esquizofrenia paranóide

Esquizofrenia Paranóide no filme Coringa: análise psicanalítica (parte I)

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“No fundo, não descobrimos na pessoa com transtorno mental nada de novo ou desconhecido: encontramos nele a base de nossa própria natureza.” (Carl Jung)

Neste trabalho, desenvolveremos o conceito de uma psicopatia, dentre outros fatores, sobre o que desencadeia o “riso” desenfreado, e a forma como um debilitado mental – no caso o “Coringa” – enfrenta a sociedade na qual vive – ou simplesmente “sobrevive”, tendo em vista que em seus mais expressos termos, a própria sociedade o rejeitou e o deixou se tornar este agente do caos.

Entendendo sobre a esquizofrenia paranóide

Esta abordagem é relevante, porque muitas das psicopatias nos remetem ao estudo incansável do ser humano e suas particularidades – estas que o transformam em um ser insano, doente e também longe de ser alguém que consiga fazer parte de um todo, de uma sociedade. Mesmo que a própria sociedade tenha sua culpa em tê-lo deixado ferido, machucado, fora de si e terrivelmente abalado.

Para sermos mais práticos, discorreremos sobre Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), personagem fictício – mas que vem nos demonstrar através da arte, que na vida também pode haver o que de fato tem havido, com muitas pessoas.

Há quem tome-se de surtos psicóticos, que cometem crimes por vezes hediondos, há todo o tempo notícias de pessoas com síndromes e/ou crises psicológicas e psicopáticas, que se transformam e que são seres além do que podemos chamar como destrutivos. Destroem a si, e destoam os princípios básicos da convivência e da sociedade, tomada como um todo.

A esquizofrenia paranóide e atos falhos

O personagem-título tem como atividade remunerada o trabalho de palhaço, numa agência. No entanto, todas as semanas, com datas agendadas, deve comparecer diante de uma agente social, por ter seus problemas mentais.

Depois de demitido por alguns atos falhos cometidos por ele, acaba passando por um constrangimento diante de três rapazes, no metrô. E ele, armado, no chão, ferido por pontapés daqueles que zombaram dele, acaba por atirar e matar.

Teve um surto de raiva, um momento onde a razão não estava ali. Um momento onde a emoção negativa, a emoção comotiva, a emoção que se perdeu com ele, fez de si um assassino. Tanto que ainda, correndo atrás do terceiro homem, continuou atirando até derrubá-lo. Seriam os seus primeiros três assassinatos.

A libertação

Depois destes assassinatos, cada vez mais Arthur Fleck vai se embrenhando num caminho sem volta. Seus comportamentos, sua “libertação” – se assim podemos dizer – a cada minuto vai tomando todo o seu ser, e ele modela uma nova personalidade, um novo personagem para si.

Vai se transformando neste “agente do caos”, onde a cidade de Gotham é tomada por uma ira descontrolada, por um movimento popular, contra os magnatas e contra o sistema.

Abordaremos toda esta “transformação”, diante dos seus problemas mentais e psicológicos, narrando como tudo isso aconteceu, e discernindo sobre os tópicos analíticos, sobre os nossos apontamentos feitos a partir dos momentos marcantes deste personagem.

Narrativa comentada sobre a esquizofrenia paranóide (parte I)

“Iniciamos o filme com Arthur ouvindo o rádio, e se maquiando para mais um trabalho. Ele é todo dedicado, faz a maquiagem com muito zelo e atenção. Sorri para si mesmo, faz ‘caretas’ com a boca, utilizando as mãos.”

Arthur se encontra maquiando-se, se preparando para mais um trabalho como palhaço contratado.

“Na cena seguinte, já o vemos fazendo seu ‘show’, chamando a atenção das pessoas à calçada, para uma loja. Mas alguns garotos acabam por roubar a sua placa, ele sai correndo em meio ao trânsito atrás deles, numa perseguição. Acaba por se adentrar num beco, onde é agredido cruelmente por todos estes rapazes, sendo deixado no chão. Uma primeira cena onde sofre agressões físicas, sua placa está quebrada ao seu lado, e o título do filme é anunciado: Coringa.”

Arthur é um profissional dedicado

Embora tenha seus transtornos, seus problemas mentais, ele ainda se encontra envolvido com o seu trabalho, procurando fazê-lo com zelo e competência.

Já nestes primeiros instantes, observamos que a sociedade não é tão “educada” com ele; alguns garotos estúpidos o desmerecem, o agridem e fazem dele o que querem. Arthur não expõe nenhuma reação neste momento. Ainda está somente sofrendo a dor de ser alguém “jogado na multidão”.

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    Ele não é só agredido fisicamente; mas também psicologicamente. Nada é mais doloroso – principalmente para alguém com transtornos mentais – que ser discriminado, ridicularizado em público e dilacerado diante dos seus propósitos.

    O tratamento de Arthur

    “Arthur está rindo diante da assistente social, no local onde ele faz seu tratamento. Ele tem um distúrbio que causa ‘risos’ involuntários – coisa que ele não consegue segurar; faz parte de todo o seu problema, como uma psicopatologia.

    Ele fuma (é fumante). ‘- É impressão minha, ou o mundo está ficando mais maluco?’ – diz à assistente social. Ela o responde: ‘- Com certeza, está tenso. As pessoas estão aborrecidas.

    Elas estão batalhando, estão procurando emprego. São tempos difíceis.’ Então pergunta a ele sobre o seu diário. Ela o havia pedido, para consultá-lo. Ele entrega o diário, dizendo que também escreve ‘piadas’. A assistente social analisa o diário.

    A esquizofrenia paranóide e o sentido da vida

    Depois disso, pergunta sobre o que ele faz lá, mas Arthur diz que se sentia melhor no sanatório. Pede que seja aumentada a medicação, ele toma 7 remédios diferentes, e diz que quer se sentir melhor.”

    Diante da assistente social, Arthur se vê como um ser sem muito “sentido na vida”. Sabe que tem seus transtornos, procura se portar de uma forma melhor no mundo, mas lá no fundo tem toda convicção de que o mundo não é um bom lugar.

    Arthur possui um distúrbio até bastante raro, chamado síndrome pseudobulbar – ou afeto pseudobulbar (entre outros transtornos mentais) – que seria o “Transtorno de Expressão Emocional Involuntária”.

    Sobre a síndrome

    Esta síndrome causa o choro ou o riso sem nenhum predecessor, sem nenhuma necessidade. No caso de Arthur, ele ri categoricamente, sem sequer pensar ou ter algum motivo aparente. Ele simplesmente ri. E seus “risos” são por vezes, perturbadores – demonstram o quanto ele é problemático.

    O primeiro registro da síndrome/afeto pseudobulbar, vem de Charles Darwin, no ano de 1.872. Darwin estava fazendo alguns registros sobre doenças mentais, e uma delas foi justamente a síndrome que induz ao choro.

    A síndrome/afeto pseudobulbar, através de estudos, é diagnosticada proveniente de danos cerebrais. Em 1.890 recebeu esta denominação de síndrome/afeto pseudobulbar (ou P.B.A.), o que diferencia esta síndrome de outras, com outras causas e efeitos.

    Conclusão

    E normalmente, quem é diagnosticado com este transtorno mental, acaba por viver mais isolado da sociedade – tendo em vista que para quem não sabe ou não conhece seus sintomas, sente-se diante de uma realidade que não muito agrada – já que para os olhos das pessoas, de uma forma geral, choro ou riso descontrolados é algo difícil de lidar e/ou conviver.

    Este artigo sobre esquizofrenia paranóide foi escrito por César Samblas Boscolo([email protected]), 48 anos. Capivari – SP. Chefe da Divisão de Controle Imobiliário, Município de Capivari. Consultor Imobiliário, Psicanalista Clínico, Administrador de Empresas. Músico, Arranjador Musical; já fui Relações Públicas para eventos/shows/apresentações musicais. Bom leitor, adoro artes como cinema e música. “Curioso” e sempre pesquisando um pouco sobre tudo que me interesse, sem futilidades. Aprecio a vida!

    3 thoughts on “Esquizofrenia Paranóide no filme Coringa: análise psicanalítica (parte I)

    1. Agatha Christie disse:

      Texto maravilhoso! Parabéns para o autor.

      1. César Samblas Boscolo disse:

        Obrigado, eu que agradeço!

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