato oposto: desconfio das que se ruborizam, mais ainda das sonsas, e pior de todas, das “santas” que limpam compulsivamente as mãos, a casa, e tudo que estiver ao redor delas. Enfim, as porcas são benévolas!

    Conteúdos do ID

    Lembrei de Aldair José, de “eu vou tirar você deste lugar”. Há excelentes esposas e mãe de famílias que já foram…enfim! E são benévolas, o são consigo mesmas, o são com o outro. A retenção exacerbada dos conteúdos do ID, a fuga do subconsciente, a projeção da própria sombra no outro, tudo isso apenas promove o crescimento da tal sombra, o aumento dos conteúdos libidinais de fundo sexual (e agressivos), continuamente reprimidos e projetados, numa extenuante ativação e atuação das defesas do Ego.

    Resultado: Ansiedade (aceleração da mente), depressão (esgotamento da energia psíquica), até pânico (ativação do mecanismo “luta ou foge” e overdoses de adrenalina para enfrentar um inimigo inexistente no mundo externo, e sim, um “vilão” imaginário que habita dentro de si mesmo).

    Segue uma parte de outro verso, no qual, do meu subconsciente, aflorou uma vedete da TV italiana, da qual, evidentemente, tinha esquecido há muitos anos. Com Freud, o inconsciente, inacessível por vias diretas, se manifesta através de, entre outros, o tal do chiste.

    Escrita automática e o chiste

    Chiste é aquela coisa engraçada que aflora sem pensar. Aqui, no poeminha, surgiu um trocadilho com o nome da tal beldade televisiva, da qual, no começo da década de 2000, eu gostava bastante: a francesa (ou ítalo-francesa) Letizia Castá.

    Perguntei, no poema, se “a Castá é casta”. E a rima seguinte, veio com a palavra “tasta”, que em italiano, é sinônimo de “tocca” (pega, mete a mão). Mais um conteúdo de fundo sexual, e ainda por cima, um chiste. Virão outros.

    Aquilo que ainda era meio “tímido”, na primeira estrofe, veio se manifestar de maneira mais proeminente no verso seguinte: “Patrizia, ti pago in natura. Tocca, vai, metti mano, piano, in bocca…”. “Pagar in natura”, em italiano, representa uma alusão sexual, no sentido que a pessoa, em troca de algum produto ou serviço, estando desprovida de dinheiro, optaria por pagar “in natura”, isso é, sexualmente. E segue um convite a tocar (“tocca”), e uma exortação: “vai, mete a mão”, e ainda: “devagar” (piano), “na boca” (in bocca).

    Um convite explicito

    Estra estrofe termina com uma associação, também de fundo erótico, ligada à frase inicial, que acabei de traduzir e explicar: “Con perizia la neve fiocca, è tutto bianco…pure il corrimano”. Tradução: “com perícia, a neve cai em flocos, está tudo branco…até o corrimão”. Explicação: Há aqui uma alusão sexual e uma analogia entre a neve e o sémen, que deixa tudo branco, até o corrimão, sem contar que, corrimão é algo onde a mão desliza e, anteriormente, houve o convite explícito a tocar, a meter mão.

    Sabemos que o Inconsciente (Ics) é atemporal. Momentos, situações e pessoas de épocas diferentes costumam ser reproduzidas imageticamente como em uma reedição de um filme, onde os elementos são recombinados, condensados (vários elementos se tornam um só) ou fragmentados (um elemento só se divide em vários).

    E para confundir ainda mais a nossa interpretação, o Inconsciente promove o deslocamento, ou seja, um momento, situação ou pessoa costuma ser deslocado ou deslocada de seu contexto original. Feita essa premissa, tenho uma reminiscência arcaica ligada ao jardim de infância. Lá, supostamente, teria ocorrido uma troca, por meio da qual, uma coleguinha, teria me mostrado a genitália dela, eu a minha.

    Curiosidade e inocência

    A Psicanálise atesta a normalidade e até a frequência deste tipo de interações entre crianças pequenas, pautadas pela curiosidade e a inocência. Tipo: “Mostra o teu que eu mostro o meu”. E quando isso acontece, é provável que seja a menina a propor a referida exibição recíproca, possivelmente motivada pela curiosidade suscitada pelo complexo da castração, em sua fase embrionária. No caso da minha reminiscência, a coleguinha teria mostrado o dela para, em seguida, ver o meu.

    No poema, através da escrita automática, esta reminiscência teria se condensado com eventos posteriores, da minha adolescência tardia e da vida adulta. As últimas três estrofes intensificam as alusões sexuais e observa-se novos chistes. Segue a antepenúltima, na qual, além da sexualidade, há novos chistes e, no final, emerge também a agressividade:

    “Vedrai, Brigitte è una delizia, un rinfresco. Dirle di no? Daí, non riesco, può mandarmi a “bai bai”? Allarmi, quali dritte? La si vizia, giassai. Tolti i raccolti, per chi la fa fessa sono guai! Annessa agli stolti…ha amiche dotte, quanto ci fai? Per chi non la rispetta, la smetta, o piglia le botte: Ahi ahi!”. Quanto à sexualidade: “Verás, Brigitte é uma delícia, um refresco. Dizer não para ela? Não consigo”.

    Alusão de fundo sexual

    Quanto ao chiste: “pode me mandar a…bai bai”. Normalmente, em italiano, se utiliza expressão “mandar àquele país”, ou a versão vulgar: “mandar cagar”, entre outras. Aqui aflorou uma adaptação em italiano da língua inglesa, onde a expressão “bye bye” significa “até mais ver”. Isso permitiu fazer rimas sucessivas, até o final, onde afirmo: “quem não a respeita, pare, ou vai apanhar, ahi ahi!”, onde aflora a referida agressividade.

    A penúltima estrofe começa com mais uma alusão de fundo sexual, embora mais branda: “L’ amicizia naque sulla giostra, pensai. Non finirà mai”. Tradução: “A amizade nasceu no carrossel, pensei. Não acabará jamais”.

    Entre 2021 e 2022, e entre diversos cursos e formações, inclusive uma pós-graduação em Psicanálise, fiz um curso em Hipnose conversacional, o qual, também, incluía algo sobre persuasão. Foquei mais na Hipnose conversacional, de fundo terapêutico, assim como era praticada pelo já mencionado psiquiatra Dr. Milton Erickson.

    Apelo emocional e a Escrita automática

    Todavia, emergiu aqui algo que, em jargão, no âmbito do marketing (e não só), se chama de linguagem embutida. O que, também, era muito utilizado pelo Dr. Erickson. É sobre criar uma frase “normal”, e dentro dela, enfiar uma palavra que represente um gatilho. Algo que faça apelo ao emocional, que é inconsciente. Quando falo em carrossel, me refiro a algo que sobe e desce, assim como as montanhas russas.

    Trata-se, pois, de uma alusão sexual implícita e uma possível reminiscência referente a alguma amiga com a qual também tive algum envolvimento carnal (ou gostaria ter tido). Chegamos, pois, ao fim do poema. Nesta última estrofe, vou ter que ir por partes: “Ciliegina sulla torta! Una vera regina. Corretto, né viga di legno, né gatta morta”. Tradução: “Cerejinha por cima da torta! Uma verdadeira rainha. Correto. Nem viga de madeira, nem gata morta”.

    Explicação: em italiano, “figa di legno” é uma expressão pejorativa referida às mulheres metidas, que se acham e, muitas vezes, na cama são bem rígidas, de onde o termo madeira (legno). Interessante observar que, em italiano, “figa” é o nome vulgar para se referir à genitália feminina, enquanto em português representa um símbolo de sorte, que se faz ao enfiar o polegar entre indicador e médio (uma vagina com seu clítoris proeminente?).

    Escrita automática e sexualidade

    Na Escrita automática, aqui estou dizendo que a tal Brigitte não é nem uma metida rígida e nem uma gata morta (frígida). A continuação é, ao mesmo tempo, um chiste e a sequência do fluxo referente à sexualidade: “Il prosciutto è quanto all’etto? Se depila la vagina, poco importa”. Tradução: “O presunto é quanto, a cada 100 gramas?

    Se ela depila a vagina, pouco importa”. Presunto é carne, uma carne bem rósea, alimento que se saboreia, se come, e que simbolicamente pode remeter para a pele, o soma, o corpo da pessoa desejada. Há, então, uma menção direta à vagina, que, para o instinto e desejo masculino, tanto faz se estiver depilada ou não. Segue a continuação da estrofe: “Perfetto. Si, russa, e ha la schiena storta, non è un difetto…”. Tradução: “Perfeito. Sim, ronca e tem a coluna torta, não é um defeito…”.

    E enfim: “ma un dovere e un diritto, sia diretto, si infila nella diga, e non nel retto…di supposte c’ha la scorta, eccetto…”. Tradução: “mas um dever e um direito, se enfia na diga e não no reto… de supositórios ela tem de sobra, exceto…”.

    Regras sociais e Escrita automática

    Aqui há um trocadilho, pois utilizei “diga” para não dizer “figa” (termo vulgar, em italiano, para dizer vagina, como já expliquei), onde a alusão, possivelmente, a uma querela superegóica, já que há uma menção de deveres e direitos, e enfim, convido a ser “direito”, o que implicitamente remete para a Lei, isto é, em termos psíquicos, refere-se às normas e regras sociais introjetadas através do Superego.

    Quer dizer, aponto para a relação sexual (endo)vaginal como correta, enquanto o coito anal seria errado (se enfia na vagina, e não no reto). Mas, para amenizar a privação do prazer da pobre Brigitte, há um acréscimo que representa a compensação: “ela está cheia de supositórios”.

    Observe-se que o Superego (assim como o Ego) também tem uma parte inconsciente. Tratar-se ia, pois, da manifestação de um conflito psíquico entre as instâncias ID e Superego, onde a mediação egóica, enfim, permitiu, ao menos, que Brigitte tivesse supositórios de sobra?

    Psicologia positiva

    Vale frisar que o poeminha termina com “exceto…”. Reticência aponta para a continuação, para a negação do fim, para algo que poderia se estender. Aprendi, ao me tornar practitioner de Flow, que por sua vez é uma prática ligada ao âmbito da Psicologia Positiva, que é preciso saber quando sair do flow (inclusive ao escrever um artigo!).

    Em Escrita automática, saber quando sair é tão importante quanto saber quando entrar. Não deixa de ser algo inerente à autopercepção, ao autoconhecimento, à autodisciplina e ao autocontrole. Assim como ocorre no controle das emoções, controle não deve ser entendido como repressão. Controle é conhecer e dosar. Utilizar a próprio favor, ser proativo ao invés de reativo.

    Conclusão sobre Escrita automática

    Concluindo, em minhas produções audiovisuais, sempre fiz questões de terminar a obra sem forçar o espectador a adotar a minha perspectiva, sem leva-lo a aderir a um “final” impositivo, e sim, tenho o costume de deixar reticências, permitindo que o espectador “edite” mentalmente, e que chegue às suas conclusões.

    É isso que significa aquele “eccetto…” (exceto), no final do poeminha.

    Trata-se de um viés dialógico, aberto, onde convido o inconsciente da leitora e do leitor a estabelecer uma relação interativa, dialógica, junto ao meu ID.

    C’est tout…

    Este artigo sobre escrita automática e o inconsciente foi escrito por Riccardo Migliore, PhD em Letras pela UFPB, Psicanalista Clínico formado pelo IBPC, Pós-graduado em Psicanálise, Master em Hipnose, Master em Inteligência Emocional, Practitioner em PNL, Practitioner em Mindfulness, Practitioner em Flow, Prof. de Meditação. Atendo presencial no Instituto Portal da Alma (Campina Grande, PB) e online. Ministro treinamentos de Inteligência Emocional (particulares, em grupo, escolares, empresariais e corporativos).

     

    One thought on “Escrita automática e linguagem do inconsciente

    1. Mizael Carvalho disse:

      Realmente para podemos entender as riquezas que o nosso subconsciente tem a nos revelar, teremos que familiarizar com o nosso subconsciente. Muito bom artigo!

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