Evangelion

Série Evangelion e o tema da depressão

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Você conhece a série Evangelion? Será que a depressão é a busca pelo que nos falta? Somos seres incompletos? Se sim, isso é ruim? E o que nos falta? Na obra nipônica Evangelion temos um grupo de proteção da terra que livra os humanos dos chamados anjos que aparecem de tempos em tempos com o objetivo de destruir a humanidade.

Mais tarde descobrimos que o objetivo deles era bem mais nobre que isso, recuperar um anjo aprisionado. Desenvolveram armaduras gigantes que são pilotadas por crianças que se conectam de corpo e mente a elas.

Dentro dessas “EVAs”, as crianças protegem o mundo dos ataques mortais dos anjos. Mas que relação teria uma obra de animação mecha japonesa com o mal do século: Depressão?

A depressão na série Evangelion

O fato é que Evangelion é bem mais profunda do que parece, no fim da série vemos que a organização responsável por proteger a terra na verdade tinha planos ocultos, visando a formação de um consciente coletivo. A junção de todas as mentes seria o ápice do seu plano para a felicidade plena de todos.

Usando a tecnologia desenvolvida para unir a mente e corpo das crianças piloto ao EVA, todos os humanos seriam unidos em um único consciente, uma única mente, como um só ser. Mas por quê?

A premissa é simples, todas as pessoas tem uma falta! Nenhuma mente por si só pode ser completa, sempre vamos enfrentar uma busca por um complemento que nunca é encontrado. Assim, ao unir todas as mentes, o que falta em uma seria suprido por outra e assim todas seriam completas em si mesmas.

Somos seres incompletos?

É fato que cada um de nós enfrenta suas faltas, não há um só ser humano que se mostre completamente livre de sentimentos conflitantes ao menos uma vez na vida.

Tristeza, raiva, frustração, são coisas que absolutamente todos sentem. E nos dias atuais esses sentimentos têm se tornado mais intensos e doenças como depressão e transtornos de ansiedade permeiam toda a sociedade humana.

Nossa mentalidade é sempre em busca da resolução de nossas tensões e angústias, buscamos um parceiro para não nos sentirmos só, buscamos amigos pela mesma razão, buscamos alimento para satisfazermos nossas necessidades de alimento, buscamos sempre suprir cada falta em nós.

Evangelion e as relações interpessoais

E quando se trata de relações interpessoais, buscamos no outro aquilo que nos falta, esse é o movimento natural, olhar para fora. Nós não sabemos de tudo todo o tempo, não temos todas as inteligências em pleno desenvolvimento, então sempre podemos aprender com essa ou aquela pessoa.

A vida social e a saúde psíquica na série Evangelion

Nossa necessidade de afeto e pertencimento a um grupo nos faz evoluir como seres humanos e absorver coisas daqueles que nos rodeiam. Como é mostrado no anime Evangelion, nós só podemos ser tidos como indivíduo, se houver outro indivíduo que nos reconheça. Isso é ruim?

De modo algum a busca por evolução pessoal é uma coisa ruim. Mas quando essa busca é exacerbada, algo pode fugir de nosso controle. Empregar uma grande energia psíquica em manter uma aparência de completude pode ser desgastante. Se ater ao pensamento de que não somos nada e não temos um valor como nós mesmos também pode ser angustiante, então aonde esse sentimento de falta deve nos levar?

Vimos que a busca pela felicidade plena na obra supracitada envolve basicamente buscar no outro a completude de si mesmo, como bem sabemos há sempre alguém que pode nos agregar, realmente, no entanto tentar sempre fazer essa busca externamente pode não ser saudável.

A precisa organização mental

Ademais, é preciso entender o que nos falta, por que nos falta e se realmente essa preocupação é algo que merece nossa energia psíquica. o que falta?

Todos nós perdemos algo, um objeto, uma pessoa, um sentimento, um momento, a todo passo que damos em frente algo fica para trás. Essa perda pode ser sentida de inúmeras formas, e cada pessoa sente de uma determinada maneira a depender da sua organização mental.

Há aqueles que sentem intensamente uma perda a ponto de não a superar facilmente, esses podem estar no processo de luto, sendo assim, com o luto passado essa perda é superada juntamente. Todavia há casos em que parece não haver possibilidade de superação. A energia que se empregava em adorar o que foi perdido é tão tamanha que é como se perdesse parte de si mesmo.

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    A angústia e o vazio

    Assim, segue um sentimento de falta resultante dessa perda por um longo período. A sensação de que algo não está correto, um desinteresse por qualquer outra coisa, uma inquietude entrelaçada à angústia de não ser completo até que se encontre vazio.

    A apatia é resultado desse sentimento intenso que não tem mais o objeto cujo era direcionado. Ironicamente, o que antes era uma fervorosa paixão se torna o “nada”, assim se forma uma depressão ou em casos mais brandos, uma distimia.

    A todos nós falta algo, em uns mais, em outros menos, mas falta.

    Conflito final em Evangelion: depressão é a busca?

    No primeiro final da obra, Shinji, personagem principal e criança piloto do EVA, se encontra em um conflito interno enquanto a terra passa por um “apocalipse”. Ali ele precisa fazer as pazes consigo mesmo, mas Shinji é alguém que tem muitos problemas internos, abandonado pelo pai e perdendo a mãe muito cedo, ele tem um trauma de abandono que pauta quase todas as suas decisões.

    Ele faz de tudo para agradar o seu pai, que é o seu chefe na organização, aceitando inclusive pilotar o EVA e colocar sua vida em risco, mesmo não querendo fazer isso. Nesse final vemos que Shinji nota que para ser um ser humano individual ele precisa passar por negações. A individualidade é permeada pelo que não somos, e aceitar isso é a chave para destrancarmos nossos sentimentos e lidarmos com eles.

    Shinji quer se afirmar como indivíduo, é isso que vemos no final da obra, no filme the end of Evangelion. Mas para isso ele vai ter que encarar suas faltas. Quando fazemos esse movimento de olhar para dentro podemos encarar um grande e vasto campo turvo onde é difícil identificar e separar as coisas.

    Fantasia e realidade

    Alguns ao fazerem isso preferem se apartar da realidade por ser difícil de suportar e separam seus interiores em dois ou três, reconhecendo apenas partes de si mesmos como real. A linha entre fantasia e realidade já não existe pois o real já não é mais o que pode ser atestado pelo mundo concreto. Assim, as chamadas crises psicóticas são uma forma de lidar com o interno e externo.

    Essa grande negação pode ser uma maneira de preencher a falta de alguns. Mais comumente, a melancolia é o resultado dessa percepção de escassez pessoal. Conhecida hoje como depressão, ela faz com que a pessoa deixe de buscar outra coisa que a preencha, seja dentro ou fora de si mesma.

    O desprazer de se perder o objeto que recebia toda a sua energia libidinal se espalha por todas as suas relações e se perde o interesse por qualquer coisa. Shinji claramente tem depressão, ele de certa forma, reconhece sua falta, e a todo tempo busca agradar seu pai, esperando que dessa forma ele se complete, ou seja ele tenha de volta o que perdeu.

    O papel da análise pessoal em Evangelion

    É claro que todos sofremos esse desprovimento de uma parte de nós. Quando nos deparamos com nossos conflitos internos, assim como Shinji o fez, vemos que temos muito o que arrumar dentro de nós mesmos.

    A dificuldade de lidar com nossos conflitos pode gerar uma série de problemas, mas o primeiro passo para solucioná-los é reconhecer que são nossos. Somente depois disso que podemos absorver algo do outro. E nem sempre isso é algo ruim.

    Algumas coisas perdemos na bagunça do inconsciente onde podemos novamente encontrar. Podemos dizer que Shinji teve sua própria sessão de análise, onde ali ele se deparou com situações conflitantes que só existiam em sua mente.

    Conclusão

    Ele teve acesso a seus conteúdos mais reprimidos, vemos pelos desenhos infantis como a sua infância foi determinante para suas neuroses ou ansiedades.

    Depois de entrar em contato com o que ele realmente tinha dentro de si ele não teve todos os seus problemas magicamente solucionados, porém ele pode saber de onde partir na busca por respostas.

    Mas uma coisa que ele teve certeza foi que a sua falta não seria solucionada por outra pessoa, mas por ele mesmo, individualmente.

    Este artigo sobre a série Evangelion e o questionamento se “depressão é a busca pelo que nos falta” foi escrito por Mariana Araújo(marianaaraujo777@gmail.com), estudante de psicanálise clínica que busca uma melhora no estilo de vida das pessoas e prega o autoconhecimento para isso.

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