Esquizofrenia Paranoide

Esquizofrenia Paranóide no filme Coringa: análise psicanalítica (parte III)

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Hoje falaremos sobre a Esquizofrenia Paranoide no filme do Coringa. Este artigo é continuação de dois artigos anteriores: parte 1 e parte 2.

 

Entendendo sobre a Esquizofrenia Paranoide

“Arthur está sentado à mesa, em casa, fumando. Ainda está escrevendo. Sua vizinha bate à porta, e o indaga se ele estava a seguindo. Arthur responde que sim; eles conversam um pouco. Arthur fala que faz shows de stand-up, e a convida para assistir. Ela diz que vai um dia.”

No entanto, Sophie nunca foi ao show de stand-up do nosso protagonista Arthur. Ele até a imaginou lá, o assistindo. Isso também é parte da sua psicose, da sua paranoia, da sua psicopatologia cada vez mais redundante. Não se sabe mais quem ele é, na verdade. Sua personalidade está rosnando em frente a si mesmo; ele percebe sem perceber, que vive num mundo onde nada é real. Já houve até uma frase dos Beatles, onde John Lennon disse certa vez: “Nothing is real.”

E consequentemente, Arthur se transforma aos poucos, no que podemos chamar de “Coringa”. Sim, vagarosamente… Porque a demência, a psicose, o delírio, vai tomando aos poucos o que restava de um homem depressivo, abusado na infância, sem mais vontade de viver neste mundo patético e sem sentido algum.

A Esquizofrenia Paranoide e o palhaço

“Arthur está vestido de palhaço, dançando para crianças num hospital. Ele anda armado – e dançando, batendo os pés no chão, acaba por derrubar o revólver. Todos na sala veem que ele estava com uma arma escondida.

Arthur faz sinal de ‘silêncio’ para todos, mas depois é repreendido pelo que acontecera ali. Através de uma ligação, pede por seu emprego ao seu chefe Hoyt; diz que é um ‘adereço’ novo que está utilizando – mas mesmo assim seu chefe não acredita, até porque sabe que Randall vendeu o revólver para o Arthur. Hoyt diz que Arthur é pirado e mentiroso, e o despede do trabalho desligando o telefone. Arthur está inconformado, e num instante bate com a cabeça no vidro da cabine telefônica.”

Arthur ainda se apresenta como palhaço, embora cada vez mais “louco” dentro de si. Carrega a arma, e a derruba fazendo uma dança num hospital – justamente fazendo seu show para crianças. Perde seu emprego por isso; mesmo procurando se desculpar dizendo que o revólver era “parte do show”.

– Mas, que show para crianças um palhaço utiliza de uma arma em sua cintura, que “acidentalmente” cai ao chão?

O assassino

Pois ele está a um pequeno passo de se tornar o Arthur assassino, dentro da sua confusão mental, dentro da sua vida de sofrimento e angústia, dentro da sua depressão, dentro da sua reviravolta interna que ainda o fará se sentir “livre”, diante da própria insanidade.

“Toma o metrô, ainda vestido como palhaço. Pessoas descem em seus pontos. Arthur observa as pessoas. Alguns rapazes estão no fundo do vagão, incomodando uma mulher. Arthur ri descontroladamente. Um dos rapazes o pergunta sobre ‘qual a graça’.

A mulher se levanta e vai para outro vagão. Os rapazes estão a zombar de Arthur, que continua rindo.

Os três se aproxima, tiram a peruca de Arthur, todos riem

Arthur novamente é questionado sobre qual a graça, ele diz que não há graça nenhuma; diz que tem um distúrbio. Os rapazes tomam sua bolsa, o seguram, o agridem, o jogam no chão, desferem chutes e pontapés. Arthur é tomado por um instante de raiva, e atira num dos rapazes, derrubando-o. Atira várias vezes no segundo rapaz, contra a porta do metrô, que também cai ao chão. O terceiro sai correndo, e é perseguido por Arthur que continua atirando.

O metrô pára, Arthur pega as suas coisas e sai atrás do terceiro rapaz na estação, até alcançá-lo atirando e o matando na escada. Por um momento, Arthur parece pensar no que fez, mas já sai do local rapidamente, correndo. Entra num banheiro de um barracão – aparentemente abandonado. Ele dança, demonstrando certa ‘mudança’ em sua personalidade. É como a calmaria, depois da tempestade. Dança divinamente, é como se tocasse uma ópera ao fundo.

A música que ele mesmo ‘ouve’ em sua cabeça, o faz se sentir melhor. Este é um dos momentos mais marcantes do filme, onde podemos nitidamente observar que Arthur está se ‘transformando’, está ‘crescendo’ algo diferente dentro dele, o que aconteceu no metrô foi o primeiro grande passo, para que ele se torne o Coringa.

Um desfecho ameaçador

Chega a ser bonito, épico, um momento de magnitude em sua alma e corpo machucados – e ao mesmo tempo é o desfecho ‘ameaçador’ de uma cena.” Ainda podemos considerar o nome “Arthur”, ou já devemos reiterar nosso personagem central como Coringa?

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    Eis que neste momento – talvez o mais perturbador até então (e como!), nos mostra que onde a “sociedade de porcos” impera, há o dissabor com toda dissonância, onde também a personalidade psicótica de um transtornado mental – e também um “zero à esquerda” no mundo visceral e idiota onde vivemos – toma conta de um ser à espera do momento adequado para que a sua psicose tome forma, e tamanha forma que ele mata três rapazes – que zombaram dele (e também o agrediram) – com toda frieza, com toda vontade, com todo calor de quem precisava fazer isso, pelo menos neste seu desejo já há deveras incontrolável, de se mostrar como queria ter mostrado ao mundo: a verdade em si retorna a si; o caos em si demonstra em si o início de uma nova era ao nosso personagem; a sociedade em si conhece e conhecerá a si própria como o que há de mais perturbador.

    E ainda é só o começo! Esquizofrenia Paranoide

    “Arthur bate à porta da sua vizinha. Ela abre a porta, e ele a beija calorosamente. Entra no apartamento dela. – Seria sua imaginação ‘criando’ um clímax de ‘romance’, para que sua noite tivesse uma ‘comemoração’ à altura dos acontecimentos?

    Fica aqui mais uma questão que vamos aos poucos retomando, analisando e discorrendo sobre.” Mais uma vez, uma questão apresentada sem mais condições: até onde Arthur poderia imaginar, sentir e/ou demonstrar sua loucura? Como poderia sentir e pensar – entre o “agir e ser” – dentro de tantos delírios que tinha com a sua vizinha Sophie?

    “Numa próxima cena, Arthur está na agência onde trabalhava, arrumando suas coisas. Seus colegas comentam sobre as notícias da noite anterior, que estão a todo vapor nos jornais.

    Não sorria!

    Todos falando sobre os assassinatos no metrô – e apontando que há ‘palhaços’ envolvidos, até sugerindo que isso traz benefícios ao ‘negócio’ deles. Falam com Arthur sobre ele ter sido despedido, e porque ele levou uma arma ao hospital infantil. Ele fala sobre Randall, porque a arma era dele. Ainda encerra, dizendo que deve ‘pagar’ o revólver. Brinca sobre ‘bater o ponto’ – e BATE literalmente o ponto, desferindo socos, arrancando o relógio ponto da parede e destruindo-o. Arthur ri.

    Desce as escadas, e apaga uma palavra num pequeno cartaz colado ali na parede: onde antes dizia-se ‘Não se esqueça de sorrir!’, que com a palavra riscada por Arthur, finalmente dizia ‘Não sorria!’. Arthur chuta a porta da saída, para abri-la.” Sim, Arthur literalmente “bateu o ponto”! Bateu com vontade; bateu com propriedade! E já mudou o seu “slogan”: antes, “sorria”! – Agora, “não sorria”!

    “Enquanto Arthur observa as notícias no seu aparelho televisor, revê os seus frascos de remédios (quase todos vazios). Encontra dois comprimidos e toma um. Thomas Wayne está na televisão – estão falando sobre os assassinatos no metrô. A mãe de Arthur o chama para assistir.

    A fantasia do palhaço e a Esquizofrenia Paranoide

    Wayne diz que os três rapazes trabalhavam em sua empresa – e apesar de não os conhecer, fala bem deles e que eles (na empresa) são todos como uma ‘família’. Continua, dizendo que os menos afortunados invejam os mais abastados, e o povo parece estar ‘defendendo’ o assassino – já que foram assassinados três rapazes que possuíam uma classe (?) mais ‘elevada’, diante do povo em geral.

    Wayne diz que também é por isso que ele vai se candidatar a prefeito da cidade – porque Gotham está sem rumo. Ainda fala sobre o fato de uma testemunha ter dito que o assassino usava uma fantasia de palhaço, e que se o assassino estava ‘mascarado’, era por ser um covarde, um invejoso.

    Arthur está com as pernas inquietas, assistindo atentamente. Ele ri, a mãe diz que não tem graça. Suas costelas todas aparecem em seu corpo esquelético (ele está sem camisa novamente).”

    Esquizofrenia Paranoide e a nova identidade

    Arthur já está praticamente “assumindo” sua nova identidade: o Coringa. E novamente, sem perceber, ele começa a encantar a população de Gotham City, trazendo à tona a tragédia onde os mais abastados desolam as classes inferiores. Acima de tudo, Arthur demonstrou ao povo que o próprio POVO tem “poder”, e que se cada um tomar a si uma personalidade, com algumas atitudes, a sociedade consegue ser alterada, mesmo através do caos e a destruição.

    A “personalidade Coringa” já nos traz o presente e o futuro de uma sociedade desgastada, ridícula e menosprezada por si mesma. Onde os poderosos se intitulam “deuses” da influência e do poder; e onde o povo é jogado de lado para que os “coronéis de fraque” os deturpem, os prostituam, os destruam como as “bactérias que devoram os mortos”.

    A admiração da população de Gotham é explícita. Arthur – ou o nosso presente e futuro Coringa – já se faz valer por sua revolta e seu estopim já há muito queimado, explodindo-se como um assassino sem coração.

    Este artigo é continuação de dois artigos anteriores: parte 1 e parte 2. Foi escrito por César Samblas Boscolo([email protected]), 48 anos. Capivari – SP. Chefe da Divisão de Controle Imobiliário, Município de Capivari. Consultor Imobiliário, Psicanalista Clínico, Administrador de Empresas. Músico, Arranjador Musical; já foi Relações Públicas para eventos/shows/apresentações musicais. Bom leitor, adora artes como cinema e música. “Curioso” e sempre pesquisando um pouco sobre tudo que interesse, sem futilidades. Apreciando a vida!

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