Por que fazer psicanálise? Nossa aluna do curso de Psicanálise Clínica traz, hoje, um lindo depoimento sobre sua motivação para se tornar uma psicanalista. Confira agora e descubra como a psicanálise pode te ajudar a melhorar a vida das pessoas!
O início de tudo
Sou médica, especialista em dermatologia e, dentro da dermatologia, me especializei em vitiligo e psoríase. Doenças que me chamaram a atenção por serem doenças de fundo emocional.
Elas são doenças que se desenvolvem , na maioria das vezes, por uma reação violenta do organismo a um conflito familiar, condição de ameaça e outros fatores negativos, que atuam por longos períodos.
Elas são muito estigmatizantes. Durante mais de trinta e cinco anos de ambulatório clínico, observei o que o sofrimento dessas pessoas causam em suas vidas.
O que fazer quando você não consegue ajudar totalmente as pessoas?
Sempre me chamava atenção, que havia lacunas na minha prática clínica. Nenhuma medicação conseguia resolver, mesmo depois da doença controlada. O sofrimento psíquico, muitas vezes, sobrepujava o sofrimento físico. Observava que eram pessoas com muitos recalques, tristezas, emoções represadas, angústias e traumas.
Esses traumas modificavam suas vidas no presente e afetavam seu futuro significadamente. As pessoas não atingiam todo seu potencial, em todos os sentidos. Por exemplo, baixo rendimento escolar, dificuldade de relacionamento laborativos, dificuldade de relacionamentos emocionais. Além de autoestima muito baixa, cefaleias persistentes sem causas, insônias.
Eles desenvolviam fobias sem uma causa específica, se tornavam antissociais, muitas vezes até irracionais, depressivos e até tentavam suicídio. É muito angustiante ouvir que o seu paciente não quer mais viver.
Fazer psicanálise para melhorar minha atuação no trabalho
As pessoas me relatavam experiência de intenso constrangimento, de desmerecimento e humilhação,aversão dos parceiros pela sua aparência, interferindo na sua sexualidade. Enfim, histórias que eram muito penosas. Não conseguiam dar vazão a esses sentimentos negativos.
Não conseguiam enfrentar seus conflitos angustiantes, por várias causas, gerando grande tensão interna. Muitos dos meus pacientes eram pessoas muito fragilizadas, com um medo, muitas vezes irracional.
Medo do cotidiano, se sentiam presos a algo, que as impedia de fazer coisas que gostariam de fazer, e não conseguiam seguir em frente com suas vidas. Muitas não estudavam, não trabalhavam, não se casavam. O seu inconsciente influenciava as experiências do consciente.
A repressão dos desejos, mais intensos e essenciais , provocava efeitos terríveis que podiam ser leves ou intensos, que se não forem tratados, os acompanhará por muito tempo. E, segundo Freud, quando a reação é reprimida, o afeto permanece vinculado à lembrança.
O sofrimento carregado pelo inconsciente
Tenho, também, muitos pacientes crianças , pré adolescentes e adolescentes, que passam por muitos conflitos. Às vezes , com mais sofrimento que o adulto, por ter uma percepção dos sentimentos diferente , que a própria idade os faz sentir. Eles lidam também com as transferências de angústias e frustrações dos pais e familiares, e com isso, creio, que seu sofrimento seja maior. Isso pesa muito, pela dificuldade que têm em se expressar.
Para citar um exemplo, tenho uma paciente que, aos quinze anos, não conseguia ir à escola. Ele passava mal, suava muito, tinha episódios de vômitos e até pequenos desmaios, até que parou de estudar. Isso porque, um dia, ela ia de ônibus para sua escola, o ônibus estava cheio, e ninguém sentou-se ao seu lado, apesar de muitas pessoas de pé .
Esse episódio, para essa menina, foi tão doloroso, que modificou toda sua vida. Foi um trauma imenso que comprometeu seu futuro. Ela não atingiu o seu potencial intelectual, tinha dificuldade de sair de casa, de se relacionar, pegar ônibus, etc.. Sua vida ficou estagnada em muitos aspectos.
A frustração de não poder ajudar
Não poder ajudá-los,no sentido emocional, apesar de tentar, muito e sempre, era muito frustrante. Conversava com eles, sobre seus traumas, suas angústias, medos, mas não ia muito além. Pois não tinha as ferramentas adequadas para trabalhar.
Segundo Freud, em esboços para comunicação preliminar , de 1893, “qualquer experiência que possa evocar afetos aflitivos, tais como os de susto, angústia, vergonha ou dor física pode atuar como trauma psíquico. Sendo claro que para isso de fato acontecer de verdade depende, naturalmente, de suscetibilidade da pessoa afetada”.
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Ainda segundo Freud e Breuer, “não é rara a ocorrência em vez de um trauma principal isolado, de vários traumas parciais, que formam um grupo de causas desencadeadoras , fazendo um efeito por adição , todos partes de uma mesma história”.
Existem outras situações, em que numa circunstância trivial do cotidiano se combina com um momento de fragilidade , de susceptibilidade e, dessa maneira, se torna um trauma, que em outro momento, efetivamente não se tornaria.
Mas, uma vez instalado, persiste. Ou seja, as lembranças do trauma agem como um corpo estranho que, muito depois de sua entrada, deve continuar a ser considerado como num agente que ainda está em ação. Todas essas situações fazem parte do meu dia-a-dia.
Por que eu escolhi fazer psicanálise?
Baseado em Renato Mezan em ¨Que tipo de ciência é, afinal, a psicanálise¨, de 2007, a psicanálise começou como um ramo da medicina. Portanto , objetivando não apenas compreender o mundo psíquico, mas ainda e, principalmente, intervir nele, desfazendo constelações negativas e favorecendo rearranjos.
Enfim, busquei a psicanálise para tentar aliviar meus pacientes, investigando seus processos mentais , que são quase inacessíveis por outro modo. Vou investigar , com o mesmo cuidado e atenção como investigo no meu ambulatório as lesões de pele dos meus pacientes.
Ouvindo, interpretando e reconstituindo a evolução dos fatos que desencadearam naqueles traumas, que lhes causam tanto sofrimento. Segundo Freud, no seu estudo sobre histeria, a psicanálise ajuda a liberar as amarras que prendem as pessoas e as impedem de alcançar suas metas. Extrai delas o seu conhecimento sobre seus sintomas , encontrando as melhores maneiras de lidar com eles.
Auxilia na redefinição de sua personalidade e em descobrir aspectos da mesma, os quais ele ignorava, auxiliando para ampliar seu autoconhecimento, compreender suas angústias, pensamentos e ações, trabalhando com suas emoções e sentimentos.
Com foco no presente e futuro de sua vida, auxiliando no seu processo de evolução, encontrando respostas para superar suas dores e seus temores. permitindo-lhes assim viver sua plenitude.
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O artigo presente foi escrito pela aluna do curso de Psicanálise Clínica Lena Erickson Teixeira Mazoni.
4 thoughts on ““Por que escolhi fazer psicanálise?””
Parabéns pela escrita clara e objetiva, mas principalmente parabéns pelo relato encantador da senhora Lena Mazoni na busca de oferecer aos seus pacientes alternativas de saúde além das que sua experiência tem a oferecer. Abraço!
Parabéns, seu depoimento é muito importante pra todos que querem exercer a psicanálise, saber o quanto podemos ajudar a nós mesmos e aos outros, gratidão
Parabéns, muito bom texto!
Boa tarde! Muito bem colocada as palavras de conhecimento da Drª irei começar o curso de psicanalise no começo de 2023.