surrealismo e psicanálise

Encontros entre surrealismo e psicanálise

Posted on Posted in Psicanálise

Este artigo recuperará as relações entre surrealismo e psicanálise. A proposta da análise psicanalítica foi apropriada por esse movimento de vanguarda, informando o seu fazer e a sua estética.

Serão trabalhados pontos de contatado, recuperada a ambição inicial da psicanálise, invocados movimentos de agenciamento que ampliaram o alcance desse saber e alguns nomes do movimento serão relembrados à título de exemplo.

Entendendo o surrealismo e psicanálise

O surrealismo desenvolveu-se nas primeiras décadas do século XX. É um movimento que se espraiou por diferentes países e abrangeu os mais diferentes âmbitos da arte. Um dos momentos mais significativos dessa arte plural se deu a partir da publicação do Manifesto Surrealista pelo poeta e psiquiatra francês André Breton.

Entre as características do movimento, que se desenvolveu a partir de apropriações múltiplas e agenciamentos potentes, estava a ênfase no resgate das emoções, na ausência de logicismo em suas manifestações, na busca pela liberdade criativa, no trabalho das expressões, no entendimento da economia pulsional humana, entre outros.

Preocupação com o sujeito, surrealismo e psicanálise

Interessante que o surrealismo se preocupou com o indivíduo e com as suas subjetividades, com a interioridade das pessoas, sendo eles agentes da história.

De uma maneira ou de outra, o surrealismo é a devolução ao mundo humano do âmbito da fantasia, movimentando-se como uma crítica à racionalização maximizada da sociedade.

Assim sendo, um dos objetivos mais expressivos do artista surrealista, ao menos como pensava André Breton, era o de operar, não perdendo de vista certa dimensão ética e de bem comum, aquilo que era considerado irracional e inconsciente, preocupando-se com os sonhos, com a imaginação, com aquilo que estava além do universo objetivo.

Encontro com a psicanálise

A psicanálise, sobretudo a partir dos escritos de Sigmund Freud, passa a ser recebida por diversos atores e movimentos intelectuais nas primeiras décadas do século XX como a ciência do inconsciente. Isso dentro e fora da Europa.

Breton quando foi estudante de psiquiatria, no contexto da Grandes Guerra, e teve contato com tratamentos que levava em consideração os recursos da interpretação dos sonhos e da associação livre.

A conhecida técnica surrealista da escrita automática, que marca o movimento em sua gênese, é bastante devedora das disposições de saber iniciais da psicanálise. Em suma, a presença de Freud, não apenas nas inquietações de Breton mas de outros artistas, é marcante na história do surrealismo, sendo uma das suas principais inspirações.

A interpretação dos sonhos, surrealismo e psicanálise

A interpretação dos sonhos, publicado em 1900, é um marco nos estudos psicanalíticos e responsável por popularizar um método possível capaz de investigar os problemas psíquicos e oferecer algum entendimento ao funcionamento da psique humana.

A preocupação da psicanálise é, sobretudo, com o inconsciente, sendo um modo de apreender o funcionamento do aparelho psíquico. Ela oferece uma metodologia para o acompanhamento dos transtornos mentais, oportunizando uma maior dignidade às formas de sofrimento psíquico.

Os artistas surrealistas se apropriam e se inspiram na psicanálise, porque o novo estatuto conferido ao psiquismo humano, ao inconsciente, era um modo de encontrar um lugar onde os seres humanos estariam distanciados do maquinismo da sociedade, com seu racionalismo e com a implementação de formas de massificação e nivelamento social. A arte surrealista trabalha com a esfera onírica, com um fluir não objetificador, mas, sim, criativo.

Aos modos de arte surrealista

A arte surrealista se desenvolveu de modo plural, com peculiaridades regionais e manifestando-se por meio dos mais diferentes suportes, isto é, na literatura, no cinema, no teatro, na poesia. Todos esses campos foram tocados, direta ou indiretamente, pela psicanálise.

A universalidade das hipóteses clínicas informou, de alguma maneira, o âmbito da criação da arte surrealista. A sua importância, entre outras, é que ela se vale da psicanálise para além do interesse psicoterapêutico, o que possibilitou até mesmo dizer que se criou um modo estético de conceber os indivíduos.

A marca do surrealismo é a navegação pelo inconsciente, recôndito humano que ainda não teria sido cingido pela racionalização. A liberdade de expressão era um modo de investigação da mente, inspirando-se, guardadas as suas especificidades, na psicanálise.

QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE

    NÓS RETORNAMOS PARA VOCÊ




    As obras e seu principais nomes do surrealismo

    É notório nas artes surrealistas de vanguarda a mobilização do humor, dos sonhos, das utopias, da distorção das formas, da quebra das relações imediatas entre tempo e espaço, isto é, de tudo aquilo que está fora do âmbito da racionalização moderna.

    Podemos nos valer da potência do vocábulo surreal que se direciona para o incongruente, para o incoerente, para o ilógico, para o absurdo. Entre os seus principais artistas temos: André Breton (1896-1966), Salvador Dalí (1904-1986), Gertrude Abercrombie (1907-1977), Max Ernest (1891-1976), René Magritte (1898-1967), André Masson (1896-1987), Joan Miró (1893-1983), Dorothea Tanning (1910-2012), Remedios Varo Uranga (1908-1963), Luis Buñuel (1900-1983).

    O ideal estético-temático dos surrealistas era o onírico, retirando da sua arte o vetor de certificação no mundo objetivo, mas trabalhando as imagens do inconsciente, que, em si, trazem modos de composição que estão para além dos condicionamentos da vida ordinária. No Brasil são lembrados, na pintura, Tarsila do Amaral (1886-1973) e Ismael Nery (1900-1934). Na literatura Murilo Mendes (1901-1975). Na escultura Maria Martins (1894-1973).

    Referências

    BRADLEY, Fiona. Surrealismo. São Paulo: Cosac & Naify, 2001

    BRETON, André. Manifesto Surrealista. 1924. Disponível em: https://bityli.com/hGWl1h Acesso: 24 de mar. 2023.

    FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Volume IV. Editora Imago, 1900.

    Este artigo sobre surrealismo e psicanálise foi escrito por Piero Detoni([email protected]), Professor de História. Graduado e mestre em História pela UFOP. Doutor em História Social pela USP. PD Júnior na UNICAMP.

    One thought on “Encontros entre surrealismo e psicanálise

    1. Maria Auxiliadora Carvalho Roma disse:

      Parabéns ao autor desse texto!! Excelente

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *